26 fevereiro 2015

Precificação: equívocos e consequências
















Cena comum durante os jogos no novo estádio: excluídos por uma política de precificação higienista, centenas de palmeirenses acompanham o clássico contra o SCCP na esquina da Turiassu com a Caraibas; dentro do estádio, os setores centrais (a R$ 350!) ficam vazios.

Precificação. Por mais extenso que fosse, um texto aqui publicado dificilmente daria conta de abranger todos os elementos relevantes para a discussão sobre como estabelecer o preço adequado à relação entre oferta de um produto ou serviço e a demanda por ele. Por isso, vou simplificar a apresentação do assunto: em qualquer lugar minimamente sério, a precificação é uma decisão racional, baseada em estudos de mercado e pautada pela sustentabilidade no relacionamento entre quem vende e quem compra.

No Palmeiras sob o comando de Paulo Nobre, no entanto, a precificação dos ingressos para jogos do clube é um processo impressionista e personalista. Desde o início da gestão, os preços partiram sempre da mente doentia do mandatário, sem qualquer amparo de estudos junto à torcida ou de avaliações sobre a razoabilidade da tabela praticada. Lembrem-se, por exemplo, da arquibancada a R$ 60 na abertura da Série B, em Itu. Ou dos mesmos R$ 60 para jogos do Brasileiro do ano passado, com o time caindo pelas tabelas.

É bem singela a explicação para este descompasso: Paulo Nobre é o menino mimado que vê o novo Palestra como seu brinquedinho e, como tal, quer decidir quem com ele pode ou não pode brincar. Por conta própria e sem dar ouvidos a seus cúmplices (a reclamação é deles), Nobre define os preços vigentes no novo estádio da S.E. Palmeiras. E faz isso não com base em estudos ou em alinhamento com seus pares, mas a partir de sua visão distorcida de mundo.

Se Nobre não tem o devido cuidado quando se trata do relacionamento com o patrimônio maior da S.E. Palmeiras, é o caso então de apontar as inconsistências, os problemas e as obscenidades destes primeiros meses desde o retorno para casa, identificando, sempre que possível, os pontos em que as imposições de Nobre flertam com a insanidade:

_ O “setor popular” não pode custar R$ 80 qualquer que seja a circunstância. Muito menos R$ 100. Não há nada de popular quando se cobra 10% de um salário mínimo para uma arquibancada. Até porque, e isso é o mais grave, o preço cobrado por este setor acaba impactando todos os demais, tornando inviável qualquer relação sustentável entre clube e torcedor.

_ A diferença de preço entre a Cadeira Gol Sul (Turiassu) e a Cadeira Gol Norte (Matarazzo) não pode, em hipótese alguma, superar os 20%. Questão de lógica: em lugar algum do mundo tem-se a curva atrás dos gols como um setor privilegiado. No nosso estádio, no entanto, a diferença entre as duas ‘curvas’ é gritante: entre 75% (R$ 80 x R$ 140) e 212% (R$ 80 x R$ 250). Por sinal, a disparidade nos percentuais em jogos diferentes evidencia o descuido e a falta de planejamento.

_ O ingresso da Cadeira Gol Sul a preços extorsivos implica ainda em uma condição altamente desfavorável para as torcidas visitantes. A conta, como demonstrado anteriormente, será paga pelos palmeirenses que viajamos para ver o alviverde como visitante e também pelos torcedores locais, que terão de pagar preços astronômicos para ver o Palmeiras em suas cidades.

_ Há, ainda, uma distorção que diz respeito à tese de que os setores superiores centrais são tão menos privilegiados que os inferiores (a ponto de justificar diferenças acintosas entre os valores cobrados). Não há nada que justifique isso.

_ O Setor Oeste deveria ter um preço ligeiramente superior ao do Setor Leste. Três são os motivos: (I) o Setor Oeste tem acesso melhor, pela Turiassu; (II) quem fica no Setor Oeste não precisa se preocupar com o sol; e (III) preços menores no Setor Leste estimulariam a ocupação do espaço que é o primeiro a ser filmado pelas câmeras de TV.


Agora, em dois pontos, o problema mais grave:

_ Vivemos agora a transição de um modelo de setorização 80x20 para um modelo de setorização 20x80. Explicando: os estádios mais antigos sempre foram regidos por uma lógica em que a arquibancada respondia por algo em torno de 80% da capacidade, ficando os 20% restantes para as “numeradas” ou “sociais”. Tinha-se, a partir disso, uma clara distinção entre o público presente a cada um dos setores – e tal distinção, frise-se aqui, estava alinhada com a estratificação social de nosso país. Era assim no antigo Palestra (as numeradas coberta e descoberta comportavam não mais do que 5 mil lugares) e também no Pacaembu (com as cadeiras laranjas tendo um preço não tão abusivo na comparação com arquibancada principal e tobogã). As novas arenas, no entanto, acabam por subverter tal lógica, elevando sobremaneira os preços não apenas das áreas mais privilegiadas, mas de todas as demais. O que se tem hoje no Palestra é um único ambiente (a Cadeira Gol Norte) com preços “populares” e todo o restante do estádio com preços obscenos. É um modelo insustentável, até porque os ingressos “populares”, pouquíssimos, se esgotam rapidamente e ficam sempre com os mesmos torcedores – aqueles que estamos melhor colocados no rating do Avanti (o que é justíssimo, diga-se de passagem). Para os demais, impõe-se uma “nota de corte” das mais severas.

