25 dezembro 2010

Assassinos do Maracanã

"Você já entrou, alguma vez, num estádio vazio? Experimente. Pare no meio do campo, e escute. Não há nada menos vazio que um estádio vazio. Não há nada menos mudo que as arquibancadas sem ninguém.
Em Wembley ainda soa a gritaria do Mundial de 66, que a Inglaterra ganhou, mas aguçando o ouvido você pode escutar gemidos que vêm de 53, quando os húngaros golearam a seleção inglesa. O Estádio Centenário, de Montevideo, suspira de nostalgia pelas glórias do futebol uruguaio. O Maracanã continua chorando a derrota brasileira no Mundial de 50. Na Bombonera de Buenos Aires, trepidam tambores de há meio século. Das profundezas do estádio Azteca, ressoam os ecos dos cânticos cerimoniais do antigo jogo mexicano de pelota. Fala em catalão o cimento do Camp Nou, em Barcelona, e em euskera conversam as arquibancadas do San Mamés, em Bilbao. Em Milão, o fantasma de Giuseppe Meazza mete gols que fazem vibrar o estádio que leva seu nome. A final do Mundial de 74, ganho pela Alemanha, continua sendo jogada, dia após dia e noite após noite, no estádio Olimpico de Munique. O estádio do rei Fahd, na Arábia Saudita, tem palco de mármore e ouro e tribunas atapetadas, mas não tem memória nem grande coisa que dizer."
Eduardo Galeano, em "Futebol ao Sol e à Sombra"



A tal arquiteta que projetou o "novo" Maracanã deu agora para aparecer em tudo quanto é lugar. Ela aparece, vomita merda atrás de merda, e a imprensa, em sua grande maioria, só noticia, sem se dar conta que está sendo cúmplice da destruição do maior monumento do futebol no mundo. O Maracanã, o estádio mais lindo que pode existir, está sendo completamente destruído para dar lugar a um ambiente que melhor vai atender aos interesses de meia dúzia de velhos caquéticos da Fifa e a outros tantos empreiteiros vagabundos. Tudo isso ao custo de mais de bilhão de reais, como se houvesse dinheiro sobrando e como se o torcedor de futebol fosse se beneficiar de alguma forma disso tudo.

Aí a tal arquiteta aparece na TV, o crápula Ricardo Teixeira enfim realiza a aspiração de por abaixo o Maior do Mundo e os velhos da Fifa garantem um lugar mais confortável para instalarem suas bundas decrépitas durante um único e maldito mês, o da Copa-2014. Perde o futebol, perde o torcedor, perde o Brasil. Tudo, como bem resume Lúcio de Castro, em um post definitivo sobre o assunto, "sob o argumento que sempre encanta a alguns tolinhos: a modernização. Uns se encantam por idiotice mesmo, outros por interesses e picaretagem".

Já escrevi inúmeros posts sobre o assunto, mas minha revolta só faz aumentar a cada vez que recebo novidades sobre o assunto ou, pior, a cada vez que são exibidas as imagens de um templo sagrado que vem abaixo para atender a interesses nefastos. E este post, atemporal e necessário em meio ao silêncio das férias, é uma maneira de registrar novamente meu inconformismo e, mais que isso, reunir em um só lugar toda uma série de pensamentos de pessoas que, como eu, não são cúmplices do assassinato do Maracanã.

Deixo abaixo algumas indicações, e o espaço dos comentários está aberto para a colaboração dos internautas, no aguardo de sugestões de outras fontes que não sejam cúmplices de um crime sem precedentes na história do futebol. É só postar nos comentários, e eu depois acrescento tudo isso à versão final deste texto. Obrigado aos leitores e a todos os que não compactuam com esse crime.

Os criminosos de 2014
Forza Palestra, 24.08.2010

O novo "Maracanazzo"
Paulo Calçade, ESPN (09.12.2010)

E seguem destruindo o futebol...
Eduardo Goldenberg no Buteco do Edu (02.12.2010)

O meu Maracanã e o Maracanã dos proxenetas
Lúcio de Castro, ESPN (26.08.2010)



A foto acima, do blog do Paulo Calçade, mostra a alma do Maracanã sendo removida a cada dia, a cada pedaço de cimento que é retirado da arquibancada e da antiga geral. É a prova de um crime sem precedentes. Dirigentes inescrupulosos, a arquiteta vagabunda, Teixeiras, Havelanges, empreiteiros oportunistas, velhos que não viverão para ver a destruição de um templo sagrado, jornalistas esportivos que não pisam em estádios, os idiotas da modernidade, são todos cúmplices.

10 dezembro 2010

Passar bem, 2010

Acabou o ano maldito. As cinco derrotas que fecham a temporada dão a medida exata de tudo o que tivemos de aguentar de janeiro para cá. Não apenas pela sequência negativa, mas porque foram cinco fracassos acompanhados ou de decepção extrema e irreversível (um deles) ou de interesses invertidos (outro) ou de profundo desinteresse (todos os demais). Perdemos neste final de ano todo e qualquer prazer de ver o Palmeiras em campo. Foi uma temporada ainda pior que a de 2009, que, por sua vez, foi pior que a de 2008... e assim caminhamos rumo a um futuro nada promissor. Relendo agora os posts finais de 2006, 2007, 2008 e 2009, vejo que o inconformismo, a desesperança e a decepção de agora muito se assemelham ao que sentimos em anos anteriores, e isso é por demais preocupante.

Os números de 2010 (75-30-23-22) são dignos dos piores anos da década de 1980, e isso enseja raciocínios e conclusões os mais tortuosos possíveis. Deixando-os de lado, no entanto, temos um ano com muito pouco o que comemorar.

Vivemos um primeiro semestre esquecível, com a 11ª colocação no Paulistão (que vergonha...) e uma bizarra eliminação para o CAG. Aí, quando tudo parecia tomar rumos mais condizentes com a nossa história, com a volta de três grandes ídolos, o Palmeiras sucumbiu aos muitos fantasmas de seu passado recente: vegetou no Campeonato Brasileiro de pontos corridos (uma campanha 12-14-12, com saldo de gols negativos) e viveu uma das noites mais vergonhosas de sua história – e mais dolorida para grande parte de sua torcida – ao permitir que o Goiás fosse a Avellaneda no nosso lugar.

Trágico. O ano perdido, mais um, é, se pensarmos bem, o desfecho bem adequado de uma década igualmente perdida. De outros anos, no entanto, até que conseguimos levar algumas alegrias mais consistentes: uma final aqui e ali, uma classificação na base do “Aqui é Palmeiras”, uma virada felipônica, uma grande vitória fora de casa, coisas do tipo. De 2010, pouca coisa fica. Talvez só mesmo os 3 a 0 diante do Vitória, a vaga conquistada na Arena da Baixada e as festas da torcida. É pouco, muito pouco. Mais do que a década perdida, o que devemos temer é por uma geração perdida.

***

*Comecei este ano querendo tirar o pé das viagens para longe de casa e até consegui durante o Paulistão. Mas aí veio o Brasileiro, e as viagens para Rio (2 vezes), Porto Alegre, Campinas, Santos, Araraquara e até mesmo Sucre, no meio das férias. A viagem principal, esta para Buenos Aires, nos foi tomada pelos vagabundos que desonraram nossa camisa na noite de 24 de novembro. Eles nunca serão perdoados.

*O blog entra em férias agora, e eu pretendo voltar só no começo do Paulistão. Até lá e bom fim de ano a todos.

09 dezembro 2010

Tudo no lugar

A entrada do Goiás no gramado do estádio Libertadores de América foi uma afronta ao futebol. Tanto quanto na ocasião em que a mentira São Caetano foi ao Defensores del Chaco para uma final de Libertadores, algo ainda maior que a decisão de ontem. Os dois foram batidos nos pênaltis, tendo mais peso para isso a camisa do adversário de fora (Olimpia, 3 Libertadores, em 2002; e Independiente, 7 Libertadores, agora) do que propriamente o que foi apresentado na cancha.

Fica o alívio para quem vive o futebol com intensidade. Se os vagabundos que vestem a camisa do Palmeiras foram incapazes de colocar o Goiás no seu devido lugar, eis então que a tarefa foi cumprida pelos amargos de Avellaneda. E o Goiás, que teve tudo para ficar com o título no tempo normal e na prorrogação, foi derrotado pelo peso da camisa do adversário, pelo nome da cancha e, mais que tudo, por ter afrontado o futebol ao ousar pensar em um título que um clube de merda como ele jamais poderia vencer.

Eu tinha prometido não ver o jogo e evitar uma tortura ainda maior, mas não resisti. Passei o dia de ontem pensando no que estaria fazendo em Buenos Aires (e depois em Avellaneda). Imaginei meu dia na cidade que tanto amo, imaginei estar com meu irmão e muitos outros amigos defendendo as cores do Palmeiras mais uma vez fora do país, imaginei onde iríamos comer, por onde iríamos andar, as Quilmes que iríamos derrubar, a expectativa crescendo mais e mais até a hora do jogo. Imaginei até os eventuais confrontos contra os amargos, as pedras vindo em nossa direção, o sufoco para entrar e sair da cancha, os gritos de guerra, o enfrentamento com outro grande sul-americano. Imaginei isso tudo, da chegada a Ezeiza ao que faríamos depois do jogo, na noite de Buenos Aires - e, de certa forma, o que passava pela minha cabeça era a oportunidade de, ao lado de grandes amigos, viver na capital portenha uma madrugada mais alegre do que a vivida no ano passado em Montevideo. Era a oportunidade de fazer a história do Palmeiras.

Isso tudo ficou passando pela cabeça durante todo o dia, e aí, quando veio o jogo, percebi que seria preciso ao menos assistir àquilo tudo para me certificar de que o futebol seria respeitado. Se não foram capazes disso os vagabundos que vestiram a nossa camisa naquela noite de 24 de novembro, ao menos um clube argentino colocou as coisas no lugar. Sem time, sem forças, sem preparo físico, sem nada a não ser o peso da camisa. E ao Palmeiras bastaria entender que a camisa ganha o jogo para que fôssemos nós a comemorar ontem um título inédito e tão merecido para uma torcida que não cansa de acreditar na grandeza de um clube que deixou de acreditar nisso.

