Sob o efeito da saudade que nos irá corroer a partir da noite do próximo sábado, este blog persiste na série de homenagens ao imortal estádio Palestra Italia. Desta feita, resolvi eleger os 20 jogos mais memoráveis dos quais eu participei no Jardim Suspenso.
"Por que 20?", alguém haverá de perguntar. Sei que o usual seriam 10, número mais compatível com esse tipo de ranking, mas eu comecei a compilar os duelos inesquecíveis e percebi ser incapaz de fechar uma relação tão pequena. Foi aí que tomei a liberdade de ampliar para 20 jogos, o que me daria mais liberdade.
A lista contempla apenas jogos dos quais eu participei, como não poderia deixar de ser em se tratando deste blog. Mas, visto que não estive presente em apenas quatro jogos do Palmeiras em seu estádio nos últimos 10 anos (nenhum deles relevante), não há prejuízo. Sei também que vou me arrepender de algumas escolhas assim que publicar a lista e que vou lembrar depois de jogos que não poderiam ficar de fora, mas aí não tem volta.
E pra você, quais são os 20 jogos da história do imortal estádio Palestra Itália? Ou 10? Ou cinco? Aí vai os meus:
20. Palmeiras 1 x 0 Internacional/RS
Campeonato Brasileiro/1994 (11.09.1994) – 22.340
Da série "motivos pessoais para guardar um jogo na memória". Domingo, 16h, casa cheia. Jogo tenso, duro, como são todos contra o Inter/RS. O placar teima em não sair do zero. Flávio Conceição recebe a bola no meio e avança com ela. O petardo vem de longe, lá pro gol da piscina. No ângulo direito. A rede era aquela mais 'quadrada', sem curvas. A bola bate no ferro do fundo e morre lá dentro. A escalação: Velloso, Claudio, Antônio Carlos (Tonhão), Cléber e Wagner (Alex Alves); Flávio Conceição, Amaral, Paulo Isidoro e Rivaldo; Edmundo e Evair.
19. Palmeiras 1 x 0 Paraná/PR
Campeonato Brasileiro/1994 (08.10.1994) – 19.362
É mais pela coincidência: no sábado anterior, o Sport segurou um empate sem gols com o Palmeiras até os 44 minutos do segundo tempo. Aí a bola foi erguida para a área e, no meio de um bate-rebate, três zagueiros do Sport mandam a bola pra dentro. Uma semana depois, também um sábado, o Paraná segurava o 0 a 0 até os 44 minutos do segundo tempo. A bola chega para Antônio Carlos na intermediária. Ele recolhe, avança um pouco e dispara o chute de longe. Gol. De novo pro lado do placar. De novo no último minuto. As duas vitórias foram essenciais para a classificação alviverde. O time seria campeão poucos meses depois com uma campanha brilhante (31-20-6-5). Aqueles dois gols fizeram toda a diferença.
18. Palmeiras 6 x 2 Fluminense/RJ
Torneio Rio-São Paulo/2001 (30.01.2000) – 9.320
Tarde épica, bem ao estilo Felipão: do 0 a 2 no intervalo, com o previsível protesto da torcida, para o 6 a 2 no final. E aquele time, desacreditado no início do ano, arrancava para um título arrasador no Rio-SP.
17. Palmeiras 2 x 0 Guarani/SP
Campeonato Brasileiro/2000 (19.11.2000) – 22.221
Era um time desacreditado. Começou muito mal a tal Copa João Havelange, chegou a ocupar as últimas posições, só foi reagir nas rodadas finais. A arrancada foi coroada com esta vitória sobre o Guarani, um domingo à tarde com clima de redenção. Gols de Magrão e Tuta. Para mim, as melhores lembranças são anteriores ao jogo, com o Lapa H mais lotado do que nunca, e gente pendurada nas portas e nas janelas por toda a avenida Paulista e de lá até o estádio. O time daquela tarde: Sérgio, Arce, Paulo Turra, Galeano e Tiago Silva; Magrão, Fernando, Taddei e Flávio; Basílio (Juliano) e Tuta. Dá pra acreditar que o Marco Aurélio levou esta tranqueirada de quatro volantes e nenhum meia, à final da Mercosul e a uma classificação heróica diante do SPFC (1 a 1 no Pacaembu e 2 a 1 no Morumbi)? Pois foi assim que aconteceu.
