“O marketing está destruindo o futebol”. A frase é do grande Marco Bressan, o Teo, aquele mesmo do
Estatuto para o verdadeiro torcedor. Começo o post com a citação dele porque o momento pede algo nessa linha. A questão, amigos, é que o Palmeiras (ou melhor, algumas pequenas figuras que contaminam o nosso clube) resolveu virar as costas para os verdadeiros donos do estádio Palestra Italia.
O estádio Palestra Italia, cuja despedida oficial acontece nesta sexta-feira, não é de nenhum dos dirigentes que está hoje no Palmeiras, como não é de qualquer pessoa que possa ter estado à frente do nosso clube em qualquer momento de quase 96 anos de história. O estádio Palestra Italia pertence aos milhões de palestrinos, vivos ou mortos, que um dia já passaram por ele. É o estádio de todos os que, em algum momento e com qualquer pequena contribuição, tenhamos colaborado para fazer do Palmeiras o Campeão do Século XX.
O Palestra é meu, é de você que me lê, é de cada torcedor que leva o sentimento de palestrinidade para todos os cantos do mundo. O Palestra é de todos os que o amam e o frequentam desde os tempos idos do início do século anterior. Na sua despedida, um tanto tardia e atabalhoada, é verdade, era de se esperar que todos fôssemos convidados. Era de se esperar que a nossa casa recebesse bem (e de braços abertos, se possível fosse a uma estádio) quase 30 mil torcedores, e estes seríamos representativos de todo o povo que fez do Palmeiras o gigante que ele é.
Mas o Palmeiras, descomunal por natureza, tem entre seus dirigentes uma pequena figura que atende pelo nome de Rogério Dezembro. Pois bem, Dezembro já foi inúmeras vezes questionado e criticado por este blog e os senhores podem encontrar as referências por aí. Fiquem à vontade. Dezembro, vejam os senhores, é o nome por trás do malfadado
Avanti, o pior e mais vergonhoso programa de relacionamento entre um clube de futebol e o seu torcedor (ou consumidor, se tomarmos por base os preceitos do nosso marqueteiro-mor). Dezembro conseguiu jogar no lixo meses de trabalho e incontáveis boas ideias vindas de setores da torcida para apresentar um plano que valoriza não o torcedor de verdade, mas sim o sujeito que dispõe de mais dinheiro para investir em produtos de empresas outras (e não em ingressos).
Dezembro, contam-me, só vê dinheiro à sua frente. Dezembro, relatam-me – e tomo por base os relatos já que não tive o desprazer de conhecê-lo pessoalmemte –, é um elitista por vocação. Dezembro não é um dos nossos. Dezembro, ao invés de permitir que todo palmeirense tivesse acesso ao jogo de despedida do estádio que tanto ama, optou por promover um amistoso com ingresso mais barato a extorsivos, indecentes e obscenos R$ 80.
Fez isso o nosso diretor de marketing porque a ele não importam os sentimentos da massa alviverde – a palavra massa, diga-se, deve provocar asco em figuras elitistas como ele. Dezembro não quer o estádio tomado pelo palmeirense de verdade; Dezembro quer o torcedor do Setor Visa, quer o oportunista de ocasião, quer o sujeito que vai a campo não para empurrar o time à vitória, mas para participar de uma festa. Festa: é isso o que teremos.
O nosso diretor de marketing não quer no estádio aquele torcedor que passou as últimas décadas encarando sol e chuva no cimento da arquibancada. Não quer o torcedor que apoiou o time nos momentos mais complicados, na fila, na Série B, nas tantas temporadas perdidas. Nada disso; ele não reconhece o palestrino da arquibancada como dono da casa que ele ajudou a construir. Nada de convidar para a despedida quem viveu o Palmeiras em sua plenitude nas últimas décadas. Nada de priorizar a arquibancada, de valorizar o torcedor assíduo, de enaltecer o público que permitiu ao estádio Palestra Italia ser palco de dias e noites memoráveis nas últimas décadas. Nada disso; pouco importa quem fez do Palmeiras o que ele é.
