Flavio Prado já foi um cronista esportivo de respeito. Corriam os anos 90, tempos gloriosos da Jovem Pan AM, e a ele faziam companhia o imortal José Silvério e um Milton Neves que era então apenas um radialista em rápida – e merecida – ascensão. O tempo passou, Silvério e Neves foram para a Bandeirantes, e Prado estacionou.
Pior: caducou. A ponto de se tornar hoje um panfletário que não se cansa de repetir o mesmo bordão: “Não vá ao estádio”. Prado, que não vai aos campos já há anos, põe a culpa na violência e fica comentando jogos às quartas e domingos não com a visão que se tem a partir da cabine de transmissão, mas com base na imagem pasteurizada da TV em algum estúdio com ar-condicionado.
Trocou o estádio pelo estúdio, e a coisa vem se agravando dia após dia. De uns tempos para cá, Prado deixou de apenas culpar os “vândalos” e “bandidos” das torcidas organizadas. Agora ele ataca qualquer um que compareça a um estádio de futebol, mesmo o dito "torcedor comum". São rotineiras frases como “O cara que vai ao estádio na quarta-feira às 22h é bandido, vagabundo ou idiota”.
Sim, Prado diz isso no ar, seja na Jovem Pan, seja na TV Gazeta. E o faz naquele tom raivoso que caracteriza seu comportamento recente. É um jornalismo panfletário, coisa da pior qualidade.
Acontece que o fato de fazer tudo do estúdio já há longos anos torna o comentarista da Jovem Pan inapto para fazer qualquer recomendação, em especial porque ele já não sabe mais – se é que soube algum dia – como são as coisas nas imediações de uma praça esportiva.
Prado sofre de um problema inerente a grande parte dos principais formadores de opinião na nossa imprensa esportiva: ele comenta futebol sem ir a estádios.
É assim com alguns de seus companheiros de bancada. É assim com Juca Kfouri (que prefere ficar com a bunda no sofá vendo cinco jogos ao mesmo tempo sem perceber que não consegue assistir a nenhum por completo). É assim com Milton Neves, hoje mais um animador de auditório que jornalista.
É assim com qualquer desses apresentadores de telejornais e programas esportivos ou de variedades. É assim com grande parte dos editores de jornais impressos, revistas e portais de internet, logo aqueles a quem compete impor uma linha editorial para seus veículos. É assim, em suma, com os que têm poder de formar a opinião pública.
Eles todos não vão a estádios. Não conhecem as dificuldades para se comprar um ingresso, não entendem as dificuldades de acesso, não sofrem com os horários inadequados, tampouco com o horário vagabundo para venda dos ingressos. E nunca devem ter visto uma briga ao vivo. Falam, portanto, sobre algo que desconhecem.
E eis então que a Folha de S.Paulo do último domingo, 22 de fevereiro, trouxe um artigo de Paulo Vinicius Coelho sobre o assunto. Está aqui, com o título “Os bandidos estão vencendo”.
Informo que tenho lá minhas divergências com PVC. Mas o respeito, e isso nada tem a ver com seu time de coração, mas com o fato de ele freqüentar estádios de futebol mesmo com as tantas atividades que acumula. Discordo também de alguns pontos da coluna em questão, mas aceito as opiniões do jornalista e me sinto à vontade para destacar três pontos:
1. PVC diz que muita gente abandona os estádios, menos nós, os torcedores organizados. É verdade; já estive em jogos com 1.200 pagantes, e a grande maioria era da Mancha. O mesmo vale para um Palmeiras x SPFC no Morumbi com 1.300 torcedores: eram duas aglomerações bem definidas, uma de cada lado - e só.
2. Ele ressalta que não é possível eliminar a violência sem entender do assunto. E é, vejam só, exatamente o que acontece agora, pois colocaram na história um promotor, o tal Hossepian, que assume não ir a estádios. Bizarro.
3. Por fim, o colunista apresenta um belo argumento para relativizar a violência que alguns imaginam existir em um estádio de futebol. E é com ele que eu fecho o post:“Não, não vou dizer para você ir ou levar seu filho ao estádio. Digo apenas que eu vou.
Num sábado de sol, há um ano e meio, meu filho de sete anos e eu fomos a uma festa de aniversário. Ao descer do carro e colocar meu filho no ombro, senti um revólver na barriga e um homem estranho me segurando pelas costas.
Era um assalto em plena luz do dia.
Continuo pagando impostos e cobrando segurança. Nunca vou deixar de ir a festas de aniversário.”
***
E é também por isso que nos vemos amanhã à noite lá no ABC.
20h30 ali nas imediações do Anacleto...
E é também por isso que nos vemos amanhã à noite lá no ABC.
