27 abril 2012

Argentina, onde vive o futebol

A revista VIP de maio/2012 está nas bancas. Tem lá uma matéria sobre a "Libertadores das cervejas" e mais um guia especial do Brasileirão/2012, com espaço até para isto aqui:


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Merece destaque também a divulgação do novo Manual de Identidade Visual da S.E. Palmeiras. Confiram aqui o documento completo. Belo trabalho.

25 abril 2012

O futebol, este desconhecido (ou GWE, 7)

Sim, o texto que começa agora bem poderia ser o capítulo 7 da esporádica série "Geração Winning Eleven" (conferir os anteriores em 1, 2, 3, 4, 5 e 6). Mas sei que agora essa molecada alienada migrou para o Fifa e então talvez fosse o caso até de mudar o nome. Não, não é! Deixe estar e sigamos com o título acima, porque ele se faz muito mais apropriado no sentido de antecipar o que se segue:

Jogadores de futebol, os senhores bem sabem, são tratados por este blog como os vagabundos descartáveis que efetivamente são. O nome pouco importa; eles são números e devem ser tratados assim.

Tal lógica é exatamente o oposto do que se observa com essa geração de """torcedores""" (ênfase nas aspas) de videogame e de redes sociais. Porque o tratamento por eles concedido aos jogadores é de reverência, quase como se fossem ídolos pop. Notem aí que qualquer desses moleques sabe escalar os grandes times europeus do goleiro ao centro-avante, e é capaz ainda de dizer onde está cada um dos pretensos ídolos. Pergunte, no entanto, quais são as torcidas de destaque entre os clubes europeus, a história do Barcelona ou as origens recentes do endinheirado Chelsea, e o babaca ficará calado. Mais que isso: pergunte qual é a experiência desse puto dentro de um estádio de futebol e receberá o silêncio como resposta.

Pois digo então que o Barcelona foi apresentado ontem (e na última semana como um todo, faça-se justiça) a este desconhecido chamado futebol. Porque o que disputava o clube catalão até a fase anterior da UCL não era exatamente futebol. O Barcelona pairava acima de todos os outros, a vida era fácil, as vitórias pareciam naturais demais, não havia risco. Estava longe de ser futebol; era uma atividade paralela, que carecia de certa dose de dramaticidade e de um pouco sofrimento para se qualificar como futebol. Era, sejamos claros, uma chatice.

A eliminação de ontem, se vista em perspectiva, é muito boa para o Barcelona. É boa porque traz o Barcelona para o futebol de verdade, este que se pratica por todos os outros clubes e que, acreditem, é mais desilusão que festa. As eliminações traumáticas são mais comuns que as grandes conquistas, as derrotas vexatórias se fazem mais presentes que as campanhas avassaladoras, os dramas ocupam mais espaço que as goleadas. E é assim que deve ser.

Futebol é isso e o torcedor do Barcelona ontem no Camp Nou foi apresentado ao esporte (lembrem-se, senhores, que só existe um esporte; o resto é brincadeira de educação física). O torcedor do Barcelona chorou, sofreu, viu o time pressionar um rival encurralado durante 90 minutos. Ah, aquele desespero do final foi tão bonito... Bola alçada na área, correria, a derrota se aproximando. E o gol sofrido já nos descontos, um belo gol, pois sintomático de todo aquele desespero. Um gol que teve o efeito de calar o estádio, de impor um drama ao qual aquela gente parecia pouco habituada. E haverá de ser bom para todos.

A derrota é uma bênção para a torcida do Barcelona (e por torcida, entenda-se, é claro, quem estava ontem no estádio). Porque, e aqui eu sei que parece clichê, é a derrota que dá um peso maior para as vitórias. É a derrota que faz o torcedor entender o futebol de maneira completa. É a derrota que faz o torcedor se sentir mais importante para o clube. É a derrota que molda o caráter.

O futebol é injusto. O futebol machuca. O futebol mais tira do que dá. O futebol chega a ser cruel, como acontece com um time que enfia três bolas na trave em um jogo, mais duas no outro, pressiona, joga melhor (e é melhor), mas não consegue superar uma retranca muito bem montada e vê o sonho escapar em duas enfiadas de bola precisas, em contra-ataques mortais. É a beleza do futebol. E é a dor de saber que se está perdendo para um time sem alma, para uma entidade artificial, para um clube que é a representação de tudo de ruim que existe no tal futebol moderno. Mas é assim que é.

Difícil aceitar assim de maneira tão imediata, mas a torcida do Barcelona haverá de entender. E vai agradecer porque a geração de torcedores mais novos passa agora a conhecer o futebol de verdade.

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_O Chelsea, vocês sabem, é uma aberração completa. É um símbolo desta maldita Geração Winning Eleven. E é só por isso que eu preferia ontem a vitória do Barcelona. Que Bayern ou Real Madrid, de preferência o primeiro, se encarreguem de evitar o pior na final.

_Em que pese o meu ódio pelo Chelsea, os 10 jogadores que seguraram ontem o Barcelona (e foram buscar os dois gols já com a inferioridade numérica) praticaram um futebol belíssimo. Retranca, entrega, espírito de guerreiros. Seguraram um time superior, foram matadores no contra-ataque e merecem todos os elogios por isso. O futebol vive em tardes como a de ontem.

_O pênalti perdido e a derrota haverão de ser bons também para Messi. Ele é humano e, como tal, falível. Baixemos um pouco a bola. A Copa/2014 vem aí e ainda quero crer que ele haverá de se consagrar em solo sagrado.

23 abril 2012

A culpa é do Pacaembu, né?

O primeiro tempo foi razoável até. Equilíbrio, jogo duro, chances de lado a lado. Dava para acreditar. Começa o segundo tempo. Bola recuada para os zagueiros. O camisa 22 se intromete, deixa a área e resolve mandar mais um dos seus 'lançamentos' que terminam sempre em contra-ataque do adversário. Pois o contra-ataque virou escanteio. E o escanteio se transformou em um vexatório gol olímpico, bem a caráter para um goleiro que se faz notar pelos braços atrofiados. Ele mesmo, poucos minutos depois, encolheria os braços, permitindo que um cruzamento rasteiro tivesse como desfecho o segundo gol do Guarani. E ele de novo, o camisa 22, enterraria o time de maneira definitiva nos últimos minutos, em uma falha ainda mais grotesca, a bola passando por entre seus braços encolhidos.

