Tem um monte de nego por aí que torce contra a Argentina "só por ser contra a Argentina". Não há argumento lógico, não há um histórico a justificar isso, não há coerência alguma entre o que se diz e o que se faz. O que existe, além de desinformação do povão, é uma rivalidade artificial, alimentada por setores retrógrados, engraçadinhos ou puramente preguiçosos da nossa mídia esportiva. Isso se reflete, por exemplo, em certas propagandas televisivas, muitas das quais apenas utilizam o reconhecido apreço do brasileiro pelo humor simplório para fazer piadinhas nada esforçadas.
Os hermanos, pelo contrário, apostam na exaltação do amor pelo pátria e pela seleção, qualquer que seja o momento. Nas vitórias ou nas derrotas, nas comemorações ou nos momentos de tristeza. Os outros países aparecem apenas como coadjuvantes, pois o que importa é o amor próprio, a certeza de que se está fazendo de tudo para que o seu país seja o vencedor.
No Brasil, as vitórias são tratadas com doses de arrogância injustificada ou como mera ocasião para festejos fora de época. Já as derrotas são vistas como oportunidade para fazer piadas, destruir ídolos ou mesmo criar teorias conspiratórias que sobrevivem ao passar dos anos. O brasileiro não hesita em se autodestruir, em derrubar aquilo tudo que foi construído, só para fazer graça. Aí joga-se tudo na conta do “bom humor brasileiro”. Ah tá. Eu sou mais um tango mesmo, um drama que convém mais ao espírito do futebol.
A própria mídia esportiva de cada país é um reflexo da sua população. É por isso que uma campanha que exalta o espírito guerreiro (sim, estou falando da Brahma) é prontamente rechaçada pelos nossos valorosos e indignados jornalistas, que chegam a estabelecer um vínculo entre o "ser guerreiro" e a violência nos estádios. Balela! Coisa de gente hipócrita, de falsos moralistas, dos juquinhas dos nossos jornalões ultrapassados.
Na Argentina, por sua vez, os comerciais já são concebidos para traduzir o sentimento do argentino pela sua seleção (e, acima disso, pelo país). Deixo-os com alguns exemplos, os mais óbvios, só para começar a comparação:
E aí? Entenderam agora o porquê de eu torcer pela Argentina?
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"Soy Argentina", mas não só. "Soy Uruguay" também. Os motivos são bem parecidos com os que me levam a torcer pela Argentina, mas eis que o grande Flavio Gomes, no último sábado, conseguiu resumir tudo em um único (e brilhante) post. Aqui vai, na íntegra:
SONHO CELESTE
*Por Flavio Gomes
Não se pode ter medo de vencer. Essa é a lição que nossos hermanitos uruguaios devem absorver depois da vitória sobre o samsungs agora há pouco na encharcada Porto Elisabeth. Fizemos 1 a 0, recuamos, e acabamos cedendo à correria desembestada da Hyundai de Baixo. Aí aprumamo-nos e pimba.
Foi um pouco do retrato do que são esses dois países. A Coreia aceleradíssima, com seus néons, suas TVs de 3D, seus Tucsons e Souls, sua economia emergente, exuberante, alucinada. O Uruguai em marcha lenta, que para para tomar chimarrão, que contempla o rio da Prata, que não tem pressa, que deixa o tempo passar porque, afinal, ele vai passar de qualquer jeito, ninguém consegue ser mais rápido que ele.
Ah, Uruguai… Dos pequenos quiosques, da Patricia, de Gardel, do Peñarol, de Punta, do Buquebus, dos antiquários, das feirinhas nas ruas, do Mercado do Porto, dos carrinhos velhos rodando valentes, dos domingos preguiçosos, dos táxis pretos com capota amarela, da bola que rola orgulhosa no Centenário… Não, não dá para torcer contra um país que tem duas Copas, dois ouros olímpicos, que fez o primeiro Mundial lá longe, em 1930, mesmo diante dos esforçadíssimos olhinhos puxados que correm feito loucos e têm nomes de calça lee e sobrenomes com hífens.
A Coreia do Sul nem vai perceber que saiu da Copa. Amanhã suas fábricas despejarão no mundo milhões de carros, TVs e aparelhos de som, países como esse não param e não se dobram a uma derrota no futebol. O Uruguai, não. Nosotros precisamos dessas coisas.
Aguante!
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E as cervezas do Uruguay também mandam bem na hora de mostrar o amor do povo pelo país. Isso sim é patriotismo:
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Vocês entendem agora a vergonha que eu sinto a cada vez que ouço um grupo de brasileiros cantar "Eu sou brasileiro/ Com muito orgulho/ Com muito amor"? V-E-R-G-O-N-H-A! O Brasil não tem torcida em eventos assim; o que o Brasil tem é um agrupamento de pessoas patéticas fazendo um país inteiro passar vergonha.
Tommaso Mauri
Há um dia