08 dezembro 2009

Geração perdida

O problema não foi a derrota para o Botafogo, que pode ser considerada normal, mais ainda em uma situação de total e definitivo desespero para o clube carioca. Não existe vexame nenhum no 1 a 2 do Engenhão, e é bom que isso fique claro. A vergonha que sentimos agora foi ainda maior e mais incontestável, pois construída ao longo das 10 rodadas anteriores. A despedida do campeonato (e da década) apenas não se fez suficiente para evitar um fracasso retumbante, com o qual temos de conviver desde agora e por toda a próxima temporada.

É tão melancólica a situação que no domingo, enquanto acompanhava a frágil atuação do Palestra no gramado do Engenhão, eu não consegui torcer contra Flamengo ou Inter, de cujos insucessos dependeria um improvável título alviverde. Não me permiti fazer isso simplesmente por ter perdido a confiança no grupo que vestia a nossa camisa, e então era melhor evitar o risco de um desfecho calamitoso.

A vergonha que sentimos agora é proporcional à vontade de encontrar (e punir) os culpados, e o mais preocupante é que a responsabilidade não recai sobre uma pessoa ou sobre um grupo, mas sobre toda uma estrutura que nos conduziu ao desfecho trágico de uma década perdida. Difícil culpar só um jogador, só um dirigente, só um árbitro, ou quem quer que seja. Difícil chegar a um consenso sobre o que nos levou do título quase certo ao inacreditável quinto lugar (e à vaga na Sul-americana, Meu Deus!).

A propósito, tampouco se pode atribuir qualquer responsabilidade ao Santos (quem poderia confiar em um time que, além de comandado pelo Madureira, vegetou durante o campeonato inteiro?) e mesmo a Kléber, o Gladiador, ídolo palestrino que se encarregou de sepultar um time que não merecia mesmo qualquer tipo de reconhecimento.

Kléber fez a parte dele, na base do profissionalismo, mas é irônico que tenha, com um gol marcado na primeira jogada depois de dois meses fora de combate, sepultado também a chance de retornar ao Palestra na próxima temporada. Kléber, o profissional, matou o sonho de Kléber, o torcedor. Mas ele não tem culpa de um único clube concentrar tamanha incompetência. Kléber é ídolo, e isso torna ainda mais cruel tudo o que aconteceu.

As reflexões e pensamentos de agora refletem uma estrutura corroída, capaz de se sobrepor até aos acertos deste ano, e apontam perspectivas nada animadoras, sejam elas em curto ou médio prazo.

Eu não vivi os anos da fila assim tão intensamente, pois, ainda criança, não podia ir a todos os jogos no estádio, mas tenho para mim - e os mais experientes podem me corrigir - que havia uma diferença fundamental entre aquele período e o atual:

Nos anos 80, nossos times eram reconhecidamente bisonhos, mas chegavam os jogadores, um pior que o outro, com a camisa ensopada de suor ao final dos 90 minutos. Havia um comprometimento que parece inexistir hoje, e a torcida sabia que, mesmo ruins, aqueles atletas faziam tudo o que podiam. Era pouco, é verdade, mas era o limite, e mais não se podia cobrar.

Foi assim que o Palmeiras passou longos 17 anos sem título, tropeçando temporada após temporada, quase sempre nas próprias limitações e na inferioridade técnica. Foi assim que surgiu uma geração de guerreiros, de gente que hoje ainda frequenta a arquibancada do Palestra. Foi assim que surgiu a Mancha.

É diferente do que acontece nesta década perdida, em que times por vezes bem formados e tecnicamente qualificados vêm tropeçando seguidamente nas próprias pernas. E os erros, um mais grave com o outro, nunca são corrigidos, a despeito do que possa ser dito depois de cada derrota inexplicável.

Eu vivi na plenitude cada fracasso destes anos 2000. Temporada após temporada, a frustração insiste em nos tomar de assalto a cada dezembro. Da virada sofrida para o Vasco na Mercosul (e houve antes a eliminação para o Azulinho), passando por rebaixamento, perda de título, de vaga, de dignidade. É assunto para um outro post, que certamente terá como episódio final a perda do título de 2009, um vexame sem precedentes.

10 anos se passaram desde o último título significativo. Uma década. É uma geração que se perde entre ilusões, esperanças e decepções. Uma geração conformada, que se acostumou aos fracassos, às vergonhas e à aterrorizante percepção de que algo da nossa grandeza se perdeu. Uma geração, pior, que se vê obrigada a lutar contra a própria diretoria do clube, que não se cansou em 2009 de nos boicotar seguidamente. Uma geração que não pôde crescer (numericamente, entendam) porque os tempos são outros, e as pessoas perderam também os seus valores.

E eu sinceramente não vejo tantas pessoas fortes, persistentes e apaixonadas como eu e os (ainda) muitos doentes que se prestam a seguir lutando ano após ano e fracasso após fracasso, tudo para ver um final em que o Palmeiras perde para ele próprio. Ser palmeirense se transformou em um fardo muito pesado. Não é pra qualquer um...