06 dezembro 2010

Viva os pontos corridos

Antes da despedida deste ano maldito, um post sobre o encerramento daquele que foi um dos mais desagradáveis entre todos os modorrentos Campeonatos Brasileiros de pontos corridos. Reforço meu ódio incondicional por esse sistema de disputa e, em atenção aos meus leitores, deixo aqui as indicações para textos anteriores que contemplam quase todos os meus argumentos contra esta praga do futebol moderno. Vejamos:

A desmoralização dos pontos corridos (30.11.2009)

O que nós perdemos (03.09.2009)

Sobre pontos corridos e distorções (04.11.2008)

Deixarei para o próximo post (o último do ano) todos os comentários sobre Palmeiras. O debate que se faz necessário agora é outro e eu tentarei ser breve:

1. O 6-3-3 foi uma balela inventada por um marqueteiro e levada adiante por alienados. Estava bem de acordo com o público-alvo. Dois anos depois, outra torcida desta capital, logo aquela que se diz diferenciada, também caiu na lábia de publicitários idiotas e inunda a internet com a tal hashtag #maiorqueissotudo. Mais uma falácia, em especial porque criada não pela torcida, mas por marqueteiros de uma certa marca esportiva. Pior: algumas das criaturas que despejam a expressão supostamente de efeito nunca botaram os pés em um estádio, tampouco fizeram algo pelo clube que dizem amar. Nego 'comprou' o discurso de uma empresa e passou adiante (por sinal, acontece o mesmo com a bandeira que sobe no tobogã, certo?).

2. Ah, quer dizer então que os torcedores do SCCP vivem do clube e não de títulos, é isso? Pois é então que sou obrigado a voltar à história do monopólio do sofrimento. Sem me aprofundar, mas à luz daquele debate, direi apenas o seguinte: tal frase já foi dita antes por torcedores do Palmeiras e, acredito, por gente de outros clubes, e não tem nada de criativa. Viver do time e não de títulos é pressuposto de qualquer torcedor de futebol, e não configura a diferenciação tão desejada - e nunca alcançada - por esses caras. Todo torcedor deve viver do seu clube, e quem pensa o contrário é um pária no mundo do futebol.

3. Por fim - e pra encerrar essa pataquada -, me sinto no dever de dizer que nenhuma outra torcida vive tanto do seu clube quanto a da Ponte Preta. Porque, afinal, se vivessem de títulos, estariam todos mortos por absoluta falta de recursos.

4. Tem nego aí que precisa pensar um pouco (e só um pouco mesmo) antes de escrever certas merdas.

5. Aliás, nego precisa parer de se fazer de vítima e de se iludir com falácias retroalimentadas por eles próprios. Quando qualquer grande clube é derrotado, seus torcedores são vítimas de piadinhas, ofensas, "chupas" e o escambau. Acontece com todos os grandes. Ninguém tem compaixão pela dor alheia e isso faz parte do futebol. Chega de buscar diferenciação onde não existe e de querer ser maior do que é. Isso beira a insanidade.

6. Aqui o futebol é levado a sério e não há espaço para piadas ou qualquer tipo de graça. Mas o futebol agradece pelo desfecho do BR-10. Fica aqui um breve "Chupa!".

7. Parabéns aos defensores dos pontos corridos. Foi um campeonato emocionante, não houve nenhuma suspeita, não se desvirtuou o sentido dos jogos, não houve 13 clubes que entraram em campo sem vontade na última rodada e o campeão ainda pôde dar a volta olímpica com a taça. É brilhante! Vocês estão todos de parabéns.

01 dezembro 2010

"Soccernomics"


"Soccernomics". Desconsiderem, por favor, a inadequação do título, uma vez que soccer remete à nomenclatura dos americanos para aquilo que o mundo todo conhece como futebol (soccer é o caralho!). Isso posto, cabe dizer o seguinte: estou sempre mergulhado em algum livro sobre futebol, mais ainda diante de decepções que me levam a buscar uma razão para continuar com essa dedicação absurda pelo futebol. O livro da vez é este "Soccernomics", uma obra sem paralelo na infelizmente pouca literatura que temos sobre futebol. Ao subtítulo: "Por que a Inglaterra perde, por que a Alemanha e o Brasil vencem, e por que Estados Unidos, Japão, Australia, Turquia - e até mesmo o Iraque - estão destinados a tornar-se os reis do esporte mais popular do mundo".

Instigante, não? A verdade é que ainda estou concluindo a leitura, mas, em tempos tão lamuriosos, me permito já fazer um post sobre isso, até mudar um pouco o foco e buscar algo de agradável no futebol. Não que o livro seja assim uma obra-prima (a bem da verdade, tem lá alguns capítulos bem maçantes), mas é bastante original e vale pela abordagem, pela tentativa de fazer um estudo racional do futebol (mas sem esquecer da sua essência) e pela introdução de conceitos de economia (soccer + economics, entenderam?) para avaliar o futuro do esporte no mundo. Importante: o livro não toma partido de nada, nem mesmo do tal futebol moderno que inferniza a vida de quem gosta efetivamente do esporte.

Até para espantar alguns filhotes de Juca Kfouri que invadiram o blog nos últimos dias, deixo aqui uma recomendação para o livro. É válido para todos que gostam de futebol, e pode ser encontrado em qualquer dessas grandes livrarias (há edições em Português e em Inglês).

Em linhas gerais, o livro está dividido em três grandes áreas: "Os clubes", "Os torcedores" e "Os países". É evidente que o mais interessante para mim está na segunda parte, e, mais precisamente, no capítulo "Os torcedores de futebol são polígamos? Uma crítica do Modelo Nick Hornby de Torcedor" (em tradução livre, uma vez que tenho em mãos a versão original, em Inglês). Os autores procuram avaliar quem são os torcedores como Hornby (e como eu e muitos de vocês), à luz da obra-prima "Fever Pitch", tantas e tantas vezes exaltada por este blog (procurem os posts do começo deste ano).

Para ilustrar isso tudo, me dei ao trabalho de digitar (sim, digitar) dois pequenos trechos selecionados de maneira quase aleatória:

Página 208 ("Spectators: the hard core"):

“One might carp that the sod-that-for-a-lark lor are mostly just armchair fans, and that the “real” fans tend to be Hornbys. However, it would be wrong to dismiss armchair fans as irrelevant. The overwhelming majority of soccer fans, in the sense that they hardly ever go to games. In a Mori poll in 2003, 45 percent of British adults expressed an interest in soccer. But we´ve seen that the total average weekly attendance figures of all professional clubs in England and Scotland equal only about 3 percent of the population. In other words, most of the country´s soccer fans rarely or never enter soccer stadiums”

Página 209 ("Hornbys, Clients, Spectators and Others"):

"As usual, it was Arsène Wenger who put this best. In January 2009 he gave Arsenal´s Web site an untraditional account of how he thought fandom worked. "Soccer has differente types of people coming to the game", he said. "You have the clients, who is the guy who pays one time to go to a big game and wants to be entertained. Then you have the spectator, who is the guy who comes to watch soccer. These two categories are between 40 and 60 [years old]. Then you have two other categories. The first is the supporter of the club. He supports his club and goes to as many games as he can. Then you have the fan. The fan is a guy between 15 ans 25 years old who gives all his money to his club".

30 novembro 2010

A dor que não passa

A bola insiste em percorrer a nossa área, poucas dezenas de metros à frente, em uma imagem que parece que vai nos perseguir ainda por muito tempo. Mas, não me perguntem o porquê, o segundo gol do CAG não teve para mim o cruzamento do Marcão, nem a ajeitada de cabeça, tampouco o toque final para o gol. Acontece que as memórias de estádio fazem cada lance ser diferente na cabeça de cada torcedor, e então eu só me lembro de um levantamento despretensioso, mas suficiente para me anestesiar por completo. Daí uma trajetória elíptica, bem pelo alto, e o encontro improvável com uma cabeça qualquer, já sem ângulo para nada. Era impossível acontecer qualquer coisa depois daquilo tudo. Impossível. Tão impossível como as tantas derrotas vexatórias que o Palmeiras conseguiu sofrer na última década. Daí então que a bola foi reaparecer, alguns centésimos de segundos depois, já dentro do nosso gol. Um grito seco e desesperado, bem ao meu lado, fez o pesadelo se tornar realidade. Gol. A tragédia estava consumada. O jeito era cair de joelhos na arquibancada e por ali ficar, agarrado a uma grade e preso às memórias de um passado que já começa a ficar por demais apartado da realidade. Ainda hoje, quase uma semana depois da mais dolorida de todas as derrotas, ainda consigo ver a bola atravessando a nossa área por um tempo indefinido, como que se esperasse para ser rechaçada por qualquer um de verde. Não foi. E, ao que parece, ela vai continuar rondando a nossa área sempre que o Palmeiras for a campo. A dor não tem fim.

***

Eis que hoje, na hora do almoço, a TV mostrava os preparativos de Independiente e Goiás para a final que começa amanhã na terra do time sem torcida. Que dor no coração. Imaginar o Goiás em Avellaneda ou o Independiente no Serra Dourada é algo que eu ainda não consigo fazer. Fui tomado por uma sensação de revolta, inconformismo e incredulidade, tudo junto, como se não fosse possível eu estar vendo aquelas imagens. Pior que era. Inacreditável.

E aí vem o Verdazzo e publica este post aqui. Direto ao ponto, um soco no estômago, mas muito bem pensado e provavelmente necessário. Eu nunca vou perdoar os vagabundos que me roubaram a viagem para a Argentina e uma final em Avellaneda - aliás, mesmo uma derrota nessa eventual final seria digna.

Uma torcida que não tem time

São Caetano, ASA/AL, Paulista, Santo André, Ipatinga, Sport, Vitória, Atlético/GO, Goiás. Esses times todos superaram o Palmeiras em confrontos eliminatórios na última década. À exceção do Sport e do CAG, eles todos fizeram isso na nossa casa, diante de olhares incrédulos de um estádio sempre lotado. As eliminações vieram quase sempre no limite (nos pênaltis, no “gol fora de casa” ou coisa do tipo), mas com o agravante de serem sempre derrotas absurdas, daquelas que doem fundo na alma.

No mesmo período, sofremos ainda outras derrotas decisivas em casa, quando a torcida mais confiava, como se a presença de público fosse proporcional à decepção dentro de campo. Boca (2 vezes), Vasco, Flamengo e SPFC tiveram também a oportunidade de nos derrotar em casa. É tanta a incompetência palestrina que o clube consegue até protagonizar fracassos retumbantes em campeonatos de pontos corridos, como provam as derrotas vexatórias para Atlético/MG e Botafogo na última rodada dos Brasileiros de 2007 e 2008. Isso para não falar no fato de o clube colecionar derrotas na comemoração do seu aniversário: 2004 (Cruzeiro e SCCP) e 2010 (Atlético/GO), para ficarmos em alguns exemplos.