Quer dizer então que o camisa 22 é o culpado pela eliminação do Palmeiras em Campinas, é isso? Bom, sim e não. Sim, porque ele efetivamente falhou em todos os três gols sofridos no Brinco de Ouro. E não, porque o Palmeiras que aí está não é um time de homens. O Palmeiras que aí está não é um time de gente capaz de assumir a responsabilidade pela situação atual. Do presidente que nos faz passar vergonha atrás de vergonha ao decadente treinador, passando por quase todo o elenco.

O Palmeiras de hoje é um arremedo de time. É um bando de vagabundos que vive a desonrar a mais bela história entre todos os grandes clubes deste país. É um aglomerado de incompetentes que parecem se juntar para detonarem tudo o que foi construído durante quase um século. É uma completa zona, sem ordem, sem regras, sem o mínimo de organização. O Palmeiras de hoje, diria eu, é um fracasso em progresso. As humilhações se sucedem semestre após semestre, e o torcedor vai suportando um fardo que parece não ter fim - e ouso dizer que não terá.

Chegamos a este cenário, senhores, porque nenhum puto dentro do Palmeiras assume a responsabilidade por tamanho caos. Ficam repassando a bronca de lá pra cá, arrumando desculpas covardes e a coisa só faz piorar. E é então que eu faço algo necessário, mas muito doloroso pelo ídolo que se vai:

A culpa, senhores, é do Pacaembu. "Porque o Pacaembu dá azar. Porque o Pacaembu é a casa dos gambás. Porque os jogadores não se sentem em casa lá. Porque o Pacaembu blá blá blá."

Notem, por favor: o Palmeiras começou a temporada com uma invencibilidade de 22 jogos e nada foi dito sobre a cancha municipal. Nada. Mas aí veio uma derrota cretina, a queda de desempenho avassaladora e o nosso treinador vem dizer que o problema é, vejam só, o estádio municipal. "O Pacaembu não é nosso, é dos outros. Lá, sempre jogamos fora de casa. Eu não gosto, os jogadores não gostam. Não tem explicação, mas se perguntarem, nossos jogadores gostavam muito mais de quando marcávamos os jogos para o Canindé, do que lá."

Eu não vou perder tempo aqui elencando de novo toda a identificação histórica entre Palmeiras e Pacaembu. Não vou, porque não é preciso. Mas quero registrar que falta a quem está há dois anos ganhando R$ 700 mil mensais sem entregar nada em troca a dignidade de assumir a sua parcela de culpa e a dos jogadores. Em vez de lutar para justificar a confiança nele depositada, ataca o estádio municipal, ataca a nossa história e ataca o próprio palmeirense. Tem sido assim desde o fechamento do Palestra: basta vir uma sequência ruim e nego reivindica uma nova casa. Até a nova série negativa e a solução proposta é a mesma.

Afinal, não foi ele que disse que não importava muito o local do jogo? Não foi ele que até declarou que seria bom jogar em Campinas? Não foi? E agora, porra? E agora vem na entrevista coletiva e quer tirar o peso da derrota? Quer nos fazer crer que não aconteceu nada de grave? Quer menosprezar mais um vexame?

Chega, senhores! Já são dois anos, o time não tem padrão tático, não tem diferencial técnico, fraqueja na hora de decidir, tem problemas psicológicos, é covarde, é o caralho. É desculpa atrás de desculpa, e ninguém resolve nada.

Estou cansado de acreditar e de ter esperanças. Estou cheio de ficar correndo atrás de uma camisa que, infelizmente, já não consegue mais jogar sozinha. Estou exausto de ter o meu esforço pessoal sabotado por vagabundos. Estou cansado de tantos vexames absurdos, de derrotas improváveis, de fracassos que se sucedem. Já não aguento ter a minha alegria (mesmo que seja pela derrota de um rival) boicotada por um bando sem caráter.

Falo por mim, mas acredito que esse esgotamento se aplica a todos os que vivemos o Palmeiras com intensidade. Pude ver esse sentimento no olhar de cada um dos que estivemos hoje à noite na arquibancada do Brinco de Ouro. Inconformismo, ódio, rancor, dor, revolta, desolação, desesperança, tudo misturado...

Tínhamos tudo para viver um domingo perfeito. Tínhamos tudo para viver uma semana de expectativa e um próximo domingo de reconciliação em casa. Tínhamos. O bando que está aí, o técnico decadente e a direção inapta não mais permitem que o palmeirense tenha a sensação de torcer por um grande.

E vem coisa pior pela frente...

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_O camisa 22 já não deveria mais vestir a camisa alviverde desde aquele jogo contra o Fluminense no final de 2010. Alguém deveria ter tomado uma atitude desde então. Demissão por justa causa, empréstimo, rescisão de contrato, qualquer merda assim. Não tomaram, ele seguiu fazendo merda e devemos a ele agora uma eliminação para um pequeno do interior, mais uma.

_A culpa, penso agora, deve ser minha também. E sua. E de todos nós. Porque quase todos os vagabundos do time atual estavam em campo naquela derrota para o Goiás/GO no Pacaembu, provavelmente a mais vexatória de toda a história da S.E. Palmeiras. E sei lá que culpa nós podemos ter nisso aí, mas eu pelo menos sou homem de tentar assumir a responsabilidade por algo que, infelizmente, está fora do meu alcance. Porque os vagabundos que aí estão vão para qualquer merda de clube daqui a pouco. Mas nós estaremos sempre na mesma arquibancada. Porque ao menos nos resta vergonha na cara.