18 comentários:

r_evangelista disse...

Cara, com todo respeito vou discordar frontalmente de você. Sou de 75 e vivi os anos oitenta (não muito no estádio pq era novo para viajar). Tinha muita gente boa nessa época, gente que não ficou tanto na lembrança pq não ganhamos títulos, mas caras muito bons. Só que simplesmente não aconteceu.
Nem tudo se resolve com entrega, nem no tapa. Comecei um texto sobre isso, publico ainda essa semana.
Sobre a grandeza, ela não depende de resultados. O Palmeiras não ficou menor nos anos oitenta, assim como o Barueri pode estar na série A e não é nada (e outros, que estão nas séries B, C, D, são sim grandes). Tem mais a ver com história, e com olhar para além do umbigo ou do bairro (e aí sim vejo mais perigo para a gente)

Unknown disse...

belo post pilantra

vc falou bem a diferença....eu não vi o time dos anos 80, mas vi o time de 2002, que não sei se individualmente era tão ruim assim...mas como elenco era pífio...
claro que com o descenso todo mundo ficou com vergonha, mas foi uma vergonha muito maior que a vergonha deste ano...
investimentos, arena, belluzzo, tudo em vão...

ai caímos na velha história...o que será que a era mustafá tinha de diferente????

victor briganti disse...

''Ser palmeirense se transformou em um fardo muito pesado. Não é pra qualquer um...''

Ei Forza Palestra, concordo plenamente com voce, ser palmeirense de 2000 pra cá se tornou um fardo pesado, mas pesado mesmo,pois titulos foram para o espaço(gambás,bambis,flamerdas e outros quetais nos passaram ou encostaram na gente em numeros de titulos,vide brasileirões,copa do Brasil,libertadores etc) e alguns recordes indo para o espaço também(ano que vem infelizmente o São Paulo se tornará o clube brasileiro com maior participações em Libertadores,tudo bem num quer dizer nada mas sempre foi um recorde nosso).É triste constatar, mas desde aquela derrota para o Vasco em 2000 o Palmeiras nunca mais foi o mesmo,derrotas humilhantes,eliminações bisonhas,comemorações de 4°lugar em campeonatos brasileiros para um clube como o Palmeiras(tsc),enfim, o Palmeiras ''parou'' no tempo,e pra mim,é tudo culpa de dirigentes e conselheiros que parasitam o clube há anos.Ser chamado de ''viuvas'' da parmalat é dose pra leão.....

abraços

victor briganti disse...

Se isso servir de alento para nós!!!!

''...O Palmeiras de hoje é igual ao que sempre foi. Atravessando mais um período particularmente negro, lambendo em silêncio suas feridas, mas certo de que subitamente, inesperadamente, de algum modo vai ressurgir como tantas vezes antes, para continuar a ser o espinho atravessado na garganta de todos os times do Brasil.O século é longo e ainda mal começou''.(Ugo Giorgetti)

Beato disse...

o palmeiras precisa de paz de espírito.

a torcida e o palmeiras parecem um casal que cobra muito um do outro e, por isso, não consegue sucesso no relacionamento.

esses caras que foram dar porrada em jogador tem que vazar

presidente tem que ter um distanciamento regulamentar e critico de torcida organizada

senão fica nese ciclo cármico ruim

ou vcs acham que foi "por acaso"o gol do kléber. foi nada. certas coisas TEM QUE acontecer. não deveria ter se envolvido com organizada

Thiago disse...

belo post.

João. disse...

Bom, há de se admitir que essas coisas são cíclicas. Todo clube passa, no decorrer de sua história, por eras vitoriosas e por eras de fracasso. E geralmente uma sucede a outra. Nossa última era de glórias, que se encerrou por volta do ano 2000, está sendo sucedida por esta interminável era de fracassos...

Há de se admitir, também, que a apatia e a falta de vontade dos jogadores de hoje em dia são uma característica do esporte em si, e não de nossos elencos. Essa maldita profissionalização do futebol fez que os jogadores apaixonados de vinte anos atrás se transformassem nos homens de negócios que hoje atuam em nossos campos.

Feitas essas admissões, uma coisa é certa: JÁ ENCHEU O SACO! Tá na hora de assumir que o clube precisa de novos ares, para que se encerre logo este período maldito. Não sei ao certo como o clube poderia se reestruturar - esperava que a chapa do Belluzzo fosse garantir tal reestruturação -, mas o fato é que reforma e renovação PRECISAM ser palavras de ordem no clube, de hoje em diante.

Abraço.

Dani disse...

''Ser palmeirense se transformou em um fardo muito pesado. Não é pra qualquer um...''

Rodrigo Barneschi disse...

