25 agosto 2014

Reabrem-se as cortinas

*por Felipe Giocondo

Somos efêmeros. Vivemos pouco para tudo o que é preciso vivenciar. E talvez por isso a história seja sempre tão presente. Tomamos fôlego no passado para correr no futuro. Felizes aqueles que reconhecem seus erros e exaltam suas façanhas. Assim, somos melhores a cada dia. Quem sabe de onde veio saberá para onde ir.

2014 

A pedra fundamental do Palestra Italia tinha um objetivo claro: era preciso que um clube de futebol abraçasse o povo italiano em São Paulo. Não surgimos para segregar, sim para unir. Um em cada quatro paulistanos da época eram italianos, ou filhos. Oriundi, diziam. Discriminados como foram os nordestinos que desembarcaram na cidade na segunda metade do século passado. Como os africanos e chineses dos últimos anos. Como os bolivianos e haitianos de hoje.

O Palestra Italia surgiu deste sentimento. Naturalmente, cercou-se de início entre os seus semelhantes. Mas a Itália era pequena para a ambição do Palestra Italia. A cidade de São Paulo, idem. O estado logo foi superado. Difícil precisar exatamente quando. Porque, sabemos todos. Mas o Palmeiras, em pouco tempo, era Brasil.

Devo ser pretensioso, mas certo de ser preciso. Não há, em nenhum recanto do país, em nenhum discurso populista, em nenhuma preferência editorial, um clube mais genuinamente brasileiro do que o Palmeiras. E dobro a aposta.

Por 1942 e a bandeira empunhada. Por 1951 e o país vingado. Por 1965 e o Mineirão em festa.

Por ter 9 milhões de torcedores fora do próprio estado, ou por ser a camisa mais envergada Brasil adentro. Pelos seus inúmeros homônimos, todos, claro, em homenagem ao principal. O Palmeiras é um estandarte do país. Um pavilhão nacional.

Passamos a régua nos cem primeiros anos, vitoriosos e orgulhosos. Desnecessário repisar cada trecho épico dessa jornada. Necessário apenas dizer que tudo isso deriva de nossa vanguarda, do olhar pra frente que sempre nos acompanhou.

Mas nunca, jamais, podemos esquecer-nos de onde viemos. Só estacionamos quando deixamos de lado quem somos e a quem pertencemos.

Parabéns, Palmeiras. Cem anos de histórias, lutas e glórias.

2114 

O Palmeiras manteve-se leal a suas tradições e voltou a abrir os braços para o povo brasileiro. Nosso alviverde imponente rompeu com o pensamento retrógrado que permeava algumas de suas principais fileiras. Assumiu sua essência forjada em seu primeiro século de vida. Uniu e convergiu sua torcida.

O Palmeiras, em seu segundo século de vida, foi progressista. Quebrou o padrão engessado em cifras, aboliu as expressões mercadológicas do seu dia a dia. Isso não resultou, em momento algum, em times fracos e cofres vazios. Pelo contrário, o Palmeiras é hoje o clube mais rico deste país. Isso porque entendeu, antes de qualquer outro, que a essência do futebol é o torcedor. A paixão é algo de fora para dentro. O dinheiro não é meio, é fim. Quando soube respeitar a paixão dos seus aficionados, essa tropa só cresceu e se aproximou mais.

O Palmeiras confirmou sua vocação. É um time de massa, mas, essencialmente, um time de todos os povos. Abençoado o dia em que compreendeu isso plenamente. Feliz o ano em que o presidente não tinha sobrenome italiano. E nada contra a Itália, por favor. Mas foi nesse dia que tivemos a certeza que o Palmeiras elegeria o melhor para seu futuro, fosse ele europeu, nordestino, oriental ou tupi.

Os inúmeros títulos abarrotaram nossa imensa sala de troféus. Mas isso ainda é pouco, perto do orgulho que estampa o rosto de cada palmeirense. Os ídolos, abundantes no primeiro século, foram mais raros neste segundo. Sobre isso não podemos fazer nada, são os tempos. O importante, mesmo, é que a cada novo ano a camisa se sobressai ainda mais, porque é por ela que torcemos. Eles que joguem. Os onze são importantíssimos, mas os milhões do lado de fora são o essencial.

Parabéns Palmeiras. Duzentos anos de respeito, dedicação e amor ao seu torcedor.

2 comentários:

claudinei rockwood disse...

que o Palmeiras volte a ser o espinho entalado na garganta dos adversários. (Claudinei Rockwood)

Layo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.