_ Ampliando a discussão iniciada no item anterior: é possível (e até necessário) ter um setor muito caro (R$ 200 ou R$ 350, vá lá) desde que ele tenha um tamanho proporcional ao total de pessoas aptas e dispostas a pagar por isso. Algo como a cadeira azul do Pacaembu. Ou como a numerada coberta do Palestra. Mas é insustentável praticar preços assim tão elevados em 40% dos lugares disponíveis no estádio (no caso, os setores centrais Leste e Oeste). Repito: estes dois setores, que têm ficado reiteradamente vazios, respondem por quase 40% dos assentos do estádio.


Da conjunção de todos esses fatores, emerge um cenário dos mais preocupantes. Tendo em vista especialmente o preço mínimo (R$ 80) e o modelo que faz com que os bilhetes populares sejam apenas 20% do total, temos uma “nota de corte” para o público ‘comum’ (leia-se “não Avanti estrelado”) que deseja ir ao estádio: R$ 120 (o indigesto preço do setor superior).

Afinal, os cerca de 6.200 ingressos (bem menos que 20%) da Cadeira Gol Norte se esgotam rapidamente, ficando sempre com os melhores colocados no rating do Avanti. Na sequência disso, um torcedor eventual, daqueles que só pode ir aos jogos de vez em quando, passa a se deparar com um cenário em que somente conseguirá ver o Palmeiras em campo se se dispuser a pagar R$ 120. Se quiser levar os filhos, aí a tarefa se torna inviável.

Em jogos com maior procura, chegam ao fim rapidamente também os setores superiores e a Cadeira Gol Sul. Desta feita, restará a este ‘torcedor eventual’ apenas e tão somente a opção de ser extorquido com o desembolso de R$ 200 (ou R$ 350) cobrados pelos setores Leste e Oeste.


Daí então temos o seguinte paradoxo:

Existe uma enorme demanda de pessoas querendo conhecer o novo estádio, mas ele segue não recebendo público total (com as cadeiras centrais às moscas, mesmo em um dérbi) porque não há quem consiga encarar os preços doentios praticados por Nobre.

Não à toa, a esquina da Turiassu com a Caraibas tem ficado repleta de torcedores durante os jogos, todos eles alijados do estádio por essa política de precificação higienista e excludente. Da mesma forma, é forçoso observar que muitos torcedores de outros tempos deixaram de ir ao estádio pela impossibilidade de bancar os valores propostos.


Aos efeitos disso:

_ Em curto prazo, tem-se os setores centrais (aqueles que aparecem na TV) vazios e perde-se uma receita que poderia ser alcançada com valores mais racionais. Perde-se também a pressão de uma torcida mais perto do campo (tanto no centro quanto atrás do gol da piscina);

_ Em médio prazo, cria-se uma relação pouco saudável com o torcedor, que se vê coagido a estabelecer um relacionamento contratual (Avanti) se quiser preservar o seu direito de ir ao estádio. Para muitos, nem isso será o bastante, uma vez que, torno a repetir, a modelo 20x80 limita os preços “populares” a um pequeno contingente da torcida. O resultado é um distanciamento entre clube e torcedor.

_ Em longo prazo, perde-se a conexão com a “massa”. Caso os alienados e os elitistas não saibam, é o vínculo com a “massa” que faz o Palmeiras ser o gigante que é. É o que torna o Palmeiras um clube com torcida em todo o país. É o que garante a nossa representatividade – porque os títulos já não fazem parte da rotina.


Eu escrevi, em post do ano passado, que o Palmeiras não resistiria a mais dois anos de Paulo Nobre. Torno a repetir agora. Porque, imerso em seu mundinho apartado da realidade, Nobre acaba por afastar da arquibancada do Palestra Italia o torcedor com menos recursos – que, não custa dizer, é a imensa maioria. Pior do que isso: os preços abusivos representam também um processo de exclusão das crianças, em especial as mais humildes – porque um pai pode até fazer um esforço eventual para bancar a sua entrada, mas dificilmente conseguirá levar seus filhos ao estádio. E é terrível imaginar os efeitos disso para a nossa próxima geração de torcedores.

***

Crédito da foto: Marco Bressan (Teo)

13 fevereiro 2015

Sobre números, jornalistas e argumentos

-Jornalista, estes são os números.

-Números, este é o jornalista. 


Apresente números a um jornalista e ele tremerá.

Não à toa, aquele sujeitinho da Pluri Consultoria vive publicando suas pesquisas falaciosas em veículos de grande circulação - ninguém apura nada e toma-se por verdade o que não é. Também por isso, números absurdos vão parar nas manchetes de grandes jornais e dos principais portais do país todos os dias. É que jornalista, um pouco por preguiça e outro tanto por medo, não sabe bem como checar as informações que chegam embaladas em algarismos e percentuais.

Paulo Nobre não é jornalista. E deveria, tomando por base sua ocupação (?), entender de números. Não apenas dos cifrões que vê em todo e qualquer lugar, mas também de números que se utilizam para contar coisas. Cadeiras, por exemplo.

Mas Nobre, a julgar pelos dados desencontrados que andou divulgando nos últimos dias, ou não entende deles ou mentiu descaradamente. Vejamos, pois:

A pedido da PM, não puderam ser vendidos para o clássico do último domingo os lugares do espaço que fica bem acima do setor visitante. Foram assentos "perdidos".

