28 março 2010

Desesperança

"Acabou a paciência do palmeirense": assim o Estadão definiu o empate alviverde de ontem. É preciso uma dose bem razoável de boa vontade para abrir o texto com tal afirmação. Porque a verdade mesmo é que não existe mais qualquer sinal de paciência no Palestra Itália, e isso já há alguns anos. O que acontece agora é reflexo de um clube fragmentado, mergulhado em suas disputas políticas internas. PVC, na FSP de ontem, definiu bem o que se passa nas alamedas do mais vitorioso clube do futebol brasileiro: "Gente que ama o Palmeiras acima de quase tudo. Menos do ódio que nutrem uns pelos outros." E aí, meus caros, chegamos ao momento atual, em que tudo é desesperança. Paciência? Isso já pertence a um passado bem distante. O que temos agora é terra arrasada: ninguém mais confia em ninguém, ninguém mais entende o que se passa e ninguém consegue explicar nada. Desesperança.

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Sobre direitos adquiridos

Jogo contra o Mirassol, time precocemente eliminado, ameaça de chuva na zona oeste, ingresso a R$ 30. O que leva alguém a ir ao estádio numa situação dessas?

Eis então que tivemos 3.746 pagantes. Gente demais, em especial se considerarmos que a Mancha não entrou. Por que tanta gente?

Com os senhores, Nick Hornby de novo:

"... havia menos de 20 mil pessoas no estádio, e a maioria dos que se encontravam lá havia ido apenas para registrar sua reprovação a tudo o que ocorrera. (Eu pertencia à outra categoria: aqueles que estavam lá porque sempre estavam lá.)"

Era o meu caso e o de muitos outros amigos também. Fomos ao Palestra porque, em essência, não precisamos de motivos para estar lá. Conheço algumas dezenas de pessoas assim; talvez centenas. Dá pra ver no rosto. Gente que está lá simplesmente porque está sempre lá. Gente que, como eu, já faz parte do cenário todo.

Em sendo assim, aproveito o momento para deixar aqui o link para um post de 2008 que parece fazer sentido agora. Sem ofensas a ninguém, ok? A questão é: qualquer um tem direito de escolher os jogos que deseja ver. Qualquer um pode ficar a temporada inteira no sofá e depois correr atrás de um ingresso para a final. Mas o tipo de torcedor que se dispõe a ver um desinteressante Palmeiras 1 x 1 Mirassol tem uma espécie de direito adquirido para quando a coisa vale realmente. É a minha opinião.

E aí, caros idealizados do tal Avanti, eis o que os senhores deveriam levar em conta na hora de pensar em um programa de fidelidade com o torcedor: CARNÊ DE INGRESSOS

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"Febre de bola", páginas 76 e 77:

"Os grandes clubes parecem ter se cansado das suas torcidas, e sob certo aspecto quem pode culpá-los? Jovens trabalhadores e homens de classe média baixa trazem consigo problemas complicados e ocasionalmente perturbadores; os diretores e presidentes podem argumentar que eles tiveram sua chance e a desperdiçaram, e que as famílias de classe média - o novo público-alvo - não só irão se comportar bem, como pagar muito mais para fazê-lo.
Esse argumento ignora questões básicas que envolvem responsabilidade, justiça e o papel que os clubes têm ou não a representar nas suas comunidades. Mas mesmo sem essas questões, parece-me haver uma falha fatal nesse raciocínio. O prazer que um estádio de futebol pode proporcionar é, em parte, uma mistura do vicário com o parasítico, porque a não ser que a pessoa poste-se no Lado Norte, no Kop ou na Ponta Stretford, fica dependendo dos outros para que a atmosfera seja criada; e a atmosfera é um dos ingredientes cruciais da experiência futebolística. Essas torcidas imensas são tão vitais para os clubes quanto os jogadores, não só porque seus membros são eloquentes no seu apoio, não só porque fornecem aos clubes grandes somas de dinheiro (embora esses fatores não deixem de ser importantes), mas porque sem as torcidas ninguém se daria ao trabalho de ir ao jogo.
O Arsenal, o Manchester United e todo o resto têm a impressão de que as pessoas pagam para ver Paul Merson e Ryan Giggs, e é claro que elas fazem isso. Mas muita gente - o pessoal das cadeiras que custam vinte libras, e os caras dos camarotes-executivos - também paga para ver a torcida que foi lá ver Paul Merson (ou para escutar a torcida gritar com ele). Quem iria comprar um camarote-executivo se o estádio estivesse cheio de executivos? O clube vendia os camarotes incluindo a atmosfera de graça, de modo que o Lado Norte gerava tanta renda quanto qualquer um dos jogadores. Mas quem irá fazer o barulho agora? Será que a garatoda suburbana de classe média ainda virá com suas mamães e papais se o barulho tiver de ser feito por eles mesmos? Ou será que se sentirão tapeados? Porque a realidade é que os clubes estão lhes vendendo ingressos para um espetáculo no qual a atração principal foi afastada para dar lugar a eles.
Mais uma coisa sobre o tipo de plateia que o futebol resolveu atrair: os clubes vão ter de garantir a qualidade, garantir que não haverá anos de vacas magras, porque o novo público não tolerará fracassos. Essas pessoas não são do tipo que irá ver o time jogar contra o Wimbledon em março, estando em décimo primeiro lugar na Primeira Divisão e fora de todas as disputas de títulos. Por que deveriam ir? Elas têm muitas outras coisas para fazer. Portanto, Arsenal... nada de escritas perdedoras de 17 anos de duração, feito aquela entre 1953 e 1970, certo? Nada de ficar flertando com o rebaixamento, feito em 1975 e 1976, nem nada de meia década sem sequer chegar a uma final, feito a que nós tivemos entre 1981 e 1987. Nós, fregueses de caderno, aturamos tudo isso, e pelo menos 20 mil de nós aparecíamos lá por pior que o time jogasse (e às vezes jogava muito, muito mal mesmo); mas essa turma nova... não tenho tanta certeza assim."

7 comentários:

Néspoli disse...

Concordo plenamente com vc, mais uma vez. Foi o que eu disse na minha idéia do Sócio-Torcedor, criar um plano como se fosse de milhagens das cias aéreas. Quem sempre vai, sempre tem prioridade. Faz tempo q não te encontro, pow... vamos ver se quarta dá certo, sairei da Paulista.

abs

ricardodelsole disse...

" O que temos agora é terra arrasada"

lembrei da musica baba o'riley do the who

Paty disse...

É por isso que os seus posts nos fazem tanta falta.Voce traduz como ninguém o sentimento de nós torcedores.Desesperança,tristeza, impotencia é isso que nós vivemos hoje.Tá difícil!!!!!

Rodrigo Barneschi disse...

Fala, Néspoli!
Vou chegar umas 19h40 na quarta. Aí a gente se encontra ali no Alviverde antes do jogo.
Abraços

Daniel disse...

concordo com tudo mano....

j. disse...

espetacilar esse texto do efbre de bola!!!!

DaniloK disse...

Barneschi, ajuda a gente divulgar essa campanha:

http://www.foracipullo.com.br/

Agradeço do fundo do coração se puder dar uma força.

Forte Abraço,

Danilo Kamada