Se voltarmos ainda mais no tempo, aos anos da fila, podemos nos lembrar de coisas como XV de Jaú, Inter de Limeira, Ferroviária e Bragantino, todos eles, exceção feita ao último, proporcionando decepções profundas à nossa torcida aqui em SP mesmo.

Não há um clube grande sequer que tenha sofrido tanto com rivais inexpressivos dentro de casa. Não existe sequer margem de comparação. Mas o que mais impressiona na trajetória palestrina nesta década é a capacidade inesgotável de avançar sempre um pouco mais na arte das derrotas absurdas, inexplicáveis e impossíveis (só o Palmeiras foi roubado na disputa de pênaltis, só o Palmeiras conseguiu ceder um empate em 4 a 4 depois de igualdade em três gols fora, só o Palmeiras tomou uma virada de 3 a 0 para 3 a 4, só o Palmeiras perdeu três pênaltis seguidos em uma decisão, só o Palmeiras perdeu para clubes rebaixados, eliminados e sem salário. Só o Palmeiras). Acreditem: o Palmeiras sempre é capaz de novas façanhas. Sempre dentro de casa e sempre diante de um estádio lotado, como que se tivesse o alviverde uma atração pelo sofrimento da multidão que vai atrás dele.

A dor da derrota de quarta não passou ainda - e nem vai passar. Ouso dizer, ainda que seja pouco o tempo para curar a ferida, que foi a pior derrota que já sofremos em meio a esses tantos absurdos. O passar dos dias apenas ratificou a sensação de que nunca uma derrota doeu tanto na alma palestrina. Enquanto as imagens da noite de quarta insistem em povoar a memória, o sentimento que fica é o de traição, e eu nunca conseguirei perdoar todos aqueles que desonraram a nossa camisa no Pacaembu.

Resta saber até quando vamos confiar na grandeza do time e até quando vamos acreditar que seremos capazes novamente de pisar na cabeça dos times pequenos em vez de sofrer humilhações em casa.

***

O título do post, os mais atentos já devem ter percebido, foi copiado da coluna de Ugo Giorgetti no Estadão de domingo. O primeiro a me ligar para falar sobre esse texto foi o FH, mas depois conversei sobre isso com outros palestrinos. Faço questão de publicar a imagem:


***

Se os vagabundos não tivessem feito a merda que fizeram na quarta, o clima em Barueri seria bem diferente. Não haveria revolta da torcida, e o jogo contra o Fluminense seria encarado de outra maneira. Mais até: se não tivessem feito merda, os vagabundos sequer precisariam ir até Barueri e nada disso teria acontecido. Nem ninguém estaria falando besteira agora.

O ponto é: quem, como eu, foi a Barueri no domingo não merece crítica alguma. As críticas devem ser dirigidas aos vagabundos que desonraram a nossa camisa na quarta. A truculência da torcida em Barueri foi resultado dessa derrota e da soma de todos os fracassos dos últimos anos. Eu entendo e aceito todas as manifestações da torcida, desde que sem violência. Qualquer tipo de crítica feita à torcida ignora as circunstâncias do jogo, a rivalidade com o SCCP e tudo o que tem acontecido no último mês. Mais até: ignora o fato de o futebol ser movido por paixão.

O curioso é ouvir a expressão “verdadeiros palmeirenses” (como se fossem os que ficaram em casa em vez de ir a Barueri) da boca de jornalista vagabundo que defende os pontos corridos ou mesmo de torcedores palmeirenses que nunca fizeram muita coisa para defender o clube.

AQUI É PALMEIRAS!

28 novembro 2010

Missão cumprida

Os vagabundos que tiraram de mim (e de muitos outros palestrinos) a viagem para Buenos Aires e uma final em Avellaneda ao menos cumpriram a missão que nos restava neste ano maldito. Fui a Barueri apenas para me certificar de que isso aconteceria e, embora preferindo uma derrota contundente, daquelas que eliminariam qualquer resquício de dúvida sobre o objetivo que tínhamos ao entrar em campo, volto aliviado por saber que estamos de férias e que finalmente terminou este maldito 2010.

É então que chego a uma discussão pertinente, sobre a ética de alguns babacas que ficam agora todos desesperados reclamando de uma suposta falta de comprometimento do Palmeiras. Há uma série de imbecis na crônica esportiva (e não só) versando sobre uma suposta imoralidade que estaríamos cometendo ao, digamos, não nos esforçarmos pela vitória.

O resultado que conseguimos hoje é dedicado a este pilantra, mestre na arte de manipular a opinião pública. É um resultado dedicado também a todos os que vêm cobrar ética, moral e comprometimento do Palmeiras, logo em um momento em que não temos nada a ver com o que está acontecendo.

Aos que vão a estádios de futebol, proponho a seguinte pergunta: Por que o Palmeiras deveria fazer algum esforço, o mínimo que fosse, para beneficiar diretamente o seu maior rival?

Imaginem os senhores se o Palmeiras arrancasse do Fluminense pontos que levassem o título do clube carioca para a zona leste de SP. Imaginaram? Pois então: por que cazzo torceria o palmeirense por algo que depois se viraria contra ele próprio? Por que desejaria um resultado que, nulo para a classificação do clube no BR-10, daria aos rivais motivos de sobra para infernizar a vida do palestrino para todo o sempre? Por quê?

Se alguém tiver uma resposta decente, eu prometo rever os meus conceitos. Enquanto isso, parabenizo a torcida por ter peitado o time. Era necessário.

O futebol, ao contrário do que tentam impor alguns canalhas, não obedece a supostas éticas puritanas. O futebol segue princípios próprios, e o Palmeiras, ao contrário do que dizem os babacas, não tem compromisso com a imprensa, com os outros clubes ou mesmo com qualquer conveniência moral que venha a pautar a vida de meia dúzia de boçais. Menos ainda teria o alviverde qualquer compromisso com a porra dos pontos corridos.

O Palmeiras tem um único compromisso a cumprir: é com a sua torcida. A missão está cumprida.

***

Foi uma tarde tensa em Barueri. Os visitantes eram pelo menos 85% do público presente, mas, ainda assim, apanharam na briga entre as organizadas, antes do jogo - pudera: o confronto seria inevitável tendo o estádio uma única via de acesso. Na avenida em frente, chamava a atenção a predominância de carros com placas do RJ.

Uma vez lá dentro, não houve ninguém do nosso lado que não exigisse a derrota. E o ódio indisfarçável pelo fracasso de quarta transformou esse desejo em truculência pura - e aqui está a explicação para a postura que alguns consideram exagerada. Os jogadores foram xingados desde o início e alertados de que uma eventual palhaçada em campo teria consequências: "Se o Fluminense não ganhar, olê, olê, olá, o pau vai quebrar" e "Perder, perder, é o melhor para sobreviver", entre outras coisas.

Durante todo o primeiro tempo, qualquer jogador que dificultasse a vida do adversário era ofendido de imediato. Deola, Marcio Araújo, Maurício Ramos, Gabriel, Luan, Dinei etc. Deola foi sem dúvida o mais ofendido, mais até que Dinei (eu sempre disse que um vagabundo com esse nome não poderia nunca jogar no Palmeiras): tomou copo de água na cabeça, revidou os xingamentos e aí virou o alvo principal, enquanto as defesas se acumulavam.

O clima ficou insustentável e a PM teve de agir. O empate e depois a virada do visitante trouxeram alívio e fizeram o silêncio imperar na arquibancada da Arena Barueri (até porque a torcida do Fluminense pouco se manifestava). Depois do jogo, o absurdo: os bravos e valorosos homens do 2º BP Choque seguraram a torcida da casa por quase uma hora no estádio. O que não faz a falta de estudo, não é?

25 novembro 2010

A dor

A impressão do dia seguinte é de que nunca uma derrota doeu tanto. O corpo que parece estar ainda estirado em um degrau qualquer da arquibancada do Pacaembu e a dor física remetem a tantos dos vexames por que passamos nesta última década perdida – que eu já não sei dizer quando começa e quando termina. Sei dizer, isso sim, que continuamos vivendo o mesmo pesadelo sem fim e fazendo parte de páginas sombrias de uma história antes gloriosa e imponente.

Por vezes, até me impressiono com a nossa capacidade de deixar os vexames para trás e seguir em frente, como que levados por uma força maior e pela crença de que o pior passou e que nosso clube ainda é o que já foi. Fingimos não saber que estamos diante do clube que coleciona, tudo em tempos recentes, as façanhas mais improváveis de que se tem notícia no futebol brasileiro. Mas aí, sempre do pior jeito, descobrimos que é possível avançar um pouco mais na arte das derrotas absurdas, inexplicáveis e impossíveis. E então, enquanto a tragédia acontece diante de nossos olhos, lembramo-nos de já ter visto da arquibancada tantas outras vezes um gigante que se apequena a ponto de perder para si próprio.

A dor de hoje é lancinante, pois tira também a ilusão de que tínhamos deixado para trás uma fase indesejável de nossa história. É como se a tal década perdida fosse mais que uma década. Havia no banco alguém que nos fazia crer que tinham chegado ao fim os fracassos contra times inexpressivos – e ultimamente é só para eles que conseguimos perder. Não adiantou. A derrota, com requintes de crueldade, foi atirada na nossa cara uma vez mais.

Se parássemos na final contra LDU ou Independiente, o sentimento seria bem outro. De tristeza, claro, mas sem a dose de humilhação que nos maltrata mais uma vez. Por vezes, sinto até falta de perder para outros grandes times, ainda que em casa, ainda que de maneira contundente, ainda que mais de uma vez. Porque seriam grandes times, ao menos isso. Na última década, perdemos nosso lugar na história, e abrimos espaço para pequenas aberrações, que vão se somando como em uma coleção de horrores. Poderia aqui enumerar os tantos clubes pequenos que permitimos chegar a fases avançadas de competições nacionais, continentais e o escambau, mas isso seria apenas torturar mais a nossa alma.

São dores que nos perseguirão por toda a vida. Ficarão coladas à nossa imagem, e por elas seremos consumidos a cada vez que a bola subir na nossa área, bem diante de nossos olhos. E aí, quando, por acidente, o adversário encontrar um gol já nos descontos do primeiro tempo, saberemos o que nos espera na etapa final. Dor.

A dor de hoje parece ser maior que a de outras derrotas vexatórias não pela derrota em si ou pelo que deixamos de ganhar, mas porque ela nos remete a tudo o que já passamos nesta última década. O gol sofrido nos descontos do primeiro tempo colocou no gramado do Pacaembu um pouco de todas as derrotas anteriores. De certa forma, ainda que não estivéssemos no Palestra que sediou a maior parte dos últimos vexames, foi como se os fantasmas de anos passados invadissem a cancha para nos atirar na cara o que estaria por vir.

