19 janeiro 2012

Turiassu, 1840 (3)



A fila se estende para além do aceitável, por algumas dezenas de metros. Deve chegar até a esquina com a Sumaré, naquele trecho onde não se enxerga mais nada além dos carros que procuram fugir das ruas intransitáveis da região. Tem fila também para o outro lado, na bilheteria - confesso não entender como alguns têm o sangue frio de só deixar para comprar ingresso na última hora. Muita gente. Que me perdoem os que se sentirem ofendidos, mas eu não enfrento a fila. Nunca. Direito adquirido. Sim, direito adquirido - e não me peçam para explicar. Na pressa, até dispenso a entrada pela sede social - que seria uma forma, digamos, mais correta de passar na frente. Encontro um espaço por entre os gradis longe da vista dos coxinhas, e por ali entro já quase no portão de acesso - dessa vez não foi preciso pular. Sigo em frente. Mais um amigo. Abraço. "E aí sofá, resolveu aparecer?". Não há tempo para mais que isso; a ansiedade de entrar na cancha é maior. Um tapa nas costas e avanti. Aglomeração. Revista policial. Não existe bem uma fila, mas várias, disformes e indecifráveis. Vou me infiltrando. Empurro daqui, jogo o corpo pro lado, avançar por entre a multidão é uma arte. Escolho não necessariamente a menor fila, mas sim aquela que tem o coxinha menos rigoroso - vai ser mais rápido e o risco de ele encontrar o boné da Mancha escondido é menor. Olhar duro de parte a parte. Ele é um inimigo, mais um. Cabeça erguida, olhar para a frente. "Coxinha de merda...". Passo por ele. A catraca se aproxima - já disse antes que torcedor é aquele que gira a catraca? A visão da marquise da numerada eleva a expectativa. Consigo visualizar a torcida visitante lá do outro lado - ou ao menos uma faixa que se ergue para impor o nome do inimigo. É ódio. É guerra. Carteirinha de estudante em mãos. "Tarja preta pra cima!". Dispenso ajuda; insiro o ingresso e o retiro do outro lado. Giro a catraca. Estou em casa.

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Crédito da foto: Pietro Boccia

16 comentários:

gregory disse...

Essa do PM é de lei, você acaba fazendo um estudo psicológico dos pm's antes de escolher qual vai ir hahahahaha

O que mais me dá saudade é de poder ficar tomando cerveja até as 3 horas e sair do estádio e ter o que comer.

O Pacaembu é um estádio que eu gosto pra caralho, mas é foda passar fome hahaha

Enfim, o Palestra cada jogo que passa me deixa com mais saudades.

Gregory - Acadêmicos da Savóia

Pedro Galdino disse...

Muito Bom o Texto, acompanho sempre o blog, as séries do Palestra são sempre emocionante, os jogos inesquecíveis e agora da Saudade, Só Quem vai no jogo pra sentir a emoção que você transmite aqui no Blog...
Oleeee Oleeee EU CANTO EU SOU PALMEIRAS ATÈ MORRER...

André / Americana disse...

Caraleo, é bem isso mesmo.

Mas eu, como um bom gordinho, me identifiquei com o que o Gregory disse: "O pacaembu é um estádio que eu gosto pra caralho, mas é foda passar fome"! É exatamente isso!

Mas sábado contra o Ajax, ver aquela concentração na frente do Palestra me deu alguns sentimentos diferentes. O primeiro é notar que a torcida é composta por pessoas mais novas e que estou ficando velho...comentei com meu primo "pô, parece que só tem moleque de 16, 18 anos cantando e pulando". É, os 30 tão pesando!

Mas o maior sentimento de todos é estar na entrada dos sócios e ver Oberdan entrando, sendo assediado por esses mesmos moleques de 18...temos história e pelo menos boa parte dos nossos fazem questão de honrá-la. Preservá-la.

E ver o Palestra parte demolido, dando lugar a um estádio moderno me doeu. Nostalgia pura, o post anterior a esse resume o que senti.

Avanti!!

Gregory disse...

Saudades do Palestra!

Anônimo disse...

Meu caro Barneschi,
Muito, muito bom.
É como você diz: assim que a catraca gira e você finalmente está dentro da nostra casa, mudam todos os parametros vitais: o coração acelera, a pressão se altera, a acuidade visual aumenta, a respiração se intensifica! Pura emoção! E quando surge no gramado o alviverde imponente, é uma glória, uma intensidade, uma paixão!
Forte abraço irmão palestrino,

Anônimo disse...

