17 julho 2014

Está de volta o futebol



















Escuto, aqui e ali, alienígenas lamentando o encerramento da Copa do Mundo. Falam em luto até. Em saudades. Em crise de abstinência, vejam só vocês. Em desejos de Copa todo ano e coisa e tal.

Sim, foi uma grande Copa, mas ela teria mesmo de chegar ao fim. Daí então que o circo midiático se desfaz, os turistas (de fora e daqui) vão embora e os craques se despedem, até restar apenas e tão somente o futebol. Ah, o futebol...

O futebol volta agora para os que o vivemos intensamente dia após dia. Os alienígenas que tomaram de assalto nossos estádios (e outros espaços, inclusos os virtuais) neste último mês mergulham agora em mais quatro anos de puro ostracismo e desinteresse pelo esporte, com algum 'deslize' oportunista em uma final de campeonato – e conhecemos bem o tipo de sujeito que, ausente durante toda a temporada, nos procura pedindo ingresso para a decisão.

Chega de camarote, de networking, de colunas sociais escrotas. Chega de notícias sobre VIPs tomando o lugar dos torcedores de verdade, chega de múmias na tribuna de honra, chega de gente que só quer aparecer na porra do telão.

Chega de comentaristas de ocasião, de bajuladores, de cambistas de butique (idem para os que financiam a máfia toda). Um até nunca mais para banqueiros, altos executivos e canalhas congêneres que tanto conspurcaram o lugar do povo. Um basta para os colunistas e analistas de outras esferas a escrever absurdos sobre o que desconhecem por completo. Um ponto final para os credenciados, para os convidados e para quem só queria ver e ser visto.

Depois de uma Copa que eu, quase 800 jogos em 60 canchas, só pude ver pela TV, é chegada a hora de retornar aos estádios como eles são. Tem jogo hoje na Vila Belmiro, domingo no Pacaembu, quarta em Florianópolis, domingo no Itaquerão, quarta de novo no Pacaembu, domingo no Pacaembu... ah, já deu para entender...

Ingressos garantidos, pois - e não, não havia ninguém desesperado querendo entradas para jogos em horários e locais que não eram exatamente convidativos.

O futebol, livre deste Padrão Fifa vomitado por dez entre dez idiotas, retorna agora aos que o vivemos não como uma festinha privê para reunir a high society, mas sim como o esporte do povo por definição. Não é mais o evento de abastados que vomitam meritocracia sem refletir sobre o real significado da palavra, mas sim a manifestação popular que procura resistir ao elitismo descarado - e, acreditem, nós venceremos, não sem antes eu dedicar uma atenção especial ao excremento humano que cometeu o texto deste último link.

Voltar do exílio logo no estádio da Baixada Santista tem um significado todo especial. Porque os setoristas de banheiro de estádio (tem um aí reclamando até da qualidade das portas) entrariam em pânico se conhecessem um dia as instalações daquilo que o Santos FC chama de estádio. E horrorizados ficariam, eles todos, ao saber que, esgueirando-se entre degraus que mal chegam a 50 centímetros, não é possível enxergar o gol que fica logo abaixo.

Seja como for, lá estaremos. Porque o futebol prescinde da existência dos que dão a vida por um banheiro de estádio cheiroso - e é de se discutir até a necessidade de tais recintos, ainda que poucos compreendam a pretensa hipérbole aqui contida. O futebol é melhor sem os endinheirados, sem a corja toda que tem medo de tomar uma facada no baço, sem os brasileirinhos "com muito orgulho, com muito amor", sem os que "acreditam" (no que mesmo?), sem essa turminha do "tóis" (???).

O futebol não é para turistas, não é entretenimento, não é balada. Muito menos bizines, como gostariam alguns canalhas graúdos. E ele está de volta, senhores. Está de volta para quem vive por ele, para quem não mede esforços pelo seu time, para quem é da arquibancada - e nunca das malditas cadeiras numeradas.

Alienígenas, consumidores e torcedores de ocasião voltarão dentro de quatro longos anos. Que passem bem.

A arquibancada forma caráter.