E veio. Conseguimos levar para uma final sul-americana o Goiás. Isso dói. Os dois gols que sofremos ontem tiveram o peso de todas as derrotas para times pequenos (e não só) que já vimos a partir da arquibancada. E eu, que participei, feliz ou infelizmente, de todos esses vexames, sinto agora um peso enorme sobre as costas, como se nem todo o amor do mundo fosse suficiente para seguir acreditando.

Dessa vez, ao contrário de outras tantas madrugadas de quarta para quinta, sequer teremos um feriado no dia seguinte para o isolamento que pede uma derrota dessas. A dor fica exposta.

***

Querem saber o que é pior? É que a eliminação prematura em um mata-mata faz com que a dor seja lembrada muitas e muitas vezes daqui por diante. Vamos nos lembrar nos próximos dias 1º e 8 de dezembro, quando deveríamos estar jogando no Pacaembu e em Avellaneda ou Quito. Já estamos nos lembrando hoje mesmo, por ocasião do sorteio dos grupos da Libertadores/2011. Vamos nos lembrar no ano que vem, quando o campeão da Sul-Americana (LDU ou Independiente) estrear na Libertadores e depois ao longo de toda a sua participação, na fase de grupos e depois nos eventuais jogos eliminatórios. Vamos nos lembrar quando estrearmos na Copa do Brasil e depois na Sul-Americana. E ao longo de todo o ano de 2011 será assim. A dor não terá fim.

23 novembro 2010

Tabela do Paulistão/2011

Atendendo a pedidos:

16.01 dom. Palmeiras x Botafogo
19.01 qua. Ituano x Palmeiras
23.01 dom. Oeste x Palmeiras
26.01 qua. Palmeiras x Paulista
30.01 dom. Portuguesa x Palmeiras
02.02 qua. Mirassol x Palmeiras
06.02 dom. Palmeiras x SCCP
13.02 dom. Palmeiras x Americana de Guaratinguetá
20.02 dom. Mogi Mirim x Palmeiras
27.02 dom. SPFC x Palmeiras
05.03 dom. Palmeiras x Santo André (sábado de Carnaval)
09.03 qua. Noroeste x Palmeiras (quarta de Cinzas) 
13.03 dom. Palmeiras x São Bernardo 
20.03 dom. São Caetano x Palmeiras 
23.03 qua. Palmeiras x Linense 
27.03 dom. Palmeiras x Bragantino 
03.04 dom. Santos x Palmeiras 
10.04 dom. Palmeiras x Grêmio Itinerante Prudente de Barueri 
17.04 dom. Ponte Preta x Palmeiras 

24.04 Quartas 

01.05 Semifinal 
08.05 Final 
15.05 Final 

*** 

*Peço aos senhores que observem a presença de duas aberrações na tabela: o Grêmio Itinerante Prudente de Barueri e o Americana de Guaratinguetá (ou o contrário, pouco importa). É torcer contra os dois. Por sinal, existe uma esperança mais imediata: o Guaratinguetá pode ser rebaixado no próximo sábado para a Série A3 do Brasileiro. Basta uma combinação bem possível de resultados, e a aberração terá uma justa punição já antes de mudar de sede. Fica a torcida. 

*Como se percebe, não aconteceu ainda o desmembramento dos jogos, de tal modo que algumas partidas serão atiradas para quintas-feiras ou sábados (ou coisa ainda pior), em horários os mais inadequados possíveis. A conferir. 

*Não coloquei os locais dos jogos porque, de uns tempos para cá, ficou difícil saber onde vamos jogar (em casa ou fora).

21 novembro 2010

Um foda-se para os pontos corridos

Fomos pouquíssimos os palmeirenses dispostos a encarar 540km de estrada para ver o Palmeiras em campo na tarde deste domingo, em mais uma das desinteressantes e desimportantes rodadas finais do modorrento Campeonato Brasileiro de pontos corridos. Aliás, nem mesmo a população local se interessou pelo duelo, prestigiado por exatos 4.662 pagantes. A verdade é que não tínhamos muito o que fazer em Araraquara, mas era preciso estar lá para poder, a partir de uma arquibancada qualquer, mandar um grande FODA-SE para os malditos pontos corridos.

O jogo que acontecia à nossa frente pouco importava, e não houve quem se sentisse incomodado pela derrota do time reserva para um Atlético/MG que luta para escapar do rebaixamento. Importava mais era a desmoralização total e absoluta dos pontos corridos, processo que teve mais um capítulo na tarde deste domingo.

Vejam os senhores que o Palmeiras já abandonou há muito a edição deste ano, que se transformou em um verdadeiro fardo em meio à Sul-americana. Em compensação, acompanhamos agora o desespero da imprensa esportiva, toda ela preocupada com o desempenho de times que, sejamos francos e diretos, estão pouco se fodendo para quem ainda briga por alguma coisa. O bizarro é ver a nossa imprensa europeizada, que tanto defendeu a merda dos pontos corridos, falando em "marmelada", "entregada", mala pra lá e pra cá, o diabo, como se tivéssemos o dever de zelar pelo sistema de disputa cretino que ela, a imprensa, resolveu que era o mais justo.

Os pontos corridos estão desmoralizados mais uma vez. É assim todos os anos, e a tabela de 2010 foi particularmente mais feliz ao colocar SPFC e Palmeiras na trajetória final do clube que, vejam o curioso, disputa o título com o SCCP. Para humilhação pública dos juquinhasda vida, a rodada deste final de semana foi só a primeira parte de tudo. Não é nada pessoal não; se fossem outros os rivais envolvidos ou se a situação fosse exatamente oposta, aconteceria a mesma coisa. A culpa, portanto, não é de nenhum dos clubes; a culpa é do sistema de pontos corridos.

Antecipo-me a um dos próximos posts e já deixo aqui os links para três textos meus que resumem bem o quanto os pontos corridos não se aplicam ao futebol brasileiro:

A desmoralização dos pontos corridos (30.11.2009)

O que nós perdemos (03.09.2009)

Sobre pontos corridos e distorções (04.11.2008)

FODA-SE, PONTOS CORRIDOS!

***

Foi tão desinteressante o jogo disputado lá em Araraquara que sequer rendeu uma boa foto para abrir o post. Além do público reduzido, estávamos quase todos atrás do gol, e o resto do estádio, vazio. Para cumprir tabela, fica essa abaixo:



Quanto ao estádio, que motivou também a minha ida ao interior, prefiro esperar um jogo maior para emitir minha opinião. O espaço externo é bem resolvido e tudo mais, mas tenho sérias dúvidas sobre como seriam as coisas lá dentro em um jogo com bom público.

***

Fazia muito tempo que não tínhamos um ingresso tão bonito e com as informações tão claras. Vale o registro:

19 novembro 2010

Saudade que não tem fim





As imagens que os senhores veem acima provocaram em mim uma nostalgia sem tamanho e, confesso, não foi possível segurar as lágrimas. Onde alguns enxergam progresso e modernidade, eu vejo o fim de uma era e a perda inevitável de muito da nossa identidade. Cada pedra que é derrubada da arquibancada do Palestra representa um passo a mais para longe da nossa casa.

Já escrevi muito sobre o Palestra, sobre a despedida e sobre a saudade que vai ficar. Creio que foram tantas as palavras derramadas que já não consigo agora produzir mais nada de novo. Apenas queria dividir com os leitores do blog o sentimento de agora, de uma perda contra a qual não podemos fazer muita coisa a não ser expor o lamento de quem se vê tomado pela saudade.

Deixo-os com alguns posts relevantes sobre o estádio Palestra Italia e, ao final de tudo, com a letra de uma música que muito se encaixa neste sentimento de agora:

O Palestra em -10 jogos (07.06.2010)

Imortalidade (23.05.2010)

O Palestra em 20 jogos (19.05.2010)

A despedida (13.05.2010)

Palestra Eterno (07.07.2010)

***

Saudosa Maloca

Adoniran Barbosa

Si o senhor não tá lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um palacete assobradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mais um dia nóis nem pode se alembrá
Veio os home cas ferramenta
O dono mandô derrubá
Peguemos tudo as nossas coisa
E fumos pro meio da rua
Preciá a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
"Os homi tá cá razão
Nós arranja outro lugá"
Só se conformemos quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertô"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida
Que dim donde nóis passemos dias feliz de nossa vida"


18 novembro 2010

Pra que serve o Sportv?

Terça-feira, 16 de novembro. Em Buenos Aires, capital mundial do futebol, jogam River Plate e Boca Juniors. Poderia aqui expor todos os fatores que tornariam este jogo uma atração imperdível para qualquer torcedor de futebol, mas basta dizer o seguinte: River-Boca.

Aqui no Brasil, os direitos de transmissão do Campeonato Argentino pertencem ao canal Sportv, parte do conglomerado do mal que conhecemos como Rede Globo.

Pois bem, enquanto River e Boca duelavam no Monumental de Nuñez, os dois canais do Sportv transmitiam o seguinte: SESI x Vôlei Futuro (vôlei feminino) e Marechal Rondon x Jaraguá (futsal). Nada de River-Boca. Posso agora ter cometido algum erro nos nomes dos times (?) ou dos esportes (???), mas isso pouco importa. Eu apenas coloquei na Sportv e vi que havia duas merdas no ar; quem me passou as informações foi o meu amigo desportista Luiz Romani - cobrem dele, portanto, qualquer incorreção eventual.

A situação é a seguinte: havia um River-Boca em horário nobre e a TV paga do conglomerado do mal, tendo os direitos de transmissão e com dois canais à disposição, optou por passar desinteressantes e desprezíveis jogos de vôlei e futsal.

Daí que o Superclássico, ao final de tudo, foi transmitido um dia depois, na quarta, 17, no mesmo horário, em um estúpido e desproposital VT.

Ainda bem que existe a internet e especialmente o http://rojadirecta.com/. É lá que assisto a todos os jogos que eu quiser ver do Campeonato Argentino - e deixo aqui a recomendação expressa, até para que possamos todos burlar os cretinos direitos de transmissão dos canalhas do broadcast.

Outro dia mesmo, fui a Porto Alegre ver o jogo contra o Grêmio, mas me disseram os que ficaram aqui que a porra do Sportv transmitiu para SP não o jogo entre Grêmio e Palmeiras, mas sim um inexplicável Goiás x Botafogo. Uma semana depois, o Palmeiras venceu o Grêmio Itinerante Barueri de Prudente fora de casa e a porra do canal pago preferiu transmitir para a capital paulista, vejam os senhores, Cruzeiro x Ceará.