Rafa
Como eu disse, não acompanhei no estádio porque nasci nos anos 80, mas tenho a nítida sensação de que era assim porque os times eram ruins mesmo e não tropeçavam apenas nos próprios erros. O que aconteceu nos anos 2000 foi uma sucessão de grandes fracassos quando a gente menos esperava. E o Palmeiras, isso é preciso admitir, perdeu muito do seu poder de decisão. É um time que invariavelmente chega perto da decisão e não mostra a força que sempre teve. Isso tem acontecido ano após ano, e cada vez de um jeito diferente.

Victor
Você tocou num ponto crucial: os recordes e marcas históricas que foram desfeitas nesta última década. Vou fazer este levantamento para colocar aqui depois, mas eu concordo plenamente com a sua análise.
Quanto ao texto do Ugo Giorgetti, é muito bonito, mas já tem alguns anos que isso foi escrito. 10 anos já se passaram. Não dá pra gente ficar achando que as coisas vão mudar de uma hora pra outra.

Nicola disse...

Falta gente competente no comando do clube, só isso. Hoje, da pra resumir quem tá lá dentro como os filhos da puta que não gostam de futebol (Mustafá e sua corja) e os que quando entram, se esforçam, como Cipullo por exemplo... Não por menos o Belluzzo e o Marcos surtaram, neste ano.

Falta ambição também, pra levar o Palmeiras pro rumo dos títulos dinovo... Deu certo com a Parmalat, tinha gente profissional cuidando do futebol, hoje é impossível um modelo desses dinovo, e também é impossível a política lá dentro permitir uma administração decente.

Que toda essa velharada do caralho morra de uma vez, e passem a administrar o clube como uma empresa mesmo, senão não vai pra frente nunca.

victor briganti disse...

conselheiro vitalicio.....isso é o fim da picada

Anônimo disse...

Fala Barneschi!!!

Texto perfeito. Infelizmente não é algo que possamos domar ou controlar. O amor pelo Palmeiras vai sempre prevalecer sobre a razão e muito em breve estaremos juntos no alviverde, após os jogos, pra rir ou pra chorar e simplesmente, só por isso, faremos nosso time maior e melhor a cada jogo.

Força caro amigo, a nossa torcida precisa muito de você!

ARAGONEZ

victor briganti disse...

piadinha no blog do juca kfouri

''63 pontos de alagamento em São Paulo. A chuva fez mais pontos que o Palmeiras e estaria na Libertadores''

Piada sem graça diga-se de passagem mas,como eu falei,de 2000 pra cá,o Palmeiras tornou-se o clube mais humilhado,vilipendiado,execrado,chacoteado(se é que existe essa palavra) do futebol brasileiro,para nossa tristeza, que é enorme.Até quando hein,até quando???

Abraços

Nicola disse...

Tomara que morra esse Juca Kfouri, bambi vendido do caralho... Piadinha com outros times nunca vi ele fazer, esse cara é um bosta mesmo.

Blog do Palmeirense disse...

Realmente um geração "perdida" ...

Tá difícil, mas desistir nunca

Abraços!

Unknown disse...

Post perfeito Barneschi, a sensação de ser derrotado com um time que tem condições, é bem pior do que a de perder com um time fraco e limitado. Por isso digo, que esse ano foi o mais decepcionante para mim, de todos os anos decepcionates que eu já vi. Por tudo que envolveu o Palmeiras, a ilusão que nós torcedores criamos, o discurso barato dos jogadores que fingiam que estava tudo bem, a guerra de egos de alguns, enfim..
Mas como todos os anos, só nos resta rezar e torcer por um próximo ano diferente deste que passou, e que o Palmeiras volte a colocar medo nos adversários para que possamos chegar em algum lugar, e voltarmos para o nosso lugar e reviver nossa história de glórias.

Abraços,
Vitor MV

obs: Caro Beato, então a culpa é da Mancha? Ah ta entendi, que coisa..Se o Kléber não tivesse amizade com a MV, ele não faria aquele gol? Só pode ser brincadeira..

Beato disse...

Caro MV,

você acha que a mancha não tem culpa de nada? que ela nunca está errada? que não pode ser responsabilizada tb (afinal, todos sabem que ela tem sim influência junto ao clube, a alguns dirigentes, por conseguinte, quando se culpa a "diretoria", pode se estender a crítica a esse tipo de relacionamento)

o que disse sobre o kleber é o seguinte, aquele episódio de ir à festa da mancha, foi tão pesado pra ele, que o cara, quando entrou, sentiu um peso grande pra decidir. e ferrou. é tal "ironia" do destino.

não é uma ligação direta, como pode perceber. é um pouco mais sutil.

mas, em minha opinião, exerce influência.

o palmeiras tem sido esse time de astral ruim há muito tempo, e, em minha opinião, a pressão excessiva de torcida organizada atrapalha sim.

respeito quem não concorda, mas tem que ser dito

Anônimo disse...

'Kléber dedica vitória sobre o São Paulo à torcida do Palmeiras'

- '' Essa vitória serve também para amenizar a dor dos palmeirenses que pediram para ganharmos do São Paulo''


Ele dedicou o gol contra o Santos na ultima rodada tambem?

CHUPA PORCADA!!!!