Nobre, ao longo da semana anterior, disparou versões desencontradas para o "prejuízo" que teria o Palmeiras com essa medida. Falou, inicialmente, que 4 mil ingressos não poderiam ser vendidos. Depois, em reiteradas entrevistas, apontou que seriam 6 mil (e fez uma conta esquizofrênica para chegar a uma renda potencial de R$ 1,2 milhão); foram estes os números que chegaram até o Painel FC nem bem havia esfriado o cadáver do futebol. Para Gobbi, Nobre levou versão ainda mais drástica: seriam 12 mil os ingressos "perdidos" - e o presidente do SCCP repetiu isso inúmeras vezes em sua entrevista.

Pois bem, vamos agora desmontar toda a farsa:

- Ainda que fossem "perdidos" 12 mil ingressos, não há argumento que se sustente. O estádio deve receber a torcida visitante em qualquer situação e não é o espaço eventualmente isolado não configura um empecilho para isso. Que se ajuste o estádio às necessidades.

- Ao que consta, o número 'oficial' de Nobre parece ser de 6 mil ingressos. A partir disso, há duas hipóteses: (1) ele está mentindo; ou (2) ele não sabe bem lidar com os números.

Vejamos, pois, que, em função da presença da torcida visitante, foram isolados apenas e tão somente quatro "gomos" (e mais alguns assentos) do setor superior. E só eles, uma vez que os cordões de isolamento dos setores Sul e Leste foram rigorosamente os habituais, não havendo ali qualquer distinção em relação a uma partida comum.

A foto mostra o espaço isolado (no superior) e evidencia que não houve perda de lugares nos setores Sul e Leste:




















No domingo mesmo, tomei a liberdade de fazer uma contagem superficial do número de assentos "perdidos". É fácil, vejam só:

-Cada gomo tem 15 fileiras.
-Cada fileira tem 30 assentos.
-15 vezes 30 é igual a 450.
-Se há quatro gomos, é o caso de multiplicar o número de assentos existentes em cada "gomo" por 4:
-450 vezes 4 é igual a 1.800.

Portanto, senhores, foram "perdidos" algo em torno de 2.000 lugares.

Isso fica mais evidente quando se compara o borderô do clássico com o do jogo anterior, contra a Ponte Preta. Vejamos, pois, quantos ingressos do setor superior foram vendidos em cada uma das partidas:

Borderô de Palmeiras x Ponte Preta (05/02): 13.473
Borderô de Palmeiras x SCCP (08/02): 11.296

Estão aí, portanto, os tais 2.000 lugares apontados na imagem e na minhas contas.

Para além de toda a canalhice de usar o argumento da violência para encobrir suas pretensões financeiras, Nobre precisa se decidir: ou ele mentiu descaradamente sobre os valores ou ele não sabe bem como lidar com números. Seja lá qual for a explicação, é muito grave.

No mais, Nobre precisa entender que os ingressos que deixaram de ser vendidos são exatamente aqueles que ficaram encalhados na bilheteria em função de sua precificação doentia, insana e desconectada da realidade. Estamos falando aí de cerca de 10 mil bilhetes (dos setores Leste e Oeste) que foram colocados à venda por obscenos R$ 350.

11 fevereiro 2015

Cronologia de uma emboscada

Emboscada.

A palavra, utilizada pelas autoridades que vêm cometendo atentados sequenciais contra o interesse público, pode se aplicar à estratégia que deflagrou a "guerra da torcida única", na semana que antecedeu o primeiro dérbi no estádio Palestra Italia em quatro décadas.

De um lado, o "precificador" Paulo Nobre, despreparados, chantagistas e nada desinteressados promotores públicos, a FPF (e seu major/coronel que adorava descer a porrada em torcedores), os bravos, valorosos e destemidos homens do 2º BP Choque e setores reacionários da imprensa esportiva e da sociedade.

De outro, a história quase centenária do dérbi da cidade, o SCCP (circunstancialmente, pois quase viu sua torcida ser alijada do estádio) e, o mais importante, o futebol.

No meio disso tudo, os torcedores.

A guerra em questão, meus caros, é travada toda ela na esfera midiática. De maneira desavergonhada, com muita manipulação, muito jogo de cena, muitos discursos inconsistentes e, desta vez, com autoridades públicas partindo para a chantagem pura e simples. E o pior: só há espaço para um dos lados da história.

Paulo Nobre foi, como eu escrevi anteriormente, um pouco artífice disso tudo e um pouco a peça que faltava na engrenagem ardilosamente montada há tempos pelo senhor doutor promotor público Paulo Castilho. Como em todas as outras situações envolvendo o relacionamento institucional da Sociedade Esportiva Palmeiras com outros entes, Nobre falhou. Fracassou. Foi humilhado. E levou junto com ele toda a torcida alviverde.

Este post espera cumprir os seguintes objetivos:

-apresentar a sucessão de fatos que nos trouxe até aqui;
-evidenciar o vínculo entre Nobre e Castilho;
-expor os discursos empregados de parte a parte.

Vamos, portanto, aos fatos (todos eles notórios e públicos, uma vez que reproduzidos em veículos de comunicação de grande alcance):


25/07/2014

Voltemos alguns meses no tempo.
Em julho/2014, por ocasião do primeiro clássico do Itaquerão, os bravos, valorosos e destemidos homens do Choque deixaram para a última hora a definição sobre a ida da torcida visitante (no caso, do Palmeiras) do centro até o extremo leste. A proposta da PM, absurda e inexequível, foi rechaçada pela principal organizada alviverde, que fez as vezes da autoridade constituída e decidiu qual seria a melhor logística. Confiram aqui um vídeo bem elucidativo.