20h30 ali nas imediações do Anacleto...
18 comentários:
Não tenha dúvidas.
Ir ao estádio é uma terapía.
Participem!
"Construir para poder conquistar! Acreditar sempre!"
Belíssimo Barneschi, parabéns.
Aqui é um espaço extremista, sua visão é extremista, a versão apresentada aqui do estatuo do torcedor é extremista. Por isso acho essencial este post com a visão do PVC.
Eu frequento estádios de vários jeitos, ultimamente no VISA. E ultimamente tenho gostado de levar minha filha. Entendo o estatuto do torcedor que você postou abaixo como uma visão extremada e um manifesto contra a pausterização. Por isso mesmo, algo me incomoda. E o que me incomoda é o excesso. Não o excesso do torcedor mas o excesso de regras: não sorria, não leve ao estádio, não isso , não aquilo. Pois o torcedor deve poder tudo. Eu entendo o seu estatuto como uma regra seguida pelo Teo. E confesso que sigo várias delas (por exemplo, minha filha está sempre de pé nos lances de perigo e quando conversa comigo sabe que é sobre o que acontece no campo - no máximo algum comentário sobre algo acontecendo na torcida). Mas cada um que tenha as suas e as siga.
Por isso acho importante sua colocação, elogiando o PVC. Os estádios tem que ser frequentados sim. Pelos fanáticos, mas por todos os fanáticos. Não pode se tornar seita nem reduto de organizadas. Que é o que quer o Flávio Prado, diga-se. Para que ele possa vociferar suas incoerências.
Abraços,
Pedro.
palmeiras x bichas com 1.300 pessoas no estadio????? vc tem crteza mano????
É foda, os caras vivem metendo o pau em organizadas, até no torcedor comum, como é o caso do Flávio Prado, mas sequer sabem o que se passa nas imediações de um estádio.
E além da ignorância, são mal intencionados, basta ver como protegem o Panetone e descem a lenha no Palestra, tudo por causa de "violência". E nós torcedores sabemos, onde é (muito) mais fácil acontecer alguma confusão. E é só um exemplo...
Os caras ainda vem falar de paz, mas não fazem PORRA NENHUMA que de alguma forma ofereça ajuda ao torcedor. Seja com relação a ingressos, denuncia do péssimo "serviço" da PM em muitos jogos, etc.
Pedro:
Obrigado pelo comentário, meu caro. Admito que ele me levou a uma importante reflexão. É fato que este blog se posiciona sempre de forma extremista e o próprio Estatuto do Teo vai nessa linha. Acontece que eu acho mesmo necessário tomar uma posição forte em contraposição ao que você mesmo aponta como ‘pasteurização’. Mas o fato de eu defender certos princípios não quer dizer que as pessoas devem fazer o mesmo. Pelo contrário, já que a diversidade é necessária. Pelo teor do seu comentário, fica evidente que você gosta de ir aos estádios, certo? Pois isso é o que importa, meu caro. E é louvável que leve sua filha, mais uma palestrina a honrar as nossas cores. No mais, você tem razão: o torcedor pode tudo!
Daniel:
Pior que sim, Daniel. Jogo válido pela Copa João Havelange/ Campeonato Brasileiro de 2000. Um sábado, 2 de setembro, às 18h. Perdemos por 3 a 0. Tivemos uma renda de R$ 16.580 e um público de 1.337 pagantes. Ouso dizer que é o menor da história do clássico. E me lembro com precisão do cenário: um vazio enorme, com uma concentração de torcedores no setor vermelho (nós) e outra no setor azul (os bichas).
Não só o Prado está ultrapassado, mas sim toda a crônica esportiva. E os supostos novos só estão no ar porque essa velharada reaça permite por eles repetirem o discurso imbecil.
Falta coragem na imprensa e a gente falava isso desde quando saímos cheios de idéias da faculdade. Tívessemos um bom fiador, quebraríamos essas merdas todas sem muito esforço.
Vou até ali ficar gritando na orelha desse boçal da prado: "VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!! VOCÊ É BANDIDO!!!" e já volto.
VÁ AO ESTÁDIO!!!
Esse slogan é muito bom, Palestrino.
NAO TEM COISA MELHOR QUE IR NO ESTADIO DE FUTEBOL.EU VOU E QUANDO MEU FILHO TIVER MAIOR VOU LEVALO TAMBEM.BRIGA TEM EM TODO LUGA.ATE AKI EM CASA TEM KKKKKKKKKKKKK
Tive uma idéia!
Acho que vocês deveriam registrar o domínio www.midiapalestrina.com.br (ou qualquer coisa que o valha) e listar na página inicial todos os blogs que se encaixam nessa categoria. Seria um portal de blogs.
