02 janeiro 2012

Turiassu, 1840 (1)



A Sumaré se aproxima do fim, em seus últimos quarteirões antes da Praça Marrey Jr., e a ansiedade já não nos permite ficar dentro do (bom e velho!) Lapa 875H. “Abre essa porra, piloto!”. O motorista teima em dizer que só pode abrir a porta no ponto de ônibus. Péssima ideia; se ele não abre a porta, abrimos nós mesmos. Há até quem salte pela janela. Asfalto. Caminhada a passos largos. Por entre os carros parados no trânsito. Por entre outros tantos de verde. Por entre gente que está ali só de passagem, a maioria assustada com o cenário todo. “Parece uma guerra”, devem pensar. Sim, é isso. Seguimos. Para o reencontro com a casa que adotamos para todo o sempre. A partir da Sumaré mesmo, a movimentação de quem chega do Metrô já permite ter noção do público que se fará presente. “É noite para 18 mil!”. Podem me cobrar depois. A Turiassu se abre a partir da praça e então estamos entre os nossos. Milhares. Todos de verde. Ansiosos. Passos apressados, só interrompidos pelos encontros sucessivos com outros que, a exemplo de nós, estão ali por um único motivo: porque sempre estão ali. Abraços. Apertos de mão. "E aí, vagabundo?". Velhos conhecidos. E novos também. À esquerda, a Papa Genovese. À direita, as grades da nossa casa. Um verde mal pintado, a tinta já descascando, as árvores, o muro do clube. Seguimos. Mais gente, mais barulho. A sede da Mancha à esquerda. A cerca da PM delimitando a fila de entrada à direita. O portão de acesso à arquibancada, as grades já um tanto retorcidas. A marquise da numerada coberta. Surdos, bumbos, bandeiras. Filas enormes nas bilheterias – a desorganização impera e, para piorar, o palmeirense adora comprar ingresso na hora do jogo. Um clima que mistura festa e tensão, coisa que só um estádio pode oferecer. Esquina com a Caraibas. Bares lotados. Brahma, Antarctica e Skol aos hectolitros. O povo se espreme, se empurra, se ajeita. “Olê, Porco”, “Gambá, vou te matar”, “Eu sou da Mancha”. Um rojão aqui, outro ali. Pernil na barraca do Bigode. Calabresa na Leci. Quanto mais suja a chapa, melhor é o lanche. A gordura escorre pelas mãos. Mais cerveja. Ambulantes às dezenas, tiozinhos correm com a grelha de espetinhos para fugir da fiscalização. Mais gente chegando. Descem pelas ladeiras de Perdizes, vêm pelas duas pontas da Turiassu, chegam de todos os lados da cidade. Todos por uma mesma causa. Os amigos se espalham pelos muitos bares da esquina: no Alviverde, no Silvio, no Izidoro. O pré-jogo mistura expectativa, ansiedade, preocupação, confiança, apreensão, medo às vezes. A hora de entrar no estádio parece não querer chegar. Alguém, radinho de pilha ao pé do ouvido, confirma a escalação do time e passa a informação adiante. Cresce a expectativa. Lá no alto, o refletor corta a noite escura. Ouve-se o primeiro canto do lado de dentro. Temos uma guerra pela frente. Hora de seguir para a cancha.

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Saudades.

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A foto lá do alto é do Daniel Grandesso (Blog do Maluquinho).

25 comentários:

@frasespalmeiras disse...

Lindo texto! Saudades do Palestra!

@gian_arena disse...
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@gian_arena disse...

Que saudade! E saudade só temos daqulo que realmente acreditamos que é nosso, no caso, nossa casa!

Desde os 12 anos uma das coisas que eu mais agradeço é o fato de morar em frente ao ponto final do Lapa - Socorro 856R, sempre pude ir do começo ao fim, na ida e na volta sentindo essas sensações!

E com diz meu Nonno: Palestra Ieri, Oggi, Domani!

André Seoane disse...

Ótimas Lembranças...

Consegui sentir o som ... o sabor e também o cheiro de tudo isso ...

SHOW !! Aliás show não GUERRA !

Ademir Castellari disse...

Grande Barneschi. Tenho esse vídeo, não me lembro de que jogo foi, que gravei na Turiassu com a Caraibas. A qualidade não está muito boa, é de celular, mas é para aumentar a saudade: http://youtu.be/8mCyyAzGnQo

Abraço

Ademir Castellari disse...

Como a própria legenda diz, o Vídeo é de um jogo contra o São Caetano!

