11 maio 2012

Rádio Bandeirantes, 75

Devo confessar que não cresci ouvindo a Bandeirantes. Parece estranho e até condenável hoje, mas passei as minhas infância e adolescência futebolísticas tendo a Jovem Pan como companheira. A Jovem Pan, digo aos mais jovens, não era a excrescência de hoje. Pelo contrário, uma vez que tinha uma equipe de jornalismo das mais respeitáveis, com dois dos nomes que me fizeram escolher o jornalismo como profissão: José Silvério e Milton Neves. E mesmo os outros integrantes da equipe titular, Flavio Prado, Wanderley Nogueira e Quartarollo, não eram essas figuras desprezíveis de hoje. Aliás, sugiro a leitura disso aqui.

Pois bem, a Bandeirantes não foi a “paixão” da minha adolescência, mas foi a emissora que eu passei a ouvir já na fase adulta, talvez fruto da maturidade que chega ali a partir dos 20 anos de idade. Para ser preciso, a mudança se deu a partir dos 19, não à toa coincidindo com o período em que José Silvério, o monstro sagrado da narração esportiva, seguiu de uma para a outra. A equipe da Bandeirantes já era melhor então (e até antes disso), mas Silvério fez a balança pesar de maneira irreversível. Quando, anos depois, Milton Neves seguiu o mesmo caminho, aí é que não havia o que comparar.

Lá se vão 10 anos (ok, 12!), e fiz todo esse introito para indicar aos palestrinos o livro/cd (ou audiolivro) que a Bandeirantes acaba de lançar por ocasião de seu aniversário de 75 anos. Cada um dos quatro grandes paulistas ganhou uma edição especial, elas todas lançadas no último sábado no Museu do Futebol. A edição do Palmeiras tem a apresentação de Mauro Beting e Sergio Patrick:


Vale a pena porque o livro traz a história da Bandeirantes de maneira ilustrada e episódica e porque o cd traz muito da história alviverde, com direito a vinhetas clássicas da rádio (incluindo o logoton da emissora para o futebol), histórias do clube e alguns poucos gols.

Poucos mesmo. Confesso ter me decepcionado logo com o que deveria haver de mais rico no material: os gols com a narração original. Há, vejam só, somente cinco ou seis lances, todos recentes (de 2002 para cá). Impossível conter a frustração quando Beting ou Patrick falam sobre 1942 ou 1974 e ficamos sem a narração original para complementar e dar vazão à emoção que sentimos. A ausência de um material radiofônico mais amplo e de narrações históricas faz muita falta, mas se explica (conforme abaixo).

Por que faço a indicação mesmo assim? Porque o material é bom, porque a Rádio Bandeirantes tem uma importância enorme para o futebol brasileiro e porque, em um mercado editorial fraco e ainda mais preguiçoso, é de se louvar um lançamento como este. Fica sendo um documento histórico obrigatório para qualquer palmeirense.

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ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE:

O assessor de imprensa da editora Panda Books entrou em contato comigo para justificar o fato de haver um número bem limitado de gols e narrações históricas:

"A razão da ausência de gols mais antigos é simplesmente uma: direitos autorais. A Bandeirantes pode, de maneira gratuita e ao seu gosto, reprisar os gols durante a sua programação normalmente. Mas quando se trata de um negócio (elaboração de um livro com CD para comércio) existem outras regras para a execução, diferentes das de radiodifusão. Os entraves impostos à editora nesse aspecto inviabilizaram incluir a execução de gols antes do ano 2000."

Tá explicado. Agradeço a ele pela atenção e já excluo a crítica que fiz acima, até porque não levei em conta a questão dos direitos autorais. Fiquem só com os elogios.

9 comentários:

Fabio Camargo disse...

Rádio Bandeirantes, Mauro Beting e José Silvério. Três mitos, três lendas! Bela aquisição, mano! Abs

Pepe Reale disse...

Barneschi,

Eu cresci ouvindo a Radio Bandeirantes com o meu falecido avô, mas confesso que tb ouvia a JP por conta das narrações do Silvério, do Milton Neves e dos comentários irreverentes do Mauro Nobrega.

Assim como você, com a passagem do Silvério e posterior passagem do Milton pra RB, abandonei de vez a JP.

Adotei a mania do meu avô, dormir com o rádio relógio ligado na RB ouvindo o Bandeirantes a Caminho do Sol.

Quanto ao livro, ontem voltando de Barueri ouvimos no carro o CD e fiquei com o mesmo sentimento que você, de que faltaram mais narrações para ilustrar as histórias contadas pelo Mauro Beting e pelo Patrick.