27/07/2014
Fomos e voltamos em paz. O resumo está aqui. Foi tão bem-sucedida a estratégia idealizada pela Mancha Verde que o esquema foi repetido nos clássicos seguintes, envolvendo outros grandes da capital. A imprensa, no entanto, fingiu que nada havia acontecido. Preferiu fazer um enorme barulho por algumas cadeirinhas que, vejam os senhores, foram retiradas pouquíssimo tempo depois:
















Fiz questão de voltar até tão longe porque este episódio demonstra: a) o despreparo da PM para lidar com questões rotineiras de um clássico; b) a histeria da imprensa esportiva, levantando um argumento que, por falacioso que seja, foi muito utilizado em tempos recentes; c) a subserviência de Paulo Nobre, que vai contra sua torcida a todo momento; e d) o quanto as cadeiras são desnecessárias no setor visitante.


10/11/2014
Em entrevista à TV Gazeta (onde mais?), o presidente da SEP lança a ideia de torcida única antes mesmo de o Palestra ser reinaugurado. O Estadão reproduz:















Esqueçam a parte da segurança; importa outra palavra: "lucrativo".
Nobre entra em êxtase: "Precificar, precificar, precificar".


28/11/2014

Já com o seu moderno estádio reinaugurado, o Palmeiras se prepara para o último jogo de uma temporada esquecível. Ressurge o senhor doutor Paulo Castilho, o promotor público (?) que dedicou todos os seus últimos anos a destratar o nosso estádio:









29/11/2014

Em meio a uma rotina atribulada, o senhor doutor Paulo Castilho já apresenta uma solução para o caso:










O MP, esta tão zelosa instituição pública, está com "medo de confusão"? E como fica o Flavio Prado presente na alma de cada "torcedor comum", de cada "família que quer voltar aos estádios", de cada cidadão sem muita vontade de refletir sobre o que lê?


01/12/2014
A mídia publica o apelo de Castilho quase sem contestações. Vozes dissonantes se manifestam aqui e ali, mas, via de regra, o tom é alarmista: "jogo de risco", "pode acontecer uma tragédia", "temos de proteger as famílias". Não importam tanto os fatos ou os efetivos riscos à segurança pública, mas sim os impressionismos e as percepções de quem deseja construir um cenário pouco convidativo.



02/12/2014
Por ocasião disso tudo, Nobre se aproxima de Castilho. Sabe-se lá o que emergiu da conversa entre os dois. Na FSP, Bernardo Itri começa a despontar na cobertura do caso:

















02/12/2014
O senhor doutor Paulo Castilho não quer ser apenas promotor público; seria pouco diante de suas ambições. Aonde quer chegar o diligente defensor da ordem, da moral e dos bons costumes? Não sei bem, embora tenha lá meus palpites. Sei apenas que o sujeito adora aparecer. Não contente com o escarcéu dos dias anteriores, Castilho convoca uma entrevista coletiva para, extrapolando suas atribuições, confirmar (?) a realização da partida no novo Palestra e disparar toda uma sorte de impropérios contra o nosso estádio. Confiram aqui o pronunciamento presunçoso e aqui a minha resposta ao sujeito.









04/12/2014
Em meio a sua rotina atribulada, Castilho insiste no assunto:






















Atenção, por favor, para o embasamento por trás das justificativas: "Eu particularmente sou contra""Eu prezo por...""Eu entendo que...""Eu acho salutar""A gente tem que acabar...". Tão eloquente quanto sintomático de seus conceitos pessoais sobrepujando o pretenso interesse público.

Dois meses depois, sabemos como agiu a PM diante da 'micareta'.


07/12/2014
O jogo foi jogado, o Palmeiras escapou do rebaixamento, a vida seguiu. Em um precedente perigosíssimo, o Atlético/PR abriu mão de sua cota de ingressos; não houve, portanto, torcida visitante.

Depois disso, o assunto hibernou por quase dois meses.


02/02/2015
Começa a semana do primeiro dérbi do novo Palestra Italia. Em meio à polêmica com o preço dos ingressos para jogos em casa contra times pequenos e com os R$ 200 cobrados de torcedores da Ponte Preta, a diretoria alviverde segura a divulgação de informações sobre venda dos bilhetes para o clássico.


04/02/2015, 15:20
Estreia do SCCP na Libertadores. O clássico se aproxima, mas não há informações sobre venda de ingressos. É hora de colocar em prática a estratégia que tem Nobre como boi de piranha. Ao Lancenet, ele solta a declaração que antecipa a ofensiva do MP:









À noite, o SPFC vai a campo no Pacaembu e o SCCP, no Itaquerão. Duas torcidas rivais separadas por 17 estações de Metrô e duas horas entre os jogos. As autoridades fazem vistas grossas. Nada acontece.


04/02/2015, 18:28
Não daria para esperar pelo jornal de 'amanhã'; três horas depois, no Painel FC, é a vez de o MP atacar:









05/02/2015
O dia D começa com algumas notas no Painel FC:



















Apela-se para o discurso furado das "brigas marcadas pela internet". Castilho vocifera: "Minha paciência acabou". Mentiras deslavadas, uma atrás da outra.