Aí vocês poderiam ganhar mais visibilidade e respeitabilidade.
Paulo D. Prado
Pois é Barneschi.
Lembro-me de crescer ouvindo jogos, comentários e o Plantão Esportivo da Jovem Pan (excelente trabalho do Milton Neves.
Lembro-me de vibrar com gols palmeirenses narrados pelo Osmar Santos, na Jovem Pan.
Lembro-me de continuar vibrando com nossos gols na voz de José Silvério, com comntários de Orlando Duarte e reportagens de campo excelentes do Wanderlei Nogueira.
Lembro-me do Show de Radio, da Noninha, do Waldemar Fiume, da Radio camanducaia...
Enfim, lembro-me de quando o jornalismo esportivo era íntegro e independente. Era capaz de divulgar informações imparciais e corretas, fosse quem fosse o prejudicado. Tudo a bem da verdade, dos fatos, da independência editorial.
Pela escola que tiveram, Flávio Prado e Milton Neves, ao se transformarem em jornalistas geneticamente mutantes, cuspiram no prato em que comeram.
Em Tempo: NÃO OUÇO BESTEIRA - JOVEM PAN, NUNCA MAIS....
Em tempo, veja que essas idéias contrárias às babaquices que imperam no futebol chegou às altas castas da intelectualidade brasileira. Mais credibilidade que isso, precisa?
Barneschi, há algum tempo atrás estava descendo no elevador aqui do meu trabalho para ir almoçar quando entraram 2 senhores(45 anos e olhe lá) conversando sobre estádios e futebol.E um disse para o outro:
-Rapaz! Deus me livre eu parei de ir em jogos faz uns 15 anos já.
E o outro:
-Por quê?
-Em um jogo que fui do Palmeiras, teve uma "briga" e um amigo meu que não tinha nada a ver com a confusão, levou uma pedrada na cabeça, eu fiquei tão assustado que nunca mais fui.
-Mas machucou sério ele?
-Não, só sangrou um pouco!
*Porra se for assim, eu não vou sair mais na rua porque ja fui assaltado, não vou mais em festa pq de vez em quando tem briga, em balada então..nunca mais, os seguranças quebram todo mundo.
É cada uma..
Abraços,
tava confudindo flavio prado (mais um mal carater na midia esportiva) com o flavio gomes que torçe pra lusa e vai sempre que pode aos estadios. por isso ia falando merda aki... ia dizer que o prado vai aos estadios quando quem vai é o gomes...
vai saber o que me fez confudir os dois... o fato de estar assistindo a ESPN talvez...
admiro muito o pvc... acho que ele tah certo... violencia tem em todo lugar... OLINDA que o diga no seu carnaval... eu que o diga na ILHA DO RETIRO... enfim... vamos nos trancar dentro de casa, ou de nós mesmos, para fugir da violencia??? ou vamos enfrenta-la como homens que somos e revidar quando atingidos???
isso não tem a ver com paixões clubistiscas e sim com atitude, com CULHÕES!!! se você não tem, FIQUE EM CASA.
abraços
FORZA PALESTRA E PELO SPORT TUDO!
Barneschi,
Eu cresci ouvindo a JP... Esses caras que vc citou eram meus herois.. Nao consigo entender como chegaram a esse ponto.. Faltou na sua lista o Wanderley Nogueira...
Outra coisa, eu estava nos dois jogos contra o SPFW e nao pertenço a nehuma das alas que vc citou... Nem sempre as coisas são como parecem...
Mas adoro seus textos...
Um abs
Samora Jr
Você escreveu um belíssimo e sensato post sem criticar ou denegrir o SPFC nem uma vez.
Parabéns (de verdade) e que faça isso mais vezes!
Eu, particularmente penso assim sobre nosso coleguinha: O Flavio Prado, além de ser um puta cara falso, tem uma estratégia bem simples. Ele faz uma campanha pros torcedores não irem ao estádio simplesmente porque se eles não forem, eles vão ouvir o jogo pelo rádio, e aí quem ganha é ele.
De qualquer jeito.. belo post, o espiríto é esse mesmo.
denegrir o spfw é um dever de todo cidadão de bem.
Prado:
Obrigado. Mas eu queria entender como é que você muda de personalidade tantas vezes em tão pouco tempo?
Samora:
É claro que não havia só as torcidas organizadas. Tínhamos um “torcedor comum” (para usar a expressão que a mídia cunhou) aqui e outro ali, mas as organizadas eram quase a totalidade do público presente, em especial ao clássico no Jd. Leonor em 2000. Valeu e abraços!
Fernando:
Obrigado. Elogios são bem-vindos. Críticas, mais ainda.
Caio:
Não é por aí não. Ele é reacionário mesmo.
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