23 março 2010

Messi, Romário e Marcelinho

A necessidade de criar manchetes de impacto para vender jornal (ou coisas do tipo) faz com que a imprensa esportiva construa comparações por vezes absurdas, tal como esta entre Messi e Maradona. É assim no mundo todo. Por aqui, a Folha de S.Paulo trouxe hoje uma matéria nada equilibrada em que Messi é apontado por um fulano qualquer como "o maior jogador da história". Não cabe entrar na discussão; seria uma ofensa a Diego Maradona. Mas o texto despertou dentro de mim um antigo debate: quem é o melhor jogador da (minha) história? 

Não preciso pensar na resposta, pois ela é bem evidente. Mas cabe fazer aqui uma breve divagação para tornar o texto mais interessante e prender a atenção de vocês. Vejamos: 

O melhor jogador que eu vi jogar não é Messi. Tampouco Ronaldinho, Zidane, C. Ronaldo ou qualquer desses que acrescentam ao seu talento dentro de campo doses elevadas de marketing. Também não foi Maradona, este sim um gênio mesmo com o marketing às avessas. Não poderia ser nenhum deles, porque eu nunca os vi no estádio. E, sendo coerente com o meu raciocínio, o futebol só existe quando visto a partir da arquibancada. 

Poderíamos então falar de Ronaldo. Acontece que o Ronaldo que veio para o SCCP, embora ainda genial, não é nem sombra do Ronaldo que conquistou o mundo tantas vezes. E eu o vi em campo poucas vezes, sempre nos clássicos com o rival. 

Dirão alguns leitores que eu teria a obrigação de eleger alguém que tenha feito história no Palmeiras. Ao que eu discordo, pois nenhum dos craques palestrinos das últimas décadas foi maior que Romário. Marcos, Evair, Edmundo, Rivaldo, Djalminha, Sampaio, Valdivia: nenhum deles chegou perto do que foi Romário. 

Romário é o maior jogador que eu vi. Foram muitas vezes, por sorte, e ainda no auge. Pelo Vasco, pelo Flamengo, pelo Fluminense, até pela seleção (no seu jogo de despedida, e só por isso eu fui). Quase sempre contra o Palmeiras, mas não só. Não tenho a contabilidade de jogos, mas sei dizer que, no estádio, tive o privilégio de viver 23 gols do Baixinho. 

A maldade de alguns amigos criou boatos injustificados, como o de que, em alguns jogos entre Palmeiras e Vasco, eu teria torcido, já com o placar assegurado a nosso favor, por um gol do camisa 11. Não procede, mas Romário em campo era sinônimo de atenção dividida: de tempos em tempos, meu olhar se perdia lá no nosso campo de defesa, à espreita da movimentação de Romário. Era uma relação de medo e admiração, em doses invariavelmente iguais. 

Foi um privilégio vê-lo em campo. O maior de todos. 

Está dada a resposta, mas sinto que é necessário seguir adiante para esgotar o raciocínio. Eu falei acima em medo, e preciso agora fazer uma confissão. Medo é o maior sinal de respeito que um torcedor pode ter em relação a um jogador adversário. E só é possível sentir medo de alguém que representa ameaça. Assim sendo, medo seria o melhor critério para definir a qualidade de um jogador que não defende o nosso time. 

Ou quase, já que eu tive medo de sujeitos como Marcelo Ramos ou Fábio Jr., que não eram necessariamente craques, mas que construíram suas carreiras à base de muitos gols no Palmeiras. Ao menos contra o meu time, portanto, estes dois foram jogadores respeitáveis. Tanto é assim que o medo que sentíamos os trouxe para curtas e decepcionantes temporadas no Palestra. 

Medo também foi o que levou o Palmeiras a buscar Felipão, Arce e Paulo Nunes no Grêmio. Mas qualquer medo traz junto um tanto de respeito, e, no caso desses três, o tempo se encarregou de transformá-los em figuras importantes da história alviverde. 

O medo, cabe dizer, inexiste diante do ódio. O ódio é algo totalmente diferente, e acaba por suplantar qualquer possibilidade de medo. O ódio implica na necessidade de confronto; não há espaço para mais nada a não ser o desejo de aniquilar o inimigo. O medo inexiste diante do ódio; não há medo sem respeito. 

E aí, para finalizar, chegamos à confissão. A verdade é que eu nunca senti tanto medo de um adversário como de Marcelinho. Se este sentimento era por vezes camuflado por um ódio artificial, o tempo e a defesa de Marcos em 2000 se encarregaram de consolidar o medo que Marcelinho despertava em nossa torcida. 

Discordam? Pois que me desminta aqui o palestrino que não se assustava a cada cobrança de falta do camisa 7 do SCCP. Que me desminta aquele que nunca se benzeu e pediu a ajuda dos céus a cada vez que um rival era derrubado na entrada da nossa área. Que me desminta quem nunca fez o sinal da cruz a cada escanteio cobrado da direita (ou da esquerda, tanto faz). 

Marcelinho é um caso típico de jogador que desperta no adversário tanto medo que ele, o torcedor, apela para um mecanismo de defesa que transforma o medo em ódio. Mas há o respeito também, e é isso o que fica. Acreditem. 

Tá, podem me xingar. Mas eu cresci em estádios de futebol e não vou me esquecer nunca do medo que eu sentia naquelas frias noites de Libertadores a cada vez que o 7 do SCCP vinha cobrar uma falta. A verdade é que esse texto parece ser um tributo a cada uma daquelas noites passadas no cimento do estádio do Morumbi. Mais até: é um tributo ao meu eu torcedor daqueles anos gloriosos. O que temos aqui é um tributo ao medo que se transformou em felicidade. 

