Saudosa Maloca
Adoniran Barbosa
Si o senhor não tá lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um palacete assobradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mais um dia nóis nem pode se alembrá
Veio os home cas ferramenta
O dono mandô derrubá
Peguemos tudo as nossas coisa
E fumos pro meio da rua
Preciá a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
"Os homi tá cá razão
Nós arranja outro lugá"
Só se conformemos quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertô"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida
Que dim donde nóis passemos dias feliz de nossa vida"
***
“Febre de bola”, páginas 73, 74 e 75:
“A posição que eu escolhera – bem no centro, nos degraus do meio – indicava tanto uma certa empolgação (na maioria dos estádios o barulho começa no centro da arquibancada de casa e se irradia para fora; as laterais e as cadeiras só entram no coro nos momentos de grande entusiasmo) quanto um certo grau de cautela (no centro e lá embaixo não era lugar para um estreante temeroso).(...)
O momento em que atravessei a catraca do Lado Norte é o único que recordo de ter conscientemente agarrado um touro pelos chifres. Meu único rito de passagem, portanto, significou ficar em pé num pedaço de concreto, e não em outro; mas o fato de ter me obrigado a fazer algo que eu só queria fazer pela metade, e de tudo dar certo... foi algo importante para mim.
(...)Adorei aquilo lá, é claro. Adorei as diversas categorias de barulho: o barulho ritualístico e formal quando os jogadores entraram em campo (com os nomes dos jogadores entoados um de cada vez, começando pelo favorito, até ele acenar em resposta); o clamor amorfo e espontâneo quando algo empolgante acontecia em campo; o vigor renovado do refrão após um gol ou um período prolongado de ataque. (E até ali, entre homens mais jovens e menos alienados, ouviam-se aqueles resmungos futebolísticos quando as coisas estavam indo mal.) Depois do pânico inicial, comecei a amar aquela movimentação, o jeito com que eu era lançado em direção ao campo e depois sugado para trás novamente. E adorei o anonimato: eu não seria, afinal, denunciado. Passei os 17 anos seguintes lá.”
Adoniran Barbosa
Si o senhor não tá lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um palacete assobradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mais um dia nóis nem pode se alembrá
Veio os home cas ferramenta
O dono mandô derrubá
Peguemos tudo as nossas coisa
E fumos pro meio da rua
Preciá a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
"Os homi tá cá razão
Nós arranja outro lugá"
Só se conformemos quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertô"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida
Que dim donde nóis passemos dias feliz de nossa vida"
***
“Febre de bola”, páginas 73, 74 e 75:
“A posição que eu escolhera – bem no centro, nos degraus do meio – indicava tanto uma certa empolgação (na maioria dos estádios o barulho começa no centro da arquibancada de casa e se irradia para fora; as laterais e as cadeiras só entram no coro nos momentos de grande entusiasmo) quanto um certo grau de cautela (no centro e lá embaixo não era lugar para um estreante temeroso).(...)
O momento em que atravessei a catraca do Lado Norte é o único que recordo de ter conscientemente agarrado um touro pelos chifres. Meu único rito de passagem, portanto, significou ficar em pé num pedaço de concreto, e não em outro; mas o fato de ter me obrigado a fazer algo que eu só queria fazer pela metade, e de tudo dar certo... foi algo importante para mim.
(...)Adorei aquilo lá, é claro. Adorei as diversas categorias de barulho: o barulho ritualístico e formal quando os jogadores entraram em campo (com os nomes dos jogadores entoados um de cada vez, começando pelo favorito, até ele acenar em resposta); o clamor amorfo e espontâneo quando algo empolgante acontecia em campo; o vigor renovado do refrão após um gol ou um período prolongado de ataque. (E até ali, entre homens mais jovens e menos alienados, ouviam-se aqueles resmungos futebolísticos quando as coisas estavam indo mal.) Depois do pânico inicial, comecei a amar aquela movimentação, o jeito com que eu era lançado em direção ao campo e depois sugado para trás novamente. E adorei o anonimato: eu não seria, afinal, denunciado. Passei os 17 anos seguintes lá.”
12 comentários:
Tenho 57 anos, frequento o Palestra desde que comecei a tomar onibus sozinho e ver jogos domingo pela manhã, as 10 horas. Houve um Palmeiras e Cruzeiro na decada de 60 com 33.000 pessoas.Gente sentada nas marquises, um fotografo do Estadão ganhou um premio tirando a foto do gramado com a torcida e as 3 chaminés da Matarazzo atrás, pois o jogo assim como a foto deu-se em um primeiro de maio. Espero que o jornal a reproduza.vou sabado me despedir do Palestra e levo meu filho de 4 anos junto.Palestra Eterno.
Eu também vou a absolutamente TODOS os jogos no Palestra desde a metade dos anos 90.