05/02/2015, 15:38
A pressão vem de todos os lados. Ainda assim, a FPF veta a recomendação de clássico com torcida única:









05/02/2015, 15:38
O MP perde a compostura e parte para a chantagem:






Vejam só a que ponto chegamos: em claro desrespeito à Constituição, uma instituição pública parte para ameaças e bravatas via imprensa.


05/02/2015, 17:27
Após a chantagem do MP, ocorre nova reunião na sede da FPF. A entidade cede. O primeiro a cravar a notícia é Bernardo Itri, do Painel FC:








A notícia se espalha, ganha todos os portais e domina as discussões nas redes sociais. O SCCP diz que vai entrar com recurso, absurdos são proferidos sem o menor pudor, o Palmeiras vai a campo (contra a Ponte Preta) já pensando em um domingo com dérbi sem visitante.


06/02/2015
Mal havia esfriado o cadáver do futebol e Nobre mandou ver números ensandecidos e mentirosos:




















06/02/2015, 11:00
Castilho e Senise dão entrevista, mais uma, na sede do Ministério Público. Não contentes com a vitória parcial, seguem instaurando um clima de insegurança. A versão online da Folha tem apuração do interino do Painel FC:








06/02/2015, 13:23
PM e MP lançam mão de discursos divergentes:










06/02/2015, 16:38
Liminar devolve a responsabilidade para a FPF.










06/02/2015, 17:29
O SCCP age rápido e, bem ao contrário do nosso (?) assessor, solta uma nota oficial que evidencia o respeito do clube pelo seu torcedor. O texto é radical: sem ingressos, o time não entra em campo.









06/02/2015, 18:00
Com a liminar em mãos, Mário Gobbi concede entrevista coletiva. Em seu último dia de mandato, reitera o texto da nota oficial e vai além, pisando nas cabeças de Nobre e Castilho. Exige os ingressos para a torcida visitante, revela a traição de que foi vítima e aponta as inconsistências por trás da pressão do MP: "Fizeram isso na calada da noite, sorrateiramente, nos bastidores do porão". Sim, fizeram mesmo. Foi tudo muito bem articulado, inclusive o momento de entrar em ação, postergando o anúncio sobre a venda dos ingressos e partindo para a ofensiva quase na véspera do clássico, deixando quase nenhum tempo para reação na Justiça.










06/02/2015, 18:40

A entrevista sequer havia terminado, e a FPF recuou, anunciando a liberação de venda de ingressos para os visitantes. O Palmeiras, por sua vez, soltou uma nota oficial vergonhosa e muito reveladora do papel desempenhado por seu presidente. Incensado por tantos aduladores ao longo dos últimos anos, o rentista pensa ser o próprio Palmeiras:




"O clube tem há dois anos a opinião..."

Nobre confunde a sua opinião com a postura da instituição Sociedade Esportiva Palmeiras. Toma por algo institucional o que é apenas sua visão deturpada da realidade. E mente, descaradamente, ao apelar para o senso comum em defesa de sua visão mercantilista do futebol.

A insanidade de seu mandatário faz o Palmeiras ser humilhado.


06/02/2015, 18:56
O MP tenta dissipar o vínculo entre os interesses de Nobre e a recomendação de fazer um clássico com torcida única. Assim bradou o senhor doutor promotor público Paulo Castilho: "Apoio? Que apoio? Ninguém faz gestão sobre isso com a minha pessoa".








Em vão. No dia anterior, na nota oficial publicada no site e em todas as infelizes entrevistas do fim de semana, Nobre explicitou sua preferência, sempre elencando as vexatórias vantagens comerciais decorrentes de um clássico com torcida única.


07/02/2015
Na Turiassu, um bloco carnavalesco da escola de samba Mancha Verde é dispersado pela PM com balas de borracha e bombas de efeito moral disparadas para dentro da sede oficial do clube. Era o cartão de visita dos bravos, valorosos e destemidos homens do 2º BP Choque.


08/02/2015
Poupá-los-ei de ainda mais referências sobre o que parece ser de domínio público: a barbárie do policiamento, a guerra contra torcedores na Turiassu, a repercussão descalibrada na mídia esportiva... Deixo-os com este texto aqui.


10/02/2015
Na esteira de todos os acontecimentos do fim de semana, Painel FC reproduz mais uma investida dos promotores públicos:









10/02/2015
O massacre contra palmeirenses na rua Turiassu atingiu em cheio toda a coletividade palestrina. Mensagens de protestos vieram de todos os lados. Grupos políticos rivais se articularam e lançaram o manifesto abaixo. Nobre, é evidente, se calou, em um silêncio constrangedor. Deve ter sentido o baque de ser traído pelo promotor que o usou como boi de piranha.


















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Como apontado no post anterior, estamos diante de uma batalha das mais desiguais. Com raríssimas exceções e com vozes dissonantes despontando aqui e ali, a mídia não dá espaço para o outro lado – no caso, o nosso. Tomam-se como verdadeiras as mais estapafúrdias opiniões, o senso comum rasteiro, covarde e preguiçoso parece ser o refúgio de todo e qualquer comentarista, cria-se todo um discurso de repúdio sem que se busque compreender o que se passa dentro (e fora) de um estádio de futebol.

Há, como demonstrado nos registros jornalísticos utilizados neste post, alguns profissionais que aparecem mais do que outros. Não faço juízo de valor aqui, de verdade. Os jornalistas em questão têm lá suas fontes e seus interesses e publicam aquilo que for mais adequado à linha editorial de cada veículo de comunicação. Mas a discussão que eu gostaria de propor aqui, para além da aproximação interesseira e desavergonhada entre Nobre e um inimigo da Sociedade Esportiva Palmeiras, diz respeito ao papel desempenhado pela imprensa esportiva nessa história toda.

