Era inevitável a confusão na venda de ingressos para a segunda partida da final do Paulistão. É assim em qualquer jogo decisivo, com procura infinitamente superior à oferta. Se 20 mil pessoas foram somente ao Palestra na manhã de ontem e a quantidade de ingressos era bastante mais limitada, não se poderia esperar um cenário pacífico pelos lados da Turiassu.
Problemas há na organização da fila, que inexiste, e na impressionante falta de sintonia entre Palmeiras, historicamente inapto para vender ingressos, e BWA, que demonstra sua incompetência dia após dia.
Quem paga a conta é o torcedor, que sofre com o desencontro de informações e com o horário vagabundo das bilheterias. A divulgação incorreta dos locais de venda, um dia antes, contribuiu sobremaneira para o caos que se formou. Pior que isso só mesmo a burocracia da BWA, incapaz de perceber que o início das vendas antes das 10h poderia minimizar os problemas. Não contente, a empresa ainda atrasou em meia hora a abertura dos guichês.
De tudo isso, no entanto, o que não vou deixar passar em branco é a postura da mídia esportiva, que tenta transmitir a idéia de que as organizadas tomaram o espaço do "torcedor comum", seja lá o que for isso.
Manipulação barata, nada além disso.
Vejam vocês que a Mancha recebeu mil ingressos, de um total de 25 mil. TUP e Savóia devem ter sido contempladas com uma carga bastante inferior. Assim, temos 4% da carga para a MV e talvez mais 1% para as outras duas organizadas. É pouco, bem pouco, diante da representatividade na arquibancada.
Que fique claro: a Mancha jamais vai tomar o espaço do "torcedor comum" na arquibancada. A Mancha TEM o seu espaço na arquibancada, e isso representa um direito adquirido por toda uma história de dedicação ao Palmeiras. E, eu posso garantir, este espaço é bastante superior a mil lugares.
A questão é simples: enquanto o "torcedor comum" escolhe os jogos de acordo com uma série de fatores (compromissos pessoais, interesses momentâneos, adversário, dia, horário e situação do time), o uniformizado vai ao estádio de maneira incondicional e sempre para apoiar o time. Seja aqui, no interior ou em outros Estados.
Não há fatores limitantes para o torcedor de organizada, ao menos para aquele que vai a TODOS os jogos. Quem faz isso sabe quem é.
Na minha concepção, o cidadão que sempre marca presença adquire o direito de ir a esta final e deve, sim, ter privilégio diante da massa que resolve ir apenas porque é chegado o momento de gritar "É campeão!". Tal atitude revela indisfarçável oportunismo, comportamento esperado dos que só vão na hora da festa.
Vejamos: eu fui a 18 dos 22 jogos do Palmeiras neste Paulistão que foi quase um circo itinerante em sua primeira metade. Isso inclui todos no Palestra e no Morumbi e mais Barueri (3 vezes), Santos, Piracicaba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto (2 vezes), Bragança Paulista, Jundiaí e Campinas. Só não consegui ir a Bauru (no sábado de Carnaval) e Marília, Rio Preto e Rio Claro (todos numa quarta-feira à noite). Deixei de ir não pela distância, mas sim porque temos todos de manter nossos empregos durante a semana.
E aí eu pergunto: por que eu - ou alguém com histórico parecido - deveria ficar de fora deste jogo, cedendo meu lugar para um sujeito que só agora resolve dar as caras?
Não quero defender apenas o meu lado. Defendo o dos meus amigos igualmente assíduos (eles conseguiram ingressos depois de 15 horas na fila) e também o de gente como o Ademir, sempre presente, que relata os episódios lamentáveis que o levaram a ficar sem o dele.
Sim, há os torcedores - e são a maioria - que acompanham o Palmeiras em todos os momentos, mesmo sem pertencer a uma organizada. Eu conheço dezenas e afirmo que eles têm o mesmo direito que eu ou qualquer outro mancha.
Caberia ao Palmeiras descobrir uma maneira de premiar este torcedor com a possibilidade de adquirir um carnê para toda a temporada, a exemplo do que foi feito no Setor Visa. Basta ampliar a facilidade VIP para a arquibancada e demais setores. Não se trata de benefício, mas de direito, pois este torcedor pagaria pelos ingressos de toda a temporada nem tanto pela economia, mas sim pela garantia de poder ir a todos os jogos, como faz hoje, sem vantagem.
Feito isso, os torcedores habituais alcançariam uma necessária formalização do seu direito adquirido.
Por fim, repito: a culpa não é da organizada, que ficou com mil ingressos, todos eles devidamente pagos e necessários para a festa que não pode ser conduzida pelo "torcedor comum". Que se culpem os feudos internos, de distribuição de ingressos a conselheiros e agregados políticos, e o câncer representado pelos cambistas, mas nunca a organizada, que tem os seus méritos e os seus direitos adquiridos.
E eu sinto muitíssimo pelos torcedores assíduos que estão sem ingresso, mas não pelos outros, que resolvem aparecer agora só pela perspectiva de ver um título que deveria ser daqueles todos que ajudaram a construir esta campanha.
Você vai sempre e não conseguiu ingresso agora? Pois está errado que você perca o seu direito para quem está indo agora pela primeira vez no ano. Mas a culpa, meu caro, não é da Mancha!
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*Peço desculpas aos que se sentirem ofendidos, mas esta é a minha opinião. Recebi, sem exageros, mais de 40 ligações entre segunda e terça. Isso para não falar na infinidade de mensagens no MSN, o que me levou a ficar offline de tudo durante umas oito horas. Gente atrás de ingresso. De todos os tipos. De amigos de arquibancada, aos quais não pude atender simplesmente por não ter ingressos sobrando, a pessoas que eu sequer imaginava que pudessem torcer pelo mesmo time que eu. Porra, e por que esses caras não apareceram antes, mas só agora?
*Não concordo com a expressão "torcedor comum". Aliás, não a entendo. Não sei do que se trata. Mas tomo por base o senso comum que se criou e o uso dado pela imprensa ao termo.
Tommaso Mauri
Há um dia