16 abril 2010

Na medida exata

Fez o Palmeiras o que devia ter feito: não levou gol em casa e venceu. 1 a 0, belíssimo placar, melhor do que qualquer 8 a 1 de uns e outros. A vitória, simples, ganha uma dimensão maior se considerarmos o regulamento da Copa do Brasil. A bem da verdade, fui ao estádio esperando por este 1 a 0. Seguimos para Curitiba com uma vantagem que bem pode ser ampliada por lá mesmo.

Dentro de campo, o que se viu foi um time voluntarioso, brigador e raçudo. Um time que poderia até ter vencido por diferença maior - um pênalti deixou de ser anotado a nosso favor -, mas que saiu de campo com uma vitória convincente. As limitações são enormes, todos sabemos, mas esta noite serviu para aplacar um pouco a desconfiança. De quebra, ainda vimos o refugo que veste a 10 do time do Paraná ser expulso; eles perderam a única jogada que tinham para o jogo de volta.

Curitiba nos espera para a decisão da vaga.

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TUDO ERRADO

Mais de 20 mil deram as caras no Palestra Itália, mesmo no absurdo horário das 19h30. Não à toa, o fluxo de torcedores não cessou pelo menos até os 35 minutos do primeiro tempo. Milhares não viram o único gol do jogo, lá pelos 15 minutos; ficaram presos nas filas do lado de fora, nas catracas de acesso, em toda sorte de intempéries que devem ser enfrentadas e superadas pelos bravos cidadãos que decidem assistir a um jogo de futebol nesta metrópole. O horário das 19h30 em uma cidade como São Paulo, anotem aí, um dia será responsável por uma tragédia.

Quem entrou, no entanto, não teve vida fácil. É aqui que chegamos ao terreno da reconhecida incompetência (e má vontade) da S.E. Palmeiras para tratar o seu torcedor. Vejam os senhores que a decisão de ceder alguns setores do estádio a grandes corporações resultou em situações como estas que podem ser observadas abaixo. Para efeito de sensibilização das empresas, os nomes serão expostos aqui (o que normalmente não acontece).

1. Setor Visa


É um caso antigo, e este blog já cansou de ser crítico quanto à decisão de colocar cadeirinhas e fechar o mais nobre de todos os espaços do que um dia foi a arquibancada do Palestra Itália. Tanto é assim que o Setor Visa sempre foi tratado por aqui por nomes menos pomposos: Setor Câncer, por exemplo. O que se viu na quinta:

Tivemos mais de 20 mil pagantes. Não cabia mais ninguém na arquibancada e as numeradas estavam cheias também. O Visa, no entanto, tinha uma ocupação reduzida, como os senhores podem observar na imagem acima: algo entre 35% e 40%. É a prova de que o público que vai até lá é formado em sua maioria por oportunistas ou por 'torcedores' (?) de ocasião.

O Setor Visa (ou a Visa?) acabou com o setor mais nobre do Palestra Itália. Acabou com a pressão, segregou os espaços, tirou lugares da arquibancada. E agora, em jogos como o desta última noite, tem gente que fica para fora enquanto enormes vazios se formam bem no meio do campo.

2. Setor Itaucard

Como se não bastasse uma, temos agora duas empresas do mesmo setor a ocupar espaços importantes do Palestra Itália. O local antes conhecido como Setor Família foi agora segregado, e é frequentado apenas por quem compra os ingressos com o tal cartão Itaucard (confere a informação?). Eu e os outros torcedores de arquibancada não podemos ir até lá. Mas a novidade deste último jogo é que o sujeito que compra o ingresso para aquele lugar também tem sua capacidade de locomoção reduzida.

Assim, no intervalo do jogo, centenas de pessoas ficaram espremidas na escada de acesso ao Setor Itaucard. Não por nada, mas porque queriam simplesmente ir ao banheiro (o que é meio complicado no pequeno espaço daquele setor). No entanto, por ordem de sabe-se lá quem, as pessoas foram impedidas de descer. Foram retidas na escadaria, enquanto os "cabeças-de-pinico" (nobres figuras que não estudaram e aí foram parar no 2º BPChoque) ficavam na contenção, por vezes disparando palavras pouco educadas em direção ao grupo de torcedores.

Foi uma cena bizarra: pessoas querendo ir ao banheiro e sendo impedidas pelos bravos e valorosos policiais militares. Tem mais gente por aí precisando arrumar o que fazer...

A incompetência de nossos dirigentes é comovente.

