10 outubro 2013

Redskins Nation

Não, eu não acompanho futebol americano. Mas, mesmo sem ter muita noção das regras do esporte e sem nunca ter visto um jogo inteiro da NFL, conheço, ao menos pelo nome, a maior parte dos times locais. Uns mais, outros menos, e o fator determinante para que um clube (dá pra chamar assim?) seja mais ou menos conhecido é o mascote – sim, porque os times por lá seguem sempre uma lógica: nome da cidade + mascote/símbolo. Vale para o basquete/NBA (Boston Celtics, Chicago Bulls, Phoenix Suns, Charlotte Hornets etc.), para o futebol americano/NFL (Miami Dolphins, Buffallo Bills, Atlanta Falcons, Chicago Bears etc.) e para as demais ligas (beisebol, hóquei e assim por diante).

De todos os 32 times que disputam a NFL, poucos são tão conhecidos quanto o Washington Redskins. Não pela cidade em si ou por seus feitos esportivos (que eu sinceramente desconheço), mas pelo simpático mascote: um índio pele vermelha.


















A essa altura, já consigo ouvir as vozes: “Barneschi, mas que cazzo isso tem a ver com o blog?”. Bom, tem muito a ver.

Pois vejam os senhores que há nos Estados Unidos uma pressão midiática para que o time mude de nome – e de mascote.

Por quê?

Porque há quem diga que Redskins (ou peles vermelhas, nomenclatura consagrada para definir os nativos do continente) carrega uma conotação pejorativa e ofensiva aos índios.

Eu não vou entrar no mérito da discussão, de verdade. Muito por não ter paciência, mas essencialmente porque me falta repertório para tanto - é uma questão que diz muito respeito a uma realidade histórica norte-americana (estão aí os bons e velhos faroestes que não me deixam mentir) e eu não quero enveredar por esse caminho.

Para quem tiver interesse, recomendo alguns links (todos em inglês):

Esta matéria da Sports Illustrated, principal publicação esportiva dos EUA, é um bom ponto de partida para entender o que se passa. A mesma revista registra que os torcedores do Redskins defendem a manutenção do nome.

O Huffington Post faz quase um panfletaço para tentar convencer a opinião pública sobre a necessidade de mudança do nome. Há uma série de vozes se levantando a favor da proposta. Não tenho muito como avaliar a representatividade dessas pessoas ou mesmo a ligação que elas têm com o esporte, mas suspeito que seja algo muito similar à realidade que temos aqui no Brasil.

Matéria do britânico The Guardian foca o debate na importância, para os torcedores do Redskins, de manter o nome e preservar uma história de 81 anos. O The Guardian também aponta, mostrando o quanto se trata de uma batalha midiática, que alguns jornalistas que cobrem a NFL têm se recusado a citar o nome Redskins. Ao que parece, o nome do time adquiriu subitamente, depois de oito décadas de existência, uma conotação racista.

O Washington Post tem uma extensa cobertura sobre o caso, mas merecem destaque a palavra de um importante articulista e mais as opiniões de internautas nesta página de pesquisa.

O NY Times mostra que até o presidente Obama resolveu palpitar.

Há até um verbete sobre a polêmica na Wikipedia - e aí dá para consultar outras fontes de informação.

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Pois bem, senhores, o que eu tenho a dizer é simples:

Se há de um lado uma campanha midiática (suportada por algumas ONGs) e de outro uma torcida, não há muito o que pensar sobre que lado escolher. Se existe um embate entre o politicamente correto e uma história que remonta aos anos 1930, a decisão é ainda mais fácil. Sei que isso parece fazer ainda mais sentido para uma torcida que, como a nossa, se deparou com uma suja campanha midiática que mudou o nome do nosso clube há 70 anos, mas é inegável que qualquer torcedor (de qualquer esporte) vai se sentir diretamente atingido por essa batalha contra o Redskins.

