12 março 2009

A decadência do interior


O que vocês vêem acima é toda a torcida do Ituano no jogo de ontem à noite no estádio Novelli Júnior. Sim, é o time mandante e seus torcedores não foram mais do que essas 100 ou 150 pessoas que a foto traz ao fundo, no lado oposto ao nosso.

E assim foi por alguns motivos, entre os quais o dilúvio que resolveu atrapalhar a nossa vida uma vez mais – este ano está sendo especialmente molhado. Mas nada foi tão determinante para a presença ínfima do público caseiro quanto a decisão da diretoria do clube local de cobrar R$ 50 por um ingresso de arquibancada em um jogo tão desimportante.

Fato é que os clubes do interior perderam a noção da realidade. Não faz três anos que começou a onda de lucrar além de conta durante a visita dos grandes da capital, mas a ganância tem se acentuado de maneira preocupante desde o ano passado.

Tivemos ontem ingresso a R$ 50 em um jogo disputado às 21h50 de uma quarta-feira e em um estádio que é um dos menos agradáveis de todo o interior paulista. R$ 50 pela arquibancada, acreditem! E choveu até não mais poder.

Não pensem vocês que o Novelli Júnior ofereça algo diferenciado para cobrar tudo isso. As arquibancadas são as mesmas de qualquer outro estádio e não há na visão do campo nada de especial. E há problemas, muitos problemas, alguns dos quais eu descrevo agora:

-Os arredores são de uma precariedade enorme, em especial em jogos noturnos;
-A iluminação homenageia os bons tempos da boate que tínhamos no Palestra Itália;
-O que existe de mais interessante nas lanchonetes do estádio - em condições inadequadas - é um bolinho de ovo e carne que, admito, eu como todas as vezes que vou lá. Mas não recomendo;
-O refrigerante é Schin. E a cerveja, se não tivessem proibido, também seria;
-Quando chove, forma-se um lamaçal abaixo das arquibancadas que perde apenas para o pântano de Caio Martins, aquele que o Botafogo já ousou chamar de estádio;
-Sem motivo aparente, é um estádio frio e sem alma.

E isso é apenas um breve cenário, do qual eu não reclamaria se não fosse a idéia dos dirigentes locais de cobrarem R$ 50 por um ingresso de arquibancada.

O que eles não percebem é que essa ganância é exatamente o que está ampliando a cada dia mais a distância entre os grandes e os pequenos. Não é exclusividade do Ituano; é assim com quase todos os outros, com exceções talvez de Guarani e Ponte Preta.


Em parte, isso explica a decadência dos clubes do interior, cujas torcidas locais não conseguem competir com a gente desde que teve início essa palhaçada. E o pior de tudo é que a nem o eventual acréscimo de renda se verifica, pois os públicos têm sido a cada ano menores - como o de ontem, 5 mil e tantos pagantes.

Para finalizar, lembro que estivemos dois anos atrás em Itu e o ingresso custava R$ 25. Voltamos agora e o preço duplicou: R$ 50! Enquanto os dirigentes do Ituano considerarem válida uma inflação de 100% em dois anos
, é justo que continuem sendo apoiados por 100 ou 150 torcedores. E é justo também que todos os clubes do interior se afundem na decadência atual.

***

Aproveito para pedir desculpas pela ausência durante esta semana, mas o trabalho atrapalhou o blog. Mas só o blog e nunca o Palmeiras, pois eu sigo o estatuto do Teo, o nosso Nick Hornby e motorista na noite de ontem: “O trabalho não pode atrapalhar o Palmeiras”.

10 comentários:

Craudio disse...

Você descreveu aquela bosta de lugar com perfeição. Aliás, eu me surpreendo toda vez com a possibilidade de se fazer um jogo à noite por lá. E sim, é de um frio siberiano aquele monte de concreto sem a mínima coerência de construção.

Reforço, porém, que a grande fonte de renda dos clubes do interior sempre foram suas revelações. Com essa palhaçada de empresários sanguessugas, a coisa ficou insustentável.

Seo Cruz disse...

Morei um ano ao lado daquela merda, numa faznda agropecuária. Os senhores não sabem o que é frio de madrugada, sempre agravado pelo vento.

Mas o que dizer da incontável massa presente ao Privadão ontem a noite?...

yasmin disse...

Bom dia

Sem querer discordar da sua opinião muito menos de dar razão aos dirigentes ituanos, deixe-me colocar o meu ponto de vista.

Tirando os "grandes" clubes, todos os clubes do interior, sejam da elite ou das divisões inferiores, lutam contra péssimas condições financeiras (iniciadas com dirigentes inescrupulosos do passado, mas sobretudo agravadas com o descaso da FPF e da mídia em geral) e falta de apoio das empresas que poderiam patrocinar, bem como dos poderes municipais que poderiam estar ajudando na conservação dos estádios.

Ituano não é um clube de tradição e não tem torcida espalhada no mundo todo como vcs podem se orgulhar. Creio que a decisão de cobrar esse valor exorbitante não visou afastar os seus torcedores (que, mesmo se fosse num dia e horário ótimos não chegariam a mil) mas visou "depenar" vcs, palestrinos, pois é notório que vcs acompanham o seu clube onde quer que ele vá jogar. E assim, fazer caixa para, quem sabe, completar a folha de pagamento do seu plantel...

