Estaria tudo bem se Marcelo Teixeira tivesse apenas assumido o seu lado fanfarrão. À primeira vista, suas declarações desde domingo até deixam essa impressão, mas o caso é mais grave do que aparenta. Ao insistir com suas mentiras deslavadas, o presidente do Santos assume uma postura destrutiva na relação com os demais grandes paulistas.
Não quero aqui entrar no debate sobre se Teixeira atirou ou não alguma coisa nos torcedores da numerada ou se discutiu com torcedores na saída para o vestiário. Pouco importa. A questão diz respeito, novamente, ao tratamento destinado às torcidas visitantes nesta nova era dos clássicos paulistas.
Vejamos o que diz o cidadão:
“Como presidente, não poderia me omitir diante da humilhação que a torcida do Santos sofreu no jogo.”
E aí eu retruco: que humilhação foi essa? Por que seria humilhante ter a sua torcida reduzida a uma pequena parte do estádio se é exatamente isso o que enfrentamos os torcedores de Palmeiras, SCCP e SPFC, sempre que vamos à Vila? Por que o Santos não pode receber nos estádios da capital (Palestra Itália, Pacaembu e Morumbi) o mesmo tratamento que concede às torcidas grandes que descem a serra? Qual é, portanto, o problema de receber o tratamento de visitante, tal como acontece quando vamos à Vila?
“Os dirigentes do Corinthians não quiseram falar, como eu estou falando. Mas deveriam ter pensado primeiramente na segurança e depois na arrecadação.”
Chega a ser um insulto ouvir o senhor Marcelo Teixeira falando sobre segurança nos estádios. Logo ele, que construiu uma grade no setor dos visitantes, reduzindo a menos da metade o espaço que já era insuficiente em anos anteriores. Logo ele, que nos coloca em uma laje apertada, tendo como único acesso escadarias que bem poderiam estar em uma masmorra da era medieval. Logo ele, que nunca envia os ingressos para venda aqui na capital. Logo ele, que faz o possível para dificultar o nosso acesso ao estádio do time que ele preside.
“Nos jogos na Vila, a diretoria do Santos e as autoridades da região dão espetáculo de organização. E continuaremos assim, sem nenhum tipo de revanchismo.”
“Espetáculo de organização”? Fico sem saber se ele surtou, se é mau-caráter mesmo ou se tudo isso é pura desinformação. A verdade é que jogos na Vila Belmiro são cercados de um sufoco enorme. Os ônibus demoram a sair aqui de SP, são parados no planalto, na serra e, não raro, levados até o porto, sendo ali retidos por intervalos que chegam a uma hora. Tudo para dificultar a nossa chegada ao estádio. Não foram poucas as vezes em que a Mancha não pôde chegar até a arquibancada, mesmo com ingressos em mãos – e isso deve ter acontecido também com as demais organizadas. Motivo? Disseram as autoridades que não havia mais espaço. Sim, não havia espaço porque Teixeira decidiu reduzir a 30% o espaço que já era pequeno lá atrás. Mas isso só nós dizemos, porque os jornalistas esportivos de hoje não pisam no cimento da arquibancada.
Antes de proferir este festival de besteiras, Teixeira deveria levar em conta que toda essa palhaçada na divisão dos ingressos começou com um outro grande aqui da capital, logo aquele que procura semear a discórdia entre todos os demais. E deveria lembrar que este clube vive questionando o direito de o Santos mandar os clássicos na sua casa. Ao que parece, no entanto, ele já esqueceu que este mesmo clube instigou a sua própria torcida a criar problemas na Vila Belmiro para pedir a interdição do estádio.
Que tal tomar vergonha na cara, Teixeira?