09 outubro 2009

Bons tempos...

Festa na arquibancada central do Palestra: eis aqui algo que faz parte de um passado que deixou saudades. Em vez do cimento que abrigou grandes tardes e noites da massa alviverde, temos hoje cadeirinhas metidas a européias. O lugar que sempre foi nosso deixou de receber torcedores para abrigar consumidores ocasionais. O que antes era sinônimo de apoio incondicional virou espaço para apatia, oportunismo e demonstrações gratuitas de insatisfação. Mataram a força do nosso estádio, mas parece que pouca gente se deu conta disso... É então que torna-se ainda mais relevante um vídeo como este, encaminhado pelo amigo Rogerio Barberi:
 

À explicação, que talvez nem se faça necessária diante do que os senhores acabaram de ver, e aos comentários deste blog: 

Os fatos Cléo, o Guerreiro, foi o maior presidente da Mancha Verde. Responsável por torná-la respeitada (e até temida) entre as demais torcidas organizadas, foi assassinado em 1988, apenas cinco anos depois de ter participado da fundação da MV. Virou lenda. Dias depois de sua morte, o Palmeiras recebeu o Cruzeiro no estádio Palestra Itália em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro. Houve homenagens a Cléo, incluindo o foguetório nos minutos iniciais. A torcida do Cruzeiro resolveu entoar cânticos ofensivos à MV e ao seu ex-presidente. A reação foi proporcional. Torcedores mineiros foram espancados, a PM veio para cima, houve o conflito generalizado, a guerra foi declarada. As duas torcidas, que nunca foram exatamente próximas, se tornaram inimigas. Depois desse dia, os cruzeirenses ficaram 20 anos sem dar as caras no Palestra Itália. 

Os comentários
1. Notem que, entre 1988 e 2008, o Cruzeiro veio decidir títulos ou classificações na nossa casa nove vezes: Copa do Brasil/1996, Copa do Brasil/1998, Brasileiro/1998 (dois jogos), Mercosul/1998 (dois jogos), Mercosul/1999, Mercosul/2000 e Libertadores/2001. Com medo, os mineiros nunca vieram...

2.
Os jornalistas dos anos 80 já apelavam para os mesmos chavões de hoje ao falar sobre
confrontos entre torcidas ou qualquer assunto parecido. A palavra "Lamentável..." já era a preferida dos narradores e comentaristas.

3.
Bons tempos estes em que podíamos correr pela arquibancada do Palestra ao menor sinal de confronto. Bons tempos estes em que o nosso estádio era um espaço de convivência.

4.
Ingresso a "seis mil cruzeiros", vocês ouviram? Sei lá quanto isso representava na época, mas certamente não se tratava de uma afronta ao torcedor do Palmeiras.
Bons tempos...

7.
A.C.A.B.

22 comentários:

Marco Túlio disse...

- Não entendi: onde ficava a torcida adversária nessa época?
- Alguém lembra-se e pode me dizer o quanto representava na época 6 mil cruzeiros (nome sugestivo hein)? Pq nem nascido eu nao era em 88.
- Barneschi, voce estava lá? Vc 'foi pra briga'?
- O que é "7. A.C.A.B." ? Não entendi...
abs

Rodrigo Barneschi disse...

Opa! Vamos lá:

Logo de cara, esclareço que não estava lá neste dia. Já era nascido, mas tinha apenas sete anos. O relato dos fatos deve ser creditado ao que ouvi de muitos amigos - a maioria manchas - que estavam no Palestra neste dia. Foi aí que começou o ódio contra o Cruzeiro.

Mas não foram poucas as vezes em que corremos de um lado para o outro em situações parecidas. Lembro mais claramente daquele Palmeiras x Flamengo pelo Rio-SP de 2002. A parte central da arquibancada ficou vazia de repente e muita gente tentou sair do Palestra depois que alguns bambis e mulambos tentaram invadir a nossa sede enquanto o jogo acontecia.

