30 julho 2010

O clássico da cidade

Brasileirão, 12ª rodada. Jogos do domingo:

MG: Atlético x Cruzeiro
RJ: Flamengo x Vasco
RS: Inter x Grêmio
SP: Palmeiras x Corinthians

Não é coincidência. É que a cidade de São Paulo tem um único grande clássico e ele acontece no mesmo dia de todos os outros grandes clássicos do país. Neste domingo, 1º de agosto, a capital paulista pode parar por algumas horas para viver o encontro dos dois rivais que amam se odiar. Isso vale para São Paulo e para todos os outros grandes centros do futebol no país, que também terão neste final de semana o encontro dos rivais históricos, dos times tradicionais da cidade, dos clubes que têm torcida de verdade. Neste domingo, acontece o confronto mais emblemático da maior metrópole do país. O grande clássico da cidade é este, a despeito de qualquer aspiração de clubes alijados dessa condição. O clássico paulista é Palmeiras x Corinthians, tanto quanto Flamengo x Vasco no Rio, Inter x Grêmio no Sul e Atlético x Cruzeiro em Minas. Simples assim.

“A senhora não sabe o que é um Palmeiras e Corinthians”: eis a frase eternizada pelo personagem de Lima Duarte no filme Boleiros. De fato, só sabe o que é um Palmeiras e Corinthians quem vive o clássico. E ele, o clássico, está de volta à sua casa, o estádio municipal. Nada pode ser tão importante quanto este encontro em que ódio e respeito prevalecem acima de tudo.

É guerra! E é domingo!

29 julho 2010

Ah, o Estatuto do Torcedor...


Aprovaram aí uma série de mudanças no tal Estatuto do Torcedor e enfiaram isso tudo na rotina do torcedor de futebol sem pedir licença. Muita gente veio falar sobre o assunto nos últimos dias: promotores de justiça (sempre eles), dirigentes de clubes e de federações, ministros, senadores, deputados, historiadores (!), sociólogos, jornalistas de todas as áreas possíveis, vagabundos de todos os tipos. Até mesmo o major Marinho (pra mim, ele será sempre major) foi resgatado de sua posição de burocrata do Del Nero e apareceu em rede nacional como especialista em segurança nos estádios. As emissoras de TV, é claro, foram revirar seus arquivos para encher a programação de imagens de brigas envolvendo torcidas organizadas (e eu pude me rever e rever alguns amigos também), como se a violência fosse o problema maior do esporte.

Muita gente falou sobre o assunto, e a porra da reformulação do Estatuto ganhou caráter de um marco civilizatório. Só quem não fala nessa história toda é o torcedor, pois nunca somos consultados neste país quando se trata de pensar nos nossos direitos. Só o que fazem é impor restrições, determinar proibições e impedir manifestações que sempre fizeram parte da cultura popular do futebol.

O tal Estatuto foi elaborado em 2003 sem que fosse consultado o torcedor. A reformulação agora sancionada pelo presidente aconteceu também sem que perguntassem ao frequentador de estádio o que ele quer, o que ele pensa, o que ele propõe. Fazem a lei com base nas opiniões de pulhas que não devem pisar no cimento da arquibancada há décadas. Criam regras e punições sem consultar logo o maior interessado. Determinam o que pode e o que não pode ser feito sem levar em conta a cultura do futebol e as necessidades do torcedor.

Não pesquisam, não perguntam, não avaliam o que pode ser melhorado. Não sabem quais são nossas prioridades, anseios e propostas de melhoria. Simplesmente criam normas que não condizem com a realidade, aumentam a repressão, usam o Padrão Fifa e a Copa de 2014 como um escudo para encobrir a nulidade de um discurso vazio e hipócrita.

Estatuto do Torcedor?

Obrigado e enfiem no cu! O torcedor faz as suas próprias leis. Não precisamos de burocratas sujos para determinar o que podemos ou não podemos fazer. O futebol e o torcedor vão resistir.

***

Ainda sobre isso, dois posts na mesma linha:

15.01.2009: Estatuto de qual torcedor?

16.01.2001: Ainda o tal Estatuto

28 julho 2010

Um elogio, pra variar

Os senhores devem ter notado que o ritmo de atualizações do blog caiu consideravelmente nas últimas semanas. Não é proposital, tampouco tem a ver com o Palmeiras; é falta de tempo mesmo. De toda forma, eis aqui um post bem rápido, desta vez com um elogio (que responde à acusação de um amigo que veio outro dia reclamar das seguidas críticas que eu faço no blog).

O elogio, vejam os senhores, tem a ver com o assunto mais improvável possível em se tratando do histórico palmeirense: venda de ingressos. Sim, porque se o horário de vendas exclusivo para vagabundos e mesmo a comercialização em um trailer improvisado no Pacaembu são dois problemas enormes, é preciso ressaltar a ampliação da venda online da Futebol Card para todo o estádio, ao contrário do que acontecia no Palestra.

Se antes apenas os abastados do Setor Visa podiam comprar o ingresso pela internet e entrar no estádio com o cartão de crédito, agora a comodidade foi estendida a todo o estádio. Com isso, nós, da arquibancada, podemos fazer tudo isso em casa, pagando uma razoável taxa de 10% (ou R$ 2, no caso do bilhete de estudante). É a recomendação que eu faço para todo palestrino, em especial porque a nossa torcida não perde o costume de deixar para comprar o ingresso na última hora.

Sabem o que é melhor nesse esquema da Futebol Card?

É que funciona. Pelo menos até agora.