Não aprovo essa medida, mas eu "compreendo" os seus motivos. Se um dia o meu clube conseguir o acesso, espero que possamos manter a dignidade e atrair cada vez mais torcedores do clube ao nosso estádio, onde vcs serão também muito benvindos!

Abç
yasmin (de São José dos Campos - Águia do Vale)

Vitor dos Reis disse...

Barneschi, o bolinho no qual você se refere seria o famoso "bolovo"?

E imagino o preço deste aperitivo.

Concordo com o Claudio, com esta palhaçada de empresários o futebol do interior ficou muito fraco, R$ 50,00 realmente é um preço mais do que extorsivo, afeta diretamente os próprios torcedores do Ituano que tem poucas oportunidades no ano de ver seu time jogando contra um grande da capital, e quando tem, acabam não indo no estádio por causa do "precinho" do ingresso. Como tudo gira em volta do dinheiro, extorquir os palmeirenses acaba sendo a única alternativa dos dirigentes do Ituano.

Yasmin,e como anda o São José?? Que é o clube da cidade onde nasci.

Abraços,

r_evangelista disse...

Bolovo!

Venham beber o morto (o OV) conosco
http://www.observatorioverde.net/2009/03/13/palmeiras-em-dia-de-ov-e-bebamos-o-morto/

Anônimo disse...

Putz, quando era moleque acompanhei muito a Águia do Vale...

E por isso acho que a Yasmin tem alguma razão. O estrangulamento dos estaduais acabou aos poucos com os clubes locais. O que, na minha opinião, é um tremendo tiro no pé.

Se você sucateia os celeiros do interior, reforça a idéia do clube-empresa-linha-de-montagem. O que alimenta a dependência/adoração do futebol pelo deus mercado. E então descamba pra elitização sem freio.

É verdade que as coisas são um pouco mais complexas, e merecem um texto longo e tal. Mas a lógica, acredito, não foge muito disso. É tudo ligado entre si.

E é isso, acho.

Abraço.

Ademir Castellari disse...

Grande Barneschi, alinhe as tropas, informe aos bons, pois vem aí o II Jogo das Barricas: http://forza-palestra.blogspot.com/2009/03/ii-jogo-das-barricas.html

Abraço.

Rodrigo Barneschi disse...

Oi, Yasmin.

Obrigado pelo comentário e pela opinião. Entendo os seus argumentos, mas o fato é que não aceito exatamente esta extorsão - e veja que você usou o verbo "extorquir". Pois é isso mesmo que fazem os clubes do interior: eles sabem que vamos pegar a estrada, gastar dinheiro com pedágio, combustível e o que for e ainda seremos capazes de pagar R$ 50 pelo ingresso. Quer dizer, eu faço isso. Mas conheço gente que deixou de ir para Itu exatamente por conta do preço exorbitante. E eu realmente entendo que é um erro grosseiro.

Quanto à 'torcida' do Ituano, eu disse aos meus amigos na viagem de ida que o Ituano é provavelmente o time que tem a menor torcida do interior paulista.

Por fim, torço pela volta do São José. É perto de SP, é mais um estádio para se conhecer e é um time tradicional. Boa sorte para vocês.

Anônimo disse...

Peço desculpas por sair do assunto mas, essa é a última sobre a “guerra” em Pernambuco:

Presidente do Sport não aceita nome de Carlos Eugênio Simon

O presidente rubro-negro, Sílvio Guimarães, não aceita o nome de Carlos Eugênio Simon para comandar Sport x Palmeiras, na Ilha do Retiro. O jogo, dia 8 de abril, é válido pela terceira rodada da Libertadores. A intenção da direção leonina é que seja escalado um árbitro estrangeiro. O Palmeiras, no entanto, quer um brasileiro. Simon seria um dos preferidos da cúpula alviverde.

“O Simon me deixa preocupado. Acho que é um árbitro tendencioso não só com o Sport, mas com os times de Pernambuco. Já prejudicou várias vezes nossas equipes. Agora, não quero me queimar com o quadro nacional. O Brasil tem grande árbitros, eu só tenho receio com o Simon e o Roman, do Paraná. O resto pode vir qualquer um”, afirmou o mandatário.

Guimarães confirmou ainda que o Sport encaminhou documento à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) solicitando a escalação de um estrangeiro. Ele criticou a postura dos dirigentes do Palmeiras, que levantaram polêmica nos últimos dias sobre as condições de jogo na capital pernambucana.

“Ocorre que eles não vêm bem na competição e estão em desespero. Até o dia da partida ainda vão inventar muita coisa e tentar fazer uma pressão natural”, disse o presidente.

Diário de Pernambuco

Acredito que falar sobre a canalhice e a cara de pau desse timinho medíocre é desnecessário não?

Rodrigo Barneschi disse...

Caio,

Acredite: seu comentário e suas observações são pertinentes. O assunto será tratado muito em breve. Essa gente terá ainda o que merece.

Abraços