18 setembro 2008

O tropeiro do Mineirão

Se você nunca foi ao Mineirão, ainda está em tempo de conhecê-lo na essência. Se não demorar, terá o prazer de chegar a um estádio de futebol e devorar um bem servido prato de feijão tropeiro. Nada da pipoca murcha do Palestra, do churro duro do Pacaembu ou do kibe do Morumbi; no Mineirão, serve-se um belo prato de comida. Melhor ainda: por módicos R$ 6 (era R$ 3 poucos anos atrás).

De quebra, você, nobre torcedor, pode ainda sentar-se em um banco de madeira, colocar o prato na mesa e mandar bala. Claro que a situação era melhor nos tempos em que a comida vinha em uma marmita de alumínio, mas mesmo agora, em um prato plástico, o tropeiro do Mineirão continua sendo uma iguaria imbatível para quem resolve se alimentar dentro de um estádio de futebol.

Por que estou dizendo isso?

Simples: porque o tropeiro do Mineirão tem seus dias contados. Acontece que o Magalhães Pinto também foi tomado pelo discurso ufanista da Copa-2014. Há placas alusivas ao fato dentro e fora do estádio e, pior, as pessoas falam disso com indisfarçável inocência.

Cito o exemplo de dois garotos que, assim como eu, entraram no gramado do Mineirão horas antes do jogo de domingo. Eram rapazes humildes, um atleticano e um cruzeirense, e ambos pareciam maravilhados com o fato de estarem dentro do campo. Pelo pouco que conversei com eles, não pareciam ter familiaridade com aquele ambiente – estavam ali apenas porque trabalhavam nos postos de vacinação contra a rubéola. Lá pelas tantas, um vira pro outro e pergunta: “Já imaginou estar aqui em 2014?”

Vi o sorriso no rosto dos dois e preferi não estragar a ilusão. Seria crueldade, e eles provavelmente não entenderiam o meu ceticismo.

Fato é que o Mineirão será sede da Copa, em que pesem todos os seus problemas estruturais – e são muitos. E aí eu me dei conta do seguinte: o tropeiro não resistirá.

Entre as muitas exigências do caderno de encargos de dona FIFA, certamente há restrições de ordem higiênica. Assim sendo, é certo que não permitirão a continuidade de um prato gorduroso como aquele, preparado em condições discutíveis e consumido em uma mesa velha, que solta fiapos de madeira. Não combina com o ambiente sonhado por essa gente.

Tropeiro a R$ 6? Carne de porco? Couve? Ovo? Feijão? Torresmo?

Que nada! Comida de pobre não terá espaço na Copa do Mundo. Dona FIFA há de conseguir algo melhor. Para combinar com o cenário elitista, virá um desses chefs estrelados. Aí nego inventa um prato idiota com carne de pato e algum molho agridoce ou à base de abacaxi e certamente haverá imbecis dispostos a pagar uma fortuna por isso.

Aproveitem enquanto é tempo, meus caros. O tropeiro do Mineirão logo fará parte de um passado indesejável e cultuado apenas por românticos como eu e mais alguns poucos.

***

Em nome da minha sanidade mental, tentarei não falar sobre o STJD ou sobre o procurador desocupado que uma vez mais vem encher o nosso saco. Vou aguardar o desenrolar dos fatos.

15 comentários:

Dani Malacrida disse...

Rô,
Eu provei esse feijão em um jogo da "selecinha", ele é mesmo SENSACIONAL!!! Se as mudanças fossem apenas no Mineirão... hoje o Belluzzo estava falando sobre o moderníssimo restaurante panorâmico que haverá na Arena Paletra. Teremos de esquecer a nossa lanchonete... hehehehe...

Teu blog está FANTÁSTICO!!!

Beijos

Anônimo disse...

Mudando de assunto...

Fala Rodrigo,

Logo cedo tive que ler as declarações dum imundo (não citarei o nome para poupar o blog)ex-leonor, agora do gaymio, que ousou atacar o Palmeiras. Aí vem o babaca do tcheco(quem????)falar mais um monte e exigir a suspensão do Diego Souza.

Bom, diante disso, deixo as seguintes perguntas:

- quem é esse maldito ex-leonor para citar o nome do Palmeiras?
- quem é o outro para exigir a suspensão de alguém?
- o que é gaymio?
- outra coisa, já não bastava a mania de perseguição dos comedores de calango, agora teremos que aguentar esta psicose dos argentinos com sotaque de viado?

Anônimo disse...

Sobre o Feijão Tropeiro.
Creio que se feito em condições de higiene não há nada que impeça que ele continue.
Nos estádios alemães há comida gordurosa nas lanchonetes (comi um joelho de porco uma vez em Berlim), de modo que essa não é a variável.
No que tange à elitização, aí sim, é outra história e sem final feliz. Infelizmente é uma tendência que tende a ser ampliada, cujas consequências tendem a ser amplificadas pela má distribuição de renda do país.
O futebol é apenas um espelho da sociedade. Num mundo capitalista, onde não existe almoço grátis, a formação de uma equipe de alto nível e competitiva passa, necessariamente, pelo aumento das receitas, dentre elas a bilheteria dos estádios.

É um grande prazer acessar diariamente esse blog.

Sandro - Salvador-BA

Anônimo disse...

queremos uma retratação do dono do blog a despeito do comentario do procurador acéfalo

Anônimo disse...