*** 

"Febre de bola", página 103: 

"Às vezes tomo consciência, entre meus amigos torcedores do Arsenal, de uma rivalidade sutil, mas perceptível: ninguém gosta que lhe seja contado algo que não sabia sobre o clube - a contusão de um dos reservas, digamos, ou uma alteração iminente no desenho das camisas, algo como crucial como isso - por um dos outros."

12 comentários:

Lucas J'' disse...

cara, não demia tanto o marcelinho assim, tenho 19 anos e me lembro criança sem medo dele...depois de velho vi uma entrevista de um zagueiro e falei com outro.

Eles citaram um jogador que não fugia do pau e nao pipoca...ambos falaram em Edmundo.
Na conversa com um ele cito como o mais pipoqueiro qndo o zagueiro chegava junto o marcelinho carioca...e o outro na TV nao cito o nome mas deu dicas que jogou e foi bicampeao com os gambas em 98/99...quem sera que era?

Thur. disse...

Sobre os jogadores, nunca vi nenhum no estádio e pra falar a verdade não tava nem aí pra futebol nessa época, gritava quando era gol e dava de ombros quando perdia... Não tenho nenhum ídolo, nem tenho expectativas. Achei o texto muito sincero e espontâneo. Gostei do rumo pessoal que tomou e foi uma leitura muito interessante. Parabéns!

PS: Não tenho ódio do SPFW tenho nojo, é um time que ganha por baixo dos panos, não tenho como provar isso, mas tenha esse sentimento incondicional e inconsciente por eles.

Unknown disse...

Romário foi o maior de todos!

nao tem como comparar com Maradona ou Edson A. Nascimento...

Trouxe uma copa sozinho, coisa que o garoto propaganda do viagra nao fez!

Gênio, dentro e fora do campo!

Roberto Kamarad disse...

Romário também foi o maior que o vi.

No estádio, só vi três contra ele, porém em dois ele anotou... um craque!

Sobre o Marcellinho, em 2000, eu virava de costas a cada cobrança de falta dele! Precisa falar mais alguma coisa?

Brilhante, cara!

abs

Luiz disse...

Evair foi melhor que Romário.

Melhor que eu vi no estádio? Rivaldo.

Jogador que eu mais temi? MC.

Barneschi, responda: Bebeto e Romário ou Edmundo e Evair?

Rodrigo Barneschi disse...

Edmundo e Evair, sempre. Com Rivaldo e Zinho como meias.

Não dá pra levar a sério o Bebeto. Romário é deus, mas não dá pra ganhar sozinho de Edmundo e Evair, a maior dupla que eu vi jogar.

E fico feliz por saber que há outros palestrinos que concordam comigo e não têm medo de manifestar isso.

Abraços

Unknown disse...

Caro Luiz, o gladiador...se me permite:

Romario e Edmundo, assim como foi no Vasco

Mundico é o cara...meu maior ídolo no Palmeiras!

Daniel disse...

mto bom post mano!!!! eu entendo bem o q vc diz ai... era mto foda quando aquele fdp vinha bater flata...

Phatal Verde disse...

Cara o mais completo que ví, e votaria é no Rivaldo, o campo todo era pequeno para ele, não foi exatamente meu idolo, mas o melhor jogador que ví jogar ...

Federico Erdocia disse...

Não sei dizer qual foi o jogador que mais temi.
Joguei contra Rivelino, Zico(um monstro), Reinaldo(o mais hábil 9 que vi), Careca(formou com Maradona a melhor dupla que vi, mesmo que pela TV), Rai, Pedro Rocha, Falcão(acabou com meu 1979), mas certamente não foi o Maca...nho Carioca.

O ódio, para mim sem relação alguma com o medo, é eterno. E para mim, respeito pela qualidade técnica não se confunde com medo.

Em 2000, na Liberta, cansei de dizer que meu "sonho de consumo" era ganhar nos pênaltis, no último, no dele. E, se Deus existe, permitiu-me realizar meu sonho.
Grande batedor de faltas, mas os gambás, à época eram, como sempre, freguêses de carteirinha.

Zico, foi tido por muito tempo como craque de Maracanã. Demorou para ser respeitado em todo o país.
Mas talvez tenha sido o cara que mais temi. Fui a vários jogos no Maracanã, anos 80, onde os urubus mandavam e nós, sofríamos (mesmo assim, 1(gol de pênalti roubado)x4!!!).

Lembro de jogo em que João Marcos foi o melhor em campo, e só por isso terminou 1x1. no Maraca!!! E olha que foi um massacre!!!

Quanto a melhor dupla que vi jogar, certamente Evair e Edmundo; muito mais pelo Evair, o centro-avante mais cerebral que vi jogar.
O Animal todos fazem questão de esquecer sua saída. Beijou a camisa dos urubus sendo jogador nosso.

Prá quem não tem idade ou não foi, no primeiro jogo depois disso, no Palestra, a velha guarda da Mancha foi ao jogo exigir ato público de repúdio.

Foi a noite do famoso "fora Edmundo, você é o maior traidor do mundo!!!"

Quem foi, lembra disso.

Para mim, a melhor dupla da história foi Evair (melhor que César, Picolé, Reinaldo,Mirandinha, Carlos Alberto, Bizu, Escurinho, etc , ... e qualquer outro.
Abs palestrinos

Fred Argentino

Zhu Sha Zang disse...

Texto nada confuso. Muito bom.

Craudio disse...

Faz todo sentido, basta pegar os vídeos do Marcelinho cobrando escanteios. Era meio gol.

Do lado de vocês, para mim era o Edmundo. E o Romário também foi o maior que eu vi em campo.