***

Preciso dizer que, depois de depender de informações sobre a tabela do Apertura, nunca mais reclamo da CBF (menos, menos...). Porque a AFA foi soltar a tabela do Campeonato Argentino apenas um mês antes do início, mas sem as datas definidas, e só agora, a 10 dias da primeira rodada, divulgou o desmembramento dos jogos. Mas o que mais perturba são os horários:



Vejam os senhores que todos os 10 jogos acontecem em horários diferentes, tudo para privilegiar a TV. E aí temos absurdos como sexta à noite, sábado e domingo às 14h e às 20h20 etc. Pensando bem, sábado e domingo às 18h30 não são assim nenhuma tragédia...

23 julho 2010

O tamanho do problema

4 pontos em 9 disputados no período pós-Copa, 13 em 30 no total, empate em casa com o Botafogo, campanha rigorosamente mediana nas 10 primeiras rodadas, 7 gols sofridos nas últimas 3 vezes que o time foi a campo. O cenário todo, a considerarmos exclusivamente os números, é preocupante, mas não deveria inspirar o desespero que toma conta de alguns torcedores. Isso porque, ao menos dessa vez, é fácil apontar o que deve ser aprimorado. Tanto quanto a derrota para o Avaí, o empate de ontem foi um acidente de percurso, acentuado agora pelo peso de uma enorme frustração.

A questão é a seguinte: precisamos de jogadores, de elenco e de peças de reposição. Enquanto não tivermos um banco de reservas e enquanto dependermos de um único meia de criação, estaremos sujeitos a acidentes nos minutos finais (como foram os gols de Santos, Avaí e Botafogo). É um problema difícil de ser resolvido, mas ao menos agora não estamos diante de um impasse como o que nos vitimou no final do ano passado e que contaminou todo este primeiro semestre de 2010. E eu não sei vocês, mas eu prefiro estar diante de uma dificuldade enorme e com a solução à vista, a encarar algo inexplicável como a derrocada do ano passado.

É tudo uma questão de dar o tempo certo para Felipão implantar seu trabalho (lembrem-se de 1997) e esperar que a nossa diretoria consiga reforçar o elenco. Pode não ser já neste Brasileiro, mas teremos muito o que comemorar logo adiante.

***

Sobre o jogo de ontem: foi uma bela atuação, especialmente na primeira metade do segundo tempo, mas isso tudo desmoronou com dois gols improváveis e acidentais. Outro ponto positivo é que a torcida, ainda que em número insatisfatório, começa a se acostumar à nova casa. E é melhor eu não escrever aqui tudo o que gritei ontem sobre o nóia do Botafogo. Boa, STJD!

***

Peço desculpa aos leitores pela ausência prolongada, mas o ponto é que está sobrando pouco tempo para me dedicar ao blog como antes. Além disso, estou concentrado em um post/entrevista mais consistente, e isso deve evoluir na próxima semana.

16 julho 2010

Felipão, 2 a 1!

Não muito tempo atrás, teríamos deixado o Pacaembu depois de um jogo como este último contra o Santos com uma frase pronta e muito saudosismo: "Foi uma vitória com a cara do Felipão". Agora não tem mais saudosismo; o que temos mesmo é Felipão de volta. A vitória obtida neste reinício de temporada foi toda ela a caráter, e para isso bastou a presença do nosso treinador nas tribunas. 

Porque Felipão é sinônimo de sofrimento (mas do tipo recompensador), de emoção e de conquistas na base da raça. O 2 a 1 eternizado no placar eletrônico da nossa nova casa é a cara dele; é o resultado mais comum nos seus jogos à frente do alviverde, quase como uma preferência inconfessável. Pois se não foi possível alcançar uma virada clássica e se a vitória já estava quase assegurada, ainda há tempo (como houve) para tomar um gol e passar sufoco nos minutos finais, com direito a bola no travessão e outros sustos mais. 

Para completar a noite gloriosa no estádio municipal, eis que tivemos uma velha companheira ao nosso lado: a chuva. Se não foi uma tempestade torrencial, tivemos ao menos uma garoa persistente, que logo se transformou em chuva na etapa final, como que para lavar a alma dos palestrinos que lá estivemos na noite fria da metrópole. 

Foi uma grande noite, é bom dizer. Como se não bastasse o clima de reencontro com Felipão, pudemos ainda acompanhar uma atuação das mais destacadas de Kléber, o Gladiador. Sim, falta muita coisa ainda para termos um time confiável e pronto para voos mais altos, mas temos agora em quem confiar dentro e fora de campo. Temos quem aplaudir e temos ídolos no gramado. A confiança há de voltar para sepultar os problemas de 2009. Não à toa, a torcida voltou a cantar o nome dos jogadores antes do jogo. E o futebol é feito de grandes noites como esta última no Pacaembu.

Seja bem-vindo de volta, Felipão!

***

O público foi bem abaixo do esperado e do merecido pelo clássico. Fica aqui o parabéns para o 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar, que proíbe a venda de ingresso antes do jogo sem qualquer justificativa, a não ser como manifestação da própria incompetência.

15 julho 2010

Quem é mais vagabundo?

O 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado de São Paulo e a diretoria da Sociedade Esportiva Palmeiras entendem que o torcedor de futebol é um vagabundo. Mas eu, torcedor e trabalhador honesto, devolvo a pergunta: entre a PM e os nossos honrados dirigentes, qual categoria é mais vagabunda (no sentido de desocupada mesmo)?

Alguém entre os leitores haverá de perguntar: mas quando é que os nobres cartolas alviverdes ou os coxinhas fizeram tal afirmação?

Bom, é provável que eles nunca tenham feito esse pronunciamento de forma literal, mas é exatamente isso o que eles pensam de nós.