Belo texto, grande abraço.

Fernando Cesarotti disse...

Cara, creio que eles não tenham esses arquivos, algum incêndio ou o escambau, se não me engano. Uma pena.

Eu tb cresci ouvindo a Pan e mudei pra Band com o Silvério. Hoje me divido entre ela e a Estadão ESPN por causa dos comentaristas e dos âncoras, especialmente quando é o Flavio Gomes, mas, no intervalo, dou uma escapa pra Bandeirantes pra ouvir como o Silvério narrou...

André / Americana disse...

Como entusiasta e como um graduado em comunicação social, sempre fui amante da transmissão de jogos pelo rádio. E acho que o responsável por isso é José Silvério, capaz de transmitir emoção como nenhum outro, dono de uma voz sem igual. Depois de conhecer a história dele então...

Esse livro é imperdível!

Anônimo disse...

Eu que nasci em 1990 já consigo perceber que antes tudo era mais profissional,sério e imparcial, imagine quem nasceu na década de 70,80 e vê como os caras tratam o futebol hoje, é uma vergonha, mas a bandeirantes e algumas outras poucas rádios ainda tem ao menos um pouco dessas qualidades de antigamente.

Bovi

Enrico disse...

Também cresci ouvindo a Pan, além da equipe esportiva tinha o Show de rádio que era muito bom, fiz a mesma migração para a Band e hoje com essa diversificação de rádios FM transmitindo futebol (ESPN/Estadão, Bandnews, Transamérica..) fico pingando de uma pra outra...
Vou atrás desse audiolivro, valeu a indicação!
Abs

ULTRAS LAZIO 1900 disse...

JP era foda nos anos 90, era disparado a melhor rádio esportiva. Cresci escutando somente ela, só tinha fera, vários programas foda, quem não se lembra do programa "No pique da Pan" que era apresentado nas segundas a noite? José Silverio pra mim é sem dúvida o melhor narrador esportivo que já ouvi, respeito os outros como Fiori Giglioti e Osmar Santos
Barneschi, não sei se vc se lembra, quando saímos da fila em 93, a JP lançou uma fita K7 para vender com os melhores momentos da final (4x0) contra os gambás com a narração do José Silverio e os comentarios do Milton Neves, muito foda, tenho até hoje essa fita K7, sempre que a escuto me emociono. Uma parte que não me sai da cabeça é a narração do primeiro gol : ....."Zinho continua pedindo a bola, Henrique vai por baixo e tira dali, mas a bola voltou pra Zinho, penetrou, bateu e é GOL (gol, gol gol, gol)...

Gustavo Moraes disse...

Interessante o seu comentário sobre o flavio prado, pois sempre assistia o cartão verde na tv cultura e gostava da forma como ele e o trajano conduziam o programa. Hoje em dia não suporto ouvir uma frase sequer de nenhum dos dois. Será que a idade fez mal pra eles?

o livro parece ser fantástico. Eu sempre acompanhei o futebol mais pela tv, via as transmissões pela tv bandeirantes nos anos 90. Naquela época a transmissão era fantástica! A cobertura dos jogos era completa e o profissionalismo era exemplar. Hoje em dia a tv bandeirantes virou um circo. Em compensação, a bandsports conta com mta gente boa, entre eles o sergio patrik que integra o livro em questão.

No rádio acompanho hoje em dia as transmissões da estadão/espn e de vez enquando a bandeirantes (se o zé silvério estiver narrando).

Chega a ser curioso a evolução de alguns veículos de comunicação e o retrocesso de outros.

grande abraço!

BrunoBatera disse...

Eu, ao contrário de todos por aqui, cresci ouvindo a Rádio Globo, por 2, 3 anos com Osmar Santos e depois do acidente com Oscar Ulisses. A equipe contava com P. R. Martins e Maltoni nos comentários, Paulo Soares, L. R de Mucio (elel era bom na época, hj, nem tanto) e Wanderlei Ribeiro nas narrações, Carlos Lima, Kalil e outros que não me lembro nas reportagens. Só que pra mim, o melhor de tudo era o tema dos gols. "É gol, é gol, é gol, é gol, GLOBO... DO PALMEIRAS!!!! A torcida está vibrando e a rádio Globo traz a emoção!!!! EVAIRRRRRRRRRR, o matador!!!! Esporte é Globo é alegria, é festa brasileira, é show, é futebol!!!!"