Quanto à torcida adversária, o espaço atual, no setor lilás, é bem recente. Os visitantes ficavam antes na curva da arquibancada, quase na divisa com a numerada descoberta. Acontece que o estádio não era todo fechado e havia um espaço vazio entre a arquibancada e numerada, permitindo que isso acontecesse. A partir de 2000, o lugar dos visitantes mudou. Antes disso, eles entravam pela Matarazzo (inclusive Santos, Flamengo e SPFW) e ficavam no canto em frente ao vestiário do Palmeiras. As brigas eram muito mais comuns.

Por fim, A.C.A.B. significa "All Cops Are Bastards".

Vifenix disse...

Boa
Já tinha visto esse vídeo, mas toda vez que vejo, até arrepia.
Queria ter vivido essa época....


Sobre as siglas A.C.A.B:
Também não sabia o que era..
Joguei no google, e se liga no que me apareceu:

ACAB - Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil

Logo pensei, que porra é essa...
Hahahah
Abraço

Anônimo disse...

vale lembrar que muitos bambis mineiros não voltaram para BH, pois muitos onibus foram apedrejados e não tinham condições de voltar....

Anônimo disse...

e tb se pode perceber que não é de hoje que a imprensa ou não sabe de nada ou é mal intensionaada, "...palmeirenses sem motivo algum encurralaram os torcedores mineiros..." hahahha isso sim é lamentavel...

sobre o Cléo...apesar de hoje não concordar com muitas cosias da MV....esse cara merece o respeito de todos os torcedores do Palmeiras, esse cara fez a torcida poder ir ao Morumbi bater de frente com a gambazada...

pedrogiunco disse...

Meu pai conheceu o Cleo, ele foi socio da inferno verde no inicio dos anos 80,ele me contou que a mancha nasceu da união de tres torcidas unifomizadas da epoca INFERNO VERDE,GREMIO ALVI VERDE E IMPERIO VERDE,E QUE A TUP MAIOR UNIFORMIZADA TINHA FAMA DE BUNDA-MOLE,E A MANCHA VEIO PRA POR RESPEITO.TENHO 13 ANOS E SOU AFIM DE SER SOCIO DA MANCHA .VALEU!!!!!!!!

Marco Túlio disse...

"A.C.A.B. é uma sigla que significa All Cops Are Bastards (todos os polícias são bastardos). Este lema é usado por torcidas de futebol da Europa (Hooligans, Ultras, etc) e grupos de rua (como Skinheads e Punks)"
Fonte: Wikipédia.
****
Hehe valeu por dar a dica.
Agora entendi pq esse ódio que vcs tem contra a torcida do Cruzeiro. É que eu dou do sul MG. Meu pai torce pro Cruzeiro, então eu não tenho nada contra o Cruzeiro. Já o Galo é como se fosse o 'gambá' mineiro. Os torcedores do galo sao tudo bandidos/marginais. Tipo os gambás mesmo. Mas a torcida do Cruzeiro é bem fraquinha mesmo... nao vai ninguem no Mineirão; eles nao apoiam; a vergonha que foi aquela final de Libertadore esse ano Meu Deus... O pior é que a Mafia Azul é aliada da TTI, nao é?
abs
PS.: Alguém 'mais antigo', mais velho aí pode me explicar quanto representavam na época 6 mil cruzeiros?? Não faço a mínima ideia. Tipo, pode dar exemplos só pra eu ter uma noção...
abs Obrigado

Anônimo disse...

so pra enfatizar
oxo, ooxo, os maria é tudo frouxo

Barberi disse...

Excelente post Barneschi, como sempre! Foi um de meus primeiros jogos, mas ainda me lembro com emoção, dos guerreiros com o rosto pintado de verde e branco, muitos com lágrimas desenhadas.

O centro da arquibancada, ficou vazio mesmo com esse "pequeno desentendimento", foi todo mundo pra cima dos marias (e não teve nada de proporcional, hehehehehe). Depois desse dia, não sai mais das arquibancadas.

