17 abril 2010

Una pasión

Houve um tempo, bem lá atrás, em que eu conseguia manter um blog com temática bastante mais ampla, e então o cinema tinha um espaço enorme. É algo que faz falta, admito. Eis então que um filme como "El secreto de sus ojos" ("O segredo dos seus olhos" por aqui) tem o mérito de aproximar o cinema do futebol com um brilhantismo poucas vezes visto. Esqueçam o Oscar e mesmo qualquer de suas muitas qualidades artísticas - não caberiam todas aqui. Bastaria, para considerar o filme uma obra de arte, as cenas onde o futebol é tratado com enorme respeito e reverência.

Vamos começar por aqui, em uma passagem que, mais do que comprovar o talento brutal dos argentinos quando se trata de cinema, é uma exaltação ao amor pelo futebol - e disso eles entendem como mais ninguém:

"Sandoval: Escribano, ¿qué es Racing para usted?
Escribano: Bueno, es una pasión, querido.
Sandoval: ¿Aunque hace nueve años que no sale campeón?
Escribano: Una pasión es una pasión.
Sandoval: ¿Te das cuenta Benjamín? El tipo puede cambiar de todo: de cara, de casa, de familia, de novia, de religión, de Dios... pero hay una cosa que no puede cambiar, Benjamín... no puede cambiar... de pasión."


Sem mais palavras depois disso...

Aí chegamos à cancha do pequeno Huracán para uma das mais espetaculares cenas já filmadas em um estádio (de qualquer esporte). Um plano-sequência irretocável:


Para finalizar, um making of desta cena:


***

"Febre de bola", página 115:

"Mas aí Alan Sunderland meteu o pé na bola e enfiou-a lá dentro, bem dentro daquele gol ali na nossa frente, e me vi gritando - não "Sim", "Gol" ou qualquer dos outros barulhos que como de costume vêm à minha garganta nessas horas - mas só um barulho, "AAAARRRRGGGGHHHH", um barulho nascido de felicidade absoluta e descrença atônita, e subitamente havia pessoas naquelas arquibancadas de concreto de novo, mas elas estavam olhando uma por cima das outras, ensandecidas e com os olhos esbugalhados. Brian, o garoto americano, olhou para mim, sorriu polidamente e tentou encontrar as próprias mãos naquele caos ali embaixo, a fim de erguê-las e aplaudir com entusiasmo que desconfiei que ele não estava sentindo.
Atravessei os exames finais flutuando, como se tivesse sido anestesiado com uma droga benigna e indutora à idiotice. Alguns dos meus colegas de estudo, doentes de insônia e apreensão, ficaram perplexos com o meu humor; outros, os torcedores de futebol, compreenderam e ficaram com inveja."

9 comentários:

Pedro Pellegrino disse...

Deve ter sido foda para o diretor torcedor do Independiente fazer essa cena no estádio do principal rival. Belo filme. Aquele final é bem inesperado.Grande abraço.

Luigi SEP 1914 disse...

Danilo, Danilo, Danilo!!!

Vai PALMEIRAS!

Anônimo disse...

Cara se não estou enganado, a cena do estádio não é no campo do Huracan, mas sim no antigo(hoje) estádio do Racing, acho que se chamava Peron este estádio.
Michel

Anônimo disse...

Opa falei merda, vejo agora o vídeo do making of, é no estadio do Globo mesmo
Michel

Anônimo disse...

Barneschi, o filme é de fato sensacional! Pobre de quem não sabe o que é uma paixão! E, se tem algo que admiro nos argentinos é justamente essa passionalidade, esse humor fino, essa gana de não entregar o jogo jamais...
Grande filme!

Unknown disse...

Me emocionou o post! Parabéns Rodrigo! Mil vezes Parabéns! Morei na Argentina e algumas vezes tive a HONRA de ver o PALMEIRAS jogar no Monumental de Nuñez em 99 (River) e La Bombonera em 2.000 (Boca), além de outros jogos locais. Lá futebol é para Homens e não para hipócritas (Caso do "racismo" do Danilo) como está virando por aqui no Brasil. Belo post! Há - ainda - pessoas inteligentes neste mundo que amam a arquibancada, vê que o futebol seja jogado por Homens! Chega de hipocrisia! Chega de setor Visa! Basta jogos as 21:50 hs da madrugada! Chega de politicagem! Por mais que tentem me cansar, eu não me canso: Arquibancada para cantar e vibrar! Palmeiraaaaaassss...

Anônimo disse...

O que é bacana, é que lá fora, o futebol e seus personagens são retratados com paixão independente, quer dizer, mancha verde do time em questão. Não precisa ser o time da massa, não precisa ser o time da moda, basta ser um time com uma torcida apaixonada. Assim é na Inglaterra e em tantos outros lugares. Aqui no Brasil, paixão é associada a quantidade. Gambás e Urubus são os torcedores mais "apaixonados", como se uma mãe de 7 filhos fosse mais amada que uma de 2. Puxação de saco barata da nossa midiazinha incompetente que busca o caminho fácil da audiência.

Anônimo disse...

OFF: vi que num post voce disse que vinha a Curitiba ver o jogo contra a Brisa. So pra te avisa que nao tem mais ingresso pra visitante, acabou tudo de manha, entao, se vier, o jeito é cambista.

Craudio disse...

Belíssimo filme, e a parte em questão é, de fato, o ponto crucial da trama. Talvez muita gente não entenda essa obra por conta disso...