E então, para fechar, vale ler com muita atenção a carta publicada no site oficial do Redskins por Daniel Snyder, proprietário da franquia (sim, é essa a denominação por lá). Por pior que pareça o termo "owner", trata-se de um notório e apaixonado torcedor do Redskins. Não por acaso, seu texto defendendo a manutenção do nome é de uma louvável capacidade retórica, além de extremamente sofisticado do ponto de vista da estratégia: no lugar de eventualmente propor qualquer confronto com os supostamente ofendidos, ele busca mostrar que o nome é uma homenagem aos nativos americanos. Brilhante!

Se me permitem, vou extrair de lá algumas frases:

"Our past isn´t just where we came from - it´s who we are"

"On that inaugural Redskins team, four players and our head coach were Native Americans. The name was never a label. It was, and continues to be, a badge of honor."

"Washington Redskins is more than a name we have called our football team for over eight decades. It is a symbol of everything we stand for: strength, courage, pride, and respect – the same values we know guide Native Americans and which are embedded throughout their rich history as the original Americans."

"So when I consider the Washington Redskins name, I think of what it stands for. I think of the Washington Redskins traditions and pride I want to share with my three children, just as my father shared with me – and just as you have shared with your family and friends.

"After 81 years, the team name "Redskins" continues to hold the memories and meaning of where we came from, who we are, and who we want to be in the years to come."

"We are Redskins Nation... and we owe it to our fans and coaches and players, past and present, to preserve that heritage."

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Tomei conhecimento do assunto ouvindo a BandNews FM ("coluna" diária de Luiz Megale, correspondente em NY).

13 comentários:

diego.cps disse...

Há um caso parecido na Inglaterra. Os torcedores do Tottenham, de origem judaica, estão sendo proibidos e punidos quando utilizam a palavra 'Yid' (gíria para judeus) no estádio. Mesmo caso do porco conosco, que inicialmente era utilizado de forma pejorativa pelos rivais e acabou incorporado à torcida.

Hiran Eduardo Murbach disse...

E o mundo se tornando a cada dia um lugar mais chato de se viver, onde qualquer coisa é ofensiva...

yuribt disse...

Também não acompanho esse caso, mas lembrei de um caso amazônico.

Em Parintins-AM, há um embate entre os indígenas munduruku e sateré-mawé e o pessoal do boi bumbá que sempre usa referências indígenas nas músicas, coreografias e danças do boi.

Os dois lados tem razão - tanto os indígenas, que tem o seu nome, seus grafismos, sua língua utilizada por quem não faz parte das relações tradicionais (é como se de repente alguém com poder e mídia viesse ensinar o que é ser palmeirense para nós); quanto o pessoal do boi, porque há muito tempo eles criaram um estética própria, uma música e símbolos que dizem respeito ao que eles são (por mais que originalmente dissesse respeito ao que os outros são).

Nesse caso, é sim ofensivo pros dois lados, e não tem muito o que a gente possa fazer, porque isso vai passar por uma negociação.

O caso dos judeus também é parecido. O tottenham não representa o povo judeu e claramente vai entrar em disputa quando utilizam termos pejorativos.

A solução dos conflitos não é fácil, principalmente pq tem gente demais achando que a solução e fácil e dando pitaco.

Me parece tambem que esse "owner" está tentando uma solução a qual eu sou simpático - que é a de, em vez de comprar briga com quem se sente ofendido com isso (levando em conta que só os índios norte americanos teriam razão em se sentir ofendidos), reforçar a história comum e o respeito por eles.

Marcelo Santa Vicca disse...