Pra que, afinal, serve o Sportv?

17 novembro 2010

Pra cima, Palestra!

O Palmeiras abdicou muito de sua capacidade de ser Palmeiras desde o início desta década perdida, que coincide, vejam os senhores, com o término da primeira passagem de Felipão pelo Palestra. Desde então, o clube viveu o inferno da segunda divisão, perdeu decisões inimagináveis, colecionou fracassos inexplicáveis contra adversários desprezíveis. Ficou o trauma, é verdade, e agora temos sempre os dois pés atrás antes de afirmar qualquer coisa. O grito de campeão só deixa a garganta ao apito final do último jogo, o torcedor é mais cauteloso e os oponentes mais frágeis possíveis são tratados com o respeito que antes era concedido apenas aos grandes. É o caso do Goiás agora. E tem de ser assim mesmo.

Começa hoje a fase mais aguda desta Sul-Americana que virou quase uma Libertadores para o Palmeiras. Temos pela frente um já rebaixado Goiás, com o segundo jogo em casa, estádio lotado de novo, e um time que, se não é brilhante, parece estar com o espírito pronto para o mata-mata. Acontece que vivemos essa situação muitas outras vezes na última década e quase sempre tropeçamos nas nossas próprias deficiências ou mesmo em falhas grotescas dos filhos da puta do apito. Por que é diferente agora? Bom, deixo-os com um único fator: porque temos Felipão no banco.

Estamos diante de uma oportunidade única de fechar esta década perdida com um título relevante (e único para a nossa história). De quebra, ainda garantimos a classificação para o torneio mais desejado, e esta seria a melhor maneira de iniciar uma outra década, que tem tudo para ser bem melhor do que a que está por terminar.

Estamos diante do momento em que o Palmeiras precisa ser Palmeiras. Basta isso para passarmos pelo Goiás e depois encararmos, também com o devido respeito, LDU ou Independiente. O que vier será problema dos grandes, é bem verdade, mas o Palmeiras só precisa ser Palmeiras para passar também por qualquer um dos dois. Chegou a hora. Pra cima, Palestra!

16 novembro 2010

Sofrimento seletivo

Peço desculpas aos nossos rivais. Só agora fui entender que eles têm razão em reclamar para eles o direito ao monopólio do sofrimento, o que torna inútil o debate que consumiu tanto trabalho (meu, deles e dos leitores do blog). Acontece que o sofrer deles é exclusivo sim, pois é o único sofrimento seletivo de que se tem notícia. Porque - exceção feita aos rivais da zona sul, que sequer chegam ao ponto de sofrer ou correr riscos desnecessários -, não existe nenhum outro clube que, ao menor sinal das dificuldades inerentes aos confrontos decisivos, disponha tão abertamente da complacência de juízes, bandeirinhas e dirigentes do submundo do futebol. É então que, lá pelos 40 minutos do segundo tempo, com o time jogando porra nenhuma e se encaminhando para um empate sem gols em casa, vem uma boa alma da arbitragem brasileira e inventa um pênalti descarado, daqueles que deixariam ruborizado com qualquer sujeito com um mínimo de vergonha na cara. Se eles ao menos admitissem o, digamos, erro do senhor juiz, seria mais aceitável, e seguiríamos adiante com este modorrento e sempre sujeito a manipulações campeonato de pontos corridos. Mas não: nossos rivais só fazem se comprometer mais e mais na tentativa grotesca de justificar um lance que, tanto não foi pênalti, que jamais seria lembrado hoje caso o árbitro não o tivesse inventado como tal. Dá-lhe sofrimento seletivo.

13 novembro 2010

Questão de vergonha na cara

2005, 20 de novembro. Campeonato Brasileiro de pontos corridos, rodada 40. Pacaembu. SCCP e Internacional são os dois concorrentes diretos ao título daquele ano. Tinga é derrubado na área do time da casa. O árbitro não marca falta e, descarado, ainda expulsa o jogador que sofrera a penalidade não anotada por ele. Aquele 1 a 1, somado à interferência direta da CBF na remarcação de dois jogos anteriores, acabou por decidir o campeonato.

2010, 13 de novembro. Campeonato Brasileiro de pontos corridos, rodada 35. Pacaembu. SCCP e Cruzeiro são dois dos concorrentes diretos ao título. Os mandantes não jogam nada. Aí, passados 40 minutos do segundo tempo, o árbitro inventa um pênalti descarado, daqueles absurdos, daqueles que deixam envergonhado qualquer ser humano com um mínimo de vergonha na cara. Este é o 1 a 0 que pode decidir o campeonato.

Vejam aqui o texto onde eu exponho os motivos que já obrigavam o Palmeiras, pela decência e pela moral que nos precedem, a entregar descaradamente os jogos que vai disputar ainda contra Fluminense e Cruzeiro. Vejam aqui alguns episódios recentes em que o SCCP foi diretamente favorecido pela arbitragem ou por coisas ainda piores para chegar a títulos relevantes. O que aconteceu há pouco no Pacaembu entra para esta lista.

O Palmeiras, em nome da rivalidade ainda existente nesta capital e para tentar garantir um mínimo de decência a este já combalido campeonato de pontos corridos, tem uma obrigação a cumprir. Questão de vergonha na cara.

Vergonha na cara, jogadores, Felipão e diretoria. Só isso.

11 novembro 2010

É mata-mata!



Fizemos do Pacaembu a nossa casa, e veio o resultado. Dentro e fora de campo. Foi assim na noite de 19 de agosto, quando time e torcida foram um só corpo para superar o pequeno da Bahia e seguir adiante na Copa Sul-Americana. Foi assim também nesta noite de 10 de novembro, que se estende pela madrugada do dia seguinte, graças ao horário obsceno imposto pela emissora de TV. Deixando isso de lado, importa mesmo é que a torcida fez a sua parte. Mais de 35 mil pagaram ingresso, o estádio encheu além da conta, não houve qualquer sinal do desconforto de outros jogos. Talvez por ser um mata-mata, tipo de competição que nos habituamos a disputar nos anos gloriosos de Felipão e que é muito mais digna que qualquer fracassado campeonato em pontos corridos.

A chuva fina que caiu antes e durante o jogo foi o prenúncio da noite que estavámos por viver. Foi necessária, acreditem, porque era preciso que todo aquele público entendesse que teríamos pela frente não uma festa, mas sim uma batalha. A torcida entendeu, comprou a briga e o time deu a resposta: um 2 a 0 seguro, com dose bem aceitável de tensão, uma vez que o 1 a 0 teimou em persistir no placar por mais de um tempo.

Seguimos em frente, continuaremos no Pacaembu e a torcida precisa fazer dele cada vez mais a sua casa. Como se fosse o Palestra. Porque todo o resto conspira a favor: Felipão, as coincidências com 1998, uma caminhada que se apresenta convidativa pelo menos até a final, a folga antecipada no Brasileiro. Mas o principal mesmo é a sintonia entre time, técnico, torcida e estádio. Tem muita coisa pela frente, mas vamos brigar até o fim pelo título. AVANTI!

***

Temos agora uma definição da Conmebol sobre os mandos de campo - e também sobre as datas - até a última batalha:

Semifinal (contra Avaí/SC ou Goiás/GO): dias 17/11 (Floripa ou Goiânia) e 24/11, as duas próximas quartas, muito provavelmente no abjeto horário das 22h.

Final: dias 01/12 e 08/12, mantida a submissão aos interesses da emissora deTV. Falta ainda a definição do outro lado. Se vierem LDU, Tolima ou Newell´s Old Boys, faremos o jogo de ida em Quito, Ibagué ou Rosario e a volta no Pacaembu (ou no Morumbi, a se considerar o regulamento que exige os tais 40 mil lugares). Se vier o Independiente, começamos aqui e resolvemos tudo em Avellaneda.

***

Os problemas ocorridos nas catracas do Pacaembu são gravíssimos e merecem ser apurados e solucionados. Lá de onde sempre fico, no setor amarelo da arquibancada, foi estranho perceber alguns clarões no laranja e também na descoberta, e eles só foram preenchidos no final da primeira etapa. Agora entendo o motivo. Além disso, centenas de torcedores assistiram ao jogo nas rampas do tobogã, uma vez que parecia impossível passar pelos acessos lá do alto.

Por sinal, é curioso notar que os maiores problemas do Pacaembu não estão na arquibancada ou no tobogã, mas sim nos setores mais caros. Na arquibancada, por exemplo, havia alguns clarões no setor verde, e eles não foram ocupados. Enquanto isso, torcedores se amontoavam na marquise do laranja e mesmo na descoberta. Vai entender...

Deixo o espaço aberto aqui para que o relato dos palmeirenses que enfrentaram problemas para entrar no Pacaembu.

***

À Outplan/Futebolcard: mais uma vez eu fiquei sem o meu recibo ao entrar no Pacaembu. Comprei o ingresso pela internet e funcionou. Mas não saiu o recibo, que, na falta de coisa melhor, é o ingresso que eu posso guardar para a minha coleção. Acabou o papel, é?


***

 

10 novembro 2010

A putaria institucionalizada

O futebol brasileiro está entregue a gente como Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero, Paulo Castilho, Paulo Schmitt, vagabundos da Fifa etc.. Gente da pior espécie. Inventaram o Campeonato Brasileiro em pontos corridos, vomitaram um tal Estatuto do Torcedor que não beneficia o torcedor, deram início à elitização do esporte, fortaleceram esses tribunais compostos por velhos canalhas e hipócritas, fizeram o diabo. A putaria está institucionalizada, e penso que este post aqui resume bem o nível a que chegamos.

A bola da vez é a punição aplicada a Palmeiras e SCCP por ocasião de supostos incidentes no último clássico disputado entre os dois clubes. Nós perdemos dois mandos de campo (contra Atlético/MG e Fluminense) e os alvinegros perderam um mando, logo na última partida que farão como mandantes.

É de uma imbecilidade extrema, e as declarações dadas pelos canalhas do STJD comprovam bem o que eu digo. A bem da verdade, é preciso dizer que a punição é ainda mais injusta para o nosso rival, que nada teve a ver com o ocorrido, a não ser por alguns torcedores que provocaram a massa que passava lá no alto, no tobogã. De toda forma, o que tivemos foi algo pequeno, mais para um incidente recreativo pós-clássico do que para briga entre torcidas, e a punição, para além de reforçar a hipocrisia que tomou conta do nosso futebol, evidencia ainda outros interesses em jogo.