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Passei as últimas semanas lendo e ouvindo os maiores absurdos possíveis. De leigos assumidos - e até absolvo a maior parte - até pseudo-especialistas que ocuparam preciosos espaços midiáticos para, de maneira um tanto desavisada, proclamar ignorância e desconhecimento de causa. A imprensa esportiva teve lá seus bons momentos (gostei do papel desempenhado por alguns jornais), mas o que mais impressiona é a indigência de alguns colunistas aqui e ali, e mesmo dos articulistas de outras áreas (política e economia) que pareciam não saber muito o que escrever ao ganharem credenciais e/ou ingressos. Mais do que revolta como torcedor, fiquei constrangido como jornalista. Fui colhendo alguns links aqui e ali e alguns deles eu acabo de compartilhar no texto acima. Segue a vida.

16 comentários:

Bruno Lauria disse...

Grande Barneschi. Mais um texto que representa 100% do que penso.
Já ñ aguentava mais essa ausência de Palmeiras. E vê se termina logo esse livro, pois o blog faz muita falta, principalmente nesses meses que estou fora do Brasil.
Abraço e FORZA PALESTRA!

Luiz disse...

Barneschi você acha que o título da copa está em boas mãos ? Eu também optei por assistir a maioria dos jogos em casa pra evita contato com esse tipo de gente que você citou no texto e o mais triste é que qualquer pessoa que não acompanha futebol passa a ficar dando palpites patéticos nas redes sociais apenas pra ganhar alguns "likes" durante época de copa ou ficam pagando de patriotas com suas selfies, não tenho nada contra quem acompanha futebol somente na copa apenas quero que fiquem em silêncio e não roubem o lugar de quem gosta de verdade, e sobre o hino a capela achei um negócio um pouco forçado já que nos próximos 4 anos o povo passará na alienação.Essa copa me fez ter mais esperança no futebol pelo menos dentro de campo pois provou que ainda existe sentimento entre jogadores houve demonstrações de tristeza, alegrias, comprometimento e raça e muitas lágrimas irrigaram os gramados pelo Brasil

Luiz disse...

Pra encerra meu comentário anterior eu não gostei da linha da globo durante as transmissões pareciam mais torcedores do que jornalistas. Barneschi eu tenho uma curiosidade talvez você que já foi na Argentina poderia me responder : a rivalidade Brasil x Argentina existe mesmo ou é criada pela mídia brasileira ?

Unknown disse...

O que mais me irritou/envergonhou nesta incrível copa foram nossa torcida mongolóide e as PMs paulista e carioca,de resto foi tudo acima das expectativas,desde a qualidade dos jogos ao chute na bunda no padrão Fifa por parte das torcidas sul-americanas e principalmente da torcida da Argélia,outra coisa que me chamou a atenção é a qualidade da transmissão da Fifa,a globo/premiere fica parecendo tv de bairro perto de tal transmissão

Rafael Kuvasney Marcolin disse...

Olá Rodrigo, seus links foderam meu almoço.
Boa sorte pra nós.

Lucas disse...

Ow kra, eu gosto dos seus textos e do seu blog. Só acho que tem que ter mais amor no coração também. As coisas mudam, o futebol evolui e nada vai ser como era antes. Porém, nem tudo que é moderno é ruim. Aceite ou não o futebol é entretenimento sim. Mesmo assim, parabéns pelo texto! Abraço.

Anônimo disse...

O texto é verdadeiro e pertinente. Parabéns. Eu não sou palmeirense, mas vou aprox a 35 a 40 jogos do meu time por ano. Mesmo assim fui ver jogos da Copa do Mundo. Em muitos momentos me senti um ET (em um local que eu sou habituado a ir toda semana...um estádio). Pessoas que não sabiam nem a regra de impedimento ou quantos jogadores existem em cada time estavam lá postando em suas redes sociais.

Também comprovei como o brasileiro não liga pra futebol. Vi ingleses, uruguaios, holandeses, colombianos, argentinos, chilenos etc. Todos muito mais apaixonados e envolvidos com o jogo....Muito mais interessados no jogo!! Que diferença...Muitos deles, inclusive, ignoraram o padrão FIFA e cantaram de pé enquanto os brasileiros gritavam "Sentaaaa"

A Copa valeu pra mim pelo contato com estrangeiros que se importam muito mais com o futebol

Anônimo disse...