Você, palmeirense humilde, está fora dos planos. Você construiu a história desse estádio, mas foi preterido agora. O que se quer é o torcedor disposto a pagar pelo menos R$ 80 por uma suposta festa e por um kit de amenidades. O que se quer é um torcedor que pode pagar (caro) pelo lugar antes ocupado por tantos e tantos de nós, os torcedores de verdade.
R$ 80 é um crime!
Dezembro pôs o marketing à frente do futebol. Dezembro pôs o marketing à frente do torcedor. Dezembro desrespeitou todos nós. Mas o pior mesmo é que o elitismo de Dezembro é aceito e levado adiante por quem está acima dele.
Pois é, Teo, o marketing está destruindo o futebol.
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Relativização necessária:
O marketing é imprescindível nos dias atuais, seja em uma empresa, em uma instituição privada, nas esferas governamentais, mesmo em uma sociedade esportiva. O marketing é necessário para a sobrevivência de qualquer entidade, e nem o futebol pode escapar disso. É fundamental, no entanto, que isso aconteça com parcimônia, com o devido respeito à cultura já previamente estabelecida e firmada – e aqui me refiro diretamente à essência do futebol, o esporte do povo.
O marketing deve funcionar como complemento das ações normais do futebol, elas todas voltadas ao torcedor na acepção do termo, ou seja, àquele que vai ao estádio. As ideias que despontam das ‘criativas’ mentes de nossos marqueteiros nunca devem se sobrepor ao interesse do torcedor. Elas não podem, em hipótese alguma, questionar o papel de quem frequenta estádios, tampouco criar obstáculos à presença de quem vai aos jogos não por algum incentivo, mas simplesmente porque ir ao estádio faz parte da sua rotina.
Uma iniciativa como a do senhor Rogério Dezembro, impondo a cobrança mínima de R$ 80 para o torcedor que quiser entrar na sua casa casa, é concebida para restringir o acesso de grande parte da torcida. Sim, pois R$ 80 é um valor inacessível para uma parcela considerável do torcedor. Mais até: é um valor incompatível com o caráter do jogo, um amistoso (como se isso fosse possível no contexto do futebol). É, sejamos claros, uma nota de corte.
Dirão alguns que o valor inclui uma conjunto de frivolidades, como revista, certificado e o escambau. Ok, eu respondo então que essa estratégia, que se assemelha a uma venda casada, não permite ao torcedor o direito sagrado de simplesmente adquirir o ingresso para o jogo e participar da despedida do Palestra. Porque o senhor Rogério Dezembro, refém de seu elitismo, não consegue compreender a premissa essencial do torcedor de futebol. Ele não entende que apenas uma coisa interessa ao torcedor: ingresso. Todo o resto é supérfluo e deve ser tratado como tal.
Ao condicionar a presença do torcedor no estádio à aquisição de outros itens, ele impõe uma dificuldade por vezes intransponível para muitos dos que gostariam de ir a campo só para ter uma despedida do estádio Palestra Italia.
As ações, registre-se, seriam válidas se não fossem obrigatórias. Eu mesmo, por exemplo, vou pagar R$ 500 (seriam R$ 620 se eu não fosse sócio) para poder disputar um jogo com todo o cerimonial lá no Palestra. O ingresso vem junto (e eu desprezo a numerada descoberta do senhor Dezembro para ficar na arquibancada), assim como uniforme completo e o escambau. Mas eu fiz a opção de pagar por isso, e é justo que o clube promova esse tipo de ação. O que não se pode fazer é condicionar a presença do torcedor ao desembolso de R$ 80 para um simples amistoso.
Encerro com uma pergunta para o senhor Rogério Dezembro:
Diz o material de divulgação da despedida que será distribuído um certificado de presença para quem for ao jogo. Isso vale para todos os setores, menos para a arquibancada. Não que vá fazer diferença, mas a pergunta é válida: por que, Dezembro, o torcedor da arquibancada não receberá o tal certificado?