No entanto, já que veio essa patifaria, está resolvido o problema que eu apontei no último post (Palmeiras-Fluminense e SCCP-Vasco no mesmo dia e horário aqui em SP). Considerando que não poderemos jogar em qualquer estádio a menos de 100km da capital - o que exclui Barueri -, parece-me que a melhor alternativa para o jogo contra o Fluminense é o estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Mas é só uma ideia.

***

Ao Pacaembu logo mais. É noite de encarar mais uma batalha sul-americana. Temos Felipão e teremos casa cheia. Será como em 1998, 1999, 2000, 2001...

09 novembro 2010

A moral de cada um

Escrevi, já na semana passada, que o Palmeiras tem a obrigação moral de perder descaradamente para Fluminense e Cruzeiro nas rodadas 37 e 38. Acrescento agora, até com mais ênfase, que o SPFC, que tanto colaborou com o SCCP na última semana, está também obrigado a isso na rodada 36, contra o Fluminense. 

Já ouço vozes reacionárias da nossa brava e valorosa imprensa esportiva, e elas todas iniciam a patrulha sobre Palmeiras e SPFC, como se os dois clubes tivessem de fazer um esforço descomunal para facilitar o título do SCCP. Ora, ora, essas são as mesmas vozes decrépitas e decadentes de gente que comenta futebol do estúdio ou do sofá de casa, mas nunca do estádio. São também, vejam só, as vozes que tanto defendem o sistema de pontos corridos.

A esses crápulas devo dizer que Palmeiras e SPFC não têm nenhuma obrigação nesse sentido. Pelo contrário: há uma outra obrigação, de ordem moral, que impõe a necessidade de derrotas acachapantes, em nome não do discurso hipócrita dos juquinhas da vida, mas sim da rivalidade entre os grandes clubes desta capital.

Se fosse o SCCP na situação do Palmeiras, eu defenderia a mesma coisa para o outro lado. Em nome da rivalidade e da história que opõe os dois clubes. Porque é inimaginável que o alviverde tenha qualquer tipo de contribuição, por menor que seja, para uma conquista do seu rival. É aí que se fazem necessárias as derrotas nas rodadas 37 e 38. É por isso também que em momento algum eu condenei a suposta entregada dos caras no ano passado; se eles fizeram isso mesmo, eu estou de acordo.

Dirão os puritanos que isso representa uma desmoralização do futebol brasileiro. Não! É a desmoralização dos pontos corridos. Enquanto persistir tal aberração, ficaremos sempre sujeitos a essa discussão cretina. E sempre virá algum imbecil da nossa imprensa esportiva exigir que o Palmeiras (ou quem quer que seja) faça um esforço para ajudar o rival. Eu prefiro que o meu time mantenha a sua própria moral e colabore para a derrocada do rival. Porque isso é futebol. E que os babacas enfiem no cu os pontos corridos.

Vocês não quiserem tanto essa merda no futebol brasileiro? Pois agora façam bom proveito e não encham o saco de quem não tem nada a ver com a putaria que vocês inventaram.

07 novembro 2010

Passar bem, Barueri

Ao menos por este ano não teremos mais de ir até Barueri*. E a cidade sem time teve uma despedida à altura: jogo às 19h30 de domingo (!!!), time reserva do Palmeiras, um Guarani implorando para ser rebaixado, estádio tão vazio (pouco mais de 3 mil pagantes) que eu pude chegar tarde e ainda parar o carro na avenida em frente, um espetáculo nada memorável. Foi uma boa ilustração para o nosso histórico em Barueri, repleto de vitórias inúteis sobre times pequenos (em 11 jogos, só enfrentamos um grande) e de públicos que não condizem com a nossa história e com a nossa torcida.

Até para desmontar o argumento (verdadeiro, mas precário) de que nunca perdemos naquele lugar, vamos à lista de todos os jogos:

17.01.2008 Palmeiras 3-1 Sertãozinho/SP - 8.020
26.01.2008 Palmeiras 2-2 Mirassol/SP - 6.915
06.04.2008 Barueri/SP 0-3 Palmeiras - 8.991
31.05.2009 Barueri/SP 2-2 Palmeiras - 4.960
08.03.2010 Palmeiras 3-2 Sertãozinho/SP - 3.224
29.05.2010 Palmeiras 0-0 Prudente/SP - 4.016
29.09.2010 Palmeiras 2-0 Internacional/RS - 12.264
17.10.2010 Palmeiras 1-1 Ceará/CE - 8.257
20.10.2010 Palmeiras 3-1 Universitario Sucre/BOL - 10.741
30.10.2010 Palmeiras 3-2 Goiás/GO - 5.811
07.11.2010 Palmeiras 1-0 Guarani/SP - 3.153

Público médio: 6.941 (uma vergonha, não?)

De toda forma, o 1-0 com time reserva garantiu matematicamente a classificação para a Copa Sul-Americana de 2011. É importante ter ao menos essa certeza para podermos entrar com um catadão qualquer nos próximos quatro jogos, em especial aqueles das rodadas 37 e 38.

05 novembro 2010

Obrigação moral

A acontecer o pior no dia 5 de dezembro, os palmeirenses sequer poderemos reclamar dos rivais e inimigos. Não poderemos culpar a incompetência do Cruzeiro, o esforço do SPFC em péssima hora, tampouco as presepadas do Santos FC. Afinal, foi o próprio Palmeiras, no confronto direto, que permitiu ao SCCP voltar à disputa do título. E aí não dá pra reclamar de porra nenhuma, nem mesmo da arbitragem, ela que atuou de maneira bem articulada nesta última rodada, com erros (?) grotescos no Pacaembu e em MG. Pouco importa; a responsabilidade, de novo, é toda do Palmeiras. 

Há, no entanto, em nome da história alviverde e da decência e dignidade que nos precedem, ao menos um objetivo a cumprir. Ou melhor, dois: as rodadas 37 e 38 deste maldito campeonato por pontos corridos. Porque o Palmeiras, seja qual for o cenário desta semana derradeira, tem a obrigação moral de perder descaradamente para Fluminense e Cruzeiro, os últimos adversários no BR e os únicos que podem impedir a tragédia. Não é pra disfarçar nada; é pra perder com vontade de perder, se for o caso até para elevar o saldo de gols dessas duas tranqueiras. É obrigação. Pela nossa história, pela rivalidade e para que os defensores dos pontos corridos enfiem no meio do cu esse sistema covarde e que nos tirou o direito de ver os títulos decididos no mata-mata.

04 novembro 2010

O promotor e a coluna social

O promotor público Paulo Castilho se expõe ao ridículo como nunca antes em página "nobre" no maior jornal do país:

MASSA PRESO?
Felipe Massa pode ser preso se der passagem para seu companheiro de Ferrari, Fernando Alonso, no GP do Brasil de F-1, no domingo. Pelo menos é o que ameaça o promotor Paulo Castilho, do Juizado Especial Criminal, baseado no Estatuto do Torcedor. Ele prevê prisão de até seis anos para quem "fraudar" ou "contribuir para que se fraude" o resultado de competição esportiva. "Se fizer isso, ele tem que sair algemado de Interlagos", diz.


Desnecessário comentar.

É o caso, no entanto, de falar sobre as sucessivas aparições do promotor nesta coluna social. Vejamos, por exemplo, o que tivemos na edição de segunda-feira, três dias antes:

TROPA DE CHOQUE
O promotor Paulo Castilho, do Juizado Especial Criminal, vai pedir que a Federação Paulista de Futebol crie uma Comissão Estadual Antiviolência no Futebol. O grupo teria representantes da entidade, do Judiciário, do Ministério Público, da Secretaria de Segurança Pública, da polícia e da Assembleia Legislativa, para conter os conflitos entre torcedores.
COTAE Castilho, que defende que nos clássicos a torcida visitante seja restrita a 5% do público total, acredita que os incidentes envolvendo torcedores no jogo entre Corinthians e Palmeiras, há uma semana, ocorreram porque esse percentual "não foi respeitado". Enviou ofícios para os quatro grandes do Estado [os dois clubes, mais São Paulo e Santos], para a federação e para o comandante do 2º Batalhão de Choque reiterando pedido para que o limite vire regra.


A questão, senhores, é que Mônica Bergamo não entende nada de futebol. E é aí que o sujeito, sabe-se lá como, virou fonte da colunista e desandou a soltar suas cretinices por lá. Ao abordar o tema "torcidas organizadas" em um espaço que não pertence ao futebol, Castilho atinge dois objetivos:

1. Ganha a visibilidade necessária junto a um público diferente do habitual e bastante necessário em se tratando dos objetivos para sua, como vamos dizer?, carreira.

2. Consolida junto a esse público (pouco ou nada qualificado, a depender da interpretação) uma imagem distorcida das organizadas, ampliando a margem de atuação para suas propostas distorcidas.

Sobre este segundo item, cumpre dizer que não houve "incidente" entre as torcidas de Palmeiras e SCCP no último clássico. O que Castilho faz é criar uma mentira para tentar quebrar o acordo entre as diretorias dos dois clubes, que é plenamente favorável às torcidas. Ou seja: ele aparece às custas de uma mentira e ainda busca uma maneira, mais uma, de foder a vida das duas torcidas. Bem típico de um sujeito que vomita em uma coluna social uma imbecilidade como esta envolvendo, vejam os senhores, Fórmula 1...

02 novembro 2010

O monopólio do sofrimento

Todo torcedor de futebol é, por definição, um sofredor. É uma condição prévia, cláusula essencial de um contrato invisível, e isso independe do time escolhido. Qualquer torcedor. Há, no entanto, quem queira deter o monopólio sobre o sofrimento. Refiro-me a nossos rivais da zona leste. É disso que vai tratar o post.

Vivemos o ano do centenário dos caras, e aí tudo parece ganhar uma proporção maior, fazendo com que nossos rivais se deixem levar por esse desejo voraz de tomar como exclusividade deles o que é na verdade a essência de qualquer torcedor. Deles também, é evidente, mas de todos os outros.

A verdade é que, com o passar dos anos, criou-se uma mística, também por necessidade mercadológica, de que tudo para o SCCP é mais difícil. No discurso inventado por eles, tudo é mais sofrido, mais tortuoso, mais complicado. E, claro, mais apaixonado, como se o sentimento deles pelo clube fosse maior que o dos rivais. Não é.