BARNESCHI

DEPOIS QUE VI E LI A TAL MAITE PROENÇA

COMENTANDO FUTEBOL, DANDO SEUS OPINIÕES

ISSO E MAIS AQUILO


EU PAREI..........

Anderson Garou disse...

Bom ver mais um texto seu Barneschi. O livro vai sair este ano?

Sei que a culpa não é sua, mas tinha que colocar estes links sem um aviso de: "Você perderá sua fé na humanidade! Se já perdeu, só vai reforçar sua descrença".

Assim como não tenho tolerância com os posers no heavy metal, o mesmo se aplica ao futebol como foi (hoje no Brasil, ele está na UTI concorda?) e deve voltar a ser. Pra mim esse mês de copa foi uma guerra na minha vida familiar, pois estes são completamente alienados pela emissora câncer. De um jeito que dá vontade de mandar sua própria mãe para uma sanatório ou a pqp mesmo.

Mesmo com o time uma lástima, é bom ter o Verdão de volta. Não há música, cachaça, mulher e games (claro que nem sempre nessa ordem) que supra a abstinência forçada de ver a Camisa mais linda e vitoriosa se fazer presente no gramado.

Abraço!

Raul Martins Dias disse...

Como sempre, excelente texto. Como você disse, foi uma grande Copa, mas eu estava sentindo falta, e não era pouca, do verdadeiro futebol, de ver no estádio as pessoas que realmente são do futebol, e não as que estão lá só pela farra, só para "pegar um gringo", e que não sabem nem o que é um escanteio.

Infelizmente não poderei ir à cancha municipal no próximo domingo, mas volto logo às partidas do Palmeiras.

Raul Martins Dias disse...

Em tempo: não torço pela seleção brasileira, mas espero que esses 7 a 1 sirvam para desenterrar tudo que existe de podre no futebol brasileiro, e, acima de tudo, para enterrar de vez antigas lendas, como a de que "no Brasil tem um craque em cada esquina", "o futebol brasileiro resiste a tudo", e, a pior delas, a de que "o Brasil é o país do futebol".

César SEP disse...

É impressionante como a frase "Brasil, o país do futebol" foi dita pela impren$a durante a copa. Ridículo. Uma pena foi a Argentina, os caras mereciam ganhar, viajaram em uns ônibus podres até aqui, sem ingresso etc.

Saandroo disse...

Caralho, que texto lindo!, tão imprescindível quanto a já mítica goleada de 7 na seleção da CBF. e
Era o que eu precisava ler materializado num texto. (que confesso, não tenho paciência e mesmo capacidade para fazer)pois em ideias e sentimentos foi basicamente tudo o que vivenciei nesses dias de Copa, no que diz respeito a TUDO que se passou extra campo. Agora é hora de vivermos o Palmeiras de novo mesmo nesses dias sombrios do Centenário. Avanti Palestra!

Saandroo disse...

Caralho, que texto lindo!, tão imprescindível quanto a já mítica goleada de 7 na seleção da CBF. e
Era o que eu precisava ler materializado num texto. (que confesso, não tenho paciência e mesmo capacidade para fazer)pois em ideias e sentimentos foi basicamente tudo o que vivenciei nesses dias de Copa, no que diz respeito a TUDO que se passou extra campo. Agora é hora de vivermos o Palmeiras de novo mesmo nesses dias sombrios do Centenário. Avanti Palestra!

Raul Martins Dias disse...

César, sou a favor de pena de prisão perpétua para pessoas que dizem que o Brasil é o país do futebol.

Em tempo: os palhaços que são responsáveis pela administração do elefante branco de Brasília estão falando em trazer seis jogos do Brasileiro para cá. Entra ano, sai ano, e essa palhaçada continua.

Luiz Pira disse...

Raul, eu tambem sou a favor de prisão perpetua para quem falou que o Palmeiras tem uma fabrica de goleiros.... esse fdp que difundiu isso deve ser curitiano.
Alguem ja viu algum goleiro do Palmeiras em alguma seleção de base, ou que de fato fez carreira como titular absoluto do verdão ??? o Marcos não vale.