_Eu disse para não esperarem nada decente. Mas já escrevi coisas melhores e os textos que se seguiram à inaceitável derrota para o Goiás podem muito bem se aplicar ao momento atual. Fiquem com eles:

A dor (25.11.2010)

A dor que não passa (30.11.2010)

Uma torcida que não tem time (30.11.2010)

21 abril 2012

Palestra Italia, 95
















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Amanhã é dia de encarar mais uma decisão, desta vez em Campinas. Estaremos lá no Brinco de Ouro para empurrar o time e trazer a classificação.

19 abril 2012

Turiassu, 1840 (10)



21h17. No começo, somos poucos, amontoados entre o portão de acesso à arquibancada e o portão social do clube. Os de sempre.

22h09. A noite fria de junho era ainda mais fria porque ao ar livre, as costas apoiadas no muro da nossa casa, os pés esticados na calçada, por vezes com uma caixa de papelão aos pedaços servindo de proteção. Tem um figura que trouxe cobertor de casa.

23h35. A fogueira improvisada não dá conta de atenuar o frio que só não se faz tão presente quanto a expectativa pelo dia seguinte. Nem tanto por dissipar a escuridão da noite paulistana, mas por sinalizar a proximidade do horário de abertura da bilheteria logo adiante.

0h. Chegam mais alguns, trazidos pelos últimos vagões do Metrô e pelos derradeiros ônibus, que já começam a rarear. O trânsito já quase inexiste. Um ou outro carro passa em alta velocidade. Outros reduzem a velocidade e estranham aquela aglomeração a horas tantas de um domingo à noite.

0h17. Sono. Cochilo rápido.

1h. A madrugada traz mais dezenas de palestrinos, surpresos ao notar que a fila já se estendia para além da banca de jornal. Coisa pouca ainda: em breve chega ao Shopping Matarazzo.

1h23. Passa um carro todo filmado. Um idiota abre o vidro e grita alguma cretinice qualquer. Voa uma pedra. “Chupa, gambá!”

2h. Dizem que a multidão já estava dobrando a esquina. Dizem. Segue-se a caminhada Turiassu abaixo. Vale tudo para passar o tempo. Um conhecido aqui, outro ali, abraço, “e aí, mano?”. Sim, já tem nego na esquina, ali por entre as grades verdes desgastadas do McDonald´s que, bravo e guerreiro, resiste até hoje.

2h29. Fome. Posto Texaco da esquina com a Sumaré. Pão de queijo murcho, um Fandangos, qualquer coisa assim. Refrigerante. Há quem apele. Pinga, vodka, essas coisas.

2h47. A fila só faz crescer. Avenida Pompéia. Depois Matarazzo.

3h. Mais e mais palestrinos chegam. Normalmente das transversais, alguns da Sumaré. Passam pelo começo de tudo, cumprimentam os conhecidos e seguem em frente. Há os que se aproximam e já ficam por ali mesmo. Ainda há espaço para furar a fila.

3h38. “Por que nenhuma barraquinha de pernil e calabresa teve a ideia de ficar aqui durante a madrugada?”. Nunca consegui uma resposta para essa pergunta. Se o Bigode fizesse isso, ganharia mais dinheiro do que em muitos jogos.

3h51. A pergunta que mais se ouve durante a noite é “Lembra daquele jogo que...?”. Quase todos têm histórias para contar. Uns mais, outros menos. Alguns, principiantes naquela arte, só escutam. Brigas, caravanas, tardes e noites históricas. Quanto mais antiga a história, mais o sujeito se faz respeitado. Alguns exageram, mentem até. Mas é fácil identificar os falastrões.

4h. O tempo não passa. O frio só aumenta. Movimento quase zero.

4h29. Os primeiros ônibus do dia e o Metrô começam a despejar naquele pedaço privilegiado da zona oeste o enorme contingente dos que, depois de uma noite de sono em casa, resolveram chegar logo cedo. Cedo? Pode ser tarde demais; confrontos decisivos exigiam o sacrifício de dormir ao relento.

4h51. É o limite para uma última volta pelo estádio – mais tarde será impossível. Aumenta o fluxo de pessoas que vêm da Barra Funda. Quem chega já fica na Padre Thomaz, perto do West Plaza.

5h. De volta à nossa posição privilegiada. Dali não dá mais para sair. A fila, dizem, já chegou até a Sumaré. Uma multidão se movimenta por entre as ruas próximas. Mais fome. Alguém saca um pacote de bolacha da mochila. Come duas e oferece o resto. O pacote passa de mão em mão e não volta mais.

5h11. Chega o jornaleiro e abre a banca. Os poucos exemplares do Lance! e de A Gazeta Esportiva se esgotam em minutos. Sem opção, os próximos ficam com Agora, Diário Popular e JT. Folha e Estadão acabam sobrando. O Lance! é o mais fácil de ler na fila: cada exemplar passa por dezenas de mãos antes de quase se decompor.

5h27. Ônibus e mais ônibus chegam e vão despejando gente na Turiassu. A caminho do trabalho, os vidros embaçados pelo orvalho da madrugada, ocupantes dos coletivos ficam intrigados com tanta gente na rua àquela hora da madrugada. Até o cobrador, que dormia desde a Praça Ramos, estica o olho para saber o que se passa.

5h56. Quem chega agora teme pelo pior. “Fodeu. Vou ficar sem ingresso”. A fila já voltou para a Turiassu. Mais de um quilômetro de gente amontoada em volta do estádio, do shopping, das casas do fundo.

6h27. Começa o dia para os botecos em frente. Pão na chapa e pingado. Mas só para quem está mais atrás na fila. Nós, ali na frente, nem podemos sonhar em deixar o lugar.

6h31. O dia começa a se fazer dia.

6h55. Começo e fim da fila se aproximam de maneira perigosa para quem não está perto. Um tumulto aqui, outro ali. Nego tenta furar a fila. Xingamentos, empurrões, os primeiros gritos de guerra ecoam pela Turiassu.

7h07. Situação quase incontrolável. A fila engorda a olhos vistos.

7h16. Chega a PM. Despreparada. Os primeiros coxinhas distribuem porrada sem pensar. Ameaças. Empurrões. Correria.

7h33. Só agora, com o caos instalado, chegam os gradis de isolamento – que já deveriam estar ali desde a noite anterior. Cada um tenta proteger o seu lugar. Um ou outro aproveita a bagunça para se infiltrar.