A imprensa tem lá sua culpa, é verdade, mas nada justifica a busca desenfreada pelo monopólio do sofrimento. A tentativa de fazer do torcedor alvinegro um ser diferenciado no mundo do futebol é uma falácia retroalimentada por gente de todos os tipos, de torcedores de estádio a oportunistas de sofá, como se fossem todos pertencentes a uma mesma seita de sofredores, diferente de todas as outras.

Uma vez diante da falácia de que se perfazem os aficionados pelo SCCP, proponho aqui uma análise fria e imparcial dos fatos. Vejamos:

1977. Depois de 23 anos sem título, o rival é campeão de maneira heróica em três jogos contra a Ponte Preta. Espetáculo grandioso, um gol para a história, a catarse coletiva etc. Tudo muito justo, em uma conquista que merece mesmo ser reverenciada como é até hoje. Dito isso, é hora de seguir em busca de mais vestígios deste sofrimento que dizem ser descomunal.

Que tal falarmos sobre o que seria supostamente o maior título já vencido pelo SCCP? Devemos então voltar 10 anos no tempo, ocasião em que velhos sujos e hipócritas, os mesmos que hoje impõem restrições absurdas para destruir nossos estádios, resolveram criar um torneio de verão no Brasil. Convidaram um clube inexpressivo no cenário internacional, incapaz até hoje de avançar além da semifinal de qualquer competição em seu continente. Não contentes com o vergonhoso convite, nossos rivais tiveram ainda de contar com a ajuda da arbitragem (sempre vigilante!) para superar o marroquino Raja Casablanca. O restante é bem conhecido. Não vejo indícios de sofrimento aqui; pelo contrário.

Nosso rival tem ainda quatro títulos brasileiros. Vamos tratar disso:

1990. Um título merecido, de um time limitado que superou Atlético/MG e Bahia no mata-mata (com um duplo 2-1 em casa e 0-0 fora) para então derrotar, em dois jogos, um rival local, o SPFC: 1-0 e 1-0. Bela conquista, eu reconheço.

1998/1999. Também no sistema mata-mata, o que dignifica qualquer vitória, títulos incontestáveis contra, respectivamente, Cruzeiro e Atlético. Tudo dentro da legalidade, mas não consigo identificar nenhum indício de sofrimento, uma vez que eles tinham um grande time e chegaram aos títulos com certa naturalidade.

2005. Gostaria novamente de entender onde está o sofrimento. Porque nunca antes na história do futebol brasileiro um time contou com tanta força de bastidores para ser campeão. Vejam os senhores que o SCCP não apenas conseguiu anular e jogar novamente dois jogos com resultado consumado, mas também contou com o providencial auxílio da arbitragem no jogo decisivo: o pobre diabo que definiu o campeão brasileiro de 1995 fez o mesmo 10 anos depois. No mesmo Pacaembu.

Poderíamos então falar sobre os títulos da Copa do Brasil, e ao menos o de 2002 é passível de contestação, com mais um erro grotesco da arbitragem.

De resto, e ainda tratando da ausência de sofrimento, é justo lembrar que o SCCP é o time que mais vezes venceu o Campeonato Paulista. E é também um clube que historicamente conta com certa benevolência das arbitragens, o oposto do que acontece, por exemplo, com o Palmeiras.

Poderá algum alvinegro, incapaz de refutar a argumentação acima, dizer que o que está em jogo é a capacidade de superação. Se for assim, fica mais fácil minha tarefa por aqui, uma vez que nenhum outro clube neste país coleciona tantos episódios de superação como a Sociedade Esportiva Palmeiras.

Poderíamos começar por 1942, quando o SPFC tentou - sem êxito - tomar a nossa casa de todas as maneiras possíveis, desde as vias políticas até as vias de fato, ocasião em que foram rechaçados pelos guerreiros palestrinos. Pressionado, o Palestra se viu obrigado a mudar de nome e renasceu de maneira triunfal, derrotando o mesmo adversário no Pacaembu e superando-se a ponto de passar por cima da recepção adversa e botar para correr os atletas rivais. Fugiram de campo! Arrancada Heróica: não há episódio de maior superação na história do futebol brasileiro.

Coube ao Palmeiras também, já nos anos 60, superar seus próprios limites contra o Santos de Pelé: com os títulos de 1963 e 1966, o alviverde foi o único clube a evitar o que poderia ter sido uma sequência de 10 conquistas do SFC.

O Palmeiras teve também a sua fila, dramática como a do rival, com fracassos retumbantes ao longo de 16 anos, crises infindáveis, protestos da torcida e ao menos dois grandes episódios de redenção para compensar as tantas decepções contra times pequenos.

O primeiro, parcial, se deu na semifinal do Paulistão de 1986, com um 3-0 sobre o maior rival depois de um assalto sofrido na partida de ida. O detalhe desse jogo é que a goleada esconde a tensão e a dificuldade do duelo: o gol da vitória só saiu aos 42 minutos do segundo tempo, com muito sofrimento, quando os inúmeros gols perdidos durante toda a partida já faziam crer que viria a eliminação. Mas veio o 1-0 salvador. Depois dele, na prorrogação, mais dois: uma goleada no sufoco. Coisa linda.

O segundo, definitivo, em 1993, com outra goleada na base da superação e com a dose necessária de sofrimento. Desnecessário seria entrar nos detalhes.

É possível que algum adversário venha levantar a bandeira da Série B, em uma tentativa de mostrar algum resíduo de superação. Boa tentativa, mas o sujeito que fizer isso perderá a briga também, e este post, de 2008, traz os números que justificam minha afirmação: subimos quando o campeonato era disputado com quadrangulares finais, e precisamos superar três fases (contra um grande carioca, além do Sport e de outras tranqueiras muito mais relevantes); o rival subiu sem fazer força, com pontos corridos e com quatro sendo promovidos. Além disso, caímos primeiro e sofremos toda a humilhação do primeiro grande paulista a descer para a Série B.

Ao final disso, gostaria de conhecer os argumentos da torcida rival: o que é sofrimento? O que é superação? O que é ser diferenciado?

Se os alvinegros desejam tanto assim o monopólio do sofrimento, precisariam ao menos mostrar que ninguém sofre tanto quanto eles. E isso cai por terra muito facilmente, já na comparação com o Palmeiras. A mística do SCCP é uma fraude.

Se quiserem entrar na discussão sobre o tamanho do sentimento ou sobre fidelidade, já me antecipo:

Poucas torcidas são tão apaixonadas quanto a do Palmeiras. E eu colocaria aí na lista, junto com a nossa e a com a do SCCP, também as de Grêmio, Inter, Atlético/MG, Flamengo, Vasco, Bahia, Santa Cruz, Paysandu etc. Não tem nada na torcida do SCCP que seja diferente dos clubes citados acima (e outros exemplos são válidos).

Se a discussão for sobre fidelidade (mas só se realmente quiserem discutir isso), solicito aos rivais da zona leste que reconheçam a superioridade do Santa Cruz. É indiscutível.

Por fim, ainda tratando do tema "Sofrimento", eu pergunto: é possível ser mais sofredor que o torcedor de um time como a Ponte Preta, cuja torcida, fanática e sempre presente, jamais viu o time ser campeão de porra nenhuma?

Não dá para comparar. Nenhum torcedor de time grande sofre tanto quanto isso. No caso dos alvinegros (e também no Flamengo, aí até com mais ênfase), o que existe é a construção artificial (e mercadológica) de uma mística que não se sustenta. E nossos rivais acabam acreditando e disseminando a mentira que vem sendo construída há tempos.

28 outubro 2010

Futebol itinerante

Prudente de Barueri, Barueri de Campinas, Guaratinguetá de Americana... O futebol paulista virou uma putaria. Faz-se necessário destacar que tudo isso acontece na gestão de Marco Polo Del Nero, o inimigo do torcedor. É o legado que ele deixa.

E agora, quando surge a notícia de que a mentira de São Caetano pode também mudar de cidade, eu preciso voltar no tempo oito anos e novamente registrar um enorme agradecimento ao Olimpia do Paraguay. Obrigado, Olimpia! Faço questão também de registrar o meu desprezo por todos aqueles que foram ao estádio em algum momento torcer por essa praga azul.

Obrigado, Olimpia!

***

2000, final do Campeonato Brasileiro, um dos meus maiores desgostos no futebol. Fui ao Palestra para ver o primeiro jogo da decisão. Minha casa. Fui, é evidente, com a camisa do Vasco e da Mancha. Havia na Turiassu um pouco de tudo: palmeirenses (que lástima...), torcedores do SCCP, do SPFC, do SFC, da Lusa. Todos torcendo pela praga de azul. Nosso estádio se cobriu de um azul disforme, e a torcida do Vasco ficou no espaço destinado ao visitante. Eu tive a decência de torcer contra aquela maldição do ABC e até briguei com alguns imbecis que se travestiram por uma noite. Sinto vergonha por todos os que foram ao Palestra naquela noite empurrar a mentira azul. Obrigado, Romário! Obrigado, Vasco!

25 outubro 2010

O futebol vive na Bolívia

Evo Morales, o presidente da Bolívia, foi jogar futebol. Confrontado por um adversário, fez o que se espera de um jogador, seja ele presidente de um país ou cidadão comum: mandou um pontapé no saco do sujeito. Não vou aqui discutir política, mas preciso registrar que o simples fato de ter origem indígena garante legitimidade a Evo para ocupar o cargo mais elevado da Bolívia.

O incidente protagonizado por ele ocorreu em 4 de outubro, enquanto eu estava no Peru, em viagem de férias. Agora, com relativo atraso, me permito dizer que Morales desferiu o chute não em um adversário ocasional, mas sim no maldito Fair Play da Fifa. Aliás, se Evo se encontrasse algum dia com um desses velhotes safados e hipócritas da Fifa, certamente teria a dignidade de rasgar na frente deles o tal caderno de encargos que a entidade impõe para os estádios.

Corta para o estádio Hernando Siles, em La Paz, palco dos jogos da seleção boliviana de futebol. No dia 13 de outubro último, uma quarta-feira, no decente horário das 20h, se enfrentaram pela oitava vez no ano Bolivar e The Strongest. Era o Clássico Paceño, opondo os dois maiores clubes do país. Quase no mesmo horário, na distante Santa Cruz de la Sierra, Blooming e Oriente Petrolero disputaram outro clássico, o Cruceño. Os dois jogos eram válidos pela 14ª rodada da Liga, o Clausura boliviano.