Vitor dos Reis disse...

Pqp que saudades de tudo isso!!! Sensacional.

gustavoirr disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gustavoirr disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gustavoirr disse...

Fala Rapaziada. Feliz 2012.
Que dia 14 chegue logo.

abraço!

Fabiano 1914 - Jundiaí disse...

CHOREI PELA PRIMEIRA VEZ EM 2012 PELO MEU PALMEIRAS... SAUDADES FODA ...

Rodrigo Barneschi disse...

Obrigado a todos.

Posso comentar um post que eu mesmo escrevi? Bom, então eu diria o seguinte:

O que temos aí são reminiscências soltas, e vou colocar outras mais em posts futuros. Deste específico gostaria de ressaltar apenas o fato de muitas das lembranças ali presentes já se encontrarem em um passado distante. Lamento especialmente o fechamento da Papa Genovese (uma grande pizzaria que deu lugar a uma maldita loja de móveis) e a proibição das barracas de pernil e calabresa (um crime, mais um, praticado pelo senhor Gilberto Kassab).

Enfim, bons tempos...

FC disse...

Emocionante...

André Rebechi disse...

Muito bom mesmo, feliz 2012 a todos nós... que voltemos logo à nossa casa, que se não será o velho Palestra Itália, será a NOSSA CASA construída com NOSSOS MÉRITOS e sem a ajuda de ninguém. Abraços, estarei mais presente em 2012.

cesar disse...

Ótimo post para começar o ano!!

Não vemos a hora de matar essa saudade...

Passei pelos msms momentos no caminho até o Palestra, a ansiedade, a apreensão, o grito, td isso que só um dia de futebol pode nos proporcionar!!

Abraços

Anônimo disse...

...09/04/1977, Palmeiras 0 x 0 Ponte Preta...primeira vez no Parque ... e lá se vão 35 anos ...Obrigado!!!

Rodrigo Amato disse...

" Quanto mais suja a chapa, melhor é o lanche."

Eeeee saudades... senti o cheiro do molho de alho na garrafa de minalba sendo jogado na chapa junto com o pernil fatiado na hora e a cebola pra acompanhar.

Maldito Ka$$ab!!!

Como morador de Perdizes, sinto falta de descer a pé pro Palestra e, conforme se aproxima, ir ouvindo o barulho na arquibancada. De jogos com 2 mil a 30 mil, a sensação era a mesma, pq o objetivo era o mesmo, fazer minha parte junto ao Palmeiras!

Leonardo disse...

Texto espetacular. Acredito ter emocionado e matado de nostalgia cada um de nós.

O Palestra Itália se tornou minha casa aos meus sete anos. É uma tristeza muito grande não jogar lá há tanto tempo.

Pedro Pellegrino disse...

Lança o livro, amici. Grande abraço.

Leonardo disse...

Rodrigo Barneschi, desculpe-me perguntar, li boa parte do material publicado neste blog e vi que, em alguns momentos, um livro escrito pelo senhor seria um dia lançado. Há alguma novidade? Seria um prazer lê-lo.

Obrigado.

Roberto Kamarad disse...

Espetacular! Saudades absurdas disso tudo.
A ideia do livro é boa mesmo hein, mano. Material e talento eu sei que vc tem!
Abraços,
Kamarad

Raoni Leal disse...

Nossa, que saudades do Palestra! PQP!

Lindo texto! Eu ia lendo e vinham as imagens na minha mente! Isso é magnífico!
Obrigado!

Abraços!

Rodrigo Barneschi disse...

Obrigado a todos pelos comentários. Apenas tentei colocar em palavras as lembranças todas que me perseguem desde que precisamos deixar para trás a nossa casa.

Respondendo ao Leonardo:

Cara, te confesso que é um plano que eu tenho há anos, mas que infelizmente não consigo colocar em prática por absoluta falta de tempo. Uma solução para isso seria o encerramento das atividades do blog para que eu pudesse me dedicar ao livro. Pensei em fazer isso várias vezes, mas percebi que não conseguiria. Enfim, é algo que infelizmente vai ter que ficar para algum momento mais tranquilo da minha vida, talvez daqui a uns 20 anos. Por enquanto não tenho a menor condição.

Abraços

Leonardo disse...

Obrigado pela resposta, Rodrigo Barneschi.

Seria um prazer ler tal obra. Vinte anos é tempo pra cacete, hahaha.

Karina disse...

Saudades do Palestra e dessas sensações na chegada ao estádio.

Lindo texto!