8h06. A Turiassu parece não comportar mais tanta gente.

8h10. Um caminhão carregado de laranjas estaciona em frente ao shopping e fica entre as duas filas - a da calçada e a da rua. Péssima ideia. Guerra de laranja. Elas voam de um lado para o outro.

8h22. Chega a imprensa. Repórteres dos jornais, fotógrafos, operadores de câmera, o escambau. À espera do pior.

8h39. É gente que não acaba mais. “Por que cazzo não abrem a bilheteria já agora, porra?”. Pergunta sem resposta.

8h51. “Ouvi dizer que vai abrir antes”. Sempre aparecia alguém com essa. Estádios de futebol adoram boatos.

9h17. Expectativa, ansiedade, pânico. O celular toca sem parar. “Mano, consegue um pra mim?”, "Cara, só acordei agora...", "Pô, será que ainda dá tempo?", "Tô aqui na Matarazzo. Tem como entrar aí na frente?", "Vai abrir já?"

9h26. A PM fecha a Turiassu. Parece dia de jogo. Helicópteros. Cavalaria. Viaturas. A cidade toda parece estar concentrada ao redor do Palestra.

9h47. “Abre essa merda, porra!”

9h51. “Olê, Porcooo!”

9h53. “Quando surge o alviverde imponente...”

9h57. "Gambá, vou te matar..."

9h59. Bilheteria aberta. Enfim.

10h02. A fila não anda. Sim, abriu a bilheteria, mas tudo fica parado. Tensão. Aperto. Suor. Ritmo lento. "Imagina só quem está uma volta atrás...".

10h05. Tá lá o guichê.

10h11. Dinheiro e carteirinha de estudante em mãos. Aglomeração atrás. Peito estufado, ombro elevado, a sensação de precisar proteger a posição privilegiada. Ingresso na mão. Estamos entre os nossos, mas todo o cuidado é pouco.

10h13. O empurra-empurra fica para trás. Turiassu. A rua e não mais a calçada. Só nossa. Ingresso na mão. O jogo começa ali.

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Recebi a foto lá do alto por email. Queria alguma de 1999 ou 2000, mas não consegui. Presumo eu que esta aí seja da final do Paulista/2008, também um caos. Vejam aqui no Parmerista!

18 abril 2012

Tirone, o despreparado

Em 20.03.2012 neste blog: "Arnaldo Tirone pode até não ser o pior presidente que já tivemos (porque houve certa feita um sujeito chamado Mustafá Contursi), mas ele é certamente o mais despreparado e inapto de todos os homens que já ficaram à frente do nosso clube."

Tal afirmação pode ser comprovada por meio de inúmeros posts neste e em outros blogs palestrinos. Eis que hoje o Verdazzo traz mais um texto que evidencia isso e nos faz sentir vergonha mais uma vez. Leiam, por favor.

Acredito não ser necessário fazer comentários adicionais ao que já foi dito pelo Conrado, mas eu preciso destacar ao menos um ponto e então dirijo a mensagem ao nosso presidente: Tirone, você foi o responsável por quebrar o acordo com o SCCP na semifinal do ano passado, e é por sua causa que hoje temos apenas 2.000 ingressos no Pacaembu. Em virtude da sua decisão estúpida, mais uma, somos obrigados hoje a seguir a pé até a cancha municipal sempre que vamos enfrentar o nosso principal rival. É por isso que muitos dos nossos ficam sem ingresso. E é você o responsável por matar o último clássico paulista.

Tenha um mínimo de dignidade e não apareça mais em reuniões para transformar o Palmeiras em motivo de piada. Você é despreparado, inapto e incompetente!

17 abril 2012

"Ganhamos" e "perdemos"


Crédito da foto: RAC
Botafogo e XV de Piracicaba escaparam do descenso na última rodada. Bom para o futebol - em que pesem os R$ 60 cobrados pela diretoria do clube de Ribeirão por uma arquibancada no jogo contra o Palmeiras. E a imagem da rodada derradeira do Paulistão não vem de nenhum dos grandes, mas sim da torcida do XV (acima), em caravana histórica até Mogi Mirim. Um clube que carrega para outra cidade esse tanto de gente não merece cair.

O fato a se lamentar é que a permanência dos dois clubes do interior tenha como efeito colateral a queda da Portuguesa. Flavio Gomes, jornalista, luso e torcedor da arquibancada, escreveu sobre o descenso de seu clube de maneira bastante aberta, transparente, visceral até. Um texto que, modéstia à parte, guarda relação com muito do que eu já escrevi neste blog. É então que eu me sinto impelido a não apenas linkar o post, mas também reproduzir alguns trechos na íntegra. A eles:

"O rebaixamento da Portuguesa ontem tem responsáveis óbvios e muitos culpados, como sempre há nas grandes derrotas. Não vou ficar aqui apontando o dedo e nominando cada um. Faço isso na arquibancada. Farei no próximo jogo, que será pela Copa do Brasil, contra Remo ou Bahia."

(..)

"Aliás, é curiosa essa nova subcategoria de torcedor: o torcedor das redes sociais. Que fazem parte também da categoria um pouco maior, que é a do torcedor do pay-per-view. Essa criançada que nunca foi a um estádio na vida."

(...)

"Eu tenho bandeiras. Comprei nos jogos. Poderia ter comprado pela internet, também, mas comprei nos jogos."

(...)

"O problema dessa garotada é seu total e absoluto desconhecimento do que quer que seja. São profundos especialistas em Facebook, Twitter e Instagram, mas da vida nada compreendem. Conhecem os personagens do “Pânico”, gargalham com “memes”, têm no YouTube sua principal fonte de informação e inspiração."

(...)

"Nesse futebolzinho mequetrefe de hoje, que muitos jovens creem ter-se inspirado no Playstation, inventado depois do videogame, não há times bons. Há times ricos. É preciso ser muito obtuso para morrer de orgulho de um time que só é forte porque tem capacidade de gerar receita."

(...)