Porque já faz décadas que toda e qualquer notícia envolvendo torcedores em estádios é tratada pela mídia da mesma maneira. É um tal de “cenas lamentáveis” para cá, “vândalos travestidos de torcedores” para lá, “esses bandidos estão afastando o torcedor comum” acolá. O Flavio "não vá aos estádios" Prado dentro de cada um de nós parece querer se alimentar desse discuso fácil e vazio. A meu ver, isso ocorre por preguiça em alguns casos, por desconhecimento de causa em outros tantos e por pura má intenção em poucos.

Caberia, pois, perguntar aos nobres jornalistas:

- Por que vocês seguem dando espaço a gente como este Paulo Castilho que há quase uma década insiste em atacar sempre o mesmo estádio e a mesma torcida? Por que seguem cravando manchetes a partir de fatos manipulados por um cidadão que não conseguiu, em quase uma década, tomar qualquer medida prática no sentido de combater a violência nos estádios?

- Por que não apuram os fatos?

- Por que não analisam a validade dos argumentos apresentados?

- Por que não solicitam as tais evidências apontadas pelo promotor?

- Por que não investigam seu histórico em relação ao Palestra Italia?

- Por que não questionam as motivações por trás de tal obsessão?

- Por que não apontam a inadequação entre o que o promotor pensa ser capaz de fazer e o que a legislação coloca a seu alcance?

- Por que não ouvem o outro lado?

- Por que não vão aos estádios?

- Vocês não se incomodam quando percebem que estão sendo manipulados por promotores e outros dirigentes? Ou não percebem que o jornalismo feito por vocês tem cumprido menos o propósito de informar e mais o de construir uma realidade que atende a certos interesses particulares de figuras públicas? Ou, em percebendo isso, não ficam envergonhados?

- Em havendo uma opção deliberada por essa postura a favor de um lado específico, não se envergonham os senhores ao saberem que estão avalizando o ataque de policiais militares contra crianças, mulheres e idosos? E contra qualquer pessoa que esteja à frente deles em situações como a do último domingo?

Vale a reflexão.

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Quanto a Nobre, o presidente reeleito da Sociedade Esportiva, imagino que ele esteja agora se remoendo por ter empregado tamanho esforço para atuar na causa de Paulo Castilho. Imagino que esteja se sentindo traído - pois não quero crer que seja conivente com o massacre contra palmeirenses bem na frente do estádio que ele vê como sinônimo de tantos e tantos cifrões. Mas então, seja qual for a situação, volto a conclamar o nobre mandatário para que tome vergonha na cara e seja homem ao menos uma vez na vida:

Atue em defesa do patrimônio maior da S.E. Palmeiras, o seu torcedor! Atue em defesa da nossa casa! Trate como inimigos aqueles que nos veem dessa forma. Antes que seja tarde demais!

10 fevereiro 2015

2º BP Choque x sociedade civil

O 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar do Estado de São Paulo não sabe conviver em sociedade. Ou, pior, talvez seja instruído para tal.

Quando se trata da Turiassu, das ruas todas da Pompéia e de qualquer outro canto onde se reúna a torcida alviverde, as frases acima - ou apenas uma delas, que castilhos, senises e marinhos decidam - se aplicam com perfeição.

Afinal, os raros momentos de confraternização que vivemos nos últimos anos foram quase sempre interrompidos pela barbárie iniciada ou extravasada pelos bravos, valorosos e destemidos homens do 2º BP Choque.

Aos antecedentes:

2008, final do Paulista
O Palmeiras é campeão estadual depois de 12 anos. O primeiro título em oito anos. Em casa. Com vitória por 5 a 0. Sem atritos com a torcida adversária. Apenas festa, certo? Longe disso: sob a batuta de um certo promotor público Paulo Castilho, o Choque resolve acabar com a comemoração. Primeiro na arquibancada; depois, na Turiassu. Um verdadeiro massacre. Os relatos, se me permitem, estão aqui neste post (acompanhem o complemento e também os comentários). Indo além, vale entender o histórico por trás de tudo o que aprontou a PM em uma tarde que deveria ser apenas de festa: já naquela época, o senhor promotor público Paulo Castilho descarregava suas inverdades a respeito da nossa casa. E a imprensa, claro, aceita sem questionar.

2012, final da Copa do Brasil, jogo de ida, Barueri/SP
O palmeirense viveu dias complicados para chegar até a Arena Barueri nas noites decisivas da Copa do Brasil de 2012. Mas, na última das noites decisivas, superar o transtorno para percorrer os 30 km da nossa casa até a cancha não foi o suficiente; lá chegando, foi preciso enfrentar o despreparo e a má intenção do Choque, que tirou mais uma noite para descer a porrada em gente que, com ingresso na mão, queria apenas e tão somente entrar no estádio. Aqui a versão (preguiçosa) da imprensa e aqui relatos de quem efetivamente viveu o inferno antes da decisão.

2012, final da Copa do Brasil, jogo de volta, Curitiba/PR
Eu estava em Curitiba e não testemunhei o ocorrido, mas os que resolveram comemorar na Turiassu sofreram com a barbárie instaurada pelas autoridades constituídas. Aqui.