Vou usar o meu exemplo, pois sei que ele se aplica à grande maioria da nossa torcida. Vejamos: eu trabalho em um horário normal (e excessivo), das 9h às 19h, e em um local também normal, a avenida Paulista. Sou sócio do Palmeiras e, como tal, poderia comprar ingresso com 50% de desconto em uma bilheteria exclusiva e, supostamente, pela internet, com todo o conforto. Foi o que me disseram. Mas o tal sistema continua indisponível.

Em sendo assim, é preciso comprar o ingresso na bilheteria mesmo. O jogo é na quinta e as vendas começaram na segunda. Locais: Palestra Itália, Pacaembu (só no dia do jogo) e mais quatro lojas de esportes: no West Plaza (ao lado do Palestra), no centro, em Santana e em Moema. Horários: das 10h às 17h. O detalhe preocupante: provavelmente por determinação dos incompetentes coxinhas do 2º BP Choque, a venda de ingressos no Pacaembu no dia do jogo (hoje) termina às 17h (quatro horas antes da partida) – é clássico, sabem?

Aí eu pergunto: como é que eu vou comprar ingressos nesses pontos de venda entre 10h e 17h se eu estou trabalhando durante o dia (como qualquer pessoa normal, diga-se)? Eles esperam que eu abandone o trabalho e vá atrás dos ingressos (que não custam pouco, diga-se)? Eles esperam que eu enfrente o trânsito e o tamanho da cidade de São Paulo para gastar pelo menos R$ 40 para ver o jogo? Afinal de contas, não deveria ser uma função do clube facilitar a aquisição dos ingressos pelo seu torcedor? Não é interessante para o clube que o estádio fique cheio e que a renda seja maior?

Eles pensam ou não pensam que torcedor de futebol é vagabundo?

Isso posto, gostaria de saber quem é mais vagabundo: o 2º BP Choque, que se diz incapaz de garantir a segurança para a venda de ingressos antes de um jogo simples, ou os nossos dirigentes, que insistem com a venda de ingressos só durante a semana e apenas entre 10h e 17h?

Eu vou ao Pacaembu sem ingresso e terei de me matar para conseguir o meu – e provavelmente não vou poder usufruir do desconto de sócio do clube. Pergunto: os oportunistas do Visa fariam isso? Aliás, aproveitando o fato de que tem gente querendo transformar o futebol em negócio, deixo outra pergunta: em que outro setor de atividade o comerciante dificulta a venda do seu produto e, ainda assim, o consumidor se mata para conseguir adquirir o produto?

E aí, brilhantes diretores, o que me dizem?

***

1. É inaceitável que a venda de ingressos não aconteça antes do jogo dadas as condições acima. INACEITÁVEL!

2. É sabido que Palmeiras x Santos aconteceria no dia 15/07 há pelo menos quatro meses. Tivemos toda a Copa do Mundo no meio do caminho e tal, mas os ingressos só começaram a ser vendidos durante a semana do jogo.

***

Eu já escrevi alguns posts sobre este assunto (horários para venda de ingressos, determinações cretinas da PM, desrespeito dos nossos dirigentes, a visão de que o torcedor é um vagabundo etc.). Não vou ter tempo de encontrar todos eles agora, mas prometo levantar tudo depois e colocar aqui para ampliar o debate.

13 julho 2010

Sobre marcas e clubes de futebol

Entre as tantas atrações que marcaram a despedida do Palestra Italia no último feriado de 9 de julho, foi exibido um vídeo histórico sobre os 90 anos do estádio e, mais que isso, sobre a Sociedade Esportiva Palmeiras. Estavam lá quase todos os episódios marcantes da história alviverde, pontuados por imagens de arquivo e por depoimentos de personagens importantes. A produção do vídeo e a reconstituição histórica estavam à altura da ocasião, como era de se esperar em se tratando dos profissionais envolvidos. O que pegou para mim, no entanto, e é isso que motiva o post, foi o tratamento marqueteiro do vídeo apresentado para o torcedor. 

Isso porque o material exibido no intervalo do jogo parecia, em alguns momentos, menos um documento histórico e mais uma peça publicitária, tal foi a quantidade de expressões marqueteiras e jargões mercadológicos a que fomos submetidos. Em verdade, o vídeo tinha forte caráter doutrinário, como se fosse preciso convencer os que ali estávamos do que quer que fosse. 

Não, não era preciso. Definitivamente. Menos ainda do jeito que foi, com um linguajar corporativo adequado não ao público de uma partida de futebol, mas a uma plateia de executivos. Algumas expressões foram repetidas à exaustão, tal qual uma mensagem que precisa ser martelada, assimilada e "comprada" por um público-alvo: "inovação”, “pioneirismo”, "parceiros" etc. Eu já nem estranharia se viessem coisas como "stakeholders", "target" ou "budget". Mas nada foi tão ofensivo quanto a famigerada “marca Palmeiras” (dita não poucas vezes). Foi este último termo que atingiu em cheio a alma do torcedor palestrino.

O Palmeiras é uma marca?, pergunto.

Longe de mim ter a pretensão de produzir um texto acadêmico e/ou com embasamento teórico (até porque sou jornalista e não publicitário), mas é imprescindível fazer algumas ponderações.

Começo com a resposta categórica: não, o Palmeiras não é uma marca. Pelo menos não se considerarmos a abordagem mercantilista propagandeada pelo vídeo. É um erro equiparar um clube a uma marca, tanto quanto é equivocado comparar o sentimento de um torcedor pelo seu time às motivações que levam um consumidor a optar pela marca X em detrimento da Y. O que acontece é que o senhor Rogério Dezembro, que dizem ser um bom profissional no meio publicitário, procura adaptar para o mundo do futebol o discurso e os conceitos que pautam a relação entre empresas e consumidores. É este o erro conceitual que transforma um supostamente competente publicitário em um fracassado executivo de marketing no cenário esportivo.