No dia que, pela primeira vez, eu vi os caras muquiados na topic picando tomate e cebola pra fazer o vinagrete, no alto da escadaria da Rua Itápolis, já desacreditei de tudo.
Outro dia a moça me ofereceu cerveja, entrou na garagem de uma casa e veio com a latinha.
Isso que os caras estão só trabalhando, hein.

Se a idéia fosse controlar a coisa toda, colocar barraca "oficial" pra vender, inclusive controlar o asseio, a produção do alimento, até vai.
Mas não é o caso.
O negócio é proibir por proibir, pra vender "hot dog" só salsicha, pão murcho, e refrigerante cuspido.
E cerveja sem alcool, afinal o alcool é o grande "motor da violência"...

E ganha o elitismozinho, que vai poder tomar whisky no camarote, sem ter a bandeira da Arquibancada tapando a visão...

Parabéns, povo brasileiro. Você vai longe...

Anônimo disse...

Porra, desculpem pelos erros de português, ainda to com sono..rsrs

Ah e aproveitando, aos novos amigos do blog sejam todos bem vindos!!(Com licença hein Barneschi..kk)

Abraços,

Anônimo disse...

Deu vontade de experimentar esse tropeiro :D

- - -

Mais um pouco de arrogância do Jd. Leonor:

Castelo de Areia:
http://terceiraviaverdao.blogspot.com/2008/09/castelo-de-areia.html

E, aos poucos, a imprensinha vai descobrindo o que todo mundo já sabe: o La Bambinera não tem condições de cumprir as exigências da FIFA para a Copa do Mundo.

Anônimo disse...

é... na copa vão tirar o tropeiro pra colocar sanduiche do mcdonlds a 30 reais... triste...

Craudio disse...

Brilhante! Brilhante!

Muitos insistem em dizer que a Copa 2014 é conseqüência da mercantilização que já assola o futebol brasileiro, mas é justamente o contrário. As coisas tomaram esse rumo em ritmo acelerado justamente por causa do campeonato de seleções.

Vejam que coisa estranha. O mesmo zé-povinho, que corneta a seleção, joga a bandeira brasileira no chão e demonstra nenhum patriotismo na estiagem entrecopas, fica deslumbrado com a possibilidade de ver jogadores do avançado futebol europeu - todos uns pernas-de-pau, diga-se...

Por causa desse bando de aproveitadores é que as coisas se inverteram. O recado é esse mesmo: aproveitem agora! Porque o fim está próximo, os milionários devem chegar por aqui em breve para comprar os clubes e pouco restará, a não ser nossa dignidade (que também não tenho 100% de certeza que será mantida).

Enquanto não valorizarmos nossas coisas, nossa história e nossas tradições, seguiremos na mesma toada de 500 anos atrás, quando vieram os primeiros europeus e sua civilidade - que consistia em escravizar índios e negros e devastar o Brasil.

Rodrigo Barneschi disse...

"queremos uma retratação do dono do blog a despeito do comentario do procurador acéfalo"

Porra, rockwood, você deve se esforçar muito para escrever esse tipo de coisa, né?

Anônimo disse...

Ele ta exigindo Barneschi. hahahah

Anônimo disse...

O Belluzzo foi entrevistado ontem no Arena Sportv.

Lá no Observatório Verde, o Rafael Evangelista passou um resumo do que ele falou sobre os temas que nos interessam por aqui:
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Sobre os ingressos, ele disse algo sobre a torcida do Palmeiras já ter aceito melhor os 30 reais, que não seria tão caro se o time é de qualidade. Aí ele fez uma piadinha dizendo que se o time fosse ruim aí 30 reais é duro de aguentar.

Foi bacana que ele discutiu a questão de elitização de uma forma muito lúcida. Afirmou que é preciso arrecadar mais, mas que futebol é paixão e que não pode deixar de ser um esporte popular. Disse que o Brasil é diferente da Europa e que o futebol não pode repetir a desigualdade social, tem que se dar um jeito de se incluir a todos. Na Europa um ingresso mais caro é ok pq a desigualdade é menor. Afirmou que (o Palmeiras) pretende discutir esse assunto com os torcedores.

Foi bacana também a cutucada que ele deu nos leonores. Disse que real (pq o outro não é) co-irmão é o Corinthians. Já o outro é outra coisa, dadas as sacanagens históricas que já aconteceram. Além disso, ele cutucou, como já disseram, os membros do hospício que disseram que há algum acordo entre Palmeiras e leonores para a Copa. Segundo ele, a Arena não está sendo feita pra isso e não nos diz respeito o assunto abertura. Eventualmente, se a Fifa achar que a Arena pode ser útil, ela estará à disposição.

O que é legal do Belluzzo é que ele fala em organização, planejamento etc., mas com uma compreensão de que o futebol é um fenômeno diferente, não é uma empresa (embora possa usar o modelo empresarial de administração), e de que os clubes brasileiros devem ter um funcionamento diferente dos europeus por se localizarem numa sociedade desigual.
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Anônimo disse...

amigo,

faltou voce falar da deliciosa comida que servem no engenhao. uns camelos vendendo um doguinho frio e sem gosto pela pechincha de quatro reais. vale a pena...rs.

Anônimo disse...

AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Anônimo disse...

o comentario do pedra madeira foi genial... huahuahuahuahuah