2015, primeiro clássico do novo Palestra Italia
Receio não ter de entrar em detalhes agora - até porque vou escrever depois um post sobre a premeditação de tudo o que ocorreu neste domingo (e nos dias anteriores). A verdade é que, se você seguir os relatos midiáticos, vai se deparar com textos abjetos e mal intencionados como este aqui (da finada rádio Jovem Pan) ou com criaturas a repetir os mesmos bordões de sempre: "cenas lamentáveis", "bandidos que se passam por torcedores" e "até quando?". As raras vozes dissonantes na mídia esportiva se perdem diante de tanto amadorismo, de tanta preguiça, de tanta falta de caráter. Os raros profissionais de comunicação que tentam ouvir os dois lados para transmitir ao público o que efetivamente aconteceu têm seus relatos soterrados por prados, nogueiras e quesadas.

Temos, pois, uma batalha covarde e desigual:

De um lado, a imprensa esportiva (indigente, acéfala e preguiçosa), o Choque, o MP, as demais autoridades constituídas e uma sociedade que vomita senso comum para palpitar sobre aquilo que desconhece por completo. E, no caso alviverde, a assim chamada diretoria executiva do clube.

De outro, os torcedores.

Até quando?, haverá de perguntar um indignado jornalista que há anos não pisa em uma arquibancada. Até quando?

Bom, até o dia em que a imprensa esportiva deixar de disseminar o discurso mentiroso de autoridades que classificam como "necessária" a conduta de atirar indiscriminadamente contra grupos heterogêneos de torcedores e transeuntes. Até o dia em que a imprensa esportiva entender que sua função é apurar e relatar os fatos, ao invés de distorcê-los em benefício de um senso comum baixo, rasteiro e covarde. Até o dia em que um jornalista engolir o "cenas lamentáveis" para ver com seus próprios olhos o que acontece em um estádio de futebol. Até o dia em que a imprensa esportiva deixar de ser o canal para promoção de promotores públicos (?) e criaturas semelhantes.

Ou, que não seja necessário, até o dia em que um desses tantos panfletários canalhas for vítima do despreparo desta corporação que é paga pela sociedade civil para protegê-la.

Se o Choque não sabe conviver em sociedade, a crônica esportiva só sabe alimentar mais e mais este comportamento quase assassino da corporação que deveria garantir a segurança de cada um de nós.

E, de nossa parte, o presidente Paulo Nobre e sua diretoria executiva (ou isso seria uma redundância?) deveria tomar vergonha na cara e, ao menos uma vez na vida, agir em defesa do maior patrimônio da Sociedade Esportiva Palmeiras. Do contrário, seguiremos com a nossa casa sendo perseguida por essa gente e com palmeirenses sendo agredidos de maneira covarde bem em frente ao nosso estádio.

Tome uma atitude, Nobre! Antes que seja tarde!

06 fevereiro 2015

Morreu o futebol

























2015, fevereiro, 5. Morreu o futebol.

Por ora, vou passar ao largo de qualquer análise sobre o estado falimentar de nossas autoridades constituídas. Tampouco vou abordar o recorrente abuso de poder que vem pautando as ações do senhor Paulo Castilho. Nem mesmo mencionarei o papel da mídia esportiva nessa história. De imediato, vou me dedicar à vergonhosa participação do senhor Paulo Nobre, presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras, neste crime contra o futebol.

Nobre é o menino mimado que vê o estádio Palestra Italia como seu brinquedinho e, como tal, quer decidir quem com ele pode ou não brincar. Nobre é aquele que, em só enxergando dinheiro à sua frente, age com todas as armas disponíveis para assegurar o que ele julga ser um bom negócio - ainda que isso signifique um atentado contra o esporte outrora popular.

Precificar, precificar, precificar!

Extorquir, extorquir, extorquir!


Elitizar, elitizar, elitizar!

O domingo que vem pela frente deveria ser um dia histórico. Deveria ser o dia em que voltaríamos a receber o maior rival em nossa casa depois de longos 39 anos. Deveria ser um capítulo marcante em meio aos quase 400 confrontos entre os dois maiores clubes da maior metrópole do hemisfério. Deveria ser um dia de festa por toda a cidade. De expectativa, de apreensão, de euforia.

Deveria ser tudo isso, e mais ainda. Mas Nobre não quis. Em sendo dele o brinquedinho, só ele pode brincar.

Isolado em seu mundinho apartado da realidade, Nobre segue cometendo desmandos à frente do Campeão do Século XX. Se há dinheiro em jogo, vale tudo - absolutamente tudo. Vale criar discursos fantasiosos, vale manipular a mídia (mas, afinal, o assessor que torce pelo clube rival poderá ir ao jogo domingo?), vale até se associar ao inimigo número do nosso estádio, o promotor sobre o qual tanto já se falou por aqui.

Nobre, que arruinou nosso centenário, quer agora acabar também com o pouco que ainda resta deste futebol tão vilipendiado nos últimos anos. Extorquir o torcedor do clube que comanda parece ser pouco para o mandatário reeleito por 2.420 cúmplices, e então ele foi direto na alma do futebol. Foi o artífice de uma operação que, há anos arquitetada por uma corja maldita, encontrou no menino mimado a peça que faltava.

Morreu o futebol. E Nobre só soube falar - em vexatória entrevista coletiva - em mais e mais cifrões. Ele não é do ramo, e disso sabemos todos. Mas é necessário apontar que são culpados por essa situação todos os 2.420 cúmplices que nele votaram. Todos os que nele votaram são responsáveis pelo crime ora cometido. Todos foram coniventes com os mandos e desmandos deste sujeito, com os preceitos elitistas, com os seguidos ataques à nossa torcida.