A concepção equivocada de Dezembro determinou uma aberração como este Avanti que aí está, um programa que estimula o consumismo acima do relacionamento entre clube e torcedor. Isso explica o baixo número de adesões, pois o torcedor não está interessado em adquirir produtos (com desconto ou sem, tanto faz), mas sim em ingressos, em benefícios no relacionamento com o clube e em maneiras de ajudá-lo a ser mais forte (sem a relação de oportunismo normalmente vislumbrada pelos marqueteiros).

É importante destacar o parágrafo acima, mas existe um fator ainda mais essencial para explicar porque um clube de futebol não pode ser equiparado a uma marca. Em uma definição grosseira, eu diria que uma marca precisa construir uma identidade própria para reforçar seus atributos e, assim, conquistar o seu público. Toda a estratégia é voltada para tomar o espaço da concorrência e alcançar um objetivo maior: fidelização.

¿Te das cuenta Benjamín? El tipo puede cambiar de todo: de cara, de casa, de familia, de novia, de religión, de Dios... pero hay una cosa que no puede cambiar, Benjamín... no puede cambiar... de pasión." (aqui)


Vejam que curioso: o objetivo de uma marca é exatamente o pressuposto de um clube de futebol. O marketing aplicado ao futebol, portanto, não deve considerar a fidelização como uma meta, mas como um ponto de partida.

É esta a particularidade que deveria ser compreendida por Dezembro e sua trupe antes de pensarem em coisas como “marca Palmeiras”. Um clube de futebol difere de uma empresa por alguns fatores, sendo um essencial: ele não tem concorrência. Prestem atenção: clubes não têm concorrência, à medida que dispõem de um público fiel, cativo e consolidado, que independe de quaisquer estratégias de marketing para continuar comprando produtos e ingressos para jogos ou apoiando todo tipo de ação que possa alcançar o objetivo final na cabeça dos marqueteiros: lucro, dividendo, ROI, como queiram chamar essa merda toda.

Quando muito, o marketing deve ser utilizado como ferramenta de fortalecimento e sustentação do que é um clube de futebol na sua essência: alma, cultura popular e paixão. Toda e qualquer iniciativa de marketing deve ser pensada para reforçar uma identidade já criada. Do jeito que está, no entanto, o que fazem os publicitários é descaracterizar o futebol tal como o conhecemos, indo contra a sua essência. Ao falar em “marca Palmeiras”, vejam só, o que fazem é criar um simulacro de uma instituição quase centenária.

Nesses tempos midiáticos, um clube precisa, sim, se preocupar com novos torcedores, mas não em conquistar os atuais, pois esses já representam uma parcela fidelizada do, digamos, público potencial. Para esses, basta não fazer nenhuma besteira e está tudo resolvido. Basta respeitá-lo e oferecer as mínimas condições para alavancar as vendas e criar novas (e respeitosas) fontes de receita.

Não é preciso pensar em ações mirabolantes ou em produtos e serviços que extrapolem a relação torcedor-time. É preciso investir nessa paixão natural, mas sem exploração, sem desgaste, e sem extrapolar os limites do bom senso. Não é preciso valorizar a “marca”. Um clube se valoriza a partir da paixão da sua torcida e da conquista de títulos. Marketing de guerrilha ou de engajamento, como aqueles modelos adotados por clubes co-irmãos, têm efeito tão nefasto quanto a elitização pregada agora pelo senhor Rogério Dezembro. Porque, ao investirem em uma plateia qualificada e seletiva, os marqueteiros correm o risco de afastar (por fatores financeiros) exatamente o público que sustenta o futebol.

A despedida do Palestra serve de exemplo:

R$ 300 pelo ingresso de um jogo? Resultado: tivemos um Setor Visa com algo entre 10% e 15% de ocupação na despedida do Palestra. O contraste entre a amplitude daquele espaço vazio e a importância do jogo é um bom sintoma de como a estratégia de Dezembro é equivocada: você não cria novos públicos no futebol e você não pode depender de plateias seletivas. Você simplesmente aproveita as especificidades únicas do futebol para crescer: fidelidade garantida e falta de concorrência.

“Marca Palmeiras”? O meu Palmeiras não é uma marca, Dezembro. O meu Palmeiras é o Campeão do Século XX, é o clube mais vitorioso do futebol brasileiro, é o clube de uma história única. O meu Palmeiras não é um instituição de elitistas filhos da puta, o futebol não é uma opção de entretenimento e alma é algo que não se compra. O Palmeiras não é uma "marca" e nenhum outro clube pode ser.

***

O Teo, aquele do Estatuto para o verdadeiro torcedor e da frase “O marketing está destruindo o futebol”, colaborou com este post.

11 julho 2010

Vida que segue


Foto: Seo Cruz

Ele se foi. Agora, parece, é pra valer e teremos de nos acostumar mesmo a uma vida sem o estádio que tanto amamos. Sei que parece dramático, mas não tem como ser diferente: a julgar pelo histórico recente, pelo que é dito por nossos dirigentes e por alguns elementos do jogo de despedida, nada mais será como antes.

Como já escrevi em posts anteriores tudo o que poderia ser dito sobre a despedida da nossa casa, eis então que me permito agora fazer um post menos poético e mais analítico sobre o que nos espera. Peço desculpas se esperavam algo diferente, mas não dá para fugir agora de certas constatações e de comentários que representam um desabafo de quem é torcedor de arquibancada.