6k, era o valor das cadeiras, mas para mim, na época, era uma verdadeira fortuna, já que (com 15 anos) mal conseguia pagar a arquibancada.

Abraço!

Barberi

Anônimo disse...

Grande post Barney, do caralho.

Não frequentava estádios na era pré-moderna, devia ser do caralho.


Abs,

Rodrigo Moacyr.

Nicola disse...

Sensacional!

Eu também não tinha a mínima idéia do porquê a torcida do Palmeiras tinha essa rixa com a do Cruzeiro... Até que um dia perguntei pro meu pai e ele me explicou com seus relatos, pois estava no Palestra nesse dia. E vejam que de fanático ele não tem nada, e diz ele que as marias mereceram, então...

Devia ser bem barato esse preço, visto que em 94 (acho que foi aqui mesmo que eu li) o ingresso de arquibancada custava R$6.

Puta sentimento estranho quando vejo esses vídeos do Palestra antigamente, não vivi a época mas sinto "saudades"... Pelo menos em uns 10, 15 jogos, consegui torcer pelo Palmeiras dali, na arquibancada central...

Depois vem uns idiotas aqui dizendo que se queremos um time disputado títulos tem que elitizar o estádio, tem que se adequar a modernidade e esse monte de asneiras. Porra, isso é pura má vontade... Se quem comandasse o futebol hoje tivesse um mínimo de consideração, criava uma lei, dizendo que pelo menos 70% dos estádios deviam ser compostos pelo cimentão mesmo. Pronto, acabou, manteriam a cultura dos estádios brasileiros... Mas não, o certo é "se adequar ao padrão FIFA".

Enfiem essa porra de padrão do cu, bando de filhos da puta!

Anônimo disse...

Hooligans...

Rodrigo Barneschi disse...

É isso aí, Nicola: em 94, quando o real passou a ser a nossa moeda, o ingresso de arquibancada custava R$ 6.

Quanto ao anônimo aí, não sei qual foi a sua intenção com o comentário evasivo, mas deixo aqui meu obrigado.

Unknown disse...

Caraca, velhos tempos, não ia, tinha 10 anos, mas lembro bem os anos 90 com torcida adversária onde vc disse, lembro q era moleque e ficava pouco depois da linha de meio de campo sentido piscinas. Canto comum era "Ê-ê-ê-ê Aqui no Parque não tem jeito de correr (e vai morrer)!"

E aquela bandeira como a bandeira da Suécia? Nunca entendi.

Preço de ingresso? Merreca, morava bem afastado, pegava 2 ônibus, comia um pernil e comprava o ingresso, sem pedir dinheiro pro pai, dinheiro de moleque da periferia que nem trampava.
Já hoje trabalho e nem sempre consigo ir.

Anônimo disse...

Esclarecedor esse post e muito bom o vídeo. O foguetório, o minuto de silêncio. Só faltou a transmissão da TV mostrar mais os fatos descritos pelo narrador.

E a imprensa da época realmente já mostrava seus preconceitos. Até entendo o narrador não entender o que acontecia, mas os não repórteres que estavam no jogo não imaginarem que os fogos eram em homenagem ao Cléo é muita incompetência.

E o outro lá dizendo que a torcida do Palmeiras partiu pra cima sem motivo aparente... O cara vira jornalista para quê? Não é para descobrir essas coisas que não estão claras na visão de alguns? É só perguntar a dois ou três que estavam lá no dia que saberiam facilmente. É como o Gabriel Manetta falou lá em cima, são mal intencionados mesmo.

Sobre os 6.000 mangos, após rever o vídeo entendi que esse era o valor para ir nas cadeiras numeradas.

* * *

Alex, a bandeira que parece ser da Suécia na verdade é do Parma, por conta da parceria com a Parmalat.

João disse...

Porra, excelente post. Eu já tinha ouvido relatos dessa briga com os mineiros, mas não imaginava que existisse um vídeo dela. Muito bom!