O Hernando Siles fica em uma área central de La Paz, a 3.600m acima do nível do mar. Com capacidade para receber 45 mil torcedores, está livre ainda das frescuras impostas pela Fifa. Tem cadeiras, de plástico, apenas no setor mais caro, e todo o resto ainda segue os princípios da decência. Do lado de fora, não há qualquer sinal de afetação ou de restrições às liberdades do torcedor de futebol. Há vendedores ambulantes, barraquinhas com todo tipo de comida, e a movimentação caótica e, por isso, saudável que antecede qualquer grande clássico.






Por maior que fosse a movimentação do lado externo, o estádio não encheu naquela noite. Não há demérito algum, se julgarmos que o jogo aconteceu em uma noite com temperatura inferior a 10º C e debaixo de uma tempestade considerável, com direito até a granizo. E, a bem da verdade, era a oitava vez no ano que se enfrentavam os dois times e a situação do The Strongest era bem delicada.

Foram mais de 20 mil torcedores, sendo que 18.291 pagaram ingresso. Disso tudo, eram 13 mil do Bolivar, o clube de maior torcida do país, e 7 mil do Tigre. Quem pagou ingresso desembolsou entre 20 bolivianos (populares, Curvas Sur e Norte) e 70 bolivianos. O que isso significa? Que os torcedores da arquibancada pagaram o equivalente a R$ 5 para ver o grande clássico nacional. Quem optou pelo setor coberto, o mais caro, gastou menos de R$ 18.







Em campo, um grande duelo. The Strongest e Bolivar fizeram uma partida cheia de alternativas, um 3 a 2 com uma virada para cada lado, duas expulsões, invasão de campo, agressões, jogadas ríspidas, muita porrada, provocações recorrentes a partir das curvas. Um clássico, enfim.

E choveu. Muito. Até granizo. Nada que atrapalhasse a festa das duas hinchadas, cada qual localizada na sua respectiva curva. A do Bolivar, bem maior, foi também mais participativa durante os 90 minutos. Do outro lado, a hinchada do Tigre parecia menos confiante e apenas respondia aos gritos que vinham do outro lado.

Quanto ao jogo, vale assistir ao vídeo abaixo, que traz os cinco gols, a chuva, os melhores momentos, as falhas grotescas do goleiro do Bolivar, um erro grosseiro do árbitro e até a invasão do torcedor do Bolivar, um momento único na partida.



As imagens aí do alto não mostram a íntegra da invasão, mas o fato é que, não contente em fazer o que fez com o atleta do Tigre e pouco se importando com as porradas que levou dos reservas, o sujeito foi carregado pelos policiais com os braços erguidos, em sinal de vitória, e fazendo gestos. Deve ter apanhado lá embaixo, é verdade, mas, antes disso, deixou o campo sob aplausos do público.

Sim, o futebol na Bolívia ainda é do povo. É a principal, se não única, alternativa de lazer para a população local. E é respeitado como tal. Que os velhos canalhas e hipócritas enfiem o Padrão Fifa no cu!

***

Liga Boliviana - Clausura/2010

The Strongest 3-2 Bolivar
1-0, 1-1, 1-2, 2-2, 3-2
Renda: 459.135 bolivianos
Público: 18.291 pagantes

***

Em tempo e para manter a coerência com o meu discurso pré-viagem, insisto que não é possível fazer jogos internacionais em La Paz (ou em Potosí, estádio que também conheci). Não dá. Não existe ar suficiente, não é possível respirar, não dá para andar sem sentir tontura e fraqueza. Está feito o registro.

"The horror, the horror"



Deu tudo errado. O que era temor antes da rodada deste domingo aconteceu tal e qual o roteiro mais indesejado possível. Para o bem ou para o mal, não há muito a quem responsabilizar. Como no jogo do Paulista, um lance isolado fez os rivais saírem na frente e então não tivemos capacidade para chegar pelo menos ao empate. Não dá para ficar atrás de culpados, não dá para criticar a arbitragem, não dá sequer para questionar o trabalho da PM, que parece ter encontrado o esquema adequado para esses clássicos no Pacaembu.

Foi um domingo de horror. Perdemos em campo, vimos cair por terra a chance de buscar uma posição melhor, ressuscitamos o SCCP e ainda vimos o Cruzeiro aprontar mais um dos tantos papelões de uma história ridícula. Mas, a julgar pelo nosso próprio fracasso em campo, não podemos reclamar dos rivais de MG, tampouco do Santos FC. E não dá para escrever nada decente além disso.

"The horror, the horror"

***

O fim de semana ficou marcado por encontros entre os grandes rivais no Brasil e também na Argentina. Por aqui tivemos todos os quatro principais clássicos do país em uma mesma jornada: Palmeiras-SCCP, Vasco-Flamengo, Atlético/MG-Cruzeiro e Grêmio-Inter. Por lá, a rodada também foi pensada sob medida: River-Racing, Independiente-Boca, Huracán-San Lorenzo e Vélez-Estudiantes.

22 outubro 2010

BARUERI NÃO!

Começando com um raciocínio propositalmente bem simplório:

O Palmeiras é um clube da cidade de São Paulo. A cidade de São Paulo tem um estádio municipal, o Pacaembu. O Palmeiras é o clube que mais vezes foi campeão no Pacaembu, a despeito de ter o seu próprio estádio. O Palmeiras inaugurou a cancha municipal, em um 6 a 2 contra o Coritiba. O Palmeiras viveu um dos episódios mais gloriosos de sua história, a Arrancada Heróica, por lá.

O Pacaembu é o estádio mais bem localizado desta metrópole, com duas estações de Metrô (de linhas diferentes) e incontáveis linhas de ônibus nas imediações. Qualquer cidadão consegue chegar ao Pacaembu, ainda que em jogos realizados em horários pornográficos. Qualquer cidadão. É o estádio municipal e tem alma própria, que transcende a relação com qualquer dos clubes desta cidade.

Mesmo com isso tudo, existe uma inexplicável resistência ao Pacaembu, e sobre isso eu já escrevi aqui, por ocasião dos malditos clássicos em Prudente/MS.

Bastaram uma pequena e enganosa vantagem financeira e a combinação de uma sequência de resultados adversos na cancha municipal com uma única vitória na artificial, deslocada e inacessível Arena Barueri para que algumas mentes cretinas optassem por fazer da cidade vizinha (aliás, nem isso é) a casa do alviverde durante a reforma do Palestra. Entre raciocínios cretinos (que associam o Pacaembu ao SCCP) e superstições baratas (ainda não perdemos em Barueri), tomou-se uma decisão que, para além de equivocada, penaliza quase que a totalidade da massa palestrina.

Vejamos que o palmeirense não tem mais o prazer de ver seu time jogar na própria cidade, virando agora um visitante mesmo "em casa". O palmeirense tem de viajar até outra cidade para ver seu time. Tem de pagar pedágio na ida e na volta, por vezes enfrentando o trânsito infernal de uma rodovia e mais os 30km entre a sua casa e esta nova e indesejada.

Eis o mais grave: o palestrino tem de se submeter a viajar sempre que seu time for mandante. Em vez de ir de Metrô (ou a pé), tem de encarar a estrada e o pedágio para chegar a um estádio sem alma e sem qualquer identificação com o clube.

O Palmeiras segue o exemplo, vejam vocês, do ex-Barueri: abandonou o estádio da sua cidade para jogar em outra cidade, que nada tem a ver com a sua história.

Nesses tempos em que Barueri vira Prudente, Guaratinguetá vira Americana e São Caetano ameaça procurar outra sede, o gigante Palmeiras faz a sua parte: dá um pé na bunda da sua cidade e assume como casa um estádio sem alma por algumas migalhas e por uma resistência imbecil.

***

Importante ressaltar outro aspecto: Ir ao estádio, para o palmeirense, não significa apenas ver e empurrar o time em campo; é também um momento de sociabilização e de confraternização. É a oportunidade de chegar ao estádio bem cedo para encontrar os amigos, tomar cerveja e, claro, falar sobre futebol.

Não há lugar melhor para isso que a nossa casa, o Palestra. Lá é possível encontrar os amigos no clube, nas dezenas de bares das imediações, nas ruas ao redor, nos dois shoppings vizinhos... Perdemos isso com a reforma do Palestra, mas já estávamos buscando o nosso espaço no Pacaembu.

Nenhum outro lugar oferece as mesmas condições que a nossa casa, é bem verdade, mas já estávamos nos habituando a buscar novos bares e pontos de encontro, ainda que fosse na praça em frente. Agora nos tiraram isso também. Sim, porque a Arena Barueri, em que pesem os bares e as barracas de comida ao redor, é incapaz de oferecer isso, à medida que oferece uma série de transtornos no antes e no depois. Ou alguém aí consegue chegar cedo ao estádio durante a semana e depois ficar por lá mais algum tempo?

***

Para justificar essa medida cretina, dirão alguns que o aluguel do Pacaembu é muito caro. Eu não tenho aqui as crifras precisas, mas me permito refutar isso também com números.

Vejamos a média de público do Palmeiras na tal Arena: 
17.01.2008 Palmeiras 3 x 1 Sertãozinho/SP 8.020 
26.01.2008 Palmeiras 2 x 2 Mirassol/SP 6.915 
06.04.2008 Barueri/SP 0 x 3 Palmeiras 8.991 
31.05.2009 Barueri/SP 2 x 2 Palmeiras 4.960 
08.03.2010 Palmeiras 3 x 2 Sertãozinho/SP 3.224 
29.05.2010 Palmeiras 0 x 0 Prudente/SP 4.016 
29.09.2010 Palmeiras 2 x 0 Internacional/RS 12.264 
17.10.2010 Palmeiras 1 x 1 Ceará/CE 8.257 
20.10.2010 Palmeiras 3 x 1 Universitario Sucre/BOL 10.741 

A média, 7.487, é irrisória, quase digna dos jogos do Santos FC na Vila Belmiro. A considerar os ingressos mais baratos (R$ 20 pelo setor popular), pelo estádio regularmente vazio e pelo ticket médio bem abaixo do que ocorre no Pacaembu, cai por terra o argumento boçal de aluguel mais barato no campo de Barueri.

Ainda que houvesse uma pequena vantagem financeira - o que não acontece! -, o Palmeiras deveria arcar com isso para não penalizar o seu torcedor de maneira tão contudente como tem feito agora.

***

Para finalizar:

Dizem que o Palmeiras nunca perdeu na Arena Barueri, certo? Então vejam acima quais foram os jogos: 2 contra o Sertãozinho, 2 contra o Barueri local, 1 contra o Prudente ex-Barueri, 1 contra o Mirassol, 1 contra o Sucre e 1 contra o Ceará. O único que representou alguma ameaça foi o Internacional/RS. E foi essa vitória que determinou a decisão imbecil dos nossos dirigentes.