A verdade é que comecei a escrever um texto com começo, meio e fim e me perdi ainda no início. Escrever sobre o Palestra, mais ainda depois da despedida, desperta sensações que impedem a concentração necessária. Portanto, o único jeito de finalizar esse texto (que demorou demais, admito) é dividir tudo em tópicos:

--O resultado do jogo de sexta pouco importa, a não ser para os livros de história, que registrarão uma derrota para o Boca como o confronto derradeiro do imortal estádio Palestra Italia. Por sinal, é forçoso notar que continuamos pagando muito caro por aqueles 6 a 1 de 1994 - e trocaríamos todos aqueles gols por vitórias simples em 2000, 2001 e 2010.

--Mesmo com o 0 a 2 no placar, a massa alviverde preferiu celebrar toda a história de vitórias e conquistas, deixando de lado o que acontecia em campo. Foi um espetáculo belíssimo, à altura de tudo o que fizemos ao longo das últimas nove décadas.

--Ainda que contra a vontade da nossa diretoria, estávamos todos lá. Ou quase e com tudo o que nos foi permitido: faixas, bandeiras, um pouco da festa que já tivemos lá atrás. Nem os R$ 80 exigidos por um ingresso de arquibancada foram capazes de retirar da arquibancada do Palestra o seu verdadeiro dono.

--A arquibancada estava cheia, como sempre esteve. Na noite em que até a numerada entrou no consagrado espetáculo das faixas esticadas com as cores da Italia, só o que ficou vazio foi aquele maldito setor que ocupa o que sempre foi o nosso lugar no estádio. É curioso notar: até a numerada entrou na festa, mas o Visa ficou de fora. Não é à toa: a numerada tem lá a sua história e o seu o público bem definido. O Visa, por sua vez, é uma aberração.


O Setor Visa completamente vazio é o retrato da incompetência do senhor Rogério Dezembro e de todos os que compartilham de sua voracidade elitista. O público que ele quer no estádio é exatamente este que os senhores veem acima: uma plateia seletiva, que vai desembolsar R$ 300 apenas em situações excepcionais e se não houver programa melhor para fazer. Enquanto a arquibancada transbordava, o Visa ficou às moscas. O Palestra não merecia isso.


Acima: até os amendoins entraram na festa. As faixas foram estendidas, já nos minutos finais, com o 0 a 2 no placar, e o povo que ali estava entrou no ritmo.

Abaixo: o Visa e a sua apatia costumeira, como se nada estivesse acontecendo no estádio.


--Quanto ao 'evento' em si, mais acertos que erros. Foi bonita a homenagem aos ex-atletas e ao Marcos. O mesmo vale para a presença da bateria da Mancha no campo, bem antes do jogo, e para todo o clima nostálgico que cercou o último jogo.

--Evair. Ah, Evair...

--Só não entendi a presença de um trio de arbitragem no gramado. Era totalmente dispensável, mais ainda se considerarmos o histórico que temos com esses filhos da puta na nossa casa. Juiz nenhum teria o direito de pisar no gramado do nosso estádio em um dia tão importante. Mas aí resolveram inventar um desses malditos na nossa despedida e o cara ainda resolveu fazer graça.

--"Arena multiuso": nunca vou entender o significado disso. Estádio de futebol só tem um uso possível.

--Sei que todos só conseguiam pensar na final da Copa, mas a cobertura da imprensa esportiva, exceção feita ao Agora e mesmo ao L!, foi desrespeitosa. O Estadão chegou ao cúmulo de ignorar completamente a realização do jogo na sua edição de sexta. Nada, nada, nada; foi como se o Palmeiras não fosse a campo naquele dia, foi como se não houvesse uma despedida, foi como se aquilo não importasse.

--Vocês repararam quantas vezes a expressão "marca Palmeiras" apareceu no tal vídeo do Dezembro, no intervalo? Pois bem, aquilo foi uma agressão gratuita e desnecessária contra a alma do palestrino. Mas vou deixar para escrever sobre isso durante a semana e em um outro post.

--Jogar no gramado do Palestra no dia seguinte foi a realização de um sonho. Obrigado a todos os amigos que participaram deste momento único. E obrigado ao Palmeiras por permitir que isso acontecesse.

***

Eu bem sei que o texto acima não está à altura da despedida do Palestra ou mesmo do padrão deste blog. Mas é que eu até agora não consigo aceitar a ideia de que nunca mais poderemos ver o Palmeiras jogar no seu estádio. Não me acostumei a isso, e foi bastante complicado conseguir chegar até aqui. Para todos os efeitos, peço que considerem isto aqui.

***

Recebi do leitor Juliano (está certo, meu caro?) o vídeo abaixo, um bom resumo do que foi a despedida do Palestra. As sugestões do YouTube trazem outros bons vídeos sobre tudo o que aconteceu na última sexta:



O Seo Cruz fez belíssimas fotos da despedida. Vale conferir lá, mas eu me permito postar mais outra imagem dele para fechar o post:

07 julho 2010

Palestra Eterno


"Tenho a impressão que vou subir junto com o ataque no ar, estacionar alguns metros acima, e cabecear sozinho pro fundo da rede. Quero ouvir aquele som indecifrável que precede o grito de gol. O som dos pulmões que se enchem de ar respirando fundo. O pressentimento se tornando real.

Esse poderia ter sido o último gol do Palestra Itália. Como poderia ter sido aquele do Euller no último segundo, algum do Ademir da Guia, do Leivinha, qualquer outro de Rivaldo, Alex, Edmundo, Cesar. O último gol, pensando bem, poderia ser com o relógio do tempo parado, em um pênalti magistral do Evair. Poderia ser qualquer um. Na verdade, não importa nem qual foi. O último gol do Palestra Itália é aquele que guardamos na nossa lembrança até hoje, que descrevemos com uma precisão de detalhes e sensações que só nós conseguimos. Cada um tem seu último gol no Palestra Itália e tem o direito de contemplá-lo para sempre."


