O ponto central de toda a discussão sobre o Estatuto do Torcedor é este levantado pelo japonês e já abordado neste blog em outras oportunidades: políticos se propõem a fazer algo por alguém, mas não se preocupam em consultar este alguém. É basicamente o que aconteceu na gestação dessa Coisa, que é como o Estatuto passa a ser carinhosamente chamado por aqui.
O texto integral da Coisa está disponível na internet. Tomei a iniciativa de passar o olho por algumas tantas páginas e o que temos é baboseira atrás de baboseira. Com direito a inúmeros vetos, pedidos de inclusão e pareceres de órgãos como Ministério da Justiça, Advocacia-Geral da União e Ministério da Fazenda. Sim, da Fazenda!
As interferências no texto da Coisa seguem um padrão: “Ouvida, a Advocacia-Geral da União manifestou-se quanto ao dispositivo a seguir vetado”. É manifestação de um lado e de outro, e todos têm direito a palpitar. Quer dizer, quase todos, porque o torcedor, logo o principal interessado, não foi ouvido em momento algum. Não há nenhuma referência do tipo: “Consultado, o torcedor entende que...”. O texto tampouco procura justificar o porquê da legislação ou qual foi o cenário encontrado para determinar as mudanças.
Fizeram essa Coisa e agora preparam uma reformulação ainda mais restritiva sem se preocupar em consultar o torcedor, que parece ter espaço apenas no nome do tal dispositivo legal.
Entre os tantos relatores e envolvidos com a elaboração da Coisa, eu duvido que tenhamos algum freqüentador de estádio. Duvido que algum deles tenha colocado a bunda gorda no cimento da arquibancada. Duvido que algum deles saiba quais são as dificuldades que enfrentamos para comprar ingresso, chegar às praças esportivas e suportar os horários obscenos impostos pela emissora de TV.
Vê-se então que fizeram barulho enorme por muito pouco. A Coisa completa agora seis anos, e eu me atrevo a dizer que a situação piorou bastante de uns tempos para cá. Vejamos:
1. A repressão aumentou;
2. Os benefícios imaginados não se fizeram notar;
3. Os estádios estão ainda piores;
4. O preço dos ingressos disparou;
5. A informatização atravancou o funcionamento das bilheterias;
6. Os horários ficam mais absurdos a cada ano;
7. O torcedor teve cassados alguns de seus direitos básicos.
Estes são apenas alguns pontos que ilustram o cenário atual, em uma demonstração de que a Coisa que ousam chamar de Estatuto do Torcedor serviu apenas para gastar verba pública e fazer o nome de uns e outros. Notem que a idéia era boa, mas ficou só nisso, pois a concepção foi toda ela prejudicada por uma miopia que persiste ainda agora, quando surge esse papo de reformulação.
Há provavelmente gente bem intencionada por trás de tudo isso. Talvez o próprio presidente Lula, que gosta muito de futebol, mas, observem, não deve repousar sua bunda no cimento arquibancada há décadas. Portanto, as boas intenções se perdem diante da politicagem, do discurso vazio e dos interesses escusos. E a Coisa deixa de fazer sentido a partir do momento em que o torcedor, o principal interessado, é tratado com descaso logo na elaboração da lei.
16 janeiro 2009
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13 comentários:
meu, o que tá achando do time do palmeiraS?
e o brasil?vamo la verdao
mas como seria a participacao do torcedor? eh complicado...
"Espero que Belluzzo seja eleito e, assim que tome posse, providencie a mudança do estatuto para que as eleições não aconteçam mais no início de temporada. Que atrapalhação! Isso precisa mudar de uma vez por todas". (Blog da Clorofila - 16/01/2009).
Aproveitando essa excelente idéia da Tãnia, Blog Clorofila, SOP, e mostrando a todos, situação, oposição e afins, que merece realmenteo o cargo a que se submeteu, o nosso futuro Presidente Belluzzo deveria sugerir ao Conselho, isso já no início de seu mandato, a mudança no estatuto, ou seja, ele abriria mão de 2 ou 3 meses de seu mandato em prol das próximas eleições se realizarem em Setembro ou Outubro de 2010. Com essa mudança acabaria com qualquer suspeita de oportunismo e as futuras eleições se realizariam antes do final de qualquer temporada.
Que a Mídia Palestrina incentive e divulgue essa sugestão, pois se torna fundamental aos anseios da Nação Palestrina
Irineu Curtulo
Falando em ingressos, já há informações sobre os preços que serão cobrados no Paulista e na Libertadores?
Rafael:
Ainda não vi nada. Estão cobrando R$ 30 lá em Ribeirão. Creio que vai ficar nisso mesmo. A não ser que um louco como o Gualtieri tome a dianteira da situação, ninguém seria capaz de aumentar ainda mais o preço em tempos de crise.
André:
Vale a pena você ler o post de alguns dias atrás, com o título "Sobre o "Forza Palestra"".
Irineu:
A idéia é boa.
Alessandro:
É tudo uma questão de boa vontade.
essa coisa é o Estatuto de quem mesmo? do torcedor?????? sério?
vou protestar contra a diretoira do SAO PAULO FUTEBOL CLUBE.......40 dias sem conquistar um titulo................chupa porcada hahahahahahahahahhahahahahahahahahahahahaha.........no morumbi o bicho pega dou porradaaaaaa
Pode ser também que os caras consultaram gente como esse bambi aí... Ou seja, dá na mesma.
Falando sério, muito provavelmente esse estatuto foi feito pela tal bancada da bola no Congresso. E todos nós sabemos a que interesses eles representam. O problema é que, curiosamente, eles são eleitos pelo dito "torcedor".
Nunca vi nenhuma convocação de massa para audiências públicas a respeito. A imprensa esportiva nunca se preocupou em divulgar isso com clareza. Enquanto isso, ficamos com essa sensação de impotência, se fudendo pra conseguir ir em todos os jogos e ainda tendo que escutar a média opinião pública nos chamando de marginais e vândalos.
A questão é que o futebol poderia mobilizar politicamente, o que vinha acontecendo há quarenta anos e até mais.
Eis porque é necessário alienar o torcedor, alijá-lo do estádio e vender o peixe do "conforto", como se fosse a salvação do que o próprio modus operandi criou.
Por isso mesmo nunca consultarão o torcedor. E por isso mesmo o torcedor é chamado de vândalo e marginal.
(detalhe que essa pauta que esse boçal arrota por aqui, como deve arrotar em todo lugar que vai, foi vendida pelo boletim da madame, naquela coluna escrota do 'típico torcedor do time'; no caso delas é um pleibói que, se você escutar no site, tem voz de bicha)
Fala Barneschi...
Uma coisa que me dá náusea, é esse papo mezzo modernoso mezzo marqueteiro que diz que "o torcedor tem que ser tratado como um cliente" (ou consumidor, sei lá, a idiotice é a mesma).
Incrível, as pessoas repetem isso, como se o fato de tornar-se "cliente" correspondesse a uma elevação de patamar para o torcedor. O cacete! Torcedor é MUITO MAIS que cliente, em qualquer escala ou sob qualquer parâmetro que se estabeleça. É uma figura quase que sagrada, tá além de qualquer relação comercial a ser medida por variáveis de mercado, comportamentos de consumo, a pqp.
Definitivamente: fodam-se com esse papo de lugar numerado e preocupem-se com o que interessa de verdade, para o torcedor de verdade.
Umas dicas, meus senhores:
- Preço dos ingressos
- Cambistas
- Transpore público
- Horário
Olha, tem bastante trabalho pra vocês.
Grande Teo! Isso rende mais um post.
Valeu e abraços!
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