Vamos, pois, avaliar os números e interpretações (???) da matéria, que logo apresenta a média caseira do Palestra: 14.377 pagantes. Eu diria que é razoável se observada com a frieza de quem vê os números sem pensar o cenário. Mas diria também que é ótima aos olhos de quem se esforça um pouquinho e procura entender o que acontece para chegarmos ao número em questão.
Eis que a matéria segue impunemente com as seguintes frases: "Nem mesmo a vice-liderança do Campeonato Brasileiro tem sido capaz de mover os torcedores do Palmeiras para ir ao estádio..." e "A falta de interesse dos torcedores em comparecer ao Parque Antarctica..." Sim, a matéria tenta fazer crer que não há interesse do palmeirense em ir ao campo. Logo dos palmeirenses, dá pra acreditar?
Eu não vou entrar no mérito das declarações dos jogadores, pois não costuma sair coisa boa quando esses caras se põem a falar. Deixemos de lado, por exemplo, a baboseira proferida pelo Sandro Silva. Ele tem mais é que jogar bola e não falar; simples assim.
Mas exponho aqui breves argumentos, todos relevantes para entender a média de público de 'apenas' 14.377 pagantes por jogo:
1. O Palmeiras impõe ao seu torcedor o ingresso mais caro do Brasil. Um bilhete de arquibancada sai por R$ 30 - e já chegou a R$ 40!!! - contra os R$ 20 - ou menos - cobrados pelos demais clubes.
2. Ao mesmo tempo, o setor popular, a R$ 30, foi reduzido à metade de sua capacidade após a inauguração do Setor Visa, que exige a bagatela de R$ 50.
3. Aos interessados, deixo AQUI um link que compila parte considerável dos textos deste blog sobre o tema "Elitização no futebol". Se quiser, indico também dois posts (1 e 2) do blog-irmão, do Ademir Castelari, com um interessante estudo sobre o tema.
4. Apenas um resumo do que é dito pelo Ademir: o Palmeiras, vejam só, tem um ticket médio que é quase 50% superior ao do Grêmio e que chega próximo de dobrar o que é cobrado pelo Cruzeiro. Acreditem: isso faz diferença em um país como o nosso.
5. Palmeiras e SPFC foram os dois únicos clubes a ter uma tabela regular neste BR-08. Por tabela regular, entenda-se a seguinte lógica: um jogo em casa e outro fora. Foi assim da 1ª à 19ª rodada. Ok, nada contra. Acontece que lá pelas tantas o campeonato teve duas partidas por semana. E aí coube ao clube do Morumbi jogar na sua casa durante seis finais de semana consecutivos, ao passo que o alviverde seguiu a ordem contrária: seis jogos em casa às quartas (às 21h50) ou quintas e outros seis como visitante, sempre aos domingos. Vale conferir a tabela abaixo, do Castelari:
6. Com jogos aos sábados e domingos e ingresso a R$ 20, os tricolores levaram, em média, 11.901 pessoas ao estádio. Já o alviverde, com duelos às quartas e quintas e ingresso a R$ 30, levou 14.377 pagantes. Pô, se a nossa média é "irritante", o que dizer da alcançada pelo nosso rival?
Conclusão: Nada contra usar números; pelo contrário. Mas é bem interessante interpretá-los antes de escrever bobagem.