O texto que pode ser apreciado acima é de autoria do grande palestrino Felipe Giocondo, outro desses grandes amigos que o Palmeiras me deu - e eu sou grato por todos.

O último gol do Palestra, como bem diz o Giocondo, é qualquer um entre todos os que ficam na nossa memória de estádio. Em verdade, pouco importa se será contra o Grêmio ou contra o Boca. Importa é que carregaremos para sempre o sentimento que acompanha cada gol visto a partir do cimento da arquibancada da nossa casa.

Um gol, eu percebo agora, é como um amigo, daqueles que teremos sempre ao nosso lado para nos confortar nos maus momentos. Um gol. Todos os gols. Mais de mil, no meu caso. Não saberia escolher um só e deixar os outros de lado. Cada qual tem o seu valor, a sua importância, o seu espaço. Primeiro, último, mesmo aqueles que o tempo tratou de encobrir ou os que sequer pudemos ver, serão todos eles eternizados como se possível fosse fotografar a explosão de um torcedor depois que a bola encontra a rede.

O Palestra se vai, e agora há de ser para valer. Teremos mais uma oportunidade de tomar as ruas de Perdizes, de beber todas antes e depois do jogo, de abraçar os amigos, de viver aquela ansiedade que antecipa o encontro com mais um gol. Isso é eterno. Como eterno e imortal é o estádio Palestra Italia.

***

Foram tantos os posts já publicados sobre a despedida do Palestra que já até perdi a conta. Como não seria capaz de produzir mais nada à altura dos textos anteriores, o que faço agora é linkar os mais relevantes. A saudade escorre por entre os dedos...

O Palestra em -10 jogos (07.06.2010)

Imortalidade (23.05.2010)

O Palestra em 20 jogos (19.05.2010)

A despedida (13.05.2010)

***

Para os que puderem/quiserem, fica o recado: no sábado, 10/07, 132 privilegiados(as) pisarão no gramado do Palestra para sentir o gosto de, ao menos por meia hora, defender o Palmeiras na sua casa (com todo o cerimonial que cerca um jogo oficial). Eu serei um desses. A partir das 8h, e o meu jogo será o das 10h45. Entrada franca (inclusive para faixas e bandeiras), no Setor Visa (que, afinal das contas, é o nosso lugar).

05 julho 2010

O marketing contra o futebol

“O marketing está destruindo o futebol”. A frase é do grande Marco Bressan, o Teo, aquele mesmo do Estatuto para o verdadeiro torcedor. Começo o post com a citação dele porque o momento pede algo nessa linha. A questão, amigos, é que o Palmeiras (ou melhor, algumas pequenas figuras que contaminam o nosso clube) resolveu virar as costas para os verdadeiros donos do estádio Palestra Italia.

O estádio Palestra Italia, cuja despedida oficial acontece nesta sexta-feira, não é de nenhum dos dirigentes que está hoje no Palmeiras, como não é de qualquer pessoa que possa ter estado à frente do nosso clube em qualquer momento de quase 96 anos de história. O estádio Palestra Italia pertence aos milhões de palestrinos, vivos ou mortos, que um dia já passaram por ele. É o estádio de todos os que, em algum momento e com qualquer pequena contribuição, tenhamos colaborado para fazer do Palmeiras o Campeão do Século XX.

O Palestra é meu, é de você que me lê, é de cada torcedor que leva o sentimento de palestrinidade para todos os cantos do mundo. O Palestra é de todos os que o amam e o frequentam desde os tempos idos do início do século anterior. Na sua despedida, um tanto tardia e atabalhoada, é verdade, era de se esperar que todos fôssemos convidados. Era de se esperar que a nossa casa recebesse bem (e de braços abertos, se possível fosse a uma estádio) quase 30 mil torcedores, e estes seríamos representativos de todo o povo que fez do Palmeiras o gigante que ele é.

Mas o Palmeiras, descomunal por natureza, tem entre seus dirigentes uma pequena figura que atende pelo nome de Rogério Dezembro. Pois bem, Dezembro já foi inúmeras vezes questionado e criticado por este blog e os senhores podem encontrar as referências por aí. Fiquem à vontade. Dezembro, vejam os senhores, é o nome por trás do malfadado Avanti, o pior e mais vergonhoso programa de relacionamento entre um clube de futebol e o seu torcedor (ou consumidor, se tomarmos por base os preceitos do nosso marqueteiro-mor). Dezembro conseguiu jogar no lixo meses de trabalho e incontáveis boas ideias vindas de setores da torcida para apresentar um plano que valoriza não o torcedor de verdade, mas sim o sujeito que dispõe de mais dinheiro para investir em produtos de empresas outras (e não em ingressos).

Dezembro, contam-me, só vê dinheiro à sua frente. Dezembro, relatam-me – e tomo por base os relatos já que não tive o desprazer de conhecê-lo pessoalmemte –, é um elitista por vocação. Dezembro não é um dos nossos. Dezembro, ao invés de permitir que todo palmeirense tivesse acesso ao jogo de despedida do estádio que tanto ama, optou por promover um amistoso com ingresso mais barato a extorsivos, indecentes e obscenos R$ 80.

Fez isso o nosso diretor de marketing porque a ele não importam os sentimentos da massa alviverde – a palavra massa, diga-se, deve provocar asco em figuras elitistas como ele. Dezembro não quer o estádio tomado pelo palmeirense de verdade; Dezembro quer o torcedor do Setor Visa, quer o oportunista de ocasião, quer o sujeito que vai a campo não para empurrar o time à vitória, mas para participar de uma festa. Festa: é isso o que teremos.