Eu acompanho futebol americano, gosto do esporte pela parte tática-estratégica que é sensacional.
Na prática é mais ou menos como aqui. Embora o time seja uma franquia c/ "donos" e nesse caso o Redskins nasceu em Boston e depois se transferiu para Washington DC, ainda assim torcem fervorosamente. São todos fanáticos, é o esporte preferido das classes mais pobres, já estive num jogo dos 49ers, sofrem como nós. Existe um núcleo duro de torcedores mais fanáticos, existem os corneteiros e assim como nós fazemos com o Palmeiras, eles também potencializam toda e qualquer assunto que envolva o time. Ainda mais nesse caso que é a segunda franquia mais valiosa da liga e discutir isso é discutir bilhões em licenciamento, marca, etc. Mas não me parece que seja um assunto que envolva toda torcida ou cause tanta polêmica, ainda mais se considerarmos que o nome nasceu de uma homenagem e não de uma discriminação aos índios.
Marcelo Santa Vicca

Edy disse...

Mudar o nome de um clube (podem chamar de franquia) é, no mínimo, um desrespeito á história do esporte e aos torcedores.
Mas além de ficar indignado com o fato em si, uma outra coisa de me deixa muito puto.

"Quem é o fdp que têm uma idéia dessas?" Sim, isso foi escretado do cérebro (se é que dá para chamar assim) de alguem que não têm absolutamente nada para fazer da vida. O cidadão deve ser daqueles vagabundos profissionais, manja? O cara precisa ser um absoluto ocioso para "pensar" uma genialidade dessas. Se o fdp tá tão preocupado assim em melhorar o mundo, faz melhor serviço pegar uma vassoura e varrer uma calçada.
O resto é um bando de fdp que vai na onda, quer aparecer, têm uma merda de uma pauta para preencher e vale escrever qualquer coisa com tanto que seja politicamente correto e que vá na onda.
Mas o fdp original, esse eu queria saber quem é, como "funciona" essa cabecinha privilegiada!

Anônimo disse...

Isso tudo é o lixo produzido pela esquerda americana. O politicamente correto. Tomem muito cuidado pq não vai demorar pra uma estupidez semelhante desembarcar por aqui.

Geraldo Batista disse...

Puts rídiculo td isso.

Eu acompanho a NFL e bastante tempo, e gosto muito de ver os 49ers os Broncos e os REDSkins jogando, e td q estão fazendo não passa de pura palhaçada, a torcida adora o nome e a maioria esmagadora dos EUA tb gosta.
Diz a história que este nome foi dado a franquia por causa dos Guerreiros Redskins que sempre foram indios de muita honra e luta, e na hora de escolher o nome da franquia escolheram devido justamente ao exemplo que os Redskins sempre foram pros EUA, o dono da franquia diz q quis este nome para justamente montar um time de guerreiros comprometidos com a cidade aonde eles jogam......

Vejo isso td como muuuita hipocrisia, só acho estranho essa palhaçada vir a tona justamento no ano em que os REDSKINS estão com um excelente time e com o seu QB RGIII prometendo jogar muuuuuito esse ano, estranho né ????

Anônimo disse...

DA-LHE LOS ANGELES LAKERS

GO LAKERS


Raul Martins Dias disse...

"não vai demorar pra uma estupidez semelhante desembarcar por aqui". Se é que já não desembarcou...

¿Doubter? disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Raul Martins Dias disse...

Saindo um pouco do assunto, o Kleina deu uma declaração hoje de que espera que o Palmeiras volte a jogar em Londrina. Espero que ele tenha dito isso para fazer média com a população da cidade. Porque não é possível que ainda não entenderam que a única casa do Palmeiras é São Paulo, sendo o Pacaembu agora e o Palestra Itália quando estiver pronto. Qualquer coisa diferente disso é bobagem, e, acima de tudo, falta de respeito com o torcedor.

¿Doubter? disse...

Barneschi, interessante notar que essa polêmica vem mais uma vez de Washington.
Em 1997 o time de basquete da cidade, então denominado Washington Bullets (balas, no sentido daquelas usadas em revólveres,não as doces) também trocou seu nome para o quase infantil Washington Wizards.

Aqui um longo artigo que traz um debate sobre as razões e as reações da opinião pública à época: http://voices.washingtonpost.com/dcsportsbog/2010/02/why_abe_pollin_went_from_bulle.html

Abner disse...

Muito bom o texto Barneschi.