É hora de voltar. Os últimos três meses foram marcado pela redução acentuada no número de posts, sendo que lá se vai um mês sem qualquer atualização. Não pensem os senhores que isso tem algo a ver com episódios tão recentes quanto desagradáveis. Não tem. O período de abstinência se deve a situações pessoais (todas elas muito boas, diga-se) que tornaram compulsório o breve afastamento (do blog, mas nunca dos estádios e da luta pelo Palmeiras). Se isso coincidiu com uma época assim tão esquecível, tanto melhor.
Eis que é hora de retomar a vida por aqui, e isso acontece em um período em que se multiplicam as notícias ruins, já quase uma constante na rotina do palmeirense. Passei o último mês em um saudável e necessário recesso, boa parte desse período fora do país, e aí, olhando de fora, fica mais fácil refletir e chegar a algumas conclusões.
Vivenciar o Palmeiras de hoje significa sofrer de maneira antecipada, uma vez que sofrimento é quase tudo o que podemos esperar deste 2013 que se desenha tão tenebroso quanto foi o último semestre. Tudo parece conspirar contra, ainda mais porque as notícias que vêm dos rivais e dos inimigos são o inverso das nossas.
O que preocupa, senhores, não é tanto a certeza de que teremos um 2013 terrível, mas sim a constatação de que estamos ficando para trás muito rapidamente. É fato que já passamos por um rebaixamento antes e que já vivemos uma longa fila de 17 anos sem título, mas os tempos eram outros, e, tanto no descenso quanto no jejum, tivemos um prejuízo, digamos, reversível.
Afinal, pergunto aos senhores: o que mudou no futebol - e no mundo - entre 1976 e 1993?
A resposta é: muito pouco, quase nada. O Palmeiras passou longos 17 anos sem comemorar um título sequer, mas, exceção feita à ascensão do SPFC no começo dos anos 1990, nada de muito relevante aconteceu. Voltaram os títulos, ficou para trás o trauma e o Palmeiras logo recuperou espaço, prestígio e, prova inconteste do que eu escrevo, ratificou a posição de Campeão de Século.
Essa relativa imobilidade em meio às quase duas décadas sem títulos pode ser explicada por uma conjuntura que inclui a política brasileira (metade da fila na ditadura e a outra metade nos anos de redemocratização), a estagnação econômica (inflação em alta, desigualdade social acentuada, crescimento pífio), o cenário global do futebol (as ligas europeias ainda não haviam se elitizado e não havia espaço para aberrações como as atuais), as poucas inovações tecnológicas (em resumo: a internet comercial surgiu apenas em meados dos anos 1990), a interferência então limitada da emissora de TV (não havia TV a cabo, poucos jogos eram transmitidos ao vivo, a divisão de espaço entre os clubes era equânime, o repasse de dinheiro era mínimo), o baixo investimento privado (os contratos de publicidade eram irrisórios) etc.
Isso renderia uma tese, eu sei, mas serve aqui apenas para efeito de comparação com o que vivemos neste 2013.
Afinal, o que mudou de três ou quatro anos para cá? Vejam aí os faturamentos dos clubes, as receitas de publicidade (com os clubes tendo dezenas de patrocinadores), os contratos com a TV, as novas modalidades de arrecadação, os valores investidos em contratações e outros tantos números. Isso para não falar nos interesses políticos, nas falcatruas, nas ascensões de novos mafiosos da bola, na desfaçatez da emissora de TV, na maldita Copa-2014 e em todo esse jogo sujo que pauta o futebol brasileiro hoje. Some-se a isso tudo mais o que significa este maldito "futebol moderno" e os senhores terão uma noção bem clara de como as coisas estão mudando.
Em outras palavras: o Palmeiras ficou parado entre 1976 e 1993, mas o mundo também, e então o alviverde pôde seguir adiante, imponente como sempre. Agora, 2013, o Palmeiras já está parado no tempo há mais de uma década, e é logo uma década em que o mundo avançou (para o bem e para o mal) como nunca antes. Ficar parado nesse cenário, ao contrário do que acontecia em décadas passadas, significa ficar para trás. Muito para trás.
Então, para dar sequência ao raciocínio, vou emprestar parte de uma coluna recente (30/12/2012) do PVC no
Estadão. Ainda que discorde do uso de algumas palavras, ela sintetiza o momento que vivemos:
"Entre 2013 e 2014, o Palmeiras tem quatro pilares inegociáveis: 1. Gerenciar a nova Arena e fazê-la lotar em todos os jogos, ser um polo do futebol brasileiro; 2. Fazer o Brasil falar do clube no ano do seu centenário, mesmo com a coincidência com Copa do Mundo; 3. Fazer times competitivos e voltar a ganhar títulos; 4. Promover a reforma estatutária, capaz de fazer o clube olhar para fora de seus muros, como há anos não faz.
Comprometer-se com esses quatro pilares fará o Palmeiras voltar a ser novamente poderoso. Não atender a esses compromissos pode significar a queda num poço sem fundo e sem retorno. No momento em que o futebol brasileiro define sua nova elite, entre os que têm capacidade de investimento e ousadia para transformar sua marca em fonte de renda, ou o clube pisa no acelerador com a devida sabedoria, ou define seu papel na vala dos clubes médios."
O que está em jogo, palestrinos, é o nosso futuro. É a capacidade de o gigante Palmeiras sobreviver como tal. Vocês bem sabem o que eu penso da nova realidade do futebol, mas não é preciso vender a alma para o Palmeiras seguir em frente, imponente como sempre. Além de preservarmos a nossa essência, devemos combater e vencer o pior de todos os inimigos, aquele que está dentro dos muros do Palestra Italia. Há muito por fazer, e, mais do que nunca, a luta precisa acontecer não apenas na arquibancada, mas cada vez mais fora dela.