O nosso diretor de marketing não quer no estádio aquele torcedor que passou as últimas décadas encarando sol e chuva no cimento da arquibancada. Não quer o torcedor que apoiou o time nos momentos mais complicados, na fila, na Série B, nas tantas temporadas perdidas. Nada disso; ele não reconhece o palestrino da arquibancada como dono da casa que ele ajudou a construir. Nada de convidar para a despedida quem viveu o Palmeiras em sua plenitude nas últimas décadas. Nada de priorizar a arquibancada, de valorizar o torcedor assíduo, de enaltecer o público que permitiu ao estádio Palestra Italia ser palco de dias e noites memoráveis nas últimas décadas. Nada disso; pouco importa quem fez do Palmeiras o que ele é.

Você, palmeirense humilde, está fora dos planos. Você construiu a história desse estádio, mas foi preterido agora. O que se quer é o torcedor disposto a pagar pelo menos R$ 80 por uma suposta festa e por um kit de amenidades. O que se quer é um torcedor que pode pagar (caro) pelo lugar antes ocupado por tantos e tantos de nós, os torcedores de verdade.

R$ 80 é um crime!

Dezembro pôs o marketing à frente do futebol. Dezembro pôs o marketing à frente do torcedor. Dezembro desrespeitou todos nós. Mas o pior mesmo é que o elitismo de Dezembro é aceito e levado adiante por quem está acima dele.

Pois é, Teo, o marketing está destruindo o futebol.

***

Relativização necessária:

O marketing é imprescindível nos dias atuais, seja em uma empresa, em uma instituição privada, nas esferas governamentais, mesmo em uma sociedade esportiva. O marketing é necessário para a sobrevivência de qualquer entidade, e nem o futebol pode escapar disso. É fundamental, no entanto, que isso aconteça com parcimônia, com o devido respeito à cultura já previamente estabelecida e firmada – e aqui me refiro diretamente à essência do futebol, o esporte do povo.

O marketing deve funcionar como complemento das ações normais do futebol, elas todas voltadas ao torcedor na acepção do termo, ou seja, àquele que vai ao estádio. As ideias que despontam das ‘criativas’ mentes de nossos marqueteiros nunca devem se sobrepor ao interesse do torcedor. Elas não podem, em hipótese alguma, questionar o papel de quem frequenta estádios, tampouco criar obstáculos à presença de quem vai aos jogos não por algum incentivo, mas simplesmente porque ir ao estádio faz parte da sua rotina.

Uma iniciativa como a do senhor Rogério Dezembro, impondo a cobrança mínima de R$ 80 para o torcedor que quiser entrar na sua casa casa, é concebida para restringir o acesso de grande parte da torcida. Sim, pois R$ 80 é um valor inacessível para uma parcela considerável do torcedor. Mais até: é um valor incompatível com o caráter do jogo, um amistoso (como se isso fosse possível no contexto do futebol). É, sejamos claros, uma nota de corte.

Dirão alguns que o valor inclui uma conjunto de frivolidades, como revista, certificado e o escambau. Ok, eu respondo então que essa estratégia, que se assemelha a uma venda casada, não permite ao torcedor o direito sagrado de simplesmente adquirir o ingresso para o jogo e participar da despedida do Palestra. Porque o senhor Rogério Dezembro, refém de seu elitismo, não consegue compreender a premissa essencial do torcedor de futebol. Ele não entende que apenas uma coisa interessa ao torcedor: ingresso. Todo o resto é supérfluo e deve ser tratado como tal.

Ao condicionar a presença do torcedor no estádio à aquisição de outros itens, ele impõe uma dificuldade por vezes intransponível para muitos dos que gostariam de ir a campo só para ter uma despedida do estádio Palestra Italia.

As ações, registre-se, seriam válidas se não fossem obrigatórias. Eu mesmo, por exemplo, vou pagar R$ 500 (seriam R$ 620 se eu não fosse sócio) para poder disputar um jogo com todo o cerimonial lá no Palestra. O ingresso vem junto (e eu desprezo a numerada descoberta do senhor Dezembro para ficar na arquibancada), assim como uniforme completo e o escambau. Mas eu fiz a opção de pagar por isso, e é justo que o clube promova esse tipo de ação. O que não se pode fazer é condicionar a presença do torcedor ao desembolso de R$ 80 para um simples amistoso.

Encerro com uma pergunta para o senhor Rogério Dezembro:

Diz o material de divulgação da despedida que será distribuído um certificado de presença para quem for ao jogo. Isso vale para todos os setores, menos para a arquibancada. Não que vá fazer diferença, mas a pergunta é válida: por que, Dezembro, o torcedor da arquibancada não receberá o tal certificado?

04 julho 2010

"Una locura nacional"


O que os senhores veem acima é a capa do site do Olé, o principal periódico esportivo da Argentina, às 20h deste domingo. Os caras que estão sendo recebidos com festa acabam de ser eliminados da Copa do Mundo de futebol, com um inapelável 0 a 4 para a Alemanha.

No Brasil, cuja seleção foi eliminada com um 1 a 2 para outra forte seleção europeia, a postura é outra, tanto na torcida quanto na mídia dita especializada. Eu confesso que não fiquei procurando as manchetes de todos os nossos jornais ontem, mas, como assinante da Folha e do Estadão, trago aqui as duas para apreciação:

Folha de S.Paulo: "Derrota encerra 2ª era Dunga"

O Estado de S. Paulo: "Brasil de Dunga é eliminado"

Notem, por favor, que são as manchetes de capa e não do caderno de esportes. Folha e Estadão deixaram de lado a economia e a política para abrir as edições de sábado com manchetes relacionadas a um assunto que eles consideram menor. E fizeram isso não em tom informativo, mas claramente para reforçar o tom de "indignação que tomou conta do país". Pior até: compraram a briga da Rede Globo, logo aquela que exige privilégios que contrariam os interesses de todos os demais veículos de comunicação do país.

