02 dezembro 2015

Seremos Palmeiras!

























Vila Belmiro, Santos/SP, quarta-feira à noite. Chove. Lá estamos, 824 alviverdes, pela quarta vez no ano. Chove como choveu em todas as outras vezes que lá estivemos – pelo menos é assim que registra a memória coletiva.

Somos 824, e tão acostumados estamos a representar o Palmeiras naquele estádio que é quase possível identificar pelo nome cada um dos que ali estão – é um sentimento de irmandade muito comum aos que viajamos para defender nossas cores por todos os lados. Daí então que, bem do meio daquele puxadinho que nos é destinado, nasce um canto (retrô) que logo vai ganhando força:

“Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Seremos campeões! (mais uma vez)”.

Seremos?

Talvez sim. Talvez não. E cada um de nós, eu imagino, vem sendo perseguido pelas mesmas inquietações, alternando momentos de confiança extrema, de pura ansiedade e de um pessimismo de tirar o sono. Ninguém escapa: os 40 mil privilegiados que estaremos no Palestra; os milhares aglomerados do lado de fora; os milhões que, pelo mundo, gritarão em direção à zona oeste da metrópole.

Eis que minha mente viaja longe, duas décadas em direção a um passado glorioso, para lembrar de tardes e noites dos princípios da minha adolescência no estádio. Eram poucos jogos ainda, uma meia dúzia ao ano, porque a mim não se permitia mais do que isso. Eram tempos, aqueles, em que cantávamos essa mesma música com enorme naturalidade, como se fosse impossível que as coisas tomassem outro rumo: sim, seríamos campeões – e, invariavelmente, fomos.

Agora já não se pode ter tanta certeza assim. A história inspira confiança; o time, nem tanto. A camisa nos precede e vai a campo; mas também a defesa que tomou gols em 29 dos últimos 30 jogos. Lá estará também a torcida que vem transformando o estádio inteiro em um Gol Norte nos jogos decisivos; mas também o treinador que parece não saber o que está fazendo. O retrospecto ajuda ou atrapalha, a depender da análise que se queira fazer. A arbitragem? Bom, trata-se de um obstáculo a mais. O adversário? É (ou está) melhor, bem sabemos. A mídia? É tão inimiga que isso pode até ser um fator de motivação.

E, sejamos pragmáticos, esse clima de desconfiança quanto à capacidade de reverter o resultado acaba até nos fortalecendo. Porque nossa história foi construída assim, à base de muita superação, de entrega, de perseverar quando nada mais nos era permitido. Como diz mestre Ezequiel: “Nunca duvidem do Palmeiras. Nunca. Enquanto existir uma camisa verde com um P no peito, deve haver respeito”.

Foi com esse espírito que, três anos atrás, a massa alviverde entrou em campo para empurrar em direção a nosso último troféu um catadão aos frangalhos: Bruno-Arthur-ThiagoHeleno-LeandroAmaro-MaurícioRamos-Juninho-Henrique-Assunção-JoãoVitor-MárcioAraújo-DanielCarvalho-Mazinho-Betinho. Um time obsceno, para dizer o mínimo. E campeão.

É a isso que devemos nos apegar para cantar que “seremos campeões! (mais uma vez)”. À festa que fizemos na noite fria de Curitiba em 2012. Aos segundos intermináveis entre o cruzamento para a área e o leve desvio de um herói improvável para fazer ecoar um estampido seco no gol de fundo do Couto Pereira. Às noites em que a Arena Barueri guardou para si muito da alma e do espírito do velho Palestra. À jornada felipônica que vivemos no saudoso Olímpico porto-alegrense. Ao petardo de Darci na semifinal de 1998. Ao tiro salvador de Agnaldo Liz em um pouco lembrado 1 a 0 contra o Botafogo. Ao gol espírita do eterno Oseas. À festa que fizemos nas molhadas arquibancadas do Morumbi naquela tarde de sábado. E, por que não?, aos dois gols de Euller quando tudo já estava perdido.