"Sim, eles escolheram. Eu os levo a campo desde que eram de colo, mas sempre puderam escolher. E sua escolha é motivo de orgulho para mim, porque escolheram aprender a ganhar e a perder. A não pertencer a nenhuma manada preguiçosa que só se importa em bater no peito para dizer “ganhamos”, sem perceber que nunca ganharam nada, não fazem parte daquilo. Veem tudo a distância em TVs de LCD, Optaram pela via mais fácil de se sentirem vencedores: se apropriando das vitórias de algo que só faz parte de suas vidas quando chega a fatura dos canais pagos.

Meus meninos, e os milhões de torcedores disso que vocês chamam de “pequenos”, não. Nós podemos bater no peito e dizer “ganhamos”. Mas sabemos dizer, também, “perdemos”. Fazemos parte daquilo de verdade. Quando nos vemos numa arquibancada distante debaixo de chuva ou de sol, com nossas camisetas da sorte, o boné desbotado, a calça meio rasgada, o tênis velho, a bunda no cimento, temos a completa noção de que fazemos parte daquilo. Ganhamos e perdemos junto."


É isso! Obrigado, Flavio Gomes! Todo meu desprezo pela Geração Winning Eleven, essa praga do futebol moderno sobre o qual eu já escrevi em seis capítulos distintos: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

O futebol, oportunistas de merda, só se vive na arquibancada.
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_Difícil acreditar que a FPF perdeu um dia inteiro (a segunda-feira) para definir apenas na terça os dias e horários dos jogos das quartas-de-final. Porra, clubes e torcedores precisam disso para traçarem uma programação e os vagabundos do Del Nero resolvem pegar a segunda de folga? É inacreditável!

_Ao que parece, o torcedor paulista vai se livrar ao menos do Red Bull na próxima temporada da A1. O time do energético tem apenas dois pontos em três jogos (dois em casa) e dificilmente consegue reverter a situação. Vitória do futebol.

_Os senhores se lembram do post da semana passada sobre o PCO? Pois bem, o Painel FC do último domingo trouxe mais algumas informações relevantes sobre o caso:

"Sob o radar. Foi quase por acaso que Luiz Felipe Scolari soube do processo movido contra ele por Paulo Cesar de Oliveira. O árbitro orientara que a notificação fosse dirigida para o antigo endereço do técnico, em Canoas, no Rio Grande do Sul.

Top secret. A notificação foi "descoberta" em visita de um cunhado à antiga casa de Scolari para ver se tudo estava em ordem. Pessoas próximas ao técnico acreditam que foi um truque para que processo corresse à sua revelia.

Na moita. Outra tese levantada é a de que o juiz não queria que a FPF soubesse."

_Aliás, deixo-os com outra matéria, também da FSP, que apresenta, todos de uma só vez e na mesma pilantragem, as seguintes figuras: Del Nero, Bruno Balsimelli (BWA).

15 abril 2012

A vitória ou o terror

Antes do jogo, a caminho do Pacaembu, estranhei o fato de as rádios todas terem optado pela transmissão dos jogos em Santos, em Lins ou em Campinas (este com TV aberta), deixando de lado a única partida da rodada disputada na capital paulista. Besteira minha. Porque só pessoas como eu e como outros pouco mais de 5 mil se dispõem a tomar parte de um espetáculo tão grotesco quanto este Palmeiras 2-2 Comercial, resultado que ratificou a nossa classificação em um vexatório 5º lugar. Vejam os senhores que mesmo um 4º lugar seria compreensível, uma vez que os outros três grandes têm times superiores ao nosso. Mas o 5º lugar é inaceitável, em especial pela maneira como foi alcançado.

Sim, entendo que houve - novamente - erros acintosos de arbitragem, mas não há o que justifique uma atuação tão patética quanto a deste domingo. Não há o que justifique as decisões do nosso treinador, os erros de finalização, a completa falta de padrão tático. E não há o que dê conta de explicar como um time grande é incapaz de vencer dentro da sua casa um pequeno, já rebaixado há tempos e com dois homens a menos. Só o Palmeiras é capaz desse tipo de proeza.

Na prática, os filhos da puta que vestem a nossa camisa apenas inverteram o mando de campo das quartas-de-final. Se tivessem vencido o pequeno Comercial, o adversário seria o mesmo, e o que perdemos foi o mando de campo neste jogo único.

Mas, sendo bem pragmático, nem sei bem se isso é exatamente ruim, uma vez que não temos casa. Duvidam? Pois vejam que o time que aí está disputou 10 jogos como mandante nesta primeira fase e venceu apenas 4. Outra vergonha!

Agora é o seguinte, bando de vagabundos:

Tragam a vitória de Campinas. A vitória. É isso ou o terror.

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Eu deixei o Pacaembu com aquela irritação típica de todos os fracassos que colecionamos em casa na última década, e nem queria ter de mencionar os erros da arbitragem. Até porque tudo o que consegui ver no estádio foi um suposto erro, depois confirmado, no "impedimento" que nos tirou o terceiro gol. Mas aí, já em casa, conferi os melhores momentos e não puder conter a indignação ao perceber que o primeiro gol dos caras aconteceu na jogada imediatamente seguinte a um pênalti grosseiro não assinalado lá do outro lado. Às imagens:

O pênalti:

A posição do árbitro em relação ao lance:


Talvez pior que este lance, o gol anulado já nos descontos reforça tudo aquilo que sabemos: fraco nos bastidores, o Palmeiras segue sendo desrespeitado pela arbitragem. Os roubos se sucedem campeonato após campeonato, a imprensa ignora e a torcida vai pagando a conta.

Vem coisa pior pela frente...

12 abril 2012

Patrimônio moral?

Notas de hoje do Painel FC, aquele espaço um tanto esquecido por aqui, mas que já foi o covil do Perrone (sim, este que agora vive aprontando no tal blog):

Caminho livre
Uma briga judicial entre Paulo César de Oliveira e Luiz Felipe Scolari resultou em boa notícia para o Palmeiras. O clube, que rechaça a ideia de ter o árbitro apitando seus jogos, ficará livre deste fantasma pelo menos na reta final do Paulista. Por conta do processo que Oliveira move contra o treinador, a federação paulista decidiu retirar o nome dele dos sorteios que definirão os juízes das partidas do time na fase final do Estadual.