Essa discussão toda me lembrou da final da Copa Mercosul de 98. Pedi como presente de Natal pro meu pai que ele me levasse no primeiro jogo, lá em BH - eu tinha 14 anos. E aí fomos nós, de SP pra lá. Vimos o jogo na torcida do Palmeiras - perdemos por 2X1- e, na saída, como estávamos à paisana, nos metemos no meio dos torcedores mineiros pra tomar um ônibus pro centro da cidade. E não é que, no ponto de ônibus, com a rua completamente tomada por cruzeirenses, os mineiros começaram a dizer uns pros outros: "Cuidado, rapaziada. Os atleticanos tão por aí, porque são amigos dos palmeirenses. Muito cuidado!"

Aí eu, que ainda não sabia do perfil covarde dos cruzeirenses, pensei: "Porra, mais de 20.000 torcedores, jogo em casa, final de campeonato, e eles com medo de apanhar dos menos de 1.000 torcedores do Galo que aqui vieram?".

hehehehe Essas recordações de torcedor não têm preço...

Abraço.

Sergio Mendonça disse...

Ola amigo tudo ok? Tive o privilégio de conhecer o Cléo quando ainda não era presidente da Mancha e muitos outros daquela epoca. Mesmo não sendo da Mancha, pois pertencia a torcida BRIGADA VERDE, diversas vezes fizemos caravanas juntos para o interior e RJ. Embora TUP ter esta fama, na saida dos classicos e em jogos em outras cidades, saiamos todas as uniformizadas juntos e não tinha pra ninguém... A urubuzada cansou de correr no Maracana, era a maior festa; em Campinas saiamos ao lado dos nossos onibus até proximo a estrada, sem escolta da polícia ou coisa parecida. Estive no Minerão em 1980 num jogo do brasileirão que acabou 0x0, foi só um ônibus da TUP e não houve stress. O tempo passou, muitos ainda encontro nos jogos do Palmeiras, pricipalmente no Palestra, não usam mais camisa de torcida mas sempre estão lá. Falo para todos, se a torcida do PALMEIRAS hoje e respeitada e porque nos lutamos muito por isso. Hoje todos podem vestir a camisa do PALMEIRAS tranquilo e não vão precisar tirar e colocar dentro da calça, como acontecia no passado.

João Medeiros disse...

Grande Barneschi,

Bom, parece que sou o mais cascudo aqui do debate. Tenho 41 anos e muitas saudades do Palestra Itália de cimento e concreto.

Vamos por partes: A moeda no Brasil em 1988 era o Cruzado. Logo, o que o narrador falou ou foi de brincadeira, como o Barneschi salientou num comentário, ou sem querer, o que era muito comum dado o número elevado de vezes que a moeda trocava de nome e valor. Quem quiser conhecer um resumo da história monetária no Brasil pode acessar:

http://www.bcb.gov.br/?REFSISMON

Quanto à rivalidade dos Palmeirenses com as marias, eu já conhecia a origem. O nome do Cléo sempre foi muito comentado e respeitado pela Força Jovem Vasco.

Por fim, quero chamar a atenção para a quantidade absurda de bandeiras que embelezavam o Palestra nesse dia. E deixar uma pergunta ao procurador desocupado: Qual a participação das bandeiras na briga? Nenhuma.
Proibir bandeira é a maior idiotice que eu já vi. Mas tudo que dava alma e beleza ao futebol das minhas lembranças está acabando, o que é uma pena.

Abração amigo. Boa sorte amanhã contra o Timbu.

maradona disse...

opa vivi essa época pois vou em estadio desde de 78 e o q os amigos falarão é a pura verdade desde q surgiu a mv as outras torcidas passarão a nos respeitar.

Saulo disse...

Maneiro o vídeo.

Luciano Stinchi disse...

Eu tava esse dia lá. Tinha 12 anos e tava com meu pai na cativa. O pau quebrou mesmo. Só acabou a pancadaria quando um PM sacou o berro e deu um tiro pro alto..

Unknown disse...

Valew Barneschi, é por isso k o seu blog é o melhor da Midia Palestrina...
abraco