19 março 2012

Turiassu, 1840 (7)



*por Conrado Cacace, do Verdazzo.

"Cheguei à capital paulista em 1990, com 19 anos. Minha missão era fazer o cursinho e passar no vestibular, já no meio do ano. Uma de minhas primeiras preocupações, claro, foi aprender a me locomover na metrópole. Comprei um guia de ruas, e tentei entender o mapa.

Automaticamente, os primeiros pontos de interesse que meus olhos buscaram foram os estádios: Pacaembu, Morumbi, até o Canindé... e obviamente o Parque Antarctica, que era como eu chamava o Palestra. Buscava aprender como chegar aos campos onde finalmente contemplaria de corpo presente o Palmeiras, de quem só tinha a chance de ver o verdadeiro verde da camisa quando ia a Sorocaba, minha cidade, enfrentar o São Bento.

A preocupação seguinte foi aprender a andar de ônibus, conhecer as linhas que seriam as mais úteis. Reservei uma tarde apenas para fazer esse reconhecimento. A kitchenette alugada na rua Frei Caneca, perto da Peixoto Gomide, dava acesso facílimo à avenida Paulista, para onde andei por cerca de três ou quatro quarteirões, ainda sem saber exatamente para onde iria depois.

Na verdade, eu sabia. Ao chegar na Paulista, parei no primeiro ponto de ônibus e perguntei, meio que sem pensar: “Que ônibus eu pego para ir... ao Parque Antarctica?” Era óbvio que o primeiro local de minha nova cidade que eu precisava conhecer era o Palestra. E foi de Lapa 875-H que rumei pela primeira vez ao solo sagrado.

A descida na Turiassu foi inesquecível. Numa terça-feira à tarde, na cabeça de um menino recém-chegado do interior, não deveria haver nada que remetesse a uma partida de futebol. Mas a prosaica visão, logo de cara, de dezenas de varais de ambulantes cheios de camisas do Verdão me fizeram perceber que aquele lugar não era apenas um estádio de futebol. Era nosso QG. Era o lugar onde eu sempre queria ter estado na vida. Muito prazer!

Ainda sem saber o que fazer, olhava para as dependências do clube através das grades. O outro lado da Turiassu, apinhado de bares com a fachada alviverde, com nomes fazendo referência ao Palmeiras, davam uma sensação de aconchego única. Prazer intenso mesmo foi quando consegui avistar um trechinho da arquibancada, vazia, ensolarada. “É aqui!”

Pelo portão principal, havia uma passagem para a loja do clube, conhecida à época como boutique. Perguntei ao segurança se podia entrar, como se não fosse óbvio. E achei que poderia comprar minha primeira camisa oficial do Palmeiras - mas o preço era proibitivo. Consegui, depois de pechinchar, uma camisa de basquete, regata, lindíssima, com o número 6 às costas – correspondia à camisa usada pelo zagueiro Eduardo. Foi o que deu pra arrumar.

Voltei para casa feliz da vida. Teria histórias para contar aos novos colegas no dia seguinte, e aos meus amigos de minha cidade, no fim-de-semana. Mas não foi no primeiro fim-de-semana: fiquei na capital, pois a tabela apontava jogo no Palestra. E incrivelmente não consigo me lembrar do placar, nem do adversário. Só sei que estava com minha camiseta de basquete, “oficial da Adidas!”, numa espécie de transe - que voltei a experimentar por mais de 500 vezes até o fechamento do estádio em 2010, para a reconstrução."

10 comentários:

Farinha disse...

Pô, Conrado. Bota uma foto dessa camisa ae, meu amigo!

Saudações Parmeristas

gregory disse...

Também quero ver uma foto dessa camisa.

Lembro da primeira vez que pisei no Palestra, a loja oficial era mesmo uma boutique hahahahaha.

Só que eu no auge da minha riqueza comprei um cinzeiro e um chaveiro HAHAHAHAHA =(

Luan disse...

É sensacional Conrado, voce não lembrar do placar e nem do resultado do seu primeiro jogo no Palestra. A sua emoção devia ser tão grande de estar lá que vc nem guardou na memória. haha

AVANTI PALESTRA

André / Americana disse...

Simplesmente demais!!!

O meu primeiro jogo no Palestra foi contra o XV de Jaú, quando o Marcão entrou no lugar do Veloso. Puta sorte!

Fui com meu avô e dois tios...eles quiseram levar o coroa pro Palestra pq era jogo contra o time da cidade onde ele havia nascido e passado boa parte da vida, a pacata Jaú.

O tempo passa rápido amigos! Ver o Palestra nas condições atuais, dá uma baita dor no peito!

conrado disse...

caros, esta camiseta acabou sendo dada a meu irmão caçula, que mora no exterior.

Preciso perguntar para ele se a camiseta ainda existe. Provavelmente ele não levou pra lá, é regata e Toronto é frio pra cacete...

pode estar na casa da minha mãe, se ela desgraçadamente não jogou fora.

Douglas Pizarro disse...

Ae Conrado... Sorocaba é Palestra... Sempre estou ai em SP para ver o verdão... Abraço...

Anônimo disse...

sensacional... grande relato
vida longa pra esta serie!!!!!

Alonso disse...

barneschi e conrado dois grande spalestrinos que sabem expressar o que o palmeirense sente e quer.... boa combinacao.


e esse texto do conrado ficou muito bom no blog

Leonardo disse...

Lendo textos como este o Palestra passa a fazer ainda mais falta.

Geraldo Batista disse...

Muito bom, me fez lembrar o dia que conheci o Palestra. morando em vitoria-es ter ido ao paletsra pela primeira vez foi muito marcante, nem deu pra ver um jogo pois a tabela não me ajudou, mas a sensação de subir na arquibancada foi unica, dava pra ouvir a torcida cantando em um estádio vazio.