Fórum. Oliveira move processo contra Scolari alegando que o técnico "lesou seu patrimônio moral" na semifinal do Paulista-2011, contra o Corinthians. Constam na ação frases extraídas da entrevista do treinador pós-jogo, quando ele teria dito que o árbitro foi premeditado [a prejudicar o Palmeiras].

Até o fim. O advogado de Oliveira, Giuliano Bozzano, tentou fazer um acordo financeiro com o Palmeiras para retirar o processo. O clube, porém, negou. O acordo previa que Scolari deveria pagar R$ 30 mil ao árbitro.


Ora, ora, quer dizer que o tal árbitro acredita ter um "patrimônio moral", é isso? Pois bem, todo o seu "patrimônio moral" está documentado ao longo desses longos 15 anos de desserviços prestados.

11 abril 2012

Turiassu, 1840 (9)



*por Roberto Bovino

"E lá vinha eu de novo, na pista da esquerda da Sumaré; ainda não existia a maldita faixa de motos na avenida que me jogava na boca da Turiassu. Já no cruzamento da Brasil com a Rebouças, eu começava a calcular o público daquele jogo, conforme o número de carros com camisas ou bandeiras alviverdes.

Num passado recente, mas ainda sem tantos radares, marronzinhos e tantas outras proibições que São Paulo têm hoje, eu vinha costurando os carros com o rádio no AM em volume descomunal, pensando que cada segundo a menos no trânsito resultava em uma cerveja a mais na Turiassu.

Pronto: rotatória da praça Marrey Jr. contornada, meus chapas já na rua acenando para aonde eu deveria parar o carro.

Della Via Pneus, a última conferida para saber se não tinha esquecido os cigarros no carro.

- Fala patrão, hoje dá 10 mil! Tem que ganhar de qualquer jeito!

Era assim que os três figuras me recebiam ao estacionar o carro.

Quando atrasado, ganhava ingresso. Sem grana, pagava depois, no último jogo da temporada, um abraço e 100 contos pro peru de Natal.

A convivência de 15 anos fez com que eu visse o filho do guardador de carros crescer e se formar na faculdade.

Na verdade, não eram guardadores, muito menos flanelinhas, já faziam parte de tudo que representava uma noite de jogo no Palestra.

Após uma bela vitoria, as cervas e o papo no Alviverde se alongavam, e, ao voltar, só o meu carro parado, e meu amigo cuidando.

Dava uma carona até a Eusébio:

- Até domingo patrão!

- Até, e guarda minha vaga!

Saudades da minha casa..."

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Nota pessoal: eu odeio flanelinhas. Todos eles. São uma praga. Tantos e tantos anos de estádio e uma obsessão por rotas alternativas me levaram a não ter problemas com eles, uma vez que sei bem onde estacionar, não tão longe do campo, mas já fora da vista deles. Tenho por eles um ódio que sem tamanho, mas o texto do Boi, grande amigo, mostra que pode haver romantismo mesmo quando em referência a tais criaturas...

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Crédito da foto: reprodução do Google Maps.

10 abril 2012

FSP, 3 exemplos de bom jornalismo

Vocês, leitores habituais, sabem o quanto este blog é crítico em relação à cobertura da imprensa esportiva (e não só) em tudo o que se refere a estádios de futebol e torcidas (organizadas ou não). E é assim porque os jornalistas, com raras exceções, são completamente despreparados para cobrir o assunto: por não frequentarem estádios como deveriam, acabam referendando o senso comum e todo aquele discurso pronto de que "torcedor é vagabundo" etc. e tal. Para além de preguiçosa, é uma cobertura desonesta, porque pautada apenas por um lado da história.

Isso posto, é meu dever (de jornalista e de blogueiro que escreve sobre futebol a partir da arquibancada) reconhecer três exemplos um tanto isolados de bom jornalismo nestas duas semanas desde a tragédia da Inajar. Todos eles, vejam que curioso, foram publicados pela Folha de S.Paulo. Cada qual em seu momento, tiveram o mérito de abrir espaço para o outro lado. Nada de muito elaborado ou trabalhoso: duas entrevistas em formato ping pong (com nomes históricos da Mancha e da GdF) e um depoimento da mãe do Lezo.

Simples, eficiente e honesto. Honesto, diga-se de passagem, com os que tiveram voz e especialmente com o leitor do jornal, que teve acesso a diferentes versões e pôde ele próprio tirar conclusões sobre o ocorrido. Não espero que as pessoas concordem com o que é dito pelas fontes das organizadas. Tampouco espero que aceitem a versão da mãe dos irmãos Lezo, um assassinado e os outros dois presos. Mas é justo que as pessoas ao menos tenham acesso ao outro lado.

A propósito, vale registrar que, ao adotarem a mesma abordagem, de abrir espaço para as fontes sem um direcionamento prévio e sem censura, as três entrevistas conseguiram um resultado fantástico. Todos os entrevistados são transparentes ao extremo. Não há hipocrisia, não há frases feitas, não há qualquer tentativa de camuflar a realidade. Há, isso sim, um sopro de bom jornalismo em meio a tanta preguiça e despreparo.

Parabéns aos responsáveis pelas matérias:

Entrevista com Paulo Serdan: "Para presidente de honra da Mancha, torcedores brigam por adrenalina" - por Morris Kachani (31.03.2012)

Entrevista com Chico Malfitani: "Fundador da Gaviões se diz contra a extinção das organizadas" - por Lucas Reis (04.04.2012)

Entrevista com Gildair Alves Santos: "Os filhos de Gildair"
- por Marcel Rizzo (09.04.2012)

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A tal delegada responsável (?) pelo caso dos dois palmeirenses assassinados antes do SCCP-Palmeiras de 25/03 teria deixado o caso para se candidatar a um cargo público. Escrevo no condicional porque a única fonte de tal informação é pouco confiável. Verdade ou mentira, não muda o fato de ela ser uma completa despreparada.