Gostaria de levantar uma polêmica que talvez não se confirme: Onde será a semi-final Corinthians x Palmeiras pela Copa SP de Jr? Será que o promotor vai querer interferir?
Abraço Barneschi e parabéns pelo blog.

CASSELLl disse...

Fila é o CARALEO!!!! Barneschi, ha trecho no texto que chega a soar como RAP...

Anônimo disse...

o que te da direito de fular a fila?

Anônimo disse...

Impressionante como seu texto descreve exatamente o que sentimos.

Já está na hora de pensar em escrever um livro.

Abraços

GilMackoy disse...

Saudades do Palestra. Belo texto. Belas recordações.

Ivan disse...

Caramba! Essa série tá ficando cada vez melhor. Parabéns, Rodrigo!

São ótimas lembranças.
Me senti chegando atrasado e tendo que enfrentar a fila do ingresso.

Lembro que há algum tempo, dava pra chegar na Turiassu sem moeda alguma e fazer um rateio com os amigos na "intera" do ingresso (que custava lá seus 5 reais). Ninguém ficava de fora.

Os jogadores mudam, os treinadores, as camisas, e até os companheiros de bancada (alguns somem, outros voltam, outros desaparecem). O fato é que nossa casa sempre esteve ali, de pé, resistindo ao tempo e de portas abertas aos seus moradores.
Era um estádio muito nosso.
Não tem como não se sentir em casa, do Viaduto Antártica até a Desembargador do Vale... Isso é Palmeiras.
Somos todos residentes da bela casa italiana da rua Turiassu, número 1840. Somos privilegiados.

Gabriel Manetta Marquezin disse...

Que saudade....PQP


o foda é saber que mesmo quando voltarmos à casa, não será igual, nunca será...

eu era adepto do "golpe da cerveja", sempre tinha um vendedor colado na fila, e ai rola um burburinho, ela ali que eu furava....

de volta à batalha!!!!

abs Barnechi!

Leonardo disse...

Grande texto!

Que bela tarde quando e eu e meu pai entramos no Palestra com ingressos falsos e levamos o Palmeiras a conquista do Paulista de 2008!

Que saudades.

CASSELLI disse...

Anônimo me dá o direito de furar a fila a impressão que eu tenho que estou naquele lugar mais vezes que os demais. Desta forma, me sinto no direito de furar a fila. É quase achar que 75% dos que lá estão ñ passam de oportunistas!

Sei que é exagero , egocentrismo e o escambau, mas é isso que eu acho...

Rumo a capital da linguiça!

Raoni disse...

Mais um Lindo Texto sobre o Palestra, que saudade!!

Será essa a nova Série desse digníssimo Blog? Isso seria fantástico... não importa o estádio que estou, quando eu lembro de como era o Palestra, da uma Saudade imensa, chega a dar depressão de não ver mais jogo lá. Espero que aquele sentimento todo que tinhamos com o velho Palestra seja parecido com a Arena, mas acho difícil.


E sim, enfrentar Fila não da não. Furo mesmo! a maioria ali são oportunistas, nós que frequentamos jogo a jogo, pelo menos pra mim, temos o direito de não enfrentar essas filas.

Abraço!

Thiago disse...

Duas coisas:

Do PM, eu costumo escolher o que está menos trincado. Quase perdi um dérbi no galinheiro por causa disso, em 2000 acho, o PM naquele curralzinho montado na rua me barrou falando que eu tava drogado, porra, eu nem bebia direito na época. E ainda isqueirou os outros da revista, tive que desbaratinar uns 20 minutos pra entrar.

Quanto à fila, entendo perfeitamente. Sou sócio e conselheiro, posso beber até o ultimo instante entrar na hora do hino nacional que pelo meu portão nao tem fila. Mas antes, quando precisava entrar pela principal do Majestoso, se era jogo grande, eu furava a fila. Ora, não vou ficar atrás de modinha, torcedor de sofá, simpático ou paga pau da capital à paisana. Vou eu, na MINHA CASA, pegar fila?

P.S. jogo fora de casa eu respeito, pq daí não sou mais do que ninguém; banco, supermercado, etc, não furo fila pq sou um cara educado.