Domingo seria o dia de um grande Palmeiras x SCCP. O primeiro em nossa casa em 39 anos. Seria. Mas vai passar para a história como o dia de um atentado criminoso contra o maior de todos os clássicos. Um dia para envergonhar todos aqueles que vivemos o futebol. Um dia para envergonhar especialmente a coletividade alviverde, porque partiu de seu mandatário - e de seus 2.420 cúmplices - o tiro de misericórdia contra os que vivemos a arquibancada.

Mataram o futebol.

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_O jogo de ontem foi, possivelmente até o domingo próximo, o mais triste entre mais de 800 em pouco mais de duas décadas. Não pela derrota em si, tampouco pelo sofrimento para cruzar os portões da Matarazzo, mas pela triste constatação de que o futebol está perdendo a guerra.

04 fevereiro 2015

Quem paga a conta?

Cinco jogos foram disputados no novo Palestra Italia. Em dois deles, contra Atlético/PR e contra o time chinês, sequer tivemos setor visitante. Conta o Sport/PE, eles não se fizeram notar – e nem seria o caso, tendo em vista a comoção pela reinauguração do estádio. As duas últimas partidas foram disputadas contra clubes (?) desprovidos de torcida. Em resumo: não houve ainda uma experiência com torcidas visitantes no redivivo Palestra Italia. Isso vai acontecer muito em breve, e em dose dupla, com as torcidas de Ponte Preta e SCCP vindo à nossa casa em questão de três dias.

A presença desses visitantes no estádio seria, por si só, digna de registro, mas toda e qualquer análise que se queira fazer a esse respeito pode ser eclipsada pela insanidade do senhor Paulo Nobre e dos comparsas que respondem pela precificação dos ingressos no nosso estádio.

Que se faça aqui tal registro para antecipar, por ora, um ponto crucial da análise pormenorizada sobre o descolamento entre o preço dos ingressos no Palestra e a realidade.

De minha parte, devo dizer que sinto vergonha ao saber que a Sociedade Esportiva Palmeiras cobra R$ 200 de um torcedor visitante em jogos válidos pelas primeiras rodadas do Campeonato Paulista. Vergonha.

 Há três pontos relevantes aqui, ambos relativos à frágil argumentação segundo a qual o preço do ingresso daquele espaço deve ser o mesmo cobrado de quem fica no setor vizinho, no caso o Gol Sul:

# 1. Tal afirmação cai por terra quando se constata que, no sábado último, contra o Audax, cobrou-se R$ 200 pelo Setor Sul e R$ 60 pelo espaço ao lado, do visitante. É, portanto, questão de boa vontade. Mais que isso: de bom senso.

# 2. Ainda que se queira insistir com tal proposição, há que se considerar a inadequação do valor em si. R$ 200 por um setor atrás do gol? Em um jogo do Campeonato Paulista? Em que mundo vivem estes senhores?

# 3. É tão desconectada da realidade a precificação levada a cabo por Nobre que nem ele nem os seus parecem capazes de justificar a disparidade entre os R$ 60 (ou R$ 80) do Gol Norte e os R$ 200 do Gol Sul. Os mais incautos, os deslumbrados e os puramente mal intencionados poderão fazer pouco caso do assunto, como se nada fosse. Poderão fazer piadinhas até, como bem compete a certos defensores desta gestão que arruinou nosso centenário.

A verdade é que, por nunca terem ido a um estádio na condição de visitantes, são incapazes de entender as consequências por trás de tal conduta. Aponto duas delas:

# 1. Ao cobrar preços extorsivos pelos ingressos dos 2.000 torcedores visitantes, a gestão Nobre turbina um pouco mais a renda (ou não, se não houver lotação total), mas faz isso a um custo altíssimo, o da erosão completa do relacionamento institucional com outros clubes – o que, salvo honrosas exceções, não parece ser uma medida inteligente.

# 2. Conduta assim tão mesquinha não vai passar em branco, e a conta será paga não por Nobre nem pelos seus correligionários, mas pelo próprio Palmeiras, à medida que os clubes atingidos por esta decisão haverão de retaliar na mesma moeda: quando voltarmos ao Itaquerão, por exemplo, seremos agraciados por preços igualmente abusivos – no que terá razão o nosso rival. Em curto prazo, impõe-se um enorme sacrifício aos que vamos empurrar o clube pelo Brasil agora; em médio prazo, tem-se cenário ainda pior, com o alijamento de boa parte da torcida alviverde nas ocasiões em que o clube mais precisa dela.

É necessário debater a predatória precificação de ingressos no Palestra Italia. De imediato, Nobre e os seus precisam refletir sobre o mal que causarão à torcida alviverde – e ao clube – se insistirem com tão nefasta política contra as torcidas visitantes. Resolver isso, para além de urgente, é questão de bom senso e de educação.

Domingo está chegando, senhores. Será a primeira visita do SCCP ao nosso estádio em quase 40 anos. O clássico poderia ser a notícia. O embate (saudável e em paz) entre as torcidas, mais ainda. Mas Nobre, por mesquinharia, corre o risco de colocar o preço dos ingressos em primeiro plano. E a conta, vale reforçar, será paga muito em breve por cada um de nós.

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Voltarei ao tema.