09 abril 2012

Aqueles 6 minutos...

Não é o caso de tirar conclusões precipitadas, mas parecemos vítimas novamente da instabilidade emocional que tem feito do Palmeiras um mero coadjuvante em quase todas as competições de que toma parte em mais de década. Os trágicos 6 minutos que abriram o segundo tempo do clássico contra o SCCP despontam como determinantes de mais um período em que o palmeirense caminha da euforia à depressão em questão de muito pouco tempo. Da invencibilidade de 22 jogos à terceira derrota em quatro jogos no Paulista. Da perspectiva de encerrar a fase de classificação na liderança ao risco de ficar fora sequer do G4. Uma coisa meio 2009, sabem como é?

Fica difícil entender o que se passa com o time, e, a essa altura, já não parece sensato esperar nada além de uma eliminação precoce, não necessariamente nas quartas-de-final, mas provavelmente em uma semifinal no Morumbi ou no Pacaembu. E se estamos em tal situação por conta daqueles malditos 6 minutos de sonolência, é sinal de que tem algo muito errado lá dentro.

Quanto ao jogo em Campinas, o Guarani se impôs de uma maneira absolutamente incontestável. Se Barcos parecia lutar sozinho no ataque, exigindo algumas boas defesas do goleiro bugrino, eis que a defesa viveu uma tarde pavorosa, o que permite afirmar que o 3 a 1 (e o nosso gol foi ilegal) ficou até de bom tamanho.

Sim, corremos o risco de terminar em quinto lugar e decidir a vaga para a semifinal exatamente contra o Guarani no Brinco de Ouro. Mas os outros resultados da rodada (em especial o do Botafogo) foram positivos, de tal forma que ainda é bem palpável a possibilidade de precisarmos apenas de uma vitória contra o rebaixado Comercial para garantir ao menos a vantagem de decidir em casa (contra Guarani ou Mogi Mirim) nas quartas.

Mas aí, senhores, eu deixo a pergunta: que diferença faz decidir em casa quando não se tem casa? Os números estão aí para provar: dos 9 jogos como mandante neste Paulistão, o Palmeiras venceu apenas 4. Dos 9 fora, venceu 6. Ou seja: aconteça o que acontecer, certo mesmo é que o time já não desperta a confiança que tínhamos até aqueles malditos 6 minutos na cancha municipal...

08 abril 2012

Síndrome de novo rico

Ademir da Guia, Junqueira, Waldemar Fiúme e, agora, Marcos. Todos eternizados com bustos nos jardins do Palestra Italia. Junqueira e Fiúme participaram do episódio mais glorioso já vivido por um clube de futebol neste país, a Arrancada Heróica (sinto muito, mas o acento agudo foi conquistado por direito em 1942 e daí não sai). Ademir é Ademir, maior jogador da história do clube e símbolo da Academia. E Marcos é o ídolo recente que buscou seu espaço no panteão de grandes heróis alviverdes não apenas pelo que fez dentro de campo, mas mais até pelo seu significado fora dele, como um contraponto às relações espúrias características do futebol moderno.

Relações espúrias, por sinal, são exatamente o que motiva aquela gente "sofrida" da zona leste a anunciar um busto para o homem que vendeu a alma do clube. Li a notícia durante a semana, me manifestei de maneira bem pontual, mas fui perceber que a coisa é ainda pior do que eu imaginava. Porque os nossos rivais se renderam de maneira indelével à síndrome do novo rico e passaram a ostentar isso de maneira desavergonhada.

Confesso que não queria perder meu tempo com tamanha atrocidade. De certo modo, poderia ficar apenas e tão somente com os três comentários publicados naquele mesmo dia no Twitter:


Parecia ser o bastante, mas aí me dei conta de como tal notícia é sintomática da situação em que afundou o nosso maior rival. Merecia um registro para a posteridade. Vejam, senhores: não contentes com a falácia do sofrimento, com a apropriação indevida do conceito de "povo" e com toda a relação sórdida estabelecida com o poder público e certas entidades poderosas, os rivais da zona leste resolvem enaltecer o principal responsável por isso. Populismo de fachada é bobagem. O que pega mesmo é mostrar para todo mundo, com direito a busto de vagabundo e tudo mais, que a síndrome de novo rico veio pra ficar.

05 abril 2012

Torcida pelo futebol

Começa neste final de semana a fase final da Série A2 do Paulistão. Você, torcedor de bem, tem o dever de torcer contra os dois clubes de empresa que estão na disputa. Fique por dentro:



Considerando que sobem quatro, eis aqui a torcida deste blog:

Atlético Sorocaba e Ferroviária de um lado;
Noroeste e São Bernardo do outro.

Mas vale tudo, desde que não aconteça a ascensão dos times de empresa. O futebol agradece.

02 abril 2012

Turiassu, 1840 (8)



Casca de amendoim. Parecia ser a sujeira mais difícil de sair do vão entre os lances de arquibancada (aqueles que tremiam às vezes de maneira preocupante) e então era este o cheiro que ficava impregnado no ar. Quando chovia - e o índice pluviométrico em São Paulo deve ser substancialmente mais elevado durante os jogos do Palmeiras -, o odor era ainda mais forte: casca de amendoim molhada. Eu penso no Palestra e minha memória olfativa (existe isso?) é exatamente esta, por vezes misturada àquele cheiro não muito agradável da fumaça verde que tomava conta da arquibancada.

Por sinal, minhas melhores lembranças do Palestra estão todas ligadas ao que existia de mais, digamos, ultrapassado no nosso estádio. Por exemplo: reconheço os méritos das (nem tão) novas torres de iluminação, mas o meu afeto pertence todo àquelas desgastadas e antiquadas torres de ferro que se erguiam por trás da arquibancada. Era por ali que subiam os vendedores de amendoim. De quando em quando, eles saltavam das torres em direção à arquibancada, assustando os mais desavisados - a PM sabia e fazia vista grossa. Mas a função principal das torres era iluminar o gramado, e nisso elas eram terríveis: era quase uma luz de boate, com sombras por todo o campo, em especial ali perto dos escanteios. Bons tempos...