16. Palmeiras 1 x 1 Santos/SP
Campeonato Brasileiro/1992 (06.04.1992) – 18.170
Só porque foi o primeiro entre mais de 400. Segunda à noite, Evair afastado pelo Nelsinho, gol de Alexandre Rosa. Um começo bem emblemático.
15. Palmeiras 1 x 0 Fluminense/RJ
Campeonato Brasileiro/2007 (14.11.2007) - 24.693
Não valeu de nada, mas foi provavelmente a última grande partida da carreira de Edmundo. Quarta à noite, tempestade em São Paulo, clima de decisão, quase de Libertadores. Vitória suada, gol de Rodrigão (!), torcida pronta para a guerra, juiz nos roubando em casa, o goleiro dos caras pegando tudo, enfim, o cenário ao qual nos acostumamos.
14. Palmeiras 3 x 0 San Lorenzo/ARG
Copa Mercosul/1999 (07.12.1999) – 26.197
Uma semana antes, a derrota em Tóquio. O time voltou ao Brasil para o segundo jogo da semifinal da Copa Mercosul - depois de derrota por 0 a 1 em Buenos Aires na ida. Em SP, casa cheia, apoio incondicional e uma vitória contundente: dois gols de Arce e um de Júnior Baiano. Estávamos em mais uma final.
13. Palmeiras 3 x 2 Fluminense/RJ
Campeonato Brasileiro/2005 (04.12.2005) – 26.996
Uma das poucas vezes na década em que o Palmeiras conseguiu se impor em uma decisão na sua casa. Em disputa, uma vaga na Copa Libertadores do ano seguinte. Jogo tenso, repleto de reviravoltas, que terminou com a bola de Correa cruzando toda a área para morrer no fundo do gol adversário. A vaga era nossa.
12. Palmeiras 1 x 1 SPFC/SP
Copa Libertadores/2006 (26.04.2006) – 18.621
Um empate que levou a uma eliminação pode entrar nessa lista? Sim, pode. Pois chegamos a este jogo com um time destroçado e sem técnico e todos davam como certa uma vitória do SPFC. Houve até, do lado de lá, quem falasse em invasão, tamanha era a confiança. Mostramos, no entanto, que alma não se compra. Encurralamos os visitantes, cantamos o jogo todo e, mesmo com o empate em casa, deixamos o estádio fazendo festa. Deste duelo, o que fica é a lembrança da nossa torcida cantando lá do outro lado, já com as luzes apagadas, e os visitantes calados lá do outro lado. Na volta, se não fosse a influência do pobre diabo que inventou um pênalti descarado nos minutos finais, a vaga teria sido nossa.
11. Palmeiras 5 x 0 Ponte Preta/SP
Campeonato Paulista/2008 (04.05.2008) – 27.927
O último título conquistado em casa. Pena que os bravos, valorosos e destemidos homens do 2º BP Choque, a pedido do promotor, estragaram a festa na arquibancada.
10. Palmeiras 6 x 1 Boca Juniors/ARG
Copa Libertadores/1994 (09.03.1994) – 18.875
Dizem alguns que pagamos até hoje pela vitória sobre o SCCP na semifinal da Libertadores/2000. Se é o preço a se pagar, até considero justo (ainda e apesar de tudo). Mas o que não é justo é se tivemos de pagar por esse 6 a 1 de 1994 com as duas eliminações seguidas para o Boca (2000 e 2001, com quatro empates). Por maior que tenha sido a goleada de 1994, não vale o preço exigido.
9. Palmeiras 3 (3) x 1 (2) Peñarol/URU
Copa Libertadores/2000 (11.05.2000) – 30.857
Das tantas noites felipônicas, uma que não é tão lembrada. Mas deveria. Jogo das oitavas, derrota em Montevideo por 0 a 2. Viemos decidir a vaga em casa. Abrimos 3 a 0 (dois de Marcelo Ramos e um de Nenem) e tomamos um gol. Aí Euller perdeu um pênalti - e outro nas cobranças decisivas. Marcos pegou dois e garantiu a vaga.
8. Palmeiras 2 x 0 Marília/SP
Campeonato Brasileiro Série B/2003 (15.11.2003) – 28.436
Sábado à noite, casa cheia, festa sem igual, torcida em perfeita sintonia com o time. Resultado: até Lúcio vagabundo, um incapacitado, mandou uma pancada lá da lateral que foi parar no ângulo do goleiro adversário. O gigante estava de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído.