Fizeram o que se espera de um jornal brasileiro: elegeram um vilão. Enquanto a Folha fala em "2ª era Dunga", jogando o peso nas costas de um único cidadão (de novo!), o Estadão diz que a seleção era "de Dunga". Sutil, não?

O tom é quase sempre catastrófico: análises cruéis, listas de culpados, crucificações, frases na linha "é hora de repensar tudo", "não pode sobrar ninguém", "ninguém presta" etc. Na imprensa e entre o povão. Não há senso crítico algum; o Brasil, na visão dos ditos especialistas e do povão, tem de ganhar todas e nenhuma outra seleção presta. Quanto aos jogadores que não conseguiram trazer a taça, só falta dizer que merecem ser recebidos a pedradas.

O Brasil tem 97 jogos disputados em Copas do Mundo: venceu 67, empatou 15 e perdeu 15. Foi a todas as edições; chegou a sete finais e ganhou cinco. Considerando os últimos cinco Mundiais, foi a três finais. Deixou este último com uma derrota por 1 a 2.

A Argentina tem 70 jogos disputados em Copas do Mundo: venceu 37, empatou 13 e perdeu 20. Fez "apenas" quatro finais, com dois títulos. Não chega sequer à semifinal de um Mundial já há 20 anos. Deixou este último com uma derrota por 0 a 4.

No Brasil, cada integrante de uma seleção que volta sem a taça ganha automaticamente a condição de um pária desprezível, de um traidor da pátria, de um canalha sem caráter. Não existe sentimento pela seleção, pela pátria, pelo futebol; existe, isso sim, um interesse momentâneo pelo título (e não do título como conquista de uma nação, mas da festa que dele decorre). Na Argentina, os jogadores derrotados são recebidos de braços abertos; em lugar de autodepreciação, exaltação ao amor próprio.

"Empate, gane o pierda el sentimiento es el mismo". Apoio incondicional. O verbo "alentar" não tem tradução apropriada para o Português. Por aqui, é tudo condicionado; normalmente, o amor à pátria aparece apenas a cada quatro anos.

A forma como a seleção de cada país é recebida depois da eliminação na Copa define o que se pode chamar de "torcida" lá e aqui.

***

"¡¿Qué pasaba si éramos campeones?! "

03 julho 2010

Aguante Celeste!

Eu já tinha outro post pronto para publicar hoje, mas ele vai ter de esperar. A façanha do Uruguay não pode passar em branco. A façanha do Uruguay precisa ser vivenciada, enaltecida e eternizada nas mentes e nos corações de todos aqueles que amamos o futebol de verdade. A façanha do Uruguay, peço que me entendam, não é chegar entre os quatro; longe disso. Maior do que isso, a façanha do Uruguay é chegar à semifinal da maneira como se deu a classificação de hoje. A façanha do Uruguay é fazer reviver o futebol em meio ao festival de bizarrices que tem vitimado o futebol nesses tempos de futebol tão, como é mesmo a palavra?, modernos.



Chegar entre os quatro, acreditem vocês, não tem o mesmo valor que chegar até lá da maneira como chegou o Uruguay. Mesmo um título pode não significar tanto, porque nem todos os títulos são obtidos por times que jogam como se estivessem em uma guerra. Nem todos os títulos são obtidos no campo de batalha, com o gosto de sangue na boca e com a dose de sacrifício que se requer de um verdadeiro campeão.

O Uruguay mostrou o que é futebol - e o futebol é guerra, porra! O Uruguay, este pequeno grande país, mostrou ao mundo que o futebol resiste a tudo e a todos, e ele às vezes precisa mostrar isso em grande estilo. Precisa reviver pelos pés (e pelas mãos) de um bravo e guerreiro país encravado entre dois outros gigantes latino-americanos. E precisa fazer isso bem debaixo dos olhos de dona Fifa, porque o futebol é mais forte que ela.

Dirão os idiotas, aqueles que gostam de futebol bonito, que o Uruguay chegou a ser dominado em parte do jogo, que só empatou no tempo normal e na prorrogação, que se livrou da derrota com um toque de mão no último lance, que só foi alcançar a vitória nos pênaltis. Dirão tudo isso, é verdade. Mas só dirão isso por não entenderem porra nenhuma do que é o futebol.

Dirão isso tudo porque são imbecis que só se interessam por futebol a cada quatro anos. Dirão isso tudo por desconhecimento e também um pouco por despeito. Dirão isso tudo por não compreenderem o futebol em sua essência. Dirão isso tudo por serem oportunistas que nos infernizam a vida por um mês a cada quatro anos. Dirão isso tudo por não conhecerem o sabor de uma vitória alcançada com sangue, suor e sacrifício. Dirão isso por não saberem que poucos países vivem o futebol como o Uruguay.

Deixemos que digam. Porque vai passar a Copa e o futebol voltará a ser nosso, de quem se importa com ele e de quem o vive na plenitude. Deixemos que digam. Para eles, não vai restar nada a não ser as tardes de festa, as cornetas no ouvido e a sensação de terem vivido algo que desconhecem. Nós ficaremos com o futebol e com a certeza de que ele vive em uma façanha como esta do Uruguay.

***

Suarez, um nome para a história. Suarez, um herói que se sacrificou pela pátria. Suarez, um monstro do tamanho do Centenario de Montevideo. Aguante Celeste!