Como bons também eram aqueles tempos em que tínhamos as barraquinhas de pernil e calabresa no entorno do Palestra. Até porque o lado de dentro quase não oferecia opções decentes. Havia, claro, o amendoim torrado, armazenado em sacos enormes e servido em porções calculadas com base em copos de plástico. Um outro tipo era aquele doce, em pacotes que faziam qualquer um duvidar da higiene no manuseio. "É seis por um real". Hoje, sinal dos tempos, o preço é outro: "Quatro por dois reais". De resto, o básico: sorvetes (Kibon ou Nestlé, a depender do contrato em vigor), refrigerante, cerveja sem álcool, água, hot dog com pão, salsicha e os dois condimentos tradicionais. Em tempos idos, os bares abaixo do campo vendiam pipoca, feita na hora mesmo. Nada memorável, e deve ser por isso que o amendoim ganhou tanto destaque....

Memorável mesmo era o som que se ouvia ao entrar no Palestra. Os passos apressados de quem chegava pelo portão principal e queria entrar o quanto antes, as ordens da PM para que os torcedores tirassem o boné antes da revista, "carteirinha de estudante na mão", a catraca engolindo os ingressos para não mais devolvê-los, o canto que se ouvia lá de dentro, os primeiros anúncios do alto-falante. Ao passar pela curva em direção ao outro lado, os preparativos do nosso time no vestiário lá embaixo, os cumprimentos de quem estava ali bem atrás do gol, o encontro definitivo com a massa barulhenta na arquibancada central, o lugar de onde ela nunca deveria ter saído.

Em todo esse percurso - e em qualquer lugar dentro do Palestra -, os apertos de mão e abraços sempre foram o sintoma maior de estarmos todos entre amigos, quase irmãos. Hábitos já em desuso, admito, mas a decadência elegante do nosso estádio é provavelmente o que mais deixa saudades em cada um de nós.

Por favor, devolvam logo o nosso estádio!

01 abril 2012

Vexame e risco

Palmeiras 0-1 Araçatuba/SP (1995), Palmeiras 0-1 Criciúma/SC (1997), Palmeiras 0-2 Gama/DF (1999)... jogos soltos, vexames isolados, eles todos pioneiros e únicos. Fui enumerando assim, sem muito critério, algumas derrotas vergonhosas dentro de 'casa'. Esta contra o Mirassol no último sábado entra para a lista. Foi a primeira, e provavelmente será a última também. Sei bem que todo time apronta dessas, mas o Palmeiras parece ter se aprimorado mais um pouco na arte de passar vergonha diante da sua torcida.

O Mirassol, que até sábado jamais havia vencido um dos grandes da capital, é um clube que pertence às divisões inferiores do futebol (paulista ou nacional). Daqui a alguns anos, estará na terceira divisão, talvez na quarta até, casos do Araçatuba, do Criciúma, do Gama, essas tranqueiras todas. Perdemos. A derrota será esquecida dentro de um tempo, tanto quanto essas outras que eu citei. Mas não deixa de ser revoltante o fato de termos sido derrotados dentro de casa por um time desses.

E, de certa forma, vale o inverso do que eu havia escrito sobre a derrota para o SCCP na semana anterior: se aquela não tinha mudado muito o cenário todo, esta última muda bastante, em especial porque coloca em risco a classificação entre os quatro primeiros. Jogaremos em Campinas para garantir (ou não) o mando de campo nas quartas. Um empate ou uma vitória são suficientes para isso (considerando depois uma vitória em casa sobre o Comercial); mas uma derrota no Brinco de Ouro pode significar uma situação absurda, nos levando a decidir a vaga para a semifinal no interior.

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_Marco Polo Del Nero é o maior inimigo do torcedor de futebol neste país. Eu venho dizendo isso já há muitos anos, e por razões diversas. Eis que agora ele resolve se assumir como tal, impedindo a homenagem que o Palmeiras pretendia fazer aos dois torcedores do clube que foram assassinados no domingo passado. Del Nero, Cel. Marinho... está em boas mãos o futebol paulista, não?

_Todos aqui sabem o quanto eu critico a cobertura da imprensa esportiva no que diz respeito às ocorrências envolvendo brigas entre torcidas e coisas assim. Eis então que me permito abrir uma exceção para elogiar a excelente entrevista com Paulo Serdan, presidente de honra da Mancha, à Folha de S.Paulo de ontem. É provavelmente a primeira vez em que um jornalista se preocupa em abrir espaço para uma fonte do outro lado e o resultado é espetacular, em especial porque Serdan colocou as coisas como elas são. A entrevista não exime as torcidas de culpa (até porque elas têm lá a sua parcela), mas procura apresentar o outro lado da notícia, além de mostrar que todas as medidas adotadas até aqui são inócuas. É um relato transparente e aberto, algo que quase nunca acontece. Recomento a leitura na íntegra, mas me permito destacar os trechos que me parecem os mais relevantes:

Mas esta briga não foi marcada pela internet?
Isso é lenda. Os caras sabem onde vão se encontrar. Aliás, eles moram no mesmo lugar, eles se conhecem.

Adianta banir as organizadas dos estádios?
A proibição é para a imprensa e a sociedade baterem palma. Mas por mais que tentem, a torcida não vai acabar nunca -- pode até entrar sem a camisa no estádio, mas não vai acabar. E pior, assim você acaba encorajando a criação de grupos menores, de maneira que a liderança já não tem mais ascendência e controle. É um pouco o que rola hoje.
A razão de existir da torcida é o clube. Você é um guerreiro do seu clube. Se algo acontecer como em 42, na Segunda Guerra Mundial, quando o São Paulo quis tomar o Palestra Itália, quem vai estar na porta do estádio com espingarda, com metralhadora, com pedaço de pau, com pedaço de ferro pra não deixar ninguém entrar vamos ser nós. Então a gente se coloca como fiscais dos clubes.

Parabéns ao repórter Morris Kachani. Que sirva de exemplo para todo este bando de jornalistas que não vai a estádio e aí escreve sobre o que não entende.