Edmundo é vascaíno. E palmeirense. Disse o Animal em sua reestréia com a camisa verde, em janeiro, contra o São Bento, Palestra cheio por causa dele: "Pelo Vasco, eu sinto um amor de mãe, porque fui criado lá. Mas aqui no Palmeiras é amor de mulher, pois é o clube que eu conheci quando adulto".
Depois da Copa, de novo no Palestra. Palmeiras 4 x 2 Vasco. Dois gols dele, que compara o amor que sente pelos dois clubes: "Aqui dentro do Palmeiras, nunca me decepcionei, e apesar de ter aprendido a gostar deste clube depois, acho que hoje gosto mais".
É possível amar dois times?
Sim, é. De maneiras diferentes.
Vejamos o caso do nosso rebelde amigo Luigi, que ama o Palmeiras e o Napoli sabe-se lá em quais proporções.
Luigi tem todo o direito de idolatrar duas camisas, não é?
Por que diabos Edmundo não poderia amar Palmeiras e Vasco? Uma combinação, aliás, que em nada ofende determinada parcela da nossa torcida - da qual eu faço parte.
E eu também tenho esse direito, certo?
Vejam que não sou apenas partidário da união Mancha Verde/ Força Jovem/ Galoucura. Mais do que isso, sou vascaíno no Rio.
Tenho lá meus motivos para gostar do clube cruzmaltino.
Se vocês precisam gostar?
Não. Só não me venham com argumentos que façam referência a Eurico Miranda. Ele é muito pequeno - e vai passar. O Vasco, eterno, continuará grande. Se Eurico Miranda é motivo para deixar de gostar do Vasco, Mustafá e Dualib também o são. Logo, Palmeiras e SCCP não mereceriam ser amados por ninguém.
Isso em nada abala o que eu sinto pelo Palestra e eu não preciso aqui demonstrar qual é o tamanho deste amor.
Voltemos à discussão inicial.
Edmundo esteve longe do Palestra por 10 anos. De 1995 a 2005. Quando voltou à nossa casa, foi com outra camisa, a do Figureirense. A torcida, saudosa, o venerou. Gritou seu nome, pediu sua volta. Ele se emocionou, tal qual ontem em São Januário.
Ali ganhou força o retorno ao Palestra. Que se concretizou em um jogo beneficente. O Animal voltou. Quebrou o protocolo ao vestir a camisa antes de ser apresentado. Estava também com saudades.
Pergunto, pois:
Quem não se emocionaria ao voltar ao lugar em que foi criado e ser festejado pelas pessoas que lá ficaram? Não é algo mais ou menos natural? Humano? Digno? Bonito até?
Vocês não se emocionariam?
Não?
Então, meus amigos, vocês estão no esporte errado.
O tênis e o golfe estão aí pra isso mesmo...
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Por fim, cabem algumas considerações:
1. Edmundo é reconhecidamente um mau batedor de pênaltis. Tanto quanto Shaquille O´Neal é ruim nos FTs.
2. Edmundo não é o cobrador oficial do Palmeiras. Este é Paulo Baier. Se o Animal se prontificou a bater, é sinal de que não se importaria em marcar um gol contra o time que o revelou.
3. Quer dizer então que ele errou de propósito? Então isso só comprova o quanto ele é foda. Pois ele teria mirado e acertado na trave, o que é imensamente mais complicado do que acertar os 17,8 m² gol ou todo o infinito que existe além da baliza.
4. Por que diabos brasileiro adora tanto uma teoria conspiratória?
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26 de outubro de 2005. Palmeiras 2 x 2 Figueirense/SC. O post abaixo vem do blog antigo. Faço questão de republicá-lo:
A NOITE DE EDMUNDO
10 anos. Da saída conturbada ao retorno triunfal. Edmundo voltou para casa. Por apenas uma noite, é verdade. Mas voltou. Para um passeio. Edmundo foi o próprio jogo. O melhor em campo. Jogadas magistrais. Dois gols. Pequenos e insignificantes detalhes diante do que realmente fica na memória da nação alviverde.
O reencontro com um ídolo eterno, 10 anos depois. O Animal. Sim, o Edmundo que nos abandonou em 1995. E que viria a cometer a maior de todas as traições no ano seguinte. Mas também o Edmundo que, com a sabedoria que só o tempo pode trazer, reconheceu o grande erro de sua carreira. “Se arrependimento matasse, eu estava morto. Queria nunca ter saído daqui, como fez o Marcos”, disse, emocionado.
O Edmundo de tantos serviços prestados ao Palmeiras. De tantas alegrias para a nação alviverde. De 133 jogos e 65 gols. De cinco títulos. De tardes e noites inesquecíveis. Dos dribles mágicos. Da irreverência. Mas também o Edmundo polêmico. Das provocações. Das brigas, expulsões e confusões. Da relação de amor e ódio com a torcida. O único capaz de rivalizar com o eterno matador Evair.
Foi um breve reencontro. Pena. Ele, Edmundo, quer voltar. Sempre quis. “O amor pelo Palmeiras é como amor de casamento. A gente cresce, vira adulto e ama alguém. Ama porque escolhe”. Mas não o querem de volta. Preferem Gioino. Warley. Washington. Não sabem perdoar. Sofremos os torcedores. Sofre o Palmeiras. Como agora.
Quem nunca na vida foi imaturo, errou e se arrependeu, para então pedir perdão?
Como quem pisa na bola com um grande amor e depois percebe o deslize, Edmundo pediu desculpas. Algumas vezes já. Está perdoado; o torcedor é sábio e o amor é maior que a traição. Era, aos 24 anos, um Edmundo sem a cabeça de hoje. Moleque ainda. Humilde, mas deslumbrado. Foi infeliz. Mas fez por merecer o perdão. Jamais deixamos de vê-lo como ídolo. 10 anos. Tempo demais para quem sente saudades.
O Animal esteve longe por todo esse tempo. Encontramo-nos algumas vezes por aí. Mas nunca na casa em que fomos tão felizes. 10 anos depois, Edmundo voltou ao sagrado Jardim Suspenso. Foi às redes duas vezes. Porque é craque. Profissional, fez sua parte. Com dignidade. Respeitoso, não comemorou. “Não poderia fazer isso. Tenho uma relação muito especial com essa torcida”. Apenas cumprimentou Marcos, a quem admira pela fidelidade.
Foi aplaudido antes, durante e depois. Bem depois. Quem esperou teve o privilégio de vê-lo novamente com a nossa camisa. A 7. Um beijo no escudo alviverde. Sincero. Edmundo se emocionou. A torcida também. Amargo regresso. Estávamos juntos, mas sabedores de que seguiremos caminhos distintos. Como duas pessoas que se amam, mas não podem ficar juntas. Pena. Permanece o sentimento. Valeu...
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Prova de amor ao Palmeiras
Tem muita gente na torcida que não perdoa o Edmundo. Eu até entendo o rancor – mesmo a de um cidadão exaltado, que ficou o tempo todo esbravejando –, mas digo que a torcida do Palmeiras deu um exemplo de amor ao clube quando homenageou Edmundo e Cléber, dois ídolos eternos. Muitos dos que estavam no Palestra sequer viram o Animal defender nossas cores ao vivo, mas sabem de sua importância. Não há idade para o amor, para o reconhecimento e para a gratidão. Ídolo é ídolo. Sempre.
Obrigado, Edmundo!