É triste saber que muitos dos que apreciam e apoiam a ideia de uma arena moderna hoje, ficarão de fora quando ela for concluída. E aí já será tarde demais pra protestar. Infelizmente é uma pá de terra sobre o futebol como conhecemos e apreciamos...
NO AL CALCIO MODERNO!
vc ta comparando o parque com uma maloca??????????????
maloca eh coisa de galinha preta!!!!!!!!!!!
Meu caro Barneschi,
Eu já assisti, nos meus idos tempos de faculdade, um Palmeiras e Corinthians, à noite, no Parque Antarctica. Não havia divisão de torcidas. Ficavam todos misturados na arquibancada.Estávamos em quatro: dois palmeirenses e dois corintianos juntos, torcendo, com muita vibração, lado a lado, nas arquibancadas de um Palestra Itália lotado. Noite inesquecível! Meu coração está apertado! Naquela época nosso estádio era frequentemente chamado de "Jardim Suspenso", e tinha conceitos avançados de construção para a época (acho que ainda tem!). Sempre foi um orgulho! Estarei lá no dia 22/05. Será difícil elaborar esta perda! Amo esta nossa casa, espaço no qual pude viver as mais intensas alegrias da minha vida!Grandes conquistas! Grandes embates! Saudade eterna,velho Palestra! Abraços, Barneschi. Vai o estádio, mas ficam os grandes e apaixonados interlocutores como você.
Também estou com um medo danado do que irão fazer com o Palestra. Camarotes por todos os cantos, as temíveis cadeiras em 100% do estádio, mudança de nome (os tais naming rights de merda). Vai ser triste.
Só continuo apoiando esse projeto porque é provavelmente a chance única para a ampliação da capacidade, com o novo lance de arquibancadas e o fechamento da ferradura - apesar da paisagem ao fundo com as árvores do clube que deixará muitas saudades.
Lembro na época da votação dos sócios que você também deu seu apoio aqui no blog. Mas lendo este texto agora parece estar arrependido. O que mudou?
Abraço!
Anônimo 1
Cara, por favor, pense antes de escrever besteira.
Anônimo 2
Obrigado de novo!
Rafael
Cara, eu apoiei aquilo sem qualquer convicção. Foi mais porque parecia ser a coisa certa a se fazer em se tratando de quem estava do outro lado. Mas aí veio a decepção com a atual diretoria, os seguidos atentados contra o torcedor do clube e então eu percebi que não querem o verdadeiro torcedor do clube neste futuro próximo. Foi só isso.
Cara sinto saudade desde a chegada do setor visa, tomar nosso lugar no meio foi absurdo.
Agora fico imaginando onde será o setor "popular", provavelmente atras de um dos gols com não mais de 4.000 lugares.
Agora é torcer para até lá estar ganhando bem e conseguir manter as idas ao estádio.
Abraços
Zoinho
Zoinho, meu grande amigo,
Estaremos todos ganhando bem, mas eu te digo que, de alguma forma, por mais que queiram o contrário, os verdadeiros torcedores continuarão tendo o seu espaço. Porque a resistência está no nosso sangue. Contra tudo e todos, mesmo contra nós mesmos.
Abraços
Chega a dar uma dor no coração em pensar no fim do velho Palestra.Quantas emoções vivemos ali.Como você também votei a favor da construção da Arena e hoje depois de tantas mentiras e decepções me questiono se fiz o certo.
Voce sabe se o contrato com a WTorres foi finalmente assinado ou será mais uma ação eleitoreira?
Só pra constar a carteirinha de prioridade e desconto para os ingressos, também está disponível para os dependentes,hoje fiz para toda a família.
E logo no dia do meu aniversário, mano. E o ingresso pra esse jogo, ouvi falar que vão meter 100, 200 paus pra arquibancada... Pelo menos teremos alguns anos no Pacaembu...
Depois sinceramente não sei o que esperar, deviam preencher pelo menos 2/3 do estádio com "espaços populares", com no máximo assentos, pra torcida poder ficar de pé mesmo, como no Maracanã por exemplo.
"Onde houver injustiça haverá resistência"
Nobiliárquico Arauto dos Torcedores de Futebol.
Acredito que compareci umas 60 vezes, no mínimo à nossa casa. Desde a época em que o material da TUP era guardado em um "quartinho", embaixo da arquibancada, entrando pela Francisco Matarazzo. Muitas vezes carreguei material, desse "quartinho" até qualquer lugar da cidade que fosse necessário, sempre com uma Kombi que jamais soube direito de quem era (acho que era do pai do Kleber...).
Lembranças maravilhosas de lágrimas de completa alegria e de poucas tristeza, graças a Deus.
Pelas razões que já te falei,caso
seja possível, lembre-se do meu Febem-1. Eu não tenho condições de levá-lo e confio toda a minha herança em vc.
Fico te devendo, mas será uma lembrança que jamais se apagará do coração palmeirense do garoto....
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