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"Febre de bola", página 224:

"Em que nós todos estávamos pensando naquela tarde? Como pôde o confronto entre o Liverpool e o Forest ter ainda mais uma segunda partida? De certa forma, tudo faz parte da mesma coisa. As razões que me levaram a ir ao jogo entre o Arsenal e o Norwich, e a adorá-lo, foram as mesmas que haviam me levado a assistir à final entre o Liverpool e a Juventus depois da tragédia de Heysel, e é por essas mesmas razões que o futebol não mudou tanto assim em cem anos: as paixões que o jogo induz consomem tudo, incluindo o tato e o bom senso. Se é possível você se divertir assistindo a uma partida de futebol 16 dias depois de quase cem pessoas terem morrido em outra - e é possível, eu fiz isso, apesar do meu novo realismo pós-Hillsborough -, então talvez seja um pouco mais fácil entender a cultura e as circunstâncias que permitiram que essas mortes ocorressem. Só o futebol interessa, mais nada."

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Créditos das fotos

Setor Visa: meu irmão
Setor Itaucard: Rodrigo "Moacyr"

10 comentários:

Unknown disse...

podíamos lançar um livro né?

"Coisas que os desocupados podem fazer"

porra...os coxa tão de sacanagem né?

é piada isso...

Filipe disse...

O pinico na cabeça dessas nobres figuras, notem bem, é um pinico bambi.

Tudo a ver.

Unknown disse...

Olá, Barneschi!
O Palmeiras jogou como tem que jogar um campeonato desses.
Perfeito taticamente na marcação, apesar da nulidade ofensiva do adversário, e com o regulamento embaixo do braço!
Qto ao zagueiro deles, esse é um jogador que já mostrou que é um jogador desleal.
No Atletiba, ele pisou e chutou um jogador do Coritiba caído, dpois de marcada falta!
Na verdade, a intenção dele é criar clima pro jogo aqui, principalmente contra o Danilo que saiu brigado com o clube!
Agora, aguardemos a quarta-feira!
Abç!

Paty disse...

Nosso estádio dá pra ser comparado com as antigas civilizações gregas, da mesopotania...Nos camarotes os soberanos.Na coberta a nobreza e seus descendentes(parentes dos jogadores profissionais e dos diretores).Nas descobertas burocratas, artesãos e comerciantes(jogadores de base, tenistas,jogadores de basquete, volei,bocha...)e o que os que pagam ingresso e ficam de pé, pois demoram pra chegar e perdem lugar pros convidados do clube.Não cabia nem uma mosca, e lá estava eu disputando um lugar com os convidados.
Na arquibancada os camponeses e os escravos (sem maiores comentários), e no setor Visa os visitantes que devem ser bem recebidos e levar uma boa impressão para suas cidades.O setor itau nem sabia que existia, e se nem ao banheiro se pode ir vamos desconsiderá-lo,ou devemos compara-lo com a senzala ou pelourinho.
Eu odeio o setor visa, por sua causa sou uma sem "classe" , vou onde conseguir ingresso ou puder pagar.O pior é que sabermos que nunca irão desfazer esse droga, podiam pelo menos diminui-lo.
Que saudades que eu tenho da arquibancada enorme....onde eu pudia ir até com bebe. Não dá pra viver do passado, são novos tempos , mas nossos dirigentes continuam arcaícos.

Anônimo disse...

É meu caro, tristes tempos! De um lado os incompetentes, corruptos, medíocres, levianos tomaram conta do futebol! Do outro lado, "carmelitas descalças" repetindo discursos politicamente corretos que não levam a nada, apenas para ficarem bem na fita como "os legítimos amantes do futebol". Isso tudo está muito chato! No meio, estamos nós, os verdadeiros torcedores, desconsiderados e esquecidos por todos! Pobre futebol! Está perdenco a graça...Lamentável!

Daniel disse...

foi boa a vitoria... vamos empatar la

Eduardo disse...

A incompetência de nossos dirigentes é revoltante, isso sim...

O setor visa é o retrato de como ficará o Palestra Italia depois da reforma. Ou seja, um estádio sem alma.

Federico Erdocia disse...

Mais irritante é ter lido nos últimos dias uma notícia de que o Grêmio Barueri/Prudente/Sem Teto dá uma aula à nossa diretoria de como vender ingressos, de forma simples.

Botaram à venda um carnê, por 500 reais, prá todos os jogos do Brasileiro. O sujeito compra, na data do jogo troca por um ingresso, e pronto. Difícil, né??

Abs

Anônimo disse...

Barneschi,
Uma frase para você:
"O poeta não pode remediar mal algum, só é ouvido quando elogia o mundo, não, porém, quando o apresenta como ele é na realidade. Apenas a mentira produz a glória, a percepção não o consegue".
Hermann Broch, escritor austríaco

Abraço,

Giancarlo Arena disse...

Esse lance do Itaucard é sempre assim! Vc nao pode ir ao banheiro, nao poder ir para a arquibancada e também nao pode torcer. A unica vez que cometi esse grave erro, foi no Paulistao (mais uma vez enganado pelo falso beneficio de comprar o ingresso remotamente pela internet) foi uma das piores experiencias que tive em minha propria casa.

Falta de respeito da Instituicao, da Policia e dos funcionarios ali presentes, que esquecem, antes de tudo que estao trabalhando.