Devemos, também, lembrar com carinho de cada capítulo da trajetória que nos trouxe a este 2 de dezembro de 2015. O desnecessário sufoco contra o ASA. Os arroubos geniais do menino Jesus no Mineirão – e lá estivemos, poucos e bons, a empurrar o time quando ainda nem sonhávamos com o título. O empate suado que fomos buscar em um sempre inóspito Beira-Rio. O improvável cabeceio de Girotto que fez, pela primeira vez, o novo Palestra se parecer com o velho Palestra. Seis mil palestrinos em uma noite mágica no Maracanã e um pênalti redentor. O Gol Norte se espalhando por todo o estádio diante de um rival preso na garganta desde 2009. Barrios duas vezes. A defesa de Prass. Os pênaltis. A explosão. O alívio. E a final na Baixada: o pênalti não marcado, os gols perdidos de parte a parte, as discussões, a tensão onipresente, a nossa torcida fazendo mais barulho que os mandantes já na madrugada...

Não pode ter sido à toa.

“Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, Porco/ Seremos campeões! (mais uma vez)”.

Seremos?

Certeza não se pode ter, mas lutaremos por isso. Queremos a Copa. Queremos buscar o que é nosso. E faremos, a partir da arquibancada, tudo o que for possível e imaginável para que isso aconteça.

Seremos Palmeiras! E isso, esperamos, haverá de ser o bastante.

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- Sobre o infeliz comunicado da gestora do estádio – e a conivência de um Palmeiras vítima de uma gestão elitista –, o post do Paulo Silva Jr. é mais do que necessário. De minha parte – e espero que relativizem o exagero –, a mensagem que deixo para cada palmeirense é a seguinte:
“Aglomeremo-nos. Compremos todas as cervejas e lanches do comércio ambulante. E mijemos no portão de cada dona Antonieta da Pompeia. Que os vizinhos do entorno respeitem o estádio que define aquela região há mais de século.”

- Outro ponto importante: muito cuidado com a PM. Antes, durante e depois do jogo. Lembremo-nos do que aconteceu em 2008, em 2012 e agora mesmo em 2015.

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Texto originalmente publicado no ESPN FC.

6 comentários:

Unknown disse...

Puta que o pariu!!!! Teve até post do Barneschi hoje!!!! é um sinal, vai dar "nóis", caralho!!!

4 x 2, me cobrem depois.

À vitória. sem mais...

Rafael disse...

Rodrigo Amato, cadê o 4x2? Vim cobrar... sofri pra caralhoooo.. hahaha mas valeu a pena.. cada minuto dispensado na turiassu, nas arquibancadas, EM PÉ, como tem que ser, na caraíbas depois do jogo.. PQP, fantástico, incrível, que festa. A PM colaborou até onde eu vi, inclusive! Time mostrou alma, alma que incorporou o espírito da arquibancada.. das ruas.. da torcida!

César SEP disse...

Barneschi, primeiramente parabéns pelo post. Abaixo, segue uma resposta para a seguradora:

COMUNICADO:

Infelizmente, não poderei respeitar as regras acima cagadas. Meu plano é ficar duas horas na aglomeração, entrar em cima da hora, comprar sanduíche de pernil e 2 Skol latão por 10 reais. E se for campeão, sair buzinando e gritando feito retardado pela Pompeia.

Atenciosamente.

Unknown disse...

Fala Barneschi!!
tdo blz?
Teremos um post do jogo final? sobre torcida antes do jogo, durante e depois!? sobre o palestra em noite de palestra? mancha e etc!!!! ( faz mta falta seus posts)
Está campanha merece entrar na galeria das campanhas comentadas, como as anteriores?
forte abraço!!!!!

Rodrigo Barneschi disse...

Vai ter, Fabricio. Precisei de alguns dias para assimilar tudo o que vivemos. Vou terminar o texto muito em breve.
Abraços

Anônimo disse...

Ué, parou de criticar o Nobre?