7. Palmeiras 1 (5) x 0 (3) São Caetano/SP
Copa Libertadores/2001 (16.05.2001) – 29.284
Eliminado pelo Azulinho no Brasileiro/2000, o Palmeiras encarava novamente o time do ABC, desta vez na Libertadores do ano seguinte. Depois da derrota no Anacleto (0 a 1), o gol da vitória no Palestra parecia que não sairia nunca. Aí entrou Muñoz. Aos 37 minutos da etapa final, entra pelo meio da zaga, numa jogada improvável, e bate cruzado para levar a decisão para os pênaltis. Avançamos de novo.
6. Palmeiras 7 x 3 Cruzeiro/MG
Copa Mercosul/1999 (22.10.1999) – 8.293
Sexta à noite. Era o Cruzeiro do outro lado. Evair, El Matador, teve uma de suas grandes atuações com a camisa alviverde: os três gols foram até pouco. Fomos terminar a noite na delegacia, depois de muita comemoração no ônibus que, abarrotado, nos conduzia pela avenida Paulista. Bons tempos aqueles...
5. Palmeiras 3 x 0 River Plate/ARG
Copa Libertadores/1999 (26.05.1999) – 32.000
Este bem poderia ficar como o jogo do título. Derrota em Buenos Aires na ida, tensão na volta, um grande adversário. Alex teve uma atuação magistral. Fez dois golaços, Roque Jr. fez mais um, o Palmeiras alcançou uma vitória maiúscula. Estávamos na final.
4. Palmeiras 1 x 0 Cruzeiro/MG
Copa Mercosul/1998 (30.12.1998) – 29.540
Era o Cruzeiro do outro lado. Conquistamos contra eles a Copa do Brasil daquele ano, em maio, mas fomos eliminados por eles do Brasileirão, pouco mais de um mês antes deste jogo. Final da Mercosul: 1 a 2 em BH e 3 a 1 aqui para o Palmeiras. No desempate, numa terça-feira à noite, quase na virada do ano, Júnior Baiano dispara o chute de longe, o goleiro espalma e Arce, bem colocado, bota pra dentro. Campeão! Era o prenúncio do que viria em 99.
3. Palmeiras 2 x 0 SPFC/SP
Campeonato Paulista/2008 (20.04.2008) – 27.680
Dirão os canalhas da imprensa esportiva que este foi o "Jogo do gás". Diremos nós que foi o "Jogo da farsa". Tensão, clima de guerra, ódio. Vencemos. Vencemos na bola, na torcida, na alma. Mais do que passar à final do Paulista, superamos toda a pressão da imprensa contra o nosso estádio. Foi, mais do que nunca, uma vitória pelo Palestra.
2. Palmeiras 4 x 2 Flamengo/RJ
Copa do Brasil/1999 (21.04.1999) – 30.000
Os dois gols de Euller nos minutos finais bastam para explicar a inclusão deste jogo. Foi aqui que arrancamos para o título da Libertadores.
1. Palmeiras 2 (4) x 1 (3) Deportivo Cali/COL
Copa Libertadores/1999 (16.06.1999) – 32.000
O título da Libertadores; isso já bastaria. As lembranças desta noite fria não são tão claras, porque eu parecia entorpecido pelo significado daquela decisão. Lembro mais de abraçar meu irmão na hora dos pênaltis, com os joelhos postados no cimento da arquibancada, depois de todo o sufoco dos 90 minutos. E lembro muito, com precisão cinematográfica, de tudo o que sofri para conseguir os ingressos: a noite sem dormir, a invasão da Papa Genovese na madrugada, a manhã que chegava com a expectativa pelos ingressos, o empurra-empurra, a confusão que fechou o Turiassu na hora do almoço, o alívio com os ingressos na mão.
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Esta deveria ser uma semana dedicada ao último jogo do histórico imortal Palestra Itália. Homenagens, comemorações bem pensadas, matérias em jornais, a história sendo revista e eternizada para as próximas gerações, coisas assim. Deveria. Mas o nosso Palmeiras está tomado por almas pequenas, por pobres coitados, por uma infinidade de criaturas desprezíveis. Foi assim que conseguiram tirar o foco do que era a notícia mais importante dos últimos meses. Eles conseguiram. Não sei como, mas conseguiram.
A minha parte está sendo feita aqui. É pouco, eu sei, mas é o que está ao meu alcance. Obrigado a todos os palestrinos de verdade.
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“Febre de bola”, página 117:
“Esta litania terrível me fez perceber como a nossa vida é pavorosa durante nove meses, e que quando tudo termina tenho vontade de viver cada dia das curtas